Presidente da CBJ alega que a entidade não consegue pagar garagem para seus veículos

Sílvio Acácio afirmou que faz suas visitas quase diárias ao de Uber ou motocicleta

O mandatário do judô nacional justificou que o automóvel da presidência da confederação brasileira está em sua residência em Joinville, há mais de um ano, porque os estacionamentos no Rio de Janeiro são muito caros e ele prefere andar de Uber e moto

Opinião
14/07/2018
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS
Curitiba – PR

Após a publicação da entrevista concedida por Roberto David da Graça, ex-presidente da Federação Catarinense de Judô, Sílvio Acácio Borges, presidente da Confederação Brasileira de Judô, buscou esclarecer atitudes que não possuem a menor justificativa e expôs a falta de visão administrativa que está engessando a entidade e empurrando o judô nacional para a beira do precipício.

Além de ser mais ético, polido e não cometer erros tão gritantes, seu antecessor, Paulo Wanderley Teixeira, era politizado e um grande estrategista. Jamais contestava ou se manifestava, seja qual fosse a denúncia. Calava-se e fazia de conta que não era com ele.

Corporativista, César de Castro Cação (RS) sugeriu ao presidente da CBJ que não respondesse perguntas envolvendo matérias sensacionalistas

Menos experiente e atendendo à cobrança de maiores esclarecimentos feita por Ton Pacheco, presidente da Federação de Judô do Estado de Tocantins, durante a assembleia geral extraordinária da Confederação Brasileira de Judô realizada no dia 1º de julho, Sílvio Borges buscou colocar panos quentes nas acusações feitas por seu ex-professor de judô, e acabou admitindo que há mais de um ano o carro oficial da presidência da CBJ está em sua residência, em Joinville (SC).

“O carro oficial da presidência da CBJ é o Hyundai Sonata e tínhamos também uma Livina. Como pagamos altos preços de garagem aqui no Rio e ando pouco com ele, levei o carro para Santa Catarina. O veículo está sim no pátio da minha casa em Joinville, junto com os carros do meu filho e de minha mulher. Toda vez que vou a minha casa eu uso este carro”, afirmou o dirigente, sem o menor constrangimento ou pudor.

Implacável e dando exemplo de lucidez e transparência, Ton Pacheco (TO) exigiu que o presidente da CBJ esclarecesse as denúncias que envolvem atrasos nos salários, protestos e veículos da entidade

O mandatário argumentou que as garagens do Rio são muito caras, mas omitiu que o apartamento funcional que a CBJ disponibiliza possui vaga na garagem. Sem contar que o somente o valor gasto com combustível e pedágio para levar o veículo do Rio para Joinville custearia mais de um ano de estacionamento.

“Recentemente fizemos uma negociação e vendemos a Nissan Livina, da mesma forma que vamos vender o Sonata, porque é um carro grande, caro, que demanda custos e eu acabo usando muito pouco porque me desloco bastante de avião. Um dos grandes prazeres que tenho é andar de motocicleta. O carro está lá e eu venho para cá de moto. Dependendo da necessidade, da urgência e do lazer, eu, enquanto motociclista, não motoqueiro, porque motociclista usa moto por prazer e não por necessidade, cubro estes trajetos de moto”, disse o dirigente que, não satisfeito em apresentar argumentos frágeis e inconsistentes, ainda externou preocupação em descobrir como o veículo da entidade foi rastreado.

“O carro está em minha casa, foi fotografado e estamos tentando descobrir de que forma me rastrearam. Mas eu não tenho com que me preocupar. Esta questão não me preocupa. Preocupam-me as ações maiores da CBJ. A entidade poderia me disponibilizar carro com motorista, mas prefiro usar Uber, que é muito mais barato”, disse o dirigente motociclista que prefere andar de Uber, mas paradoxalmente, desde que assumiu a CBJ, só se hospeda em hotéis cinco estrelas e frequenta restaurantes caros.

Veículo de uso da presidência da CBJ que há mais de um ano está na residência de Sílvio Acácio Borges, em Joinville (SC)

Inconsistência e soberba

Acostumado a não dar satisfações sobre seus atos, o presidente da CBJ deixou de esclarecer outra importante denúncia feita por seu professor, que na referida entrevista citou outro automóvel, que estava em nome da Federação Catarinense de Judô quando Sílvio Borges assumiu a entidade em 2013 e hoje está em nome de sua sobrinha, em Jaraguá do Sul (SC).

Segundo afirmou o dirigente, hoje a CBJ não dispõe de um veículo para receber dirigentes, professores e autoridades nos aeroportos, nem para fazer o translado de todo material esportivo e insumos que vão e vêm de todo o Brasil para a confederação. Agora, cada vez que um setor da CBJ demanda transporte, contrata empresas terceirizadas que executam serviços que antes eram muito bem feitos por funcionários que também conheciam quase todos os judocas e profissionais de todo o País que prestam serviço para a entidade e rotineiramente vão ao Rio de Janeiro.

Chega a ser hilário imaginar o presidente de uma entidade com receita anual de R$ 60 milhões, acostumado a frequentar áreas VIP de aeroportos, os melhores restaurantes e hotéis do País, andando de Uber ou percorrendo 1.000 quilômetros entre o Rio de Janeiro e Joinville de moto, ou enfrentando o trânsito da capital fluminense vestindo terno e gravata, em uma motocicleta.

Como pontuou Roberto David da Graça, além de não ter muito compromisso com a verdade, o presidente da Confederação Brasileira de Judô saiu de Santa Catarina, mas parece que ainda não se deu conta que de que está num cenário infinitamente maior e que sua exposição é proporcionalmente maior.

Sem o menor conhecimento de causa, Márcio de Oliveira Almeida (ES) denotou que o presidente da CBJ ignorasse o pedido de esclarecimento feito por seu colega tocantinense

Omissão e corporativismo

Enaltecemos a coragem do presidente do Tocantins que, cobrando transparência, mostrou independência e acima de tudo coragem no exercício de suas funções enquanto dirigente esportivo, exigindo explicações de Sílvio Borges, que enquanto presidente da CBJ deve satisfações à comunidade.

Enquanto fazia seu pronunciamento e apresentava suas justificativas, o dirigente foi interrompido duas vezes pelos presidentes César de Castro Cação (RS) e Márcio de Oliveira Almeida (ES). Ambos tentaram isentar Sílvio Acácio Borges do constrangimento de ter que responder as perguntas feitas pelo colega tocantinense, que zelando pelos interesses do judô nacional cobrava esclarecimento e respostas.

Dando um triste exemplo de corporativismo e buscando blindar os erros cometidos pelo presidente da CBJ, além de toda omissão, os dirigentes do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo esquecem que assinam os balanços anuais da Confederação Brasileira de Judô e que futuramente serão responsabilizados pelos desmandos ocorridos na atual gestão.

Sem nenhum tipo de constrangimento ou pudor, o presidente da CBJ confirmou que o veículo oficial da entidade está há mais de um ano em sua residência em Santa Catarina

Lembramos que os salários do setor administrativo, de toda a equipe que faz a gestão do Centro Pan-Americano de Judô e das comissões técnicas, além do custo dos eventos, das viagens das equipes, do carro da presidência e até da assembleia que se realizava naquele momento são pagos com dinheiro público, e todos que estavam naquele encontro são responsáveis pelo destino destes recursos.

Não adianta querer esporadicamente empurrar a sujeira para baixo do tapete. É preciso higienizar a gestão sistematicamente, pois as palavras de ordem na administração esportiva hoje são transparência e compliance.

César de Castro Cação e Márcio de Oliveira Almeida precisam entender que Sílvio Acácio Borges não é dono da CBJ. Ele está temporariamente fazendo a gestão da entidade, e ironicamente está sendo muito bem pago para exercer esta função com recursos da Lei Agnelo Piva e do Ministério do Esporte.