Compadre de Sílvio Acácio assume o comando do Centro Pan-Americano de Judô e compromete a gestão do equipamento

Não dimensionando que hoje está em um cenário muito mais amplo, o presidente da CBJ insiste em manter as mesmas práticas que fundamentaram sua gestão na FCJ

Ocupando 20 mil metros quadrados distribuídos em três prédios, compreendendo ginásio climatizado, alojamento de atletas e o setor administrativo, o CPJ é referência de centro de treinamento entre as confederações

Radar
22 de agosto de 2018
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS, BLOG DA VERA e ARQUIVO
Curitiba – PR

Localizado na praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas (BA), o Centro Pan-Americano de Judô (CPJ) é um dos principais equipamentos esportivos do Brasil e uma das poucas arenas construídas para os Jogos Rio 2016 que se mantêm em atividade e são economicamente viáveis.

Construído no terreno do antigo kartódromo Ayrton Senna, o CPJ ocupa 20 mil metros quadrados distribuídos em três prédios, compreendendo: ginásio climatizado, alojamento de atletas com 32 quartos e setor administrativo. A estrutura ainda abriga áreas de preparação e recuperação física de atletas, museu do judô, centro de capacitação profissional, auditório para 200 pessoas, sala VIP, centro de treinamento, sala de jogos, piscina, quadra poliesportiva e pista de corrida de 100 metros com quatro raias para aquecimento dos atletas. A arena esportiva tem capacidade para acomodar duas mil pessoas sentadas e outras 2.500 em pé. Na área externa, o CPJ possui estacionamento com 500 vagas cobertas e descobertas.

Sílvio Acácio e Paulo Wanderley na cerimônia de posse do dirigente catarinense em 1º de abril de 2017

Como principal legado dos Jogos Rio 2016, o CPJ abriga um projeto socioeducativo que atende 1.500 crianças e jovens da rede escolar pública de Lauro de Freitas, emprega sete professores de judô e dez estagiários.

Os recursos para a construção do equipamento vieram da União (R$ 19,8 milhões) e do governo estadual, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (R$ 18,3 milhões), além de R$ 5,1 milhões da CBJ, destinados ao projeto executivo, equipamentos e mobiliário, totalizando R$ 43,2 milhões. O equipamento esportivo foi objeto de um termo de cessão de uso para a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) assinado pelo então ministro do Esporte Aldo Rebelo e o governador Jaques Wagner.

A gestão de um complexo esportivo desta magnitude e projetos com esta importância social demandam profundo conhecimento de gestão esportiva e administrativa, além de acesso às principais autarquias estaduais e federais.

Renato Araújo afirmou que Iveraldo Machado jamais havia tido contato com o presidente da CBJ

Na contramão disso, a Confederação Brasileira de Judô hoje é presidida por um gestor com formação de professor de judô, com experiência em administração de uma pequena academia em Joinville e que busca repetir na CBJ o mesmo formato de administração que impôs na Federação Catarinense de Judô.

Assim que assumiu a CBJ, Sílvio Acácio Borges enviou para a Bahia Geci Machado, seu conterrâneo e amigo pessoal. Alguém de sua confiança, mas totalmente despreparado para assumir tal responsabilidade.

Com a missão de representá-lo e policiar tudo que acontecia no Centro Pan-Americano de Judô, em pouco tempo, o colaborador joinvilense foi colocado à margem do processo e tornou-se uma espécie de jagunço do presidente da CBJ em Lauro de Freitas.

Iletrado e despreparado para assumir funções de gestão, em poucos meses, o representante legal do presidente da Confederação Brasileira de Judô virou motivo de piada e chacotas, e foi colocado à margem do processo, até que acabou sendo mandado de volta para Joinville por Sílvio Acácio Borges.

Silvio Acácio e Robnelson Ferreira, gestor executivo da CBJ no Campeonato Mundial de Budapeste

A história se repete

Na semana passada Iveraldo Carlos Machado foi apresentado a toda a equipe administrativa da CBJ como o novo gestor do Centro Pan-Americano de Judô. Cargo que já ocupa há mais de dois meses.

Com o intuito de conhecer o currículo e a procedência do novo gestor, na segunda-feira (20), contatamos Renato Araújo, gestor financeiro, atual homem-forte e que manda mais que o CEO da Confederação Brasileira de Judô, e ouvimos que Iveraldo Machado foi contratado por meio de um processo de seleção normal, que possui um currículo que o habilita a assumir tamanha responsabilidade e que jamais teve aproximação do presidente Sílvio Acácio.

“O Iveraldo Machado foi recrutado para trabalhar na CBJ por meio de um processo normal de seleção. Ele não é parente do presidente e nem o conhecia antes de ser contratado. Seu currículo atende às demandas do cargo para o qual foi contratado”, afirmou o gestor financeiro da confederação.

Na verdade, o presidente da CBJ tem afirmado publicamente que não conhece o novo gerente do CT da Bahia, que o fato de ele ser joinvilense é mera coincidência. Não se conheciam e jamais haviam tido contato no passado.

Geci Machado, o procurador de Sílvio Acácio no CPJ, na temporada 2017

Uma gestão fundamentada no desrespeito e na mentira

Assim como fez em Santa Catarina, durante os quatro anos em que presidiu a FCJ, o presidente da CBJ agora mente para toda a equipe de colaboradores da confederação, mente para os presidentes das 27 federações estaduais e mente para os milhões de judocas brasileiros que, fundamentados nos preceitos filosóficos deixados por Jigoro Kano, são avessos a mentiras e ao desrespeito ao próximo.

Não bastasse toda a sujeira que vemos na política partidária, agora temos de conviver com um dirigente esportivo inescrupuloso que se crê acima da tudo, que mente de forma irresponsável e inconsequente, e o pior, que não é questionado pelos seus pares e assessores, que também deveriam zelar pelos interesses do judô, pelo patrimônio público e pelas conquistas obtidas nos anos que antecederam a posse do atual mandatário.

Contatamos Iveraldo Carlos Machado, que afirmou ser funcionário da CBJ, mas tratou de se eximir de qualquer responsabilidade, sugerindo que contatássemos o departamento de recursos humanos da Confederação Brasileira de Judô, já que ele não daria nenhuma informação e não responderia às perguntas enviadas a ele.

Paulo Wanderley Teixeira transferiu seus superpoderes a um dirigente que vive em guerra consigo mesmo

O recém-contratado funcionário da confederação brasileira parece desconhecer que, por trabalhar numa entidade mantida com recursos públicos, se torna um agente público e é obrigado a responder a questões pertinentes à gestão da coisa pública.

A verdade revelada

Após uma breve investigação, descobrimos que, mais uma vez, Sílvio Acácio mentiu, faltou com a verdade e buscou ludibriar toda a comunidade que há pouco mais de um ano lhe deu boas-vindas e o reverenciou, pelo simples fato de ter sido escolhido por Paulo Wanderley Teixeira como o homem mais preparado, capacitado e honesto para assumir o comando da Confederação Brasileira de Judô.

Sem ter ao menos buscado saber quem era o presidente da Federação Catarinense de Judô, e como foi seu desempenho como gestor, o atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil lavou as mãos e transferiu seus superpoderes a Sílvio Acácio Borges. Hoje, a modalidade está à deriva, soçobrando em meio à vaidade, o egocentrismo, à falta de visão administrativa e à incapacidade de um dirigente que busca o poder pelo poder.

Encontramos matéria esclarecedora e reveladora escrita por Vera Regina Friederichs, no Blog da Vera Jornalista, da cidade de Joinville. Vera revela o parentesco entre Sílvio Acácio Borges e Iveraldo Carlos Machado. O dirigente da CBJ é padrinho do filho de Iveraldo. Sílvio Acácio foi à festa dos Machado com a esposa e o filho, conforme mostra a foto. O flagrante da foto publicada no blog foi feito no dia 16 de julho de 2011, data de aniversário de Valquíria Machado, então esposa de Iveraldo.

Os compadres Iveraldo Carlos Machado, Sílvio Acácio e família, na festa de aniversário de Valquíria Machado, em 2011

Em seguida, fomos a Joinville e com a foto de Iveraldo Machado em mãos, numa rápida consulta, vários judocas joinvilenses confirmaram que o novo gestor do CPJ foi frequentador assíduo dos eventos e churrascos realizados na Academia Colon, que pertence a Sílvio Acácio e Icracir Rosa, sócio de Sílvio Acácio e presidente da comissão de graduação da CBJ. Descobrimos também que o “profissional qualificado” passou por diversos empregos, mas nunca conseguiu sequer ficar por mais de dois anos em alguma empresa.

É verdade que no passado Paulo Wanderley loteou a CBJ com parentes e amigos, empregando seu filho, o irmão, alunos de sua academia e ex-funcionários da Federação Espírito-Santense de Judô, entidade que presidiu por longos anos. Mas Paulo Wanderley prezava pela qualidade da gestão e buscou sempre se cercar dos melhores profissionais de cada área, enquanto o atual presidente foca o grau da amizade, parentesco ou interesses pessoais.

Sem contar que vivemos um novo momento na gestão pública e empresarial, em que a gestão de risco e compliance fazem a diferença. Cada vez mais, as empresas investem no mapeamento de seus riscos operacionais, por isso, a gestão de riscos e compliance são dois pilares da boa governança. Qual é a empresa pública ou privada que associará sua marca a uma entidade esportiva dirigida por um presidente déspota e que costumeiramente falta com a verdade?

Renato Araújo, o então tesoureiro da gestão Paulo Wanderley Teixeira, é hoje o homem-forte da Confederação Brasileira de Judô

A perda de patrocínios e os frutos de uma péssima gestão expõem o quadro obscuro que em breve deverá repercutir também nos tatamis. Uma má gestão no CT de Lauro de Freitas certamente promoverá a derrocada final de uma modalidade com o melhor retrospecto olímpico e de uma entidade que até março de 2017 era tida como a mais bem-sucedida e modelo de gestão esportiva no Brasil.