15 de novembro de 2024
Pragmático, Ernani Contursi afirma que a caixa preta do CONFEF precisa ser aberta
Além de destacar a inoperância do conselho, o vice-presidente do CREF1 considera a gestão da entidade nacional ultrapassada, ineficiente e negligente com os Profissionais de Educação Física
Gestão
25 de setembro de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos ARQUIVO CREF1 e BUDOPRESS
Curitiba – PR
No dia 18 de setembro o Movimento pela Valorização do Profissional de Educação Física do Estado do Rio de Janeiro (Movapef) decidiu em assembleia geral aderir ao Movimento Confef, grupo que propõe mudanças significativas no Conselho Federal de Educação Física (CONFEF). Em busca de uma gestão voltada para os profissionais, o professor Ernani Contursi, 1º vice-presidente do CREF1-RJ/ES, anunciou que o Rio de Janeiro está alinhado ao Movimento Confef, nas próximas eleições da entidade nacional.
Para se ter uma dimensão do que esse apoio significa, Contursi explicou a importância Movapef: “Em número de registrados, somos o segundo maior conselho regional do Brasil, e temos por princípio nunca tomar nenhuma decisão sem antes reunir as lideranças do Rio de Janeiro e debater o assunto que estiver em pauta. Temos 650 voluntários que nos representam em todos os municípios que nos informam sobre as demandas locais”, explicou o dirigente.
“Sempre que existe uma decisão importante nosso pessoal se reúne com os presidentes das comissões regionais, conselheiros, coordenadores de faculdades, sindicatos, Sesi, Sesc, Associação Cristã de Moços e demais instituições que atuam no segmento, detalhou Contursi. Antes da reunião de 18 de setembro, as lideranças consultaram os dois grupos que defendem a renovação para do CONFEF, e só então foi aprovado total apoio ao Movimento Confef, liderado por Nelson Leme”, disse Contursi.
O dirigente fluminense esclareceu que esta afinidade se baseia na descentralização do poder e na liberdade para o conselho federal poder voltar-se ao Profissional de Educação Física, e não limitar-se aos interesses da instituição, que se encontra isolada e distante daqueles que são a razão de sua existência.
Não é apenas o presidente que está no posto há mais de duas décadas. Toda a equipe de gestão é a mesma –tesoureiro, secretário, vice-presidente e planejamento. Não muda ninguém. Só sai quem morre ou se aposenta, e as consequências são nefastas.”
Em informativo publicado no dia 18 de setembro, o CREF1 expôs que há 21 anos a gestão do CONFEF mantém a mesma estrutura organizacional, com poucas mudanças de conselheiros, diretoria e presidência.
“Na prática, o que nós temos no CONFEF é uma imposição de ações e situações”, disse o vice-presidente do CREF1. “Vivemos uma ditadura em que o presidente decide e impõe o que quer, sem consultar ninguém. O conselho federal é totalmente dominado por uma pessoa, repetindo o modelo encontrado na grande maioria das confederações esportivas, que geralmente se tornam capitanias hereditárias. Mas o pior é que não foi apenas o presidente que permaneceu no posto nas duas últimas décadas. Toda a equipe de gestão é a mesma – tesoureiro, secretário, vice-presidente, gestor e ouvidor. Não muda ninguém. Só sai quem morre ou se aposenta, e as consequências para a categoria são nefastas.”
Contursi lamentou a falta de programas para a categoria e que os dirigentes visam apenas ao interesse institucional, como a sede luxuosíssima que vale milhões de reais. Os gestores acumulam regalias, mas nada fazem por quem está na ponta, na frente de batalha, edificando e enaltecendo a profissão no dia a dia.
“O que acontece na ponta? Absolutamente nada. O Conselho Federal de Educação Física não trabalha pelos profissionais. Atua unicamente pela instituição e para perpetuar o mesmo grupo no comando.”
Por não ser candidato e não integrar nenhuma chapa, Contursi não se escusa de dizer o que pensa e como avalia o quadro que considera absurdo. “Estamos lutando para mudar esta situação perversa desde 2012, mas não conseguimos nem formar chapa, devido à pressão e ao patrulhamento que sempre foi feito. Em determinado momento, Distrito Federal, Santa Catarina e Rio de Janeiro formaram uma chapa e ninguém pode imaginar a dificuldade que encontraram. Eles chegaram ao ponto de anular a nossa chapa.”
Fazendo uma análise do regimento eleitoral do CONFEF, o professor Ernani mostra que o atual sistema (indireto) expõe a fragilidade e a inconsistência política do grupo que se perpetua no poder.
“Desde sempre lutamos por eleições diretas, mas eles não aceitam porque sabem que serão facilmente vencidos. Vivemos um momento único com o apoio de vários CREFs. Pela primeira vez na história os paulistas ficaram ao lado da oposição para quebrarmos esta oligarquia ditatorial, e parabenizo o professor Nelson Leme pela coragem e o posicionamento que aponta para uma situação inédita em nosso segmento.”
Na avaliação do dirigente fluminense o grupo que propõe mudanças é formado por dirigentes empreendedores, modernos e com visão empresarial, que apostam nas tecnologias que hoje fundamentam grandes conglomerados. “Se dermos continuidade ao grupo que está aí, certamente estaremos decretando o fim da Educação Física. Espero que os colegas dos demais Estados avaliem a responsabilidade de seus votos.”
Ernani Contursi lamenta a perda de espaço que o sistema CONFEF/CREF sofreu nos últimos anos por negligência, incompetência e falta de visão dos dirigentes atuais. “Há anos estamos definhando e perdendo espaços preciosos como nas lutas, yoga, pilates e toda a parte de condicionamento físico na dança, futebol, vôlei e muitas modalidades. E por quê? Simplesmente porque não querem atualizar-se e preferem manter a Educação Física na era medieval.”
Risco de anularem o processo sucessório
Devido à quantidade elevada de votos conquistados pela oposição, o vice-presidente do CREF1 teme que os diretores do CONFEF façam de tudo para melar o processo eleitoral.
“Tendo em vista o padrão de conduta dos dirigentes do conselho federal, tenho certeza que eles arrumarão algum pretexto para mais uma vez melarem a eleição. A decisão do Rio de Janeiro apoiar o Movimento Confef vai gerar um caos no comando do conselho. Eles já fizeram isso antes e eu não tenho a menor dúvida de que o Jorge Steinhilber tentará invalidar o processo. Veladamente, ele é o presidente vitalício do CONFEF.
Usando todo o pragmatismo que lhe é peculiar, Contursi pontuou o que é premente hoje, para o Profissional de Educação Física. “Os Profissionais de Educação Física precisam de um conselho federal que lute pela manutenção e a ampliação de seu espaço em todo o território nacional. Precisamos que o conselho permita a realização de treinamento profissional e cursos de capacitação a distância. Somos voltados para a área da saúde e temos de utilizar todas as tecnologias disponíveis para compartilhar conhecimento e capacitar nossos filiados. Outro ponto de fundamental importância é a realização de eleições diretas. Além de pernicioso, o voto indireto é injusto. Enquanto isso não mudar, o conselho estará voltado para seus dirigentes e não para o profissional e para a sociedade como um todo.”
Já pelo ponto de vista institucional, Ernani Contursi entende que a prioridade é levar o CONFEF para Brasília, onde está o centro das decisões do País.
“Primeiro ponto é termos um conselho verdadeiramente representativo e dirigentes com histórico de serviços prestados à Educação Física na ponta, atendendo os anseios do trabalhador, e não com histórico de servir-se dela. Segundo, levar o CONFEF para Brasília e estabelecer uma frente parlamentar que represente verdadeiramente a nossa classe no Congresso. Caso contrário, continuaremos a ser engolidos pelas máquinas governamental e política. Precisamos de um conselho forte politicamente e que seja respeitado pelos governos, independentemente de ideologias, e isso só vai acontecer com eleições diretas.”
Protagonismo zero do CONFEF
Enfatizando a inoperância do CONFEF até mesmo durante o período da pandemia, Contursi citou que nenhuma palavra de apoio foi emitida pelo comando da entidade e que jamais os dirigentes se preocuparam com o bem-estar coletivo.
“Nada foi feito e nenhuma palavra de apoio ou consolo foi emitida para os CREFs, que viram todas as atividades serem suspensas. Fomos colocados na última cor, a vermelha, e enquanto nós estávamos lutando desesperadamente para reverter o quadro junto aos governos estaduais e municipais, o CONFEF não moveu uma palha. Seus diretores não fizeram nenhuma visita a prefeitos e governadores, não solicitaram apoio a nenhum órgão federal, estadual ou municipal. Somente aqui no Rio entramos com mais de 10 mandados de segurança. Os CREFs e os Profissionais de Educação Física foram abandonados à própria sorte.”
Até o fechamento desta reportagem identificamos apenas duas chapas no pleito marcado para 15 de dezembro. Uma é encabeçada por Cláudio Augusto Boschi, presidente do CREF6/MG, e outra liderada por Nelson Leme, presidente do CREF4/SP. Buscando saber qual será o maior desafio que o novo dirigente do CONFEF enfrentará, ouvimos do dirigente fluminense que, na verdade, somente uma delas representa novo pensamento.
“Convidamos os dois candidatos a participarem de plenárias com nossos conselheiros no CREF1 e ambos apresentaram suas plataformas de gestão. Existem dois quadros completamente distintos no processo eletivo. Se a chapa que apoiamos vencer, haverá grandes desafios. Mas se o vencedor for o Boschi, nada vai mudar. Ele conta com o apoio de Jorge Steinhilber – e justamente eles são os únicos presidentes do sistema que há 21 anos estão no poder. Ambos são antidemocráticos e absolutistas. Apoiamos a chapa que propõe um processo democrático, participativo, voltado para o Profissional de Educação Física e fundamentado no sistema que prevê eleições diretas.”
“O Boschi não poderá fazer ou mudar absolutamente nada, porque a sua gestão será engessada por aqueles que o apoiam e não permitirão a quebra do status quo. Continuarão mentindo, escondendo verdades e fazendo uma gestão voltada para a manutenção e o enriquecimento cada vez maior do conselho federal. Numa avaliação proporcional, é o conselho com maior lucro per capita do Brasil. Os números do CONFEF são surpreendentes, em contrapartida existem vários CREFs com dificuldades de fechar as contas ano após ano Recentemente o CONFEF adquiriu uma sede por 8 milhões de reais e ainda gastou mais 3,5 milhões em mobiliários”, disse o vice-presidente do CREF1.
Contursi prevê, que se o Movimento Confef vencer, realmente haverá grandes desafios. “A Educação Física brasileira só vai explodir de verdade quando houver equidade e todos os Estados da federação estiverem interligados, se ajudando mutuamente e trabalhando de forma uníssona pelo fortalecimento da classe em todo o território nacional, e é justamente isso que o nosso movimento pleiteia.”
Transparência fiscal zero
Segundo o dirigente fluminense, em todos estes anos de atividade o CONFEF não desenvolveu nenhum programa de fomento da profissão ou de transferência de conhecimento para os Profissionais de Educação Física. O único sistema que existe e funciona efetivamente é o de controle financeiro. E o pior é que o conselho federal não presta contas dos recursos arrecadados.
“Não existem balancetes mensais ou documentos detalhados que mostrem a origem e o destino dos recursos arrecadados. Só na plenária do final do ano eles apresentam os números de uma conta à qual não temos acesso e fica por isso mesmo. A transparência fiscal é zero. Definitivamente a contabilidade do CONFEF é uma caixa preta”, explicou o dirigente fluminense.
Futuro inovador
Mostrando otimismo e total confiança no futuro, Ernani Contursi concluiu afirmando que com a vitória do Movimento Confef os Profissionais de Educação Física finalmente experimentarão um momento inédito e de crescimento para ambos os lados.
“Acredito realmente que, se este grupo que passamos a apoiar a partir em 18 de setembro seguir fielmente o que propõe, a Educação Física experimentará um novo momento, no qual os profissionais serão efetivamente amparados. Creio que ainda não será o grupo ideal, mas estaremos dando um grande passo no sentido de redirecionar nossa profissão para que num futuro próximo alcancemos a importância e a grandeza que a nossa profissão merece. Não dá para fazer em quatro anos tudo que não foi feito em 21. Haverá dificuldades, mas daremos início a um novo momento e todos nós sentiremos a grande mudança.”
Trabalho vem de longe
Formado em Educação Física pela UCB RJ, em 1977, já no ano seguinte, em 1978, o professor Ernani Contursi brigava pela regulamentação da Educação Física em âmbito nacional. “Ficamos 20 anos brigando pela regulamentação da profissão no Rio de Janeiro, o berço da profissão. Foi aqui que deputados estaduais, federais e senadores apoiaram nosso projeto, até que em 1998 conseguimos a regulamentação”, lembra.
“Entre as nossas principais conquistas está a aprovação da Lei 9.696/98 no Congresso Nacional. Outro fato importante é que o Rio de Janeiro é o Estado que aprovou o maior número de leis em favor da nossa classe, incluindo a que obriga que o ensino da Educação Física nas escolas seja feito apenas por Profissionais de Educação Física registrados nos CREFs.”
O dirigente lembrou que foi o no CREF1-RJ/ES que derrubou a Lei Pelé. “Em nível de participação federal, as decisões do Rio de Janeiro sempre foram polêmicas, mas fomos nós que derrubamos as concessões que a Lei Pelé fazia aos ex-jogadores. Foi o ex-senador Marcelo Crivella e o deputado federal Otávio Leite que atuaram com total determinação nesse sentido.”
Avaliando status da Educação Física do Brasil no cenário internacional, o vice-presidente CREF1 afirma que o Brasil talvez seja o único país do mundo que relaciona a prática da atividade física e exercícios à saúde. “Só aqui consideramos a Educação Física uma profissão voltada para a saúde, educação, bem-estar e lazer. Lá fora a atividade física está relacionada apenas ao fitness e ao esporte.”