Dirigentes estudam a criação da Comissão Científica da Federação Paulista de Judô

Francisco de Carvalho, Chicão Camilo, Alexandre Drigo e Alessandro Puglia

Em fase embrionária, projeto pretende fortalecer a formação dos técnicos, instrutores e professores de judô, visando a aumentar a profissionalização deste segmento

Projetos & Pesquisa
13 de fevereiro de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos BUDÔPRESS
São Paulo – SP

O saudoso professor doutor Mateus Sugizaki deixou como legado, para o judô brasileiro o início da construção de um sistema de formação de faixas-pretas apontando para um processo de profissionalização. Desta forma, o renomado professor e primeiro campeão mundial universitário do Brasil buscava que os envolvidos percebessem que a prestação de serviços que o judô entregava à comunidade necessitava de remodelações pautadas em mais conhecimento do que apenas saber lutar.

Ratificando o pioneirismo da Federação Paulista de Judô (FPJudô) e sob a sua liderança, no final dos anos 1980 a entidade adotou uma forma de avaliação de graduação com elementos teóricos e práticos direcionados ao conhecimento da modalidade criada por Jigoro Kano. Anteriormente as promoções de faixas eram prioritariamente definidas por meio das lutas entre os candidatos.

Alexandre Drigo, mestre em Ciências da Motricidade e doutor em Educação Física

Os apontamentos iniciados por ele estão levando a novos estudos para que todo esse processo possa ser reavaliado e otimizado, proporcionando novo salto de qualidade na modalidade.

O início deste novo processo foi delineado na reunião entre Alessandro Puglia, presidente da FPJudô; Francisco de Carvalho, presidente de honra da entidade; Alexandre Janotta Drigo, mestre em Ciências da Motricidade pela Unesp/RC e doutor em Educação Física pela Unicamp; e Luiz Francisco Camilo Júnior, mestrando em Ciências da Motricidade pela Unesp/RC.

No encontro, realizado no dia 6 de fevereiro na subsede da Federação Paulista de Judô de Mauá (SP), o professor Alexandre apresentou seu pensamento em relação a um modelo ideal de formação, com base em sua experiência em estudos voltados à formação profissional na Unesp.

“O ideal nem sempre pode ser real. É necessário que os presidentes, com sua experiência de gestores, apontem os limites e nos informem o contexto das reais possibilidades de atender à comunidade do judô como um todo”, disse o professor, que também é bacharel em biologia e educação física e orientador no Programa de Pós-graduação em Ciências da Motricidade da Unesp.

Os dirigentes sinalizaram que uma reaproximação de São Paulo com o sistema CONFEF/CREFs facilitaria este processo, argumentando que a interação entre as instituições pode possibilitar avanços para a sociedade em relação à prática do judô de forma segura e ética.

Francisco de Carvalho e Alessandro Puglia enfatizaram que a criação do departamento científico é uma velha aspiração da diretoria da FPJudô

“É imperativo trazer inovações, conteúdos programáticos e pedagogias adequadas à realidade atual.”

No encontro, o professor Drigo ressaltou que seria prematuro apresentar um plano de ação global sem antes debatê-lo com a comunidade.

“Ainda é difícil apresentar um plano geral daquilo que pretendemos, pois estamos no início dos trabalhos, mas é importante ressaltar que, em termos gerais, o objetivo é fortalecer a formação dos técnicos, instrutores e professores de judô, continuando uma proposta voltada a uma política de profissionalização, reformular os cursos para fortalecer as certificações da FPJudô e debater com a comunidade para encontrar a forma que atenda aos seus anseios. Penso que o judô sempre foi protagonista em relação às modalidades de combate, principalmente a federação paulista, e assim precisamos esforçar-nos para continuar este legado. É imperativo trazer inovações, conteúdos programáticos e pedagogias adequadas à realidade atual. Estamos em tempo de unir os esforços do conhecimento prático e cientifico para formar novos profissionais de judô que jamais esqueçam o passado, os grandes mestres, mas que também prestem o melhor serviço, de forma ética e segura à sociedade paulista e brasileira”, concluiu Alexandre Drigo.

Francisco de Carvalho filho relembrou que a criação de um departamento científico é uma velha aspiração da diretoria da Federação Paulista de Judô.

“Há tempos estamos discutindo a possibilidade de implementar esta ação na federação. Estávamos apenas aguardando encontrar pessoas verdadeiramente capacitadas, que se identificassem com o projeto da federação e tivessem a qualificação e o conhecimento necessários para podermos dar o start nessa proposta”, disse o dirigente, que aprovou os conceitos apresentados pelos professores que foram a Mauá.

Chicão Camilo afirmou que seria um erro gravíssimo renegar a contribuição e o conhecimento dos precursores da modalidade

“Os professores Drigo e Chicão Camilo têm vasto conhecimento, e durante a nossa reunião ficou claro que ambos são extremamente qualificados e capacitados para dar o hajime no projeto que visa a instituir a Comissão Científica da Federação Paulista de Judô”, concluiu o professor Chico.

Já o professor Francisco Camilo Júnior pontuou que o judô vem passando por um processo de esportização desde a inserção da modalidade nos Jogos Olímpicos de 1972. Nesta direção, a figura do treinador emerge como decisiva no processo de desenvolvimento de um projeto esportivo, ultrapassando os limites dos tatamis e avançando para outras áreas do conhecimento que se interseccionam para potencializá-lo.

“Os modelos de formação de treinadores de judô vêm sendo estudados há muito tempo pelo doutor Alexandre Drigo, na minha opinião uma das maiores autoridades do assunto no mundo, e estudos apontam a necessidade de maior incremento de trabalhos científicos para nortear as atuais propostas pedagógicas de formação”, explicou o campeão dos Jogos Pan-Americanos 2003. Ele também enfatizou que é preciso reconhecer e enaltecer o trabalho e o conhecimento dos professores que implantaram e desenvolveram o judô no Brasil, a partir do início da imigração japonesa em nosso País.

“Seria um ato bárbaro e desonroso renegar as atividades desenvolvidas pelos professores antigos, que trouxeram a modalidade até aqui com tamanha abnegação e amor. Neste momento deve-se buscar a sabedoria dos antigos senseis aliada ao pulsante conhecimento acadêmico em busca de um novo panorama para o judô paulista”, afirmou Chicão Camilo.

Classificado por todos como altamente produtivo, o encontro realizado em Mauá aponta a profunda renovação no ensino do judô em São Paulo

Além de avaliar o encontro positivamente, por meio deste projeto Alessandro Puglia prevê enorme possibilidade de proporcionar maior desenvolvimento técnico aos professores paulistas.

“Penso que estamos dando um passo importante para apoiar e adotar a pesquisa científica como ferramenta valiosa para o desenvolvimento técnico dos nossos professores. Já há algum tempo a FPJudô vem amadurecendo esta ideia e acredito que este é o momento certo para darmos os primeiros passos numa iniciativa que busca prioritariamente qualificar ainda mais os nossos professores”, disse o dirigente.

“Avalio que a primeira reunião com os professores Alexandre Drigo e Francisco Camilo foi extremamente positiva e culminou na apresentação de um trabalho sólido e bastante objetivo. Acredito que em breve teremos informações concretas sobre esta iniciativa”, adiantou o presidente da FPJudô.

Professores e dirigentes destacaram a contribuição e o legado deixado pelo professor Mateus Sugizaki