Joaquim Mamede Júnior: o judô brasileiro agoniza, e ninguém é questionado

Os dirigentes estaduais se anulam a troco de nada enquanto a cúpula (três ou quatro dirigentes) maneja recursos milionários © Budopress

Para o ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô, os dirigentes só se preocupam com o poder e esqueceram de que os atletas de ponta nascem nos clubes, nos dojôs e nas federações

Por PAULO PINTO
Curitiba (PR) / 17 de março de 2021

Joaquim Mamede de Carvalho Silva Júnior foi um dirigente vitorioso na época em que o judô brasileiro ganhou o respeito mundial, mesmo sem apoio do poder público e da iniciativa privada. Presidente da CBJ durante dez anos (1991 a 2001), sucedeu o próprio pai no que muita gente comparou a uma dinastia. Nesta entrevista à Budô, ele tem a oportunidade de desabafar, destruir mitos, denunciar descaminhos e dizer o que espera do futuro.

O judô brasileiro perdeu suas referências e sua identidade © Budopress

Para ele, o pior de tudo é que o judô está minguando no Brasil. “Não sou vidente e nem tenho bola de cristal”, afirmou, “mas tenho experiência de 40 anos no judô mundial, desde a base ao alto rendimento. Perdeu-se o espírito do judô e tudo ficou profissional demais.” Crítico ferrenho da gestão da Sílvio Acácio Borges, ele não poupa de responsabilidade Paulo Wanderley Teixeira, atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil.

Não que Mamede Júnior seja contra o profissionalismo, mas defende que seja consciente, aliado à parte técnica, mas sem abrir mãos dos princípios do Judô, o que não se vê no Brasil. Os atletas já não se orgulham mais de servir à seleção brasileira, e sim dos salários que recebem, diz. Ele teme um fracasso nos Jogos de Tóquio e critica a adesão da modalidade ao modelo europeu, baseado na força, em detrimento das origens japonesas. Veja a seguir.

Qual é a sua avaliação do judô atual?

O judô brasileiro está em péssimo estado, desconfigurado, perdeu suas referências e sua identidade. Apesar da experiência de 20 anos em competições internacionais, as pessoas que dirigem a modalidade ficaram totalmente defasadas e desatualizadas devido aos acordos que a CBJ firmou com os clubes grandes que investem no esporte. Não vejo mais o atleta de judô ter orgulho disso. Eles se orgulham de receber o que recebem para competir. Garra, determinação e amor ao judogi com a bandeira do Brasil no peito – tudo isso literalmente acabou, sob a influência e condutas dos gestores atuais.

Os dirigentes estaduais se anulam a troco de nada enquanto a cúpula (três ou quatro dirigentes) maneja recursos milionários © Budopress

O que nos levou a esse quadro negativo?

Tudo ficou profissional demais. Não que o profissionalismo seja algo negativo, não é isso. Mas ser atleta e membro da comissão técnica da seleção brasileira de judô tornou-se um negócio rentável. Tanto a nossa escola quanto a essência técnica foram dizimadas por dirigentes que tratam o judô apenas como business. Deixou-se totalmente o espirito e os princípios do judô de fora.

É claro como água cristalina que o judô técnico, aliado ao profissionalismo consciente, que preserva a essência, os fundamentos e o espírito do judô, é o caminho certo.”

Como ocorreu essa mutação de valores na área técnica?

Foi uma escolha patrocinada pela CBJ e levada adiante pelo professor Ney Wilson. Quando eu ainda estava na CBJ, minha meta era valorizar nossas conquistas e criar a Escola Brasileira de Judô. Nossa origem é eminentemente japonesa, mas desenvolvemos características e especificidades próprias. Há coisas que só os brasileiros fazem. O Aurélio Miguel era único, uma referência mundial. O tai-otoshi dele, por exemplo, era idêntico ao do Saito, mas com feeling brasileiro. Foi o que o Rogério Sampaio mostrou em Barcelona (1992) e, um pouco mais para atrás, o Walter Carmona (bronze em Los Angeles 1984 e no Mundial de Paris 1979). Nossos judocas eram admirados no mundo todo. Foi isso que nós perdemos. Perdemos não, jogamos fora. Nossos gênios da gestão do alto rendimento acharam que o judô japonês se esgotara, mas isso se deveu a erros que depois foram corrigidos. Aqui, em cada etapa do World Tour da FIJ levamos 50 pessoas para torrar dinheiro no exterior, mas elas só vão para a Europa. Perdemos a nossa essência, que combinava um judô eminentemente japonês com o tempero brasileiro.

Lamentavelmente, o nível da gestão nacional e estadual despencou © Budopress

Como se deu a ascensão do judô europeu?

A escola europeia, baseada na força, nasceu no Leste do continente, a partir da Rússia, e espalhou-se por várias nações, após a ruptura da extinta União Soviética, começando a prevalecer sobre o judô técnico. Até os japoneses e coreanos entraram nessa roubada – e se arrebentaram. Quando o Japão começou a copiar o judô europeu, o ex-campeão olímpico Yasuhiro Yamashita alertou que tudo aquilo estava errado. Agora o judô japonês está voltando a ser o que era, ganhando tudo de novo. É claro como água cristalina que o judô técnico, aliado ao profissionalismo consciente, que preserva a essência, os fundamentos e o espírito do judô, é o caminho certo.

Você acredita que o Japão vai dar ippon nos Jogos de Tóquio?

Com certeza. Até porque esta será a Olimpíada mais conturbada, porém mais fácil tecnicamente, porque os atletas do topo estão sem treinar. Garanto que o Japão não parou. Seus judocas estão fechados, mas treinando acirradamente com ajuda de toda aquela tecnologia que dominam para evitar contagio.

E o Brasil?

Nós aqui ficamos preocupados com as eleições do Comitê Olímpico do Brasil e depois da CBJ. Antigamente, toda semana víamos alguma matéria positiva ou propositiva do judô na mídia. As únicas reportagens que eu vejo agora mostram a seleção apanhando até da Venezuela ou os escândalos que envolvem o homem à frente da CBJ. A base e os Estados estão abandonados e relegados ao último plano.

Como avalia as mudanças da CBJ depois de sua saída?

Isso é complicado. Meu pai apanhou muito porque ficou muito tempo à frente da CBJ, primeiro como diretor técnico e depois como presidente. Quanto me tornei presidente, ele assumiu a superintendência. As pessoas falavam que aquilo não poderia acontecer. O Paulo Wanderley fez a mesma coisa, ficou 16 anos e só saiu porque arrumou uma brecha no Comitê Olímpico do Brasil. Não estou aqui para colocar em dúvida a capacidade dele, ao contrário, o considero extremamente capaz e acho que fez o que se propôs a fazer. Eu e meu pai fomos chamados injustamente de ladrões. Eu nunca tive salário, assim como meus diretores, e era até proibido. Fiquei sabendo que o presidente da CBJ ganha quase 30 mil reais por mês, pagos pelo COB. Quando eu saía do Brasil para uma competição internacional, levava o dinheiro contadinho e tinha de fazer milagres. Soube que atualmente os dirigentes assinam notas fiscais e gastam quanto querem. Será que este valor é realmente devido? Alguém viu estas notas fiscais na prestação de contas?  – Devemos nos preocupar muito, pois tudo isso é feito com recursos públicos.

E do ponto de vista técnico?

Quando entrou o Silvio, o desastre aconteceu. Veja o tamanho da CBJ e do judô nacional hoje. Os atletas não estão treinando como deveriam, e não se classificam nem em competições inexpressivas. Todo o trabalho está errado, não há renovação. Não existe mais a fábrica de atleta nas federações, pois todas estão largadas à própria sorte. Sem um plano de fomento do judô na base, a CBJ parou no tempo. Os professores não têm estímulo e pouco a pouco estão migrando para a docência e outras atividades ligadas à profissão de educação física. O judô agoniza, e ninguém é questionado. Enquanto isso, a gestão pensa apenas no bussines e na perpetuação no poder.

Estão acabando com a CBJ e consequentemente com a estrutura que levamos décadas para construir © Budopress

Qual é a solução para todos estes problemas?

A solução é voltarmos para nossas origens, botar o pé no chão, deixar de estrelismos. Quando fui presidente da CBJ eu estava lá para servir; várias vezes meu pai e eu fomos buscar pão para alimentar os atletas. As pessoas falavam mal do nosso centro de treinamento de Santa Cruz, mas era o que nós tínhamos condição de adquirir. Nunca antes, em esporte algum, houvera uma coisa daquelas; e hoje não há nada.

Seu pai comprou aquela área em nome da CBJ?

Sim, meu pai comprou o CT de Santa Cruz e a sede que fica no centro da cidade, onde o Robnelson e outros funcionários da CBJ moram. Aliás, naquela época o judô e o esporte como um todo não recebiam nenhuma espécie de apoio, mas meu pai deixou como legado o CT e o conjunto da Rua Don Pedro I. Hoje a CBJ possui orçamento de 25 milhões de reais anuais e paga aluguel de um prédio suntuoso em Humaitá, que custa mais de meio milhão de reais por ano. Mesmo manejando um orçamento bilionário, o Paulo Wanderley Teixeira não deixou sequer uma quitinete como legado. Meu pai e eu deixamos um centro de treinamento ao qual o atual presidente do COB deu fim. Sinceramente não sei muita coisa sobre essa operação sinistra e mal explicada. Mas soube que há quatro anos o Marcelo França quis candidatar-se à presidência, mas o Paulo Wanderley, que não o apoiava, jogou em cima da mesa um monte de notas fiscais referentes ao Centro Pan-Americano de Judô e o ameaçou: “se você for candidato eu arrebento você”. Será que isso é verdade? Já o centro de treinamento de Lauro de Freitas, que pelas notícias veiculadas há a suspeita de desvio centenas de milhões dos cofres públicos, não é mais da CBJ. E mesmo assim dizem que meu pai e eu fomos maus gestores e que essa gente que está aí faz uma boa gestão. Isso chega a ser acintoso”, declara Júnior.

Você conheceu o CPJ de Lauro de Freitas?

No ano passado, antes da covid, viajei à Bahia e fiz questão de passar lá; achei tudo perfeito, mas para quê? Devia ter sido para o desenvolvimento do judô brasileiro e não para virar notícia de  desvios de recursos públicos. Na nossa época à frente da CBJ, trazíamos atletas e técnicos de outros Estados para treinar em Santa Cruz, e dávamos total apoio e infraestrutura – mas dentro daquilo que podíamos. A Gemima (PE), o Delfino (AC), o professor Paulo Wanderley, todos cansaram de ficar na casa do meu pai. O Paulo Wanderley chamava a minha mãe de mãe e era mais bem tratado pelos meus pais do que eu.

Mamede Júnior presidiu a CBJ por 10 anos © Budopress

Foi por isso que você teve problemas de relacionamento com o seu pai?

Sim. Mas era porque ele tratava mais o Paulo Wanderley como filho do que eu. Uma coisa que as pessoas não sabem é que quando o Paulo Wanderley foi candidato à presidência da CBJ pela primeira vez – e perdeu para mim –, ele procurou antes o meu pai, de quem ouviu que ainda não era a vez dele. Naquela época havia uma guerra muito grande com São Paulo e eu estava entrando para ser presidente na CBJ para poder ficar um período. Ele não quis ouvir meu pai e perdeu para mim.

Quem criou o estigma sobre São Paulo – que se os paulistas chegassem ao poder na CBJ dominariam de vez o judô do Brasil – que até hoje influencia alguns dirigentes?

Este estigma baseia-se numa grande mentira, mas não foi o meu pai que criou isso, e sim o professor Sérgio Adib Bahi. Ele fez isso porque dizia que, naquela época, não havia em São Paulo pessoas gabaritadas para tocar a confederação. Ele era uma águia. Não foi à toa que foi presidente da federação paulista, da CBJ, da confederação pan-americana e vice-presidente da Federação Internacional de Judô. Aliás, ele foi o maior dirigente do judô, mas cometeu este erro que tanto prejudicou o nosso querido amigo Chico, um dos dirigentes mais capacitados e mais injustiçados do nosso País.

Você acha que o professor Francisco de Carvalho foi perseguido?

A era Chico acabou e os dirigentes não se deram conta de que agora o bicho vai pegar, pois daqui por diante São Paulo vai fechar-se em copas. Não vai mais proporcionar o apoio que o Chico sempre ofereceu aos demais Estados, seja dando ajuda técnica seja enviando ajuda financeira para muitos presidentes de federação. Sei de Estados que viviam nas costas dele. Ele queria fazer história e explodir o judô do Brasil técnica e estruturalmente, mas a turma do PW o perseguiu até a morte. Posso falar com muito embasamento, pois quando o Paulo Wanderley escorraçou a imagem do meu pai do judô, o Chico – embora tivesse organizado e liderado o grupo que visava a alternância do poder e eleito o Paulo Wanderley em chapa única – foi a única pessoa que ajudou e deu assistência ao meu pai. Ele era um judoca na acepção da palavra. Essa gente que está aí só pensa em dinheiro e poder.

Como você define o professor Sérgio Adib Bahi?

Já disse. Ele foi o maior gestor do judô das Américas e com uma grande vantagem sobre toda essa gente que nos sucedeu: era honesto, justo, e dava a vida pelo judô. Era poliglota e tinha lugar de destaque no judô mundial. Vou revelar um fato para essa nova geração avaliar o Bahi e o Chico, quem sabe esses dirigentes estaduais que apoiaram o Sílvio tenham a hombridade de reconhecer o erro que cometeram apoiando todas as ilicitudes que vêm acontecendo na CBJ. Quando o Sérgio Bahi faleceu, a esposa dele chamou o professor Chico e disse que no cofre do marido havia dólares que pertenciam a União Pan-Americana de Judô. Ele ligou para o tesoureiro, que era da Bolívia e foi a São Paulo para receber o dinheiro. Eram U$ 80 mil, pouco mais de meio milhão de reais. Se fosse essa gente que nos sucedeu, esses recursos seriam devolvidos? A perda do Bahi e agora do Chico põe fim a uma época na qual o judô era comandado por abnegados apaixonados pelo legado socioeducativo deixado pelo professor Jigoro Kano.

As pessoas que estão dirigindo o alto rendimento estão totalmente defasadas e desatualizadas © Budopress

Como avalia a assembleia eletiva da CBJ?

Um show de horrores, se eu estivesse presente certamente não me conteria. Faltou educação e trato por parte das pessoas que conduziram a assembleia. Desrespeitaram todos os que estavam assistindo ao evento. Sem contar que havia pessoas lá dentro que não eram do judô, como prega o estatuto da CBJ. Gente que ignora a essência e o espírito do judô. Quem dirigiu a AGE foi o presidente da Confederação Brasileira de Esgrima, e ele reiteradas vezes destratou faixas-pretas e professores kodanshas de judô. Todos foram desrespeitados acintosamente. Ele chegou a ameaçar de expulsão o advogado da oposição. Estão destruindo o legado que nós deixamos de um esporte campeão olímpico, de trabalho sério em parceria com as federações e não contra elas. Tenho certeza de que o professor Sérgio Bahi se revirou no túmulo, assim como o meu pai e os professores Chico do Judô e Carlos Catallano Caleja.

Quais são as perspectivas daqui para frente?

Aquele show de horror não acabou e certamente trará consequências desastrosas para a modalidade, pois ali também pesou a mão da diretoria do COB, já que as pessoas que comandaram o espetáculo são habitués da entidade. Aquilo mostrou claramente como futuro do judô brasileiro está em perigo. Nunca a modalidade recebeu tanto dinheiro, mas nunca teve uma gestão tão desastrosa como esta e lamentavelmente o judô brasileiro está afundando. Falavam que meu pai era arrogante. Pergunto: o que o Machadinho fez na AGE não foi arrogância, prepotência e falta de respeito?

De positivo, o que você viu na assembleia eletiva?

A atuação da defesa da oposição foi perfeita. Com a reação da comissão eleitoral, ficou claro que o processo foi manipulado por gente grande e isso deve ter consequências graves. Eu não estava lá, mas pelo que vi pelo YouTube, tudo rolou na base do “eu mando, eu faço, cale a boca por que eu vou cortar a sua palavra e tirá-lo da sala”.

Desgraçadamente, no futuro o presidente Sílvio será lembrado como o dirigente que destruiu o judô nacional.”

Como viu o Aurélio Miguel fazendo parte da comissão eletiva do Sílvio Acácio Borges?

Deprimente. Como é que o nosso primeiro campeão olímpico, responsável pelo desenvolvimento do judô brasileiro, se prestou a fazer parte de algo tão pequeno e mesquinho. Ele deveria estar concorrendo à presidência da CBJ, e não servindo um sujeito investigado pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União. O Aurélio foi um dos maiores judocas do mundo, e não poderia ter-se envolvido com esta gente. Nada disso é compatível com seu currículo.

Ser atleta e membro da comissão técnica da seleção brasileira de judô tornou-se um negócio rentável © Budopress

Qual era o orçamento anual médio da CBJ quando você era presidente?

Algo em torno de 500 mil reais.

Este ano a CBJ aprovou um orçamento de 25 milhões de reais, mesmo sem nenhum evento no calendário de 2021, sem falar dos quase 8 milhões que a entidade recebe do COB. Como compará-la com a entidade que vivia com meio milhão?

Eu vejo pelos dois lados. Hoje as coisas são mais caras, temos tecnologias que demandam maior investimento. Há mais oportunidades para a gestão esportiva do que naquela época. Se tivéssemos tido tudo isso, certamente teríamos conquistado mais medalhas de ouro no passado. Eu não me preocupo com o que está entrando, e sim com o que é feito e tem sido conquistado com esse orçamento milionário. Quanto desses recursos vai para a base e para os Estados fomentarem a modalidade? O que estamos crescendo de fato com essa fortuna que está sendo despejada anualmente na CBJ? Não é a receita que importa, e sim a gestão desse dinheiro, que está sendo muito mal distribuído, enquanto o judô está indo para o ralo.

Como você agiria num momento de crise como esse, tendo um orçamento anual de quase 30 milhões de reais?

Como eu sempre fiz, ajudaria principalmente as federações mais debilitadas, mais necessitadas. Muitas vezes a CBJ enviou dinheiro, para custear a viagem de algum atleta; se ele não tivesse condições, ficava na minha casa ou no meu dojô. Quantas vezes o professor Sílvio dormiu num dojô? Olha que eu morei em Santa Catarina e conheço a fama dele lá. Eu não quero que o judô volte ao que era antigamente. Não quero porque ele cresceu e caminhou graças àquele início que foi esquecido.

Em 20 anos esta foi a primeira vez que um dirigente da CBJ não é eleito por aclamação. Como você vê este fato?

O Sílvio não passou por processo eletivo em 2017. O Paulo Wanderley o meteu goela abaixo da oposição que havia naquele momento, na contrapartida de não indicar seu pupilo Robnelson, um dos maiores salários da CBJ e que se perpetua na gestão. O Sílvio havia feito uma administração tão desastrosa na FCJ, que seus pares o removeram da entidade. Mas o Paulo Wanderley resolveu apoiá-lo e hoje o judô despenca ladeira abaixo em ritmo acelerado. Desgraçadamente, no futuro ele será lembrado como o dirigente que destruiu o judô nacional. Ele não está apenas destruindo aquilo que seu antecessor conquistou, ele está destruindo tudo que o Sérgio Bahi, meu pai e eu conquistamos e deixamos para o judô.

Como ex-presidente qual é mensagem que você deixa para os judocas do Brasil?

Esta eleição deixou algo muito importante: o grupo formado pelas sete federações que não aprovam o que acontece no judô do Brasil. Em breve serão dez, depois 11, e esta gestão dele será a pá de cal em sua administração. Espero que esse grupo não pare de trabalhar pela moralização da CBJ, que estes dirigentes estaduais despreparados não aceitem ser compradas e ponham fim de verdade à hegemonia do Paulo Wanderley na CBJ. Muitos dirigentes remanescentes falaram que o presidente do COB atuou fortemente nos bastidores, ligando para os dirigentes apoiarem o candidato da situação e queimando a imagem do Chico. O Paulo precisa entender que ele tem que cuidar do COB e deixar o judô seguir o seu caminho. A pergunta que fica é: qual é o real interesse do professor Paulo na CBJ, se ele dirige um dos três comitês olímpicos mais importantes das Américas? Por que ele ficou ligando para os dirigentes fazendo campanha para o Sílvio? Nesse mato tem coisa. Até hoje falam que o meu pai comprava os dirigentes estaduais com viagem. E agora está muito pior porque os caras não viajam, não têm a experiência e a vivência de uma competição internacional, apenas se prostituem. A troco de quê? O que acontece nos bastidores da CBJ?