19 de dezembro de 2024
Uma das principais referências do judô paulista, Teruo Nakamura deixa legado de conduta, caráter e retidão
Símbolo de uma geração de professores abnegados que fizeram do judô um sacerdócio, uma forma de fazer o bem e ajudar o próximo, sensei Nakamura faleceu neste sábado em sua casa em Tupã
Memória
2 de junho de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS E MARCELO LOPES/FPJUDÔ
Curitiba – PR
Atualizada em 3 de junho de 2019
Faleceu na tarde deste sábado (1º de junho), em sua residência em Tupã (SP), o professor kodansha Joaquim Teruo Nakamura, que será sempre lembrado como sensei Teruo.
Com 78 anos, já há algum tempo o professor Teruo enfrentava problemas de saúde, mas jamais abandonou os tatamis, nos quais compartilhou seu vasto conhecimento técnico com várias gerações de praticantes.
Nascido em Tupã em 28 de janeiro de 1941, ainda criança Joaquim Teruo Nakamura deu os primeiros passos nos tatamis na Associação de Judô Kaikan, que com a junção de outros departamentos posteriormente se tornou a Associação Cultural Esportiva e Recreativa de Tupã.
A ACERT surgiu graças à presença da colônia nipo-brasileira em Tupã, tornando-se uma entidade que representa, agrega e difunde a cultura, as tradições, costumes, artes, culinária e os esportes mais populares do povo japonês e de seus descendentes. Com o tempo, a colônia criou o Tupã Baseball Clube e o estádio do beisebol, entre outras conquistas.
Em 1958, foi criada a sede da Kaikan, e a ACERT passou a desenvolver importante trabalho social, esportivo e recreativo, por meio de todos os seus departamentos.
Professor kodansha shichi-dan (7º dan), sensei Teruo é responsável pela formação de milhares de judocas ao longo dos 63 anos em que atuou na modalidade. Alguns se tornaram grandes campeões, enquanto outros absorveram seus ensinamentos sobre conduta, ética, caráter e retidão.
Apesar de preferir investir na formação de homens e mulheres diferenciados, sensei Teruo foi um exímio preparador de atletas para o alto rendimento, entre os quais destacamos Denílson Moraes Lourenco, o Zóio, que além de conquistar numerosos títulos internacionais foi atleta olímpico e serviu à seleção brasileira durante 15 anos. Outro nome importante é Alana Martins Maldonado, atual campeã mundial e vice-campeã paralímpica, tendo conquistado sua medalha de prata nos Jogos Rio 2016. Destacam-se ainda Eduardo Marandola, campeão brasileiro e sul-americano; Guilherme Meira Trocoli, campeão brasileiro e sul-americano; e Gustavo Cavalhieri, campeão brasileiro, sul-americano, medalhista no mundial júnior e no pan-americano júnior.
Abnegação e amor ao próximo
Símbolo de uma geração de professores abnegados que fizeram do judô um sacerdócio e não uma profissão, o professor kodansha de Tupã sempre viu no judô uma ferramenta de desenvolvimento social e humano e uma forma de fazer o bem e ajudar o próximo.
Em 1984, há exatos 35 anos, sensei Teruo sucedeu o professor Tosokisugi, que em 1945 fundou a Associação Cultural, Esportiva e Recreativa de Tupã (ACERT). Desde então o professor Nakamura era o diretor técnico do departamento de judô desta tradicional escola de Tupã.
Na avaliação de Raul de Melo Senra Bisneto, delegado da 4ª DRJ Alta Paulista, além de ter sido um grande formador de atletas, sensei Teruo Nakamura foi uma importante referência para o judô paulista.
“Essencialmente, o professor Teruo nos transmitiu exemplo de honestidade, abnegação e dedicação imensa ao judô de Tupã, da região e do Estado, já que por muitos anos atuou como árbitro da FPJudô. Enquanto sua saúde permitiu ele não faltava a nenhuma competição e jamais teve empecilhos para participar dos eventos e atuar com capacidade técnica suficiente para agradar a todos. Vai deixar muita saudade porque era um professor que fazia o que era preciso e necessário, sem incomodar ninguém, o que hoje é muito difícil de encontrar”, detalhou o dirigente.
Profundo conhecedor e grande amigo do sensei Teruo Nakamura, Francisco de Carvalho Filho destacou as principais virtudes que constituem o legado deixado pelo professor de judô de Tupã.
“Sensei Nakamura representa muito mais que ter profundo conhecimento das técnicas de judô, de ser um bom árbitro e até mesmo um grande professor. Ele reunia predicados que o transformaram num dos maiores exemplos de humildade, bom caráter e retidão de nossa comunidade. Possuía postura típica apenas dos professores que assimilaram verdadeiramente a proposta do professor Jigoro Kano. O grande legado do professor Teruo Nakamura reside naquilo que ele foi como pessoa e como ser humano para todos nós”, disse o dirigente, que finalizou falando da felicidade de ter convivido com uma das maiores referências do judô do Estado.
“Tenho muito orgulho de ter convivido e estabelecido uma grande amizade com sensei Teruo, ao longo das últimas décadas. Guardo um carinho imenso por ele, exatamente pela pessoa que ele sempre foi. Suas qualidades como professor, árbitro e colaborador da federação e difusor do judô em Tupã, no Estado de São Paulo e no Brasil são mera consequência daquilo que ele foi como homem, professor, pai e, principalmente, como amigo. Sua maior virtude era o caráter, que o distinguiu para todos que conviveram com ele”, concluiu o presidente de honra da FPJudô.
Grande pedagogo adepto ao uso do shinai
O professor sho-dan Gabriel Macedo Ferreira Bassoli, que começou no judô com sensei Teruo, avaliou a trajetória do seu professor e falou sobre seu carisma, demonstrando grande carinho e gratidão.
“Iniciei o judô com o sensei Teruo e seu filho Márcio Nakamura, em 2000. Em 2011 me graduei sho-dan e em 2014, juntamente com o Denílson, fui nomeado sensei da associação após a saída do Márcio Nakamura. Hoje a ACERT tem como professores Gabriel Macedo Ferreira Bassoli, Guilherme Meira Trocoli, Eduardo Domingues Marandola, além do sensei Raul Senra, que participa ativamente dos treinamentos”, detalhou. Bassoli lembrou ainda da rigidez do sensei na formação dos jovens.
“Muitas famílias de Tupã são gratas ao sensei por ter ajudado na formação de grandes pessoas. Muitos pais diziam que eles educavam, enquanto o sensei disciplinava – e isto foi uma tônica em sua atividade no ensino do judô. Ele era rígido e adorava usar o shinai, pregando sempre a disciplina e o respeito. Na medida em que as coisas foram mudando, ele também amoleceu e era atencioso e carinhoso com as crianças que, quando o viam, iam logo abraçá-lo. Era muito carismático, e mesmo nos últimos meses, quando já não lembrava mais de quase nada, quando ia ao dojô de cadeira de rodas, olhava para as crianças e reconhecia todas. Na verdade, ele era muito querido”, pontuou Gabriel Macedo.
Em outubro de 2010 dona Terezinha Nakamura faleceu, mas o sensei Teruo deixa os filhos Márcio Nakamura (san-dan), Gérson Nakamura (sho- dan) e Gláucio Nakamura (sho- dan); as noras
Sílvia Arantes, Rosângela Nakamura e Mayara Nakamura; além dos netos Enzo Nakamura, Hannally Nakamura, Haniel Nakamura e Stella Nakamura.