FPJudô inova ao resgatar o Troféu Ippon, que distingue e premia os judocas mais técnicos

Michael Marcelino venceu todas lutas por ippon

Além de homenagear atletas mais técnicos, o troféu busca resgatar o verdadeiro judô e estimular a competitividade e o maior desenvolvimento técnico

Troféu Ippon FPJudô
22 de junho de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos BUDÔPRESS e WILLIAN LUCAS / INOVAFOTO
Curitiba – PR

A Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou no dia 9 de junho a fase final do Campeonato Paulista Sênior, disputa tradicionalmente revestida de muita importância por reunir grandes nomes e os principais destaques dos tatamis do Estado.

A competição, que soma pontos e define o ranking estadual da temporada, recebeu 237 judocas de 74 clubes e associações das 16 delegacias regionais da FPJudô no ginásio municipal de São Carlos, uma das principais praças esportivas da região Centro-Leste de São Paulo.

Implacável com seus adversários, o meio-leve do SESI é adepto do judô efetivo

A cada ano a diretoria da federação paulista busca criar atrativos que estimulem a participação dos medalhões da modalidade, que geralmente estão no exterior a serviço da seleção brasileira.

Além de receber medalhas de ouro, desde o ano passado os campeões das sete categorias de peso do feminino e do masculino são contemplados com troféus.

Neste ano os dirigentes paulistas foram mais audaciosos e instituíram o Troféu Ippon, destinado exclusivamente ao judoca e à judoca que alcançarem maior número de ippons na competição.

Amanda de Oliveira sempre mostra excelente postura no shiai-jô

Escrevemos instituíram porque é algo novo e até inédito na atual gestão. Contudo, na verdade os dirigentes resgataram uma premiação que havia sido deixada para trás, já que nos primórdios da modalidade o Troféu Ippon era a cereja do bolo nos certames. Era algo muito semelhante ao reconhecimento que se dá aos artilheiros no futebol.

Os primeiros atletas homenageados com a nova premiação são justamente dois símbolos de uma geração muito forte que está despontando e ocupando cada vez maior espaço no alto rendimento: a peso médio Amanda Cavalcanti de Oliveira, da Associação Desportiva São Caetano, e o meio-leve Michael Vinicius Oliveira Marcelino, do SESI-SP de Bauru.

Com cinco ippons, Michael Marcelino superou seus adversários diretos na disputa do troféu inédito, enquanto Amanda de Oliveira se isolou na disputa com quatro ippons, e ambos conquistaram o Troféu Ippon do Campeonato Paulista Sênior de 2019.

O que a ajuda encaixar golpes em suas adversárias

Para Amanda de Oliveira a premiação chegou num excelente momento, recompensando o esforço que ela e sua comissão técnica estão desenvolvendo nas últimas temporadas.

“Esta premiação é muito importante e chega num momento bastante oportuno; é tudo que eu buscava, até mesmo para compensar meu esforço e o comprometimento de toda a comissão técnica que me apoia no dia a dia. Agente se dedica, treina muito duro, vem para a competição, tem um bom desempenho e, coroando tudo, recebe um reconhecimento desta importância e magnitude. É muito reconfortante e estimulante”, comemorou a judoca do São Caetano.

Um dos atletas mais versáteis de sua geração, Michael Marcelino lutou muito, venceu todas as lutas por ippon e por fim vibrou com a conquista do Troféu Ippon.

“Olhando para tudo aquilo que busco e vislumbro daqui por diante nos tatamis, entendo que esta premiação tem um significado muito grande. Penso que o Troféu Ippon se reveste de muita importância, e, quando soube que seria restabelecido, falei que lutaria muito para conquistá-lo. Felizmente deu certo e estou muito feliz”, comemorou Michael.

Os troféus ofertados aos campeões de todas as categorias de peso e aos vencedores do Troféu Ippon

Logística no controle dos ippons

Trinta oficiais técnicos e sete coordenadores atuaram sob o comando de Marco Aurélio Uchida, que explicou como foram feitos a contagem e o controle dos ippons.

“Utilizamos uma equipe com o número de oficiais proporcional às seis áreas que foram utilizadas. A coordenação de arbitragem colocou um árbitro a mais em cada área, cuja função era contar os ippons aplicados nos combates.”

Alessandro Puglia adiantou que a federação paulista está desenvolvendo um novo software que em breve fará a contagem automática dos ippons.

Rei do ippon avalia iniciativa da FPJudô

Vice-campeão olímpico nos Jogos de Sydney (2000), medalhista de bronze em Pequim (2008) e bicampeão mundial em Cali (1998) e Rio de Janeiro (2007), Tiago Camilo é o judoca brasileiro com a maior quantidade de medalhas e títulos conquistados. No auge de sua trajetória ele era chamado de Rei do Ippon, devido à qualidade técnica que possuía e à objetividade com que enfrentava seus adversários.

Na classe pré-juvenil Marcelino já mostrava a mesma determinação e objetividade nos combates

A Budô foi ouvir a opinião dele, e na avaliação do judoca de Bastos a coordenação técnica da FPJudô deu ippon com mais esta grande inovação.

“A iniciativa da federação paulista é de extrema importância porque vai valorizar ainda mais os atletas que lutam buscando o ippon. Meu objetivo no judô foi sempre vencer por meio do ippon, e hoje vemos muitas lutas que acabam decididas por punições ou decisões dos árbitros e poucas vitórias de atletas com o ímpeto de buscar o ippon. Vemos com certa frequência as lutas acabarem com pequena vantagem e até mesmo por shidô. Isso não diminui nenhuma vitória, mas, sob o ponto de vista da qualidade, é muito ruim”, disse.

“Acredito que esta é uma iniciativa superimportante e muito bem vista pelos judocas que têm este perfil. Vamos torcer para que o Troféu Ippon mude um pouco a característica dos atletas brasileiros. Que eles realmente busquem mais o ippon e tenham uma postura mais ofensiva. Façam lutas mais dinâmicas e com menor passividade. Parabenizo toda a coordenação técnica da FPJudô, pois acredito que o mundo do judô está vendo esta iniciativa com bons olhos”, concluiu Camilo.

Somente na final Marcelino fez três projeções

Dirigentes comemoram a grande sacada

Na avaliação de Joji Kimura, coordenador técnico da Federação Paulista de Judô, o Troféu Ippon premia o judô positivo.

“Premiações como o Troféu Ippon, primeiro, estimulam e depois valorizam o judô positivo. A premiação é muito importante porque faz os melhores atletas darem o melhor de si no treinamento e na competição. Os judocas ficam mais aguerridos e determinados, e isto também se reflete na arbitragem, que acaba tendo menos trabalho; os combates não se prolongam para o golden score”, disse Kimura.

O presidente Alessandro Puglia lembrou que todas as inovações visam a estimular o aperfeiçoamento técnico dos judocas paulistas.

“No ano passado criamos um diferencial premiando os campeões com medalhas de ouro e troféus, e a nossa intenção era mostrar que a competição sênior se reveste de uma importância muito maior. É o suprassumo do nosso calendário. Tudo converge para esta classe e, sem desmerecer as categorias da base, fizemos isto buscando deixar claro que é no sênior que as coisas acontecem e estão fundamentadas as nossas maiores expectativas”, detalhou o dirigente, que também explicou a importância do Troféu Ippon.

“Sobre o resgate do Troféu Ippon, entendemos que por meio dele nós estimulamos e mostramos aos atletas que o ippon vale muito. É claro que o importante é vencer, mas vencer por ippon é outra conversa. Penso que todos os judocas que conquistarem o Troféu Ippon terão a sensação de missão cumprida e serão vistos sempre como judocas diferenciados. Pode acontecer inclusive que futuramente o troféu fique com o vice-campeão ou com o terceiro colocado, o qual será lembrado como o judoca mais técnico ou mais habilidoso da competição. O troféu busca estimular o aprimoramento técnico e premiar o judoca mais aguerrido”, concluiu o presidente da FPJudô.

Tricampeão dos Jogos Pan-Americanos, campeão mundial sênior e júnior, vice-campeão nos Jogos de Sydney e medalha de bronze em Pequim, Tiago Camila espera que o Troféu Ippon possa contribuir numa eventual mudança de postura de muitos judocas paulistas

Enfático, o professor Francisco de Carvalho Filho resumiu sua avaliação pontuando que o Troféu Ippon resgata o primor técnico.

“Eu poderia usar uma infinidade de adjetivos para explicar a importância desta premiação, mas a verdade é que, como principal característica, o Troféu Ippon objetiva fundamentalmente o primor técnico”, explicou o dirigente, que ainda usou como exemplo o Japão, o berço do judô.

“O judô japonês é fundamentado no aprimoramento técnico e na busca incansável pelo ippon, ou seja, golpe e técnica perfeitos. O ippon representa o judô 100%. E todos nós, judocas, no dia a dia, temos o dever de buscar a perfeição, seja nos tatamis ou fora deles. O que diferencia as pessoas é justamente esta busca pela perfeição e pelo ippon. Professores de judô, sejam eles pedagogos ou técnicos, têm a obrigação de incutir o espírito do ippon em seus educandos ou atletas. Com isso, todos serão grandes naquilo que fazem, sejam engenheiros, professores de matemática, comerciantes ou medalhistas olímpicos”, detalhou o presidente de honra da FPJudô.

O pódio do peso meio-leve

O pódio do peso médio

Michael Marcelino exibe o Troféu Ippon conquistado em São Carlos

Amanda de Oliveira exibe sua medalha de ouro, o troféu de campeã do peso médio e o Troféu Ippon