A experiência de ver o sol nascer quadrado

Estamos atravessando um dos períodos mais difíceis de toda a história da humanidade

Estudiosos do mundo inteiro vêm chamando a atenção, há muito tempo, para o caminho trilhado pela humanidade, no qual o racionalismo e o materialismo se tornaram os deuses da maioria e se impõem como norma diretiva na consciência

Ponto de Vista
26 de março de 2020
Por Prof. PAULO DUARTE I Foto UNSPLASH
Curitiba – PR

Por que estamos vivendo tudo isso? Esta pergunta não tem resposta, não adianta buscá-la em parte alguma. Ela deve ser formulada de maneira diferente: para que estamos vivendo tudo isso? Será que um tremor como este, análogo a um abalo sísmico de 9 graus na escala Richter, não nos está chamando para uma profunda reflexão sobre o papel que devemos desempenhar como membro da família humana integrante do universo?

Um vírus é um pequeno agente infeccioso que se alimenta de uma síntese de proteínas que se encontra dentro de uma célula. Fora do ambiente intracelular, nada acontece. Mas, dentro da célula, ele se multiplica numa velocidade espantosa.

Quando nos reduzimos ao tamanho de uma célula para analisar nosso próprio corpo sob a perspectiva celular, passamos a ver o mundo sob uma nova perspectiva. Não nos vemos mais como uma entidade única e sim como uma comunidade de 100 trilhões de células. As células são seres humanos em miniatura. Essa comparação pode facilitar a compreensão de nossa fisiologia e comportamento (LIPTON, 2007, p.43-45).

Segundo a epigenética, influências ambientais como nutrição, estresse e emoções também nos influenciam, ou seja, tudo que ingerimos física ou psicologicamente, tudo que impactamos ou nos impacta, todos os nossos pensamentos, sentimentos e emoções, em constante interação com o meio ambiente provoca alterações tanto nele quanto em nós. Todos os seres humanos possuem a mesma fisiologia. O que afeta um afeta todos. Não importam as diferenças culturais, religiosas, linguísticas e comportamentais, somos todos iguais em nossa fisiologia e, portanto, alvos potenciais da pandemia.

Atualmente, a população mundial gira em torno de 7,79 bilhões de pessoas. Se cada pessoa, como nos diz a biologia celular, é composta de 100 trilhões de células, multiplique isso por 7,79 bilhões de pessoas e veja como esse número astronômico pode multiplicar-se ainda mais se não tomarmos as devidas precauções para contê-lo. Estudiosos do mundo inteiro vêm chamando a atenção, há muito tempo, para o caminho trilhado pela humanidade, no qual o racionalismo e o materialismo se tornaram os deuses da maioria e se impõem como norma diretiva na consciência.

Segundo Jung, o ego é o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa. É aquele fator complexo com o qual todos os conteúdos conscientes se relacionam. É uma parte necessária da vida psicológica humana. O ego é normalmente neutro, e embora possa ser visto como centro de toda conduta interesseira (egoísmo), ele é, também, o centro de toda conduta altruística.

E é este fator que, no momento, nos interessa. Estamos atravessando um dos períodos mais difíceis de toda a história da humanidade, quando toda mobilidade em torno da prática solidária se faz necessária no atendimento aos idosos e àqueles que precisam de maiores cuidados. No entanto, o altruísmo eficaz numa abordagem mais ampla inclui os riscos existenciais que envolvem a vida de todos os seres vivos e do planeta, em razão de uma interação com o meio ambiente de forma inadequada.

Quem sabe a experiência de ver o sol nascer quadrado não nos conscientize da importância da liberdade?

 

Professor Paulo Roberto Duarte é psicossomaticista