Mayra cai no segundo combate e cabe aos pesos-pesados livrar o Brasil de mais um fiasco internacional

Mayra caiu na segunda luta contra a holandesa Marhinde Verkerk, dona de quatro medalhas mundiais © Marina Mayorova

Após seis dias de disputa, seleção brasileira de judô – uma das que recebem maior aporte financeiro – figura na 26ª colocação do Mundial de Budapeste

Campeonato Mundial
Por PAULO PINTO
11 de junho de 2021 / Curitiba (PR)

Até agora a seleção brasileira de judô não conquistou nenhum pódio e, para piorar, um time que antes era altamente competitivo hoje não consegue passar do primeiro ou segundo combate. O mais preocupante é que a gestão de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô comemora um 7º lugar como se fosse uma medalha de ouro.

Numa competição em que os principais atletas do mundo, já classificados para as Olimpíadas, estão ausentes, tudo que o Brasil conseguiu com sua força máxima foi um 5º lugar com a veterana Ketleyn Quadros (63kg) e um 7º com a também veterana Maria Portela (70kg).

A intocável comissão técnica da CBJ, que há mais de 20 anos é comandada por Ney Wilson e seus fiéis escudeiros Jun Shinohara e Rosicleia Campos – há décadas os três maiores salários do judô nacional –, engessou a seleção e o próprio judô de tal forma que hoje o Brasil perdeu sua identidade.

O conceito de que o melhor atleta da atualidade deveria representar o País já não existe. Agora o judoca tem primeiro de fazer parte daqueles quatro clubes que mandam no judô nacional e depois aceitar o rodízio que os eternos comandantes da modalidade impõem aos atletas da equipe. Na nossa avaliação, Ney Wilson conseguiu finalmente acabar com o judô brasileiro, que dificilmente manterá o retrospecto de medalhas nos Jogos de Tóquio 2020.

No primeiro combate Mayara Aguiar venceu a belga Sophie Berger com dois wazaris © Marina Mayorova

Desempenho pífio

Gabriela Chibana (48kg) e Leonardo Gonçalves (100kg) foram eliminados no primeiro combate e mais uma vez voltaram para casa sem nenhuma vitória.

Eric Takabatake (60kg), Larissa Pimenta (52kg), Eduardo Barbosa (73kg), Ketelyn Nascimento (57kg), Guilherme Schimidt (81kg), Rafael Buzacarini (100kg) e Mayra Aguiar (78kg) conseguiram vencer a primeira luta, mas caíram em seguida.

Apenas Eduardo Yudy Santos (81kg), Alexia Castilhos (63kg), Ketleyn Quadros (63kg), Rafael Macedo (91kg) e Maria Portela (70kg) realizaram a façanha de vencer duas vezes, o que foi suficiente para a comissão técnica brasileira comemorar muito.

Os melhores resultados foram obtidos pelos atletas mais experientes e com idade superior a 30 anos, o que comprova que não houve renovação nem oportunidade para o surgimento de novos talentos.

Como consolo aos judocas brasileiros que amam verdadeiramente a modalidade, resta apenas depositar suas esperanças nos três paulistas e um mato-grossense pesos-pesados Maria Suelen Altheman (+78kg), Beatriz Souza (+78kg), Rafael Silva (+100kg) e David Moura (+100kg), que subirão aos tatamis de Budapeste neste sábado.

Futuro sombrio

No âmbito da gestão achamos que está mais do que na hora de empresas patrocinadoras, como Bradesco e Cielo, Comitê Olímpico do Brasil e Secretaria Especial do Esporte reverem o investimento milionário que vem sendo feito no judô, para pôr fim à farra promovida pela cúpula da modalidade com recursos públicos e privados.

Estima-se que neste ciclo olímpico foram despejados mais de 60 milhões de reais numa equipe medíocre, em detrimento da base e do judô estadual, que agonizam num lento processo de abandono, decorrente de interesses financeiros e da falta de visão dos gestores nacionais.