18 de novembro de 2024
Compadre de Sílvio Acácio assume o comando do Centro Pan-Americano de Judô e compromete a gestão do equipamento
Ocupando 20 mil metros quadrados distribuídos em três prédios, compreendendo ginásio climatizado, alojamento de atletas e o setor administrativo, o CPJ é referência de centro de treinamento entre as confederações
Radar
22 de agosto de 2018
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS, BLOG DA VERA e ARQUIVO
Curitiba – PR
Localizado na praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas (BA), o Centro Pan-Americano de Judô (CPJ) é um dos principais equipamentos esportivos do Brasil e uma das poucas arenas construídas para os Jogos Rio 2016 que se mantêm em atividade e são economicamente viáveis.
Construído no terreno do antigo kartódromo Ayrton Senna, o CPJ ocupa 20 mil metros quadrados distribuídos em três prédios, compreendendo: ginásio climatizado, alojamento de atletas com 32 quartos e setor administrativo. A estrutura ainda abriga áreas de preparação e recuperação física de atletas, museu do judô, centro de capacitação profissional, auditório para 200 pessoas, sala VIP, centro de treinamento, sala de jogos, piscina, quadra poliesportiva e pista de corrida de 100 metros com quatro raias para aquecimento dos atletas. A arena esportiva tem capacidade para acomodar duas mil pessoas sentadas e outras 2.500 em pé. Na área externa, o CPJ possui estacionamento com 500 vagas cobertas e descobertas.
Como principal legado dos Jogos Rio 2016, o CPJ abriga um projeto socioeducativo que atende 1.500 crianças e jovens da rede escolar pública de Lauro de Freitas, emprega sete professores de judô e dez estagiários.
Os recursos para a construção do equipamento vieram da União (R$ 19,8 milhões) e do governo estadual, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (R$ 18,3 milhões), além de R$ 5,1 milhões da CBJ, destinados ao projeto executivo, equipamentos e mobiliário, totalizando R$ 43,2 milhões. O equipamento esportivo foi objeto de um termo de cessão de uso para a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) assinado pelo então ministro do Esporte Aldo Rebelo e o governador Jaques Wagner.
A gestão de um complexo esportivo desta magnitude e projetos com esta importância social demandam profundo conhecimento de gestão esportiva e administrativa, além de acesso às principais autarquias estaduais e federais.
Na contramão disso, a Confederação Brasileira de Judô hoje é presidida por um gestor com formação de professor de judô, com experiência em administração de uma pequena academia em Joinville e que busca repetir na CBJ o mesmo formato de administração que impôs na Federação Catarinense de Judô.
Assim que assumiu a CBJ, Sílvio Acácio Borges enviou para a Bahia Geci Machado, seu conterrâneo e amigo pessoal. Alguém de sua confiança, mas totalmente despreparado para assumir tal responsabilidade.
Com a missão de representá-lo e policiar tudo que acontecia no Centro Pan-Americano de Judô, em pouco tempo, o colaborador joinvilense foi colocado à margem do processo e tornou-se uma espécie de jagunço do presidente da CBJ em Lauro de Freitas.
Iletrado e despreparado para assumir funções de gestão, em poucos meses, o representante legal do presidente da Confederação Brasileira de Judô virou motivo de piada e chacotas, e foi colocado à margem do processo, até que acabou sendo mandado de volta para Joinville por Sílvio Acácio Borges.
A história se repete
Na semana passada Iveraldo Carlos Machado foi apresentado a toda a equipe administrativa da CBJ como o novo gestor do Centro Pan-Americano de Judô. Cargo que já ocupa há mais de dois meses.
Com o intuito de conhecer o currículo e a procedência do novo gestor, na segunda-feira (20), contatamos Renato Araújo, gestor financeiro, atual homem-forte e que manda mais que o CEO da Confederação Brasileira de Judô, e ouvimos que Iveraldo Machado foi contratado por meio de um processo de seleção normal, que possui um currículo que o habilita a assumir tamanha responsabilidade e que jamais teve aproximação do presidente Sílvio Acácio.
“O Iveraldo Machado foi recrutado para trabalhar na CBJ por meio de um processo normal de seleção. Ele não é parente do presidente e nem o conhecia antes de ser contratado. Seu currículo atende às demandas do cargo para o qual foi contratado”, afirmou o gestor financeiro da confederação.
Na verdade, o presidente da CBJ tem afirmado publicamente que não conhece o novo gerente do CT da Bahia, que o fato de ele ser joinvilense é mera coincidência. Não se conheciam e jamais haviam tido contato no passado.
Uma gestão fundamentada no desrespeito e na mentira
Assim como fez em Santa Catarina, durante os quatro anos em que presidiu a FCJ, o presidente da CBJ agora mente para toda a equipe de colaboradores da confederação, mente para os presidentes das 27 federações estaduais e mente para os milhões de judocas brasileiros que, fundamentados nos preceitos filosóficos deixados por Jigoro Kano, são avessos a mentiras e ao desrespeito ao próximo.
Não bastasse toda a sujeira que vemos na política partidária, agora temos de conviver com um dirigente esportivo inescrupuloso que se crê acima da tudo, que mente de forma irresponsável e inconsequente, e o pior, que não é questionado pelos seus pares e assessores, que também deveriam zelar pelos interesses do judô, pelo patrimônio público e pelas conquistas obtidas nos anos que antecederam a posse do atual mandatário.
Contatamos Iveraldo Carlos Machado, que afirmou ser funcionário da CBJ, mas tratou de se eximir de qualquer responsabilidade, sugerindo que contatássemos o departamento de recursos humanos da Confederação Brasileira de Judô, já que ele não daria nenhuma informação e não responderia às perguntas enviadas a ele.
O recém-contratado funcionário da confederação brasileira parece desconhecer que, por trabalhar numa entidade mantida com recursos públicos, se torna um agente público e é obrigado a responder a questões pertinentes à gestão da coisa pública.
A verdade revelada
Após uma breve investigação, descobrimos que, mais uma vez, Sílvio Acácio mentiu, faltou com a verdade e buscou ludibriar toda a comunidade que há pouco mais de um ano lhe deu boas-vindas e o reverenciou, pelo simples fato de ter sido escolhido por Paulo Wanderley Teixeira como o homem mais preparado, capacitado e honesto para assumir o comando da Confederação Brasileira de Judô.
Sem ter ao menos buscado saber quem era o presidente da Federação Catarinense de Judô, e como foi seu desempenho como gestor, o atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil lavou as mãos e transferiu seus superpoderes a Sílvio Acácio Borges. Hoje, a modalidade está à deriva, soçobrando em meio à vaidade, o egocentrismo, à falta de visão administrativa e à incapacidade de um dirigente que busca o poder pelo poder.
Encontramos matéria esclarecedora e reveladora escrita por Vera Regina Friederichs, no Blog da Vera Jornalista, da cidade de Joinville. Vera revela o parentesco entre Sílvio Acácio Borges e Iveraldo Carlos Machado. O dirigente da CBJ é padrinho do filho de Iveraldo. Sílvio Acácio foi à festa dos Machado com a esposa e o filho, conforme mostra a foto. O flagrante da foto publicada no blog foi feito no dia 16 de julho de 2011, data de aniversário de Valquíria Machado, então esposa de Iveraldo.
Em seguida, fomos a Joinville e com a foto de Iveraldo Machado em mãos, numa rápida consulta, vários judocas joinvilenses confirmaram que o novo gestor do CPJ foi frequentador assíduo dos eventos e churrascos realizados na Academia Colon, que pertence a Sílvio Acácio e Icracir Rosa, sócio de Sílvio Acácio e presidente da comissão de graduação da CBJ. Descobrimos também que o “profissional qualificado” passou por diversos empregos, mas nunca conseguiu sequer ficar por mais de dois anos em alguma empresa.
É verdade que no passado Paulo Wanderley loteou a CBJ com parentes e amigos, empregando seu filho, o irmão, alunos de sua academia e ex-funcionários da Federação Espírito-Santense de Judô, entidade que presidiu por longos anos. Mas Paulo Wanderley prezava pela qualidade da gestão e buscou sempre se cercar dos melhores profissionais de cada área, enquanto o atual presidente foca o grau da amizade, parentesco ou interesses pessoais.
Sem contar que vivemos um novo momento na gestão pública e empresarial, em que a gestão de risco e compliance fazem a diferença. Cada vez mais, as empresas investem no mapeamento de seus riscos operacionais, por isso, a gestão de riscos e compliance são dois pilares da boa governança. Qual é a empresa pública ou privada que associará sua marca a uma entidade esportiva dirigida por um presidente déspota e que costumeiramente falta com a verdade?
A perda de patrocínios e os frutos de uma péssima gestão expõem o quadro obscuro que em breve deverá repercutir também nos tatamis. Uma má gestão no CT de Lauro de Freitas certamente promoverá a derrocada final de uma modalidade com o melhor retrospecto olímpico e de uma entidade que até março de 2017 era tida como a mais bem-sucedida e modelo de gestão esportiva no Brasil.