Federação Paulista de Judô completa 66 anos no momento mais nefasto da sua história

Para aprimorar a qualidade técnica do judô do Brasil, em 1952 o professor Tatsuo Okoshi trouxe ao Brasil três professores do Instituto Kodokan: Yoshihiko Yoshimatsu, Shinzo Takagaki e Yoshimi Ozawa © Kiai

À deriva e absolutamente desgovernado, hoje o judô de São Paulo comemora seu 66º aniversário da forma mais perversa e perniciosa possível.

Por Paulo Pinto / Global Sports
17 de abril de 2024 / São Paulo (SP)

A Federação Paulista de Judô (FPJudô) foi fundada em 17 de abril de 1958, fruto do empenho de professores abnegados em conjunto com o doutor Lúcio Moreira Franco e com o aval dos representantes dos principais clubes e associações daquela época.

Os responsáveis pela criação da Federação Paulista de Judô e seus respectivos clubes foram os professores Seisetsu Fukaia e Edgard Ozon, Esporte Clube Pinheiros; Yasuichi Ono, Associação de Judô Ono; Hikari Kurachi, Escola Kurachi de Judô; e Hideki Yoshida, Esporte Clube Linense. Importante lembrar que a partir da fundação da nova entidade o judô pôde finalmente desvincular-se da Federação Paulista de Boxe, entidade à qual era submetido em todos os níveis da gestão.

O primeiro presidente eleito foi o próprio Moreira Franco, sucedido por outros abnegados que, com base nos princípios definidos por Jigoro Kano, edificaram a maior potência do judô das três Américas.

Tido pelos judocas de todo o País como a locomotiva do judô do Brasil, nesses 66 anos o judô paulista foi a grande referência nacional, mas não apenas pelo seu pioneirismo, mas porque a colônia japonesa no Estado sempre foi gigantesca, facilitando a proliferação de dojôs e proporcionando forte intercâmbio entre o Brasil e o Instituto Kodokan de Tóquio.

Um exemplo

Apenas para citar um exemplo, já em 4 de outubro de 1952, antes mesmo da fundação da entidade, o industrial Tatsuo Okoshi, professor kodansha hachi-dan (8º dan), trouxe ao Brasil uma delegação composta por três professores do Instituto Kodokan. Foram eles Yoshimi Ozawa (go-dan), professor de Chiaki Ishii na Universidade de Waseda, Shinzo Takagaki, professor kodansha hachi-dan (8º dan) e Yoshihiko Yoshimatsu, professor kodansha shichi-dan (7º dan).

Sensei Okoshi nasceu em Tóquio em 26 de março de 1892 e, após formar-se em química na Universidade de Hokkaido (Norte do Japão), em 1924 migrou para o Brasil onde fundou um laboratório farmacêutico. Naturalizou-se em 1956 e veio a falecer em 1965, deixando um legado gigantesco para o judô do Brasil.

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Este foi apenas um pequeno exemplo da importância que a colônia japonesa teve no desenvolvimento técnico do judô paulista e brasileiro. E o resultado desse apoio são as 16 medalhas olímpicas conquistadas por atletas de São Paulo, contra as sete obtidas pelos representantes dos demais Estados.

Não se trata apenas de disputas, números ou resultados, mas de evidenciar a histórica contribuição de São Paulo ao judô dos demais Estados brasileiros. Nossos reais adversários estão além das nossas fronteiras e, além delas, somos o time verde e amarelo que demanda sentimentos de união, força e qualificação técnica.

Nada a comemorar

Voltando à data de hoje, 17 de abril de 2024, vemos o judô paulista mergulhado num mar de incertezas causadas por manobras jurídicas, assim como ocorreu recentemente nos Estados do Paraná, Paraíba, Pará e Acre. Unidades da federação com dirigentes que ousaram discordar da figura abjeta e sinistra de um dirigente motivado pela cólera contra todos judocas que não compactuam com o tamanho que o judô do Brasil atingiu nos últimos sete anos, os quais não se cansa de perseguir e penalizar.

Até 2016 o judô era a principal modalidade esportiva do País no quesito gestão. Era a modalidade com maior investimento dos setores público e privado, dispunha de um centro de treinamento moderno e requintado na Bahia. Enfim, era o maior exemplo de administração e gestão do desporto olímpico nacional. Hoje nada disso existe mais e a modalidade vive apenas das facilidades e garantias proporcionadas pelo Ministério do Esporte, por meio da benevolência política e das afinidades esportivas que ligam a CBJ ao presidente do Comitê Olímpico do Brasil.

A modalidade parou em vários Estados e a chamada locomotiva está na oficina de manutenção ferroviária, sabendo-se lá quando voltará a produzir os resultados que sempre ofereceu ao judô do Brasil.

Enquanto isso, os demais 22 dirigentes estaduais da modalidade dividem-se entre os que apoiam, comemoram e estimulam tamanho autoritarismo e aqueles que abominam e desaprovam a insensatez, a inaptidão e o desequilíbrio psicológico de um dirigente despreparado para assumir o cargo que lhe foi presenteado por seu antecessor.

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