O talento pouco divulgado de Mário Sabino

Mário Sabino faz a final do paulista veteranos de 2019 com Glauber Aragão

Formado em educação física, o atleta falecido recentemente era muito respeitado pelos professores, que viam em seu futuro uma carreira acadêmica importante

Memória
8 de novembro de 2019
Fonte Por PAULO AZEVEDO I Fotos ARQUIVO
Curitiba – PR

Dentro e fora do esporte o legado do judoca Mário Sabino Júnior relaciona-se como atleta do Projeto Futuro em São Paulo, com marcante passagem pela equipe de São Caetano e a carreira na seleção brasileira com vários títulos nacionais e internacionais. Entretanto, existe um aspecto dele pouco conhecido, que é a relação acadêmica com a educação física e a ciência aplicada ao esporte brasileiro.

Douglas Vieira, Alexandre Drigo, Mário Sabino e Chicão Camilo no Congresso Olímpico Brasileiro realizado no COB em abril

Nesta entrevista o professor doutor Paulo Azevedo, profissional com larga experiência no campo acadêmico, mostra a relação de Mário Sabino com pesquisa aplicada ao esporte.

“Pouco conhecido porque em geral a mídia pouco explora a educação em nosso País”, ressaltou o professor Paulo Azevedo, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano e Reabilitação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Ele relatou a experiência que teve ao desenvolver, junto com o professor Alexandre Drigo, um trabalho com Sabino em 2004, num dos primeiros artigos em periódico científico brasileiro a registrar um estudo de caso relacionado à preparação física de um judoca de elite no País (*)

Mário Sabino, não custa lembrar, era bacharel em educação física pela Faculdade Integrada de Bauru (FIB) e desde 2012 integrava a comissão técnica da seleção brasileira de judô, cargo não remunerado.

O artigo inicia-se em 1999 com a relação entre Sabino e Paulo Azevedo, então seu preparador físico. Participou daquele momento o professor Nélson Prudêncio, medalhista olímpico no salto triplo, que auxiliou nas decisões sobre modelos de periodização. Na sequência somaram-se à equipe os professores Alexandre Janotta Drigo e Mauro Gurgel. Com a equipe a montada, começou o registro de todas as atividades propostas e efetivadas em relação à preparação esportiva do Mário Sabino.

“Ficávamos horas conversando sobre os atletas que enfrentaríamos, suas características e a ordem de prioridade das competições”, relatou Azevedo. “Explicávamos a ele como seria o processo de treinamento, quais avaliações faríamos em conjunto com o Drigo e o porquê de tudo aquilo. Também deixávamos clara a importância de ele seguir tudo à risca, mesmo quando estava com a seleção. Muitas vezes tínhamos de adaptar os treinamentos devido à rotina dele como policial militar.”

Na final dos Jogos Pan-Americanos de 2003 em Santo Domingo, Mário Sabino comemora a vitória sobre o medalhista olímpico canadense Nicholas Gill

No artigo, os professores relatam toda a preparação que culminou com o Mário Sabino tornar-se campeão dos Jogos Pan-Americanos de São Domingos e medalhista de bronze no Mundial de Osaka, além das várias conquistas no circuito europeu, todas em 2003.

O último encontro de Paulo Azevedo e Alexandre Drigo tiveram com Sabino ocorreu no Congresso Olímpico Brasileiro, em 13 de abril deste ano, e dele participaram Douglas Viera e Chicão Camilo. O assunto principal foram as transformações que o judô veio sofrendo, evoluindo ao ponto de três atletas olímpicos do judô brasileiro estarem participando de um congresso acadêmico sobre esporte e nele expondo trabalhos científicos.

Paulo Azevedo conversou com Sabino há duas semanas, quando o atleta foi a Santos fazer o fechamento da disciplina dele de pós-graduação na Unifesp.

“Marião contou como utilizava o aprendizado adquirido durante nosso trabalho”, descreveu o professor. “Ele tinha a preocupação de, após cada sessão de treinamento, fazer um relatório minucioso de cada atleta, com os pontos fortes e indicando os que deveriam ser melhorados. Passava tudo para eles e os técnicos principais. Ele reforçava sempre que a comissão técnica da seleção deveria estar em contato permanente com a comissão técnica individual dos atletas (algo que faltou na nossa época, e não foi por falta de insistência nossa).

Ao lado do técnico Floriano de Almeida e outros atletas, Sabino comemora conquista na Argentina em 1989

Segundo Azevedo, Sabino sabia como é importante utilizar o conhecimento científico para o desenvolvimento do atleta de alto nível, sem deixar de lado as características individuais e todo o histórico pessoal. “Não tenho dúvidas de que ele obteria o grau de mestre e doutor e contribuiria muito para o desenvolvimento do judô nacional e internacional. Enfim, foi capaz de absorver a ciência enquanto atleta, contribuindo enquanto autor e protagonista de um estudo de caso, aplicando estes conhecimentos no alto nível do judô. Vai deixar saudade.”

*Azevedo, P H S M de; Drigo, A J; Oliveira, P R de; Carvalho, M C G de; Sabino, M. Sistematização da Preparação Física do Judoca Mário Sabino: um estudo de caso do ano de 2003. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas-SP, v. 26, n.1, p. 73-86, 2004.