Lutador de wrestling é executado por enforcamento pelo governo totalitário do Irã

Teerã, capital da República Islâmica do Irã – Foto Vahid Salemi / AP

Apesar do clamor global e do Comitê Olímpico Internacional, o jovem lutador Navid Afkari foi injustamente executado por participar de protestos antigovernamentais

Política
12 de setembro de 2020
Fonte BBC NEWS e METRÓPOLES
Curitiba – PR

A mídia oficial do Irã informou neste sábado (12) que o jovem lutador de wrestling, Navid Afkari, 27 anos, foi executado. Ele foi condenado pelos tribunais da República Islâmica do Irã, por homicídio culposo de um segurança de empresa pública do país, esfaqueado em agosto de 2018.

Em vídeo exibido na semana passada pela emissora de televisão pública do Irã, o lutador confessou ter esfaqueado várias vezes Hassan Turkman, um homem que atuava como segurança de uma companhia local de água.

O caso do campeão de luta greco-romana repercutiu muito nos últimos dias devido à pressão popular e clamor internacional para que a sentença não fosse cumprida. Houve muitos apelos para impedir a execução, inclusive a Associação Mundial de Atletas, que representava 85.000 esportistas em todo o mundo afirmou em nota que Afkari foi “injustamente condenado” simplesmente por participar de protestos e pediu a expulsão do Irã do esporte mundial se a execução fosse realizada.

Navid Afkari foi executado na manhã deste sábado – Reprodução/instagram @afkarinavid

O Comitê Olímpico Internacional (COI) classificou sua execução como “uma notícia muito triste” e disse que seus pensamentos estavam com sua família e amigos. “É profundamente perturbador que as súplicas dos atletas de todo mundo e todo o trabalho de bastidores do COI, junto com o Comitê Olímpico Nacional do Irã, a Federação Mundial de Lutas e a Federação Nacional de Luta Livre do Irã não tenha alcançado nosso objetivo”, diz o comunicado da entidade máxima do esporte mundial.

Após a execução, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, garantiu ter feito pedidos pessoais e diretos a Ali Khamenei, líder supremo do país persa, e a Hassan Rohani, presidente do Irã, ao longo da semana, pedindo “misericórdia a Afkari”, que tinha apenas 27 anos.

Entenda o caso

Afkari foi acusado de ter formado um grupo de ação contra o regime do Irã, matado um segurança e participado ativamente de manifestações nas cidades de Kazerun e Shiraz. Ele foi preso ao lado dos irmãos, Vahid e Habib, em agosto de 2018, e recebeu duas penas de morte pelas acusações.

Os irmãos de Afkari, Vahid e Habib, foram condenados a 54 e 27 anos de prisão no mesmo caso, segundo ativistas de direitos humanos no Irã.

Prática repressora comum no Irã, policial iraniano prepara uma execução pública de condenado, em Teerã (Foto EPA)

Navid Afkari disse que foi torturado para fazer uma confissão. Em uma gravação que vazou e divulgada pelo grupo, Afkari diz: “Se eu for executado, quero que o mundo saiba que sou inocente, mesmo que tenha tentado e lutado com todas as minhas forças para ser ouvido, fui executado.”

Entidades, personalidades e autoridades do mundo todo, inclusive o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tentaram evitar a execução do lutador, mas lamentavelmente não conseguiram. Em nota, Trump pediu clemência dizendo que “o único ato cometido pelo lutador iraniano foi participar de uma manifestação antigovernamental nas ruas.”

A organização de direitos humanos Amnistia Internacional descreveu a execução de Navid Afkari como uma “caricatura de justiça”. O lutador foi executado por enforcamento na cidade de Shiraz, no Sul do país, segundo a mídia estatal Persa.

Revelando toda a indiferença do governo da república teocrática islâmica, no Twitter, o advogado de Afkari revelou que seu cliente foi impedido até mesmo de ver a família antes de sua morte, conforme é exigido pela lei iraniana.