Seleção brasileira surpreende positivamente e marca o início de novo ciclo

Com uma equipe 89% renovada e o título de campeã na bagagem, a seleção brasileira volta do Panamá fortalecida e disposta a enfrentar os desafios do novo ciclo olímpico.

Após a realização dos campeonatos pan-americanos sênior individual e por equipes, realizados neste fim de semana no Panamá, a Budô entrevistou Ney Wilson, experiente gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que, além de avaliar o desempenho da seleção, expôs a estratégia traçada para a principal competição continental desta temporada.

A redução do número de finais disputadas e de medalhas foi significativa?

De forma alguma. Nesta edição do campeonato pan-americano conquistamos 14 medalhas. Foram 12 no individual e duas por equipes, totalizando sete ouros, duas pratas e cinco bronzes. Não podemos afirmar que três medalhas a menos foi um decréscimo abrupto.

Em comparação com as duas edições anteriores houve alguma perda no rendimento da equipe?

Muito ao contrário. Neste ano tivemos 15 atletas estreantes em pan-americanos seniores, renovamos 89% da equipe em relação a 2016 e enfrentamos países que vieram com força máxima. Mesmo jovem, a equipe correspondeu às nossas expectativas e conseguiu manter a hegemonia continental do Brasil, já que terminamos em primeiro lugar geral no individual, além de vencermos a disputa feminina por equipes.

Qual era o principal objetivo desta competição?

Não fomos ao Panamá visando exclusivamente às medalhas, mas felizmente elas vieram. A competição foi um excelente laboratório de observação dos atletas estreantes, e este era nosso principal objetivo.

Notamos enorme alternância de equipes no pódio. Qual é o fator preponderante em tantas mudanças?

É uma variação normal. Nós conquistamos 14 medalhas em 2017. Posso dizer que nos mantivemos na média. São apenas três medalhas a menos em relação a 2016 e 2015, quando participamos com nosso time principal que estava no auge da preparação olímpica. Conseguimos liderar o quadro geral de medalhas, tanto no feminino quanto no masculino. Estamos apenas começando o ciclo rumo a Tóquio. É hora de experimentar e ousar, e é isto que estamos fazendo.

A equipe norte-americana obteve apenas a oitava colocação. O que o quadro geral de medalhas revela neste início de ciclo olímpico?

Assim como o Brasil, os norte-americanos estão passando por um processo de renovação da equipe e vieram sem as principais estrelas dos últimos anos: os medalhistas olímpicos Travis Stevens (81kg) e Kayla Harrison (78kg), que segundo comentam migrou para o MMA. O que observamos nesta competição é que vários países renovaram suas equipes e temos muitas caras novas. Mas o que podemos dizer em relação ao quadro de medalhas é que Cuba, Canadá e Brasil, as principais potências pan-americanas, se mantiveram no topo.

“Estamos apenas começando o ciclo rumo a Tóquio. É hora de ousar e experimentar, e é isto que estamos fazendo.”

Qual foi a sua leitura do desempenho brasileiro no Panamá?

Ser campeão com a nossa equipe principal seria obrigação. Mas sermos campeões com uma equipe 89% renovada em relação ao pan-americano de 2016 e com atletas jovens, em sua maioria, mostra que os judocas em quem apostamos corresponderam às nossas expectativas. Foi uma decisão que nos exigiu coragem, ousadia, e estamos satisfeitos, principalmente com a atitude dos atletas durante as lutas, inclusive daqueles que não conquistaram medalha. Vale ressaltar também o ótimo trabalho feito pelos gestores das categorias de base da CBJ na prospecção dos atletas com maior potencial competitivo, que hoje são realidade numa competição sênior tão difícil, como o campeonato pan-americano.

Após longo período em queda, Cuba foi vice-campeã com cinco ouros, duas pratas e cinco bronzes. É uma volta ao protagonismo continental?

Eles conquistaram 11 medalhas em 2016. No último ciclo olímpico, Cuba foi vice-campeã nos pan-americanos de 2013 e 2014, oscilando um pouco em 2015 e 2016. Contudo, Cuba sempre será protagonista em qualquer disputa pan-americana. Incontestavelmente, é o nosso maior adversário na América.

Podemos fechar a conta afirmando que a nova seleção surpreendeu positivamente?

Sim. Surpreendeu positivamente em todos os sentidos, e voltamos da América Central otimistas com o que vivenciamos no certame.