Denúncia feita via internet expõe o grave momento e o drama vivido pelos judocas de Minas Gerais

O presidente da FMJ na assembleia de prestação de contas da CBJ de 2018, realizada no COB

Além das revelações e acusações feitas anonimamente, vários professores lamentaram a judicialização e o declínio técnico do judô mineiro, que despencou no ranking nacional

Gestão Esportiva
21 de agosto de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS e JÚLIA CALASANS
Curitiba– PR

Em mensagem intitulada Vamos refletir, o judô mineiro depende de nós, mais uma vez os judocas de Minas Gerais expõem o triste quadro que retrata a situação estadual.

Enviada aos praticantes de todo o Estado, gestores e membros do conselho fiscal da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), dirigentes das federações estaduais e órgãos da imprensa, a mensagem denuncia o autoritarismo absolutista do presidente da Federação Mineira de Judô (FMJ) e pede socorro, pois além de caótica a situação da modalidade naquele Estado é deplorável e nefasta.

Lamentavelmente, aqueles que poderiam tomar uma atitude e dar um basta em tudo isso só querem uma coisa de Minas Gerais: o voto que em 15 de março de 2021 elegerá o novo presidente da CBJ. Ninguém fará absolutamente nada. Somente os professores mineiros poderão promover o levante que porá fim a uma situação dramática e absurda, jamais vista na história do judô nacional.

Nédio Henrique abrindo o credenciamento técnico da FMJ de 2018 realizado na UFMG

Transcreveremos a seguir a mensagem anônima enviada por judocas mineiros que temem identificar-se devido ao modus operandi de Nédio Henrique Mendes da Silva Pereira, o advogado dirigente que judicializou o judô de Minas Gerais, tirando-o dos tatamis para levá-lo aos tribunais, onde se travam agora as principais lutas dos judocas naquele Estado.

Aqueles que criticam o presidente-advogado ou atravessam o seu caminho são extirpados da modalidade ou são levados rapidamente aos tribunais da Justiça comum por meio de processos absurdos, que buscam blindar o dirigente e inibir futuras investidas contra um sujeito egótico, que literalmente impôs um retrocesso gigantesco na modalidade. Leia a mensagem do Transparência Judô.

“Quem teme perder já está vencido.”

               Jigoro Kano

Ao submeter-se ao medo, o indivíduo imobiliza-se diante da opressão, da tensão, da ameaça ou do conflito. O conflito é aquilo que possibilita que todas as diversidades tenham voz e vez!

Porém, na Federação Mineira de Judô, somente o presidente Nédio Henrique Silva tem voz e vez. Qualquer conflito é recriminado e encarado como oposição, como ataque pessoal, e esta “oposição” precisa ser eliminada imediatamente, como temos visto ao longo desse mandato de gestão autoritária.

É vergonhoso como o presidente da FMJ não dá conta de manter o diálogo, receber críticas e muito menos sugestões. Os filiados que venham a contrariá-lo em fração de segundos são surpreendidos, pois o dirigente leva os argumentos para o lado pessoal e perde a compostura de forma chocante.

O dirigente mineiro goza de enorme prestígio na CBJ

Percebemos nesse presidente a necessidade de exaltar, a todo tempo, a própria imagem e também o desejo de supervalorizar qualquer atitude positiva que possa vir a fazer pela FMJ. Para ele, imagens “bem maquiadas” são o que verdadeiramente importa! Dane-se o atual colapso de desenvolvimento do judô no Estado de Minas Gerais! Danem-se os campeonatos mineiros super esvaziados e com péssimo nível técnico para a maioria dos judocas participantes.

No site da instituição foi escrito recentemente: “Judocas mineiros agradecem e reconhecem a competência e o empenho da atual gestão da FMJ”.

É muito ego e narcisismo envolvidos, a ponto de não ouvir ou tentar entender a opinião do outro, colocando a sua imagem como prioridade em detrimento do bem comum.

Todas as pessoas sãs têm alguma autocrítica. Será que este presidente tem lucidez para perceber que está fazendo uma péssima gestão? Será que ele não percebe que esta é a pior gestão da história do judô em Minas Gerais?

Enquanto isso, a Liga Mineira de Judô expande seu território e vai fazendo um trabalho reconhecível, sem arrogância, sem vaidade e, principalmente, sem despreparo!

Esta é a triste, porém real, leitura que os judocas mineiros fizeram recentemente de seu dirigente e a enviaram para que todo o País conheça o drama vivido pelos professores e praticantes de judô daquele Estado.

No fim de semana passado houve o Campeonato Brasileiro sub 13 e a seleção mineira ficou na 22ª colocação. Antes da atual gestão Minas Gerais habitava o topo dos quadros de medalhas na base e no alto rendimento. Hoje os mineiros voltam para casa sem uma medalha de bronze sequer. Esta inversão é fruto do desmantelamento técnico provocado por uma gestão egótica e irresponsável.

Professor Geraldo Brandão está sendo processado por expor publicamente a sua avaliação da atual gestão da FMJ

Indicado e eleito por seu antecessor para comandar a FMJ por um quadriênio, desde a sua chegada ao poder Nédio Henrique Mendes da Silva Pereira protagonizou cenas absurdas que beiram o surreal e a irracionalidade.

Professores mineiros apoiam a denúncia e lamentam o despreparo do dirigente

Comentando a mais recente publicação do Transparência Judô, o professor Tarso Novaes, de Belo Horizonte (MG), não só endossou a avaliação feita pelos colegas judocas, como tratou de definir o perfil psicológico do presidente da FMJ.

“Sábias palavras, concordo com tudo. Hoje, infelizmente temos uma criança travestida de homem à frente da Federação Mineira de Judô. Muita vaidade e pouco trabalho”, expôs corajosamente o professor responsável pela Escola de Artes Marciais Shiro Dojô.

Já o professor kodansha José Nonato da Cunha, que é árbitro continental e um dos principais formadores de Minas Gerais, resignou-se a lamentar o quadro perverso da modalidade em seu Estado.

“Não estou nada satisfeito com os resultados da atual gestão, e lamento profundamente tudo que está acontecendo”, disse o professor responsável pelo Judô Nonato, de Itabira (MG).

Geraldo Brandão, professor kodansha shichi-dan (7º dan) que presidiu a FMJ por dois mandatos, lamentou mais este episódio negativo do judô mineiro.

“Acho que já falei tudo que penso sobre a atual gestão da FMJ e nada mais tenho a agregar. Vemos o belíssimo trabalho que vem sendo feito pela dobradinha Chico e Puglia no judô paulista; o resgate e a projeção que o professor Jucinei Costa está obtendo no Rio de Janeiro; os gaúchos se impondo nos tatamis de forma magistral; e o surgimento de forças e talentos em todas as regiões do País. Na contramão, vemos Minas Gerais em queda livre no ranking nacional e a Liga Mineira nadando a braçadas. É lamentável”, disse Brandão.

Profundamente consternado pela campanha vexatória de Minas Gerais no brasileiro sub 13 realizado em Curitiba, sensei Ricardo Luiz Santos Freitas, que está à frente de um projeto social na cidade de Itabira, a 100 km de Belo Horizonte, relatou o drama vivido pela equipe mineira na capital paranaense.

“Trabalho há três anos neste projeto e pela primeira vez conseguimos levar três atletas para disputar a fase final de um campeonato brasileiro. Lamentavelmente, o que eu pude perceber neste evento é que o judô mineiro está muito aquém dos demais Estados. São Paulo, Rio, Paraná e Rio Grande do Sul, que integram o grupo ao qual nós pertencíamos, estão muito superiores tecnicamente, e perdemos até de Estados com menor tradição e menos recursos que nós”, disse.

“Nem mesmo o Minas Tênis Clube trouxe medalhas do Paraná, e algo tem de ser feito urgentemente para estancar a queda de um nível técnico que levamos décadas para conquistar. Temos de reconhecer nossas falhas e unir forças para evitar o pior. Recentemente éramos a segunda força do País nas categorias de base, e hoje estamos entre os últimos colocados. Temos de rever os erros cometidos e tentar fazer uma política de recuperação urgentemente, para iniciarmos aos poucos o processo de volta para o lugar de onde nunca deveríamos ter saído”, avaliou sensei Ricardo.

Diretamente para os tribunais

Qual será o próximo capítulo? Será que o presidente da FMJ vai expulsar dos quadros da entidade os professores que tiveram a coragem de expressar opinião sobre a sua gestão, como fez com Ivan Fagundes, o brilhante árbitro e ex-diretor de arbitragem da federação mineira, que cansou de ser perseguido, largou mão do judô e foi cuidar de sua vida?

Ou será que irá processá-los e pedir indenização, como fez recentemente com um professor kodansha que agora terá de enfrentá-lo nos tribunais apenas por dizer verdades sobre uma gestão acéfala que destroçou o judô nas Minas Gerais?

Um egótico é mais do que um egoísta. Pessoas egoístas enxergam o próximo, mas escolhem a si mesmas. Egóticos sequer enxergam os outros, de tão obcecados com a própria pessoa.