Inépcia e ambição devastam o taekwondo brasileiro

Júnior Maciel, o secretário estadual de Desporto e Lazer do Amapá que acumula o cargo de presidente da CBTKD, foi o grande responsável pela inclusão da Liga Nacional de Taekwondo na esfera administrativa e esportiva da CBTKD

Sem comando, submergida em ilegalidades e corrupção, a CBTKD cede espaço para a Liga Nacional de Taekwondo.

Em 5 de agosto de 2016, Alexandre Libonati de Abreu, o juiz da 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, atendeu ao pedido feito pelo Ministério Público Federal e afastou Carlos Fernandes, presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD).

A partir daquela data desenrolou-se o processo de desconstrução de uma das 12 modalidades olímpicas que obtiveram medalhas para o Brasil nos Jogos Rio 2016.

Com a saída do presidente, a CBTKD tornou-se presa fácil de uma organização que há muito tempo agia e estava à espera de oportunidades para praticar toda espécie de ilicitudes que resultassem em vantagens pessoais.

Encabeçado por Valdemir José de Medeiros, superintendente da CBTKD, o grupo fraudulento liderado por José da Mota Leal Filho, secretário geral da CBTKD, nomeou diretor financeiro José Carlos da Silva Cipriano, ex-prestador de serviços que durante seis anos fez a contabilidade da confederação. Contudo, nossa reportagem não conseguiu esclarecer quem faz hoje a contabilidade da entidade. Presumimos que seja a Consegur, empresa que pertence a José Cipriano.

Em pouco mais de um ano à frente da CBTDK estes senhores promoveram a derrocada total da modalidade. O quadro já era de total falência nas áreas técnica e administrativa no dia 26 de janeiro, quando Carlos Alberto de Carvalho, o interventor nomeado pela Justiça, assumiu o comando. A entidade fora totalmente saqueada e delapidada em apenas cinco meses, após a saída de Carlos Fernandes.

“O fornecimento de energia elétrica e água estava suspenso em razão dos atrasos. O próprio locador do imóvel, fornecedores e funcionários não recebiam há alguns meses, assim como estavam atrasados os benefícios de funcionários e as despesas do mês”, disse o ex-interventor à ESPN.

Atendendo a uma ordem judicial, no dia 10 de abril Carlos Alberto de Carvalho, interventor designado pela Justiça, realizou assembleia geral extraordinária que, de forma imparcial e isenta, deveria fazer pequenas correções estatutárias. Mas o que houve foi uma assembleia repleta de vícios, manobras e ilegalidades que, supostamente, visavam a conduzir Yeo Jun Kim à presidência. Mas o poder de articulação de Valdemir Medeiros é tão grande que o superintendente conseguiu dar um tombo no interventor e em Kim, que era o grande mantenedor financeiro da entidade naquele momento. Ludibriando ambos e com a conivência de alguns dirigentes estaduais, Medeiros elegeu Júnior Maciel, ex-dirigente amapaense, que assumiu o cargo para dar continuidade ao projeto de enriquecimento ilícito de Valdir Medeiros e seus pares.

Após um ano à frente da CBTKD, Valdemir de Medeiros devastou o taekwondo brasileiro

No caminho da contravenção e ilegalidade

Entretanto, sem os repasses oriundos da Lei Agnelo/Piva (por falta da prestação de contas ao COB), os planos dos homens que comandam o taekwondo sofrerem vários reveses, e neste breve período em que Júnior Maciel está à frente da entidade o que se vê é um conjunto de ilegalidades administrativas que já resultaram até em processos administrativos, trabalhistas e criminais. Vale lembrar, porém, que já há muitos anos o Medeiros era o preposto da entidade, como superintendente da CBTKD. Era ele que representava a confederação nos processos judiciais.

Há poucos meses a CBTKD foi despejada e a sede administrativa mudou-se para uma salinha minúscula e emprestada, no Parque Aquático Maria Lenk. Com contas bancárias bloqueadas pelos inúmeros processos movidos por fornecedores, prestadores de serviços e ex-funcionários, os diretores da CBTKD passaram a usar contas bancárias de terceiros para promover os poucos eventos desta temporada, para movimentar recursos oriundos das taxas de inscrição nas competições, anuidades e exames de faixa realizados em todo o País, o que é ilegal e criminoso.

Quando assumiu a presidência da CBTKD Júnior Maciel já era secretário estadual de Desporto e Lazer do Amapá, o que o impossibilitaria de assumir a presidência de uma modalidade esportiva que recebe recursos federais, estaduais e municipais. Sua eleição e posse foram absolutamente inconstitucionais, ilegais, e ferem as determinações do Ministério do Esporte.

Em agosto Valdemir Medeiros deu sua última e grande cartada à frente da entidade, negociando amigavelmente sua demissão com o presidente eleito por ele. Após mais de 15 anos na gestão da confederação e ter instituído um caos sem precedentes na modalidade, nesta semana Medeiros recebeu uma verdadeira bolada de indenização, enquanto atletas, fornecedores, colaboradores e os proprietários do imóvel acumulam enorme prejuízo. São eles que amargam as perdas causadas pela incompetência e ambição de uma pessoa que se apossou de uma modalidade esportiva, perpetuando-se no poder graças ao apoio e à conivência de dirigentes estaduais e nacionais desprovidos de capacidade de gestão e profissionalismo.

Processo eletivo corrompido

A assembleia que elegeu a chapa encabeçada Júnior Maciel para fazer administrar a CBTKD no próximo quadriênio realizou-se no dia 24 de abril. Após impugnarem inexplicavelmente a chapa encabeçada por Carlos Fernandes, a dupla José Leal e Valdemir Medeiros realizou uma assembleia geral eletiva repleta de vícios, que hoje é alvo de investigação policial devido às inúmeras denúncias de arbitrariedades e fraude eleitoral.

Após sete anos afastada e com apoio de Júnior Maciel, a Liga Nacional de Taekwondo volta ao cenário nacional

Durante o período em que esteve à frente da Confederação Brasileira de Taekwondo, o interventor Carlos Alberto de Carvalho acatou a decisão judicial para proceder à refiliação da Liga Nacional de Taekwondo (LNT). E uma das numerosas promessas não cumpridas por Júnior Maciel durante a campanha eleitoral foi barrar a entrada da LNT no circuito administrativo federativo e competitivo.

Atendendo a acordos firmados após sua eleição, o presidente da CBTKD permitiu propositalmente que a LNT fosse oficializada, deixando prescrever o prazo para recorrer da decisão judicial. Maciel foi conivente.

Por meio do departamento de comunicação da Liga Nacional de Taekwondo, soubemos que não foi respondido o oficio 101/2017, no qual consta solicitação de informações acerca da participação dos atletas filiados à entidade nos eventos da CBTKD.

Contudo, a questão da LNT não envolve apenas a participação de mais ou menos atletas nos certames nacionais. A efetivação da liga nacional no âmbito federativo implica enormes prejuízos financeiros para as entidades estaduais, que agora terão de enfrentar o poder de competição da LNT, que oferece aos taekwondistas exames de faixa, cursos e taxas de filiação a preços muito mais acessíveis.

Todos que militam neste contexto sabem que, durante a gestão do ex-presidente Carlos Fernandes, a LNT ficou sete anos afastada. Agora os mesmos dirigentes irresponsáveis que tinham esquema com Valdemir Medeiros e conduziram Júnior Maciel à presidência da CBTKD foram enjeitados por Medeiros, o déspota que abandonou o barco à deriva, e se veem às voltas com um presidente irresponsável e sem o menor comprometimento com o que prega ou assume publicamente.

Agora o taekwondo de Minas Gerais possui quatro entidades de gestão

A CBTKD acaba de sofrer mais um grande revés em Minas Gerais, onde se realizou a audiência promovida pela Comissão de Esporte e Lazer e Juventude, que visava a estabelecer normas para a modalidade naquele Estado.

Devido à omissão e à irresponsabilidade de Júnior Maciel, que não atendeu à convocação para depor na audiência, a comissão determinou que todos os atletas filiados às quatro entidades estaduais de administração do taekwondo mineiro participassem do campeonato nacional. Maciel não só deixou de agir em defesa de seu filiado, mas abriu um precedente perigosíssimo para a modalidade em todo o País. Vai que a moda pega?

No dia 6 de junho, o juiz federal Alexandre Libonati de Abreu revogou o afastamento do ex-presidente Carlos Fernandes, mas no período em que o dirigente esteve afastado estes funcionários da entidade e parte dos dirigentes estaduais conseguiram produzir algo inédito e jamais pensado no cenário esportivo olímpico do Brasil.

O primeiro ano deste novo ciclo olímpico do taekwondo foi marcado por traumas e golpes duríssimos, que nem mesmo os mais hábeis taekwondistas do alto rendimento poderiam defender ou evitar, tamanha a baixeza e a falta de escrúpulos dos protagonistas desta triste página da história da modalidade.

Na medida em que a Confederação Brasileira de Taekwondo agoniza num cenário de corrupção e ilegalidades, José Maciel exerce serenamente o cargo de secretário estadual de Desporto e Lazer do Amapá, enquanto Valdemir Medeiros contabiliza os vultosos dividendos obtidos com a sua demissão.

Cada vez mais fragilizado e exposto, o taekwondo está à mercê de aventureiros que jamais vestiram um dobok ou estabeleceram alguma relação técnica e filosófica, com a modalidade.