Mudança na data sacrifica 75% dos judocas amazonenses que iriam competir no Brasileiro Regional I

Gláucio Mendonça lembra que no Amazonas os atletas só conseguem viajar com transporte aéreo devido à enorme distância

Troca na data do brasileiro da região I tira mais de 60 crianças do Amazonas da competição, e a CBJ frustra expectativas e joga muitos sonhos por terra

Gestão Esportiva
26 de março de 2019
Por ISABELA LEMOS IFotos MICHELLY RIBEIRO
Curitiba – PR

Não diferente da temporada de 2018, este ano a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) enfrenta críticas por alterar data e local de competições já programadas. A polêmica desta vez envolve a mudança de data do Campeonato Brasileiro da Região I, que abrange os Estados do Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima.

A competição se realizaria nos dias 6 e 7 de abril no Ginásio do Castelinho, em São Luís (MA), que foi danificado pelas fortes chuvas que atingiram a região em 5 de março. Somente após 16 dias dos danos causados ao ginásio, a CBJ postou um comunicado oficial relatando que a competição seria adiada em uma semana após a data prevista e se realizaria em outro ginásio, o Costa Rodrigues. Agora, o Brasileiro da Região I tem data marcada para os dias 13 e 14 de abril.

Quase todos os atletas das classes sub 13, sub 15 e sub 18 não poderão viajar para a competição

Mais uma vez a gestão nacional de eventos da Confederação Brasileira de Judô desrespeitou o regulamento nacional de eventos da própria entidade, que diz:

“Os campeonatos ocorrerão em datas e locais definidos no Calendário Oficial da CBJ. Cabendo a esta Confederação o direito de modificar, transferir ou eventualmente cancelar os eventos programados no Calendário Oficial, obrigando-se a levar o fato ao conhecimento das filiadas com o mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias de antecedência, acompanhado das justificativas que ocasionaram tal decisão”.

Grande parte da seleção do Amazonas que ia a São Luiz já deu adeus a competição

As regras são claras e estabelecem que as datas só podem ser alteradas com 45 dias de antecedência. Apesar de ter havido um desastre natural, a confederação se posicionou e lançou um pronunciamento somente 16 dias após o acontecimento, mudando também a data do evento. Essa decisão afeta significativamente todos os judocas, professores e dirigentes que já haviam comprado passagens e pago estadias na rede hoteleira com meses de antecedência.

O Amazonas é um Estado em que os atletas só conseguem viajar com transporte aéreo devido à longa distância. O diretor técnico da Federação de Judô do Amazonas (Fejama), Gláucio Mendonça, afirmou que, de 80 atletas inscritos, no máximo 20 poderão comparecer devido à mudança de data repentina.

“Algumas pessoas estão tendo de pagar mais de R$ 1 mil para remarcar a passagem, e quem a comprou com milhas não consegue alterar a data. Ainda existe a questão das estadias nos hotéis, pois alguns dos que reservamos já estão lotados na semana da competição. No ano passado, tivemos um problema parecido em Manaus. A gestão anterior da federação alterou a data duas vezes, porém, a última alteração foi 40 dias antes da competição”, explicou o diretor técnico da Fejama.

Judocas amazonenses das classes sub 18, sub 21 e sênior

Para o professor, o correto seria adiar o campeonato com tempo hábil para que os participantes pudessem comprar a passagem com menor preço. Além de não irem ao brasileiro regional nas categorias inferiores, ainda perderão vaga no campeonato brasileiro. “Demoraram muito para avisar que a data seria mudada”, afirmou Mendonça.

O diretor técnico não se deixa abalar pelos pensamentos negativos relacionados ao judô de seu Estado. “Muita gente pensa que somos coitadinhos, mas é bom lembrar que nas duas últimas edições do regional fomos o Estado que mais conquistou medalhas de ouro. Somos bicampeões consecutivos e por isso temos de participar; não nos estamos fazendo de coitados. Exigimos os direitos de uma federação que seguiu fielmente o regulamento da CBJ, e de quebra obteve o maior número de medalhas nas duas últimas edições do Campeonato Brasileiro da Região I”, declarou o professor.

Um misto de frustração e expectativa está minando o psicológico de quase toda a equipe amazonense

Michelly Ribeiro, técnica em enfermagem e mãe do judoca amazonense Jean Ribeiro, que está escalado para participar do Brasileiro da Região I, conta que chegou a realizar uma feijoada e uma rifa para arrecadar fundos para custear a passagem e estadia de seu filho na competição. Seria o primeiro campeonato do Jean fora do Estado.

“A gente espera que a CBJ tome providências para diminuir o prejuízo que tivemos, que ela pense nas vagas e se preocupe com a situação em que colocou o Amazonas. Logisticamente, tudo isso é muito difícil para nós. Fizemos tudo certo e seguimos à risca tudo que foi determinado no outline da competição. Estamos em um Estado no qual as pessoas só podem viajar de avião”, demandou Michelly.

Jean Ribeiro e sua mãe Michelly Ribeiro esperam respostas da CBJ

A técnica em enfermagem questiona como fica a condição psicológica destas crianças que terão de abrir mão de seus sonhos devido à mudança de data da competição. Ela contou que seu filho ainda não consegue entender como, depois de tudo que a família fez para arrecadar fundos para a viagem, ele ainda não poderá participar do campeonato com que sempre sonhou.

Enquanto professores abnegados se empenham para fomentar e disseminar a modalidade em Estados onde o judô ainda não é tão popular e conhecido, a gestão nacional de eventos da Confederação Brasileira de Judô frustra expectativas e sonhos de crianças e jovens em trilhar o caminho suave.