Valéria quer mostrar sua força em Tóquio

A karateca paulista, prata no mundial de 2016, afirma que o karatê só tem a ganhar ao tornar-se modalidade olímpica e já faz planos para os Jogos de Tóquio em 2020.

Primeira do ranking mundial na categoria -55kg e medalha de prata no mundial de 2016 em Linz, na Áustria, Valéria Kumizaki está entusiasmada com a inclusão do karatê nas modalidades olímpicas e faz planos para os Jogos de Tóquio em 2020. Antes, porém, espera vencer um mundial e repetir o título que conquistou como júnior.

Ainda abalada com a morte prematura do sensei Renato Franco, seu professor e treinador desde que se iniciou no karatê em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, Valéria acredita que a modalidade só tem a ganhar ao adentrar o círculo olímpico. “Creio que agora teremos todo o apoio de que sempre precisamos. Todos nós sonhamos há anos com esse momento e fico feliz por ter a oportunidade de tentar uma vaga olímpica. Não vejo nada que subtraia algo do karatê com seu novo status.”

Vitoriosa numa carreira pavimentada de títulos nacionais e internacionais, Valéria faz questão de mencionar sempre Renato Franco. “Entrei no karatê por acaso e meu professor, no primeiro mês, disse eu que tinha talento e que um dia poderia ir aos jogos pan-americanos e até às Olimpíadas. Eu acreditei no que ele disse e juntos trabalhamos passo a passo para ser campeã brasileira, campeã pan-americana. Só tenho a agradecer ao meu sensei por tudo. Por sempre me fazer acreditar que uma menina magrela do interior poderia ganhar o mundo e realizar seus sonhos. Cada vez que subo no pódio ele está presente, faz parte de tudo isso e sempre serei grata.”

Única medalhista em Linz, Valéria acabou sendo a estrela da delegação brasileira que levou dez atletas à Áustria, no primeiro mundial da modalidade como esporte olímpico. Douglas Brose, tricampeão mundial -60kg e atual número 1 do mundo, foi eliminado na terceira luta e pela primeira vez ficou fora do pódio nas últimas cinco edições do campeonato. Vinícius Figueira, segundo no ranking mundial -67kg, perdeu a disputa pelo bronze.

Mesmo sem alcançar o principal objetivo, Valéria ficou feliz com a prata. “Acredito que a conquista dessa medalha abrirá mais portas sim. O karatê brasileiro já é uma potência com nomes como Douglas Brose e Vinicius Filgueira. A minha medalha veio para somar e mostrar que estamos no caminho certo e, se tivermos todo o apoio necessário, levaremos muitos atletas às Olimpíadas e traremos medalhas.”

O Brasil ocupava a 25ª colocação no ranking mundial do karatê em 2012. Em 2016 fechou o ano na quarta posição. Para Valéria, essa evolução está associada ao aumento do número de brasileiros inscritos em competições internacionais e à melhora do nível técnico dos atletas. “Nos últimos anos a confederação brasileira tem participado de campeonatos pan-americanos e mundiais com representantes em todas as categorias disputadas, o que favorece a maior pontuação no ranking mundial. A presença de karatecas, técnicos e árbitros em treinos e eventos internacionais, por outro lado, contribuiu para a evolução técnica.”

“Já em primeiro mês na academia meus sensei disse eu que tinha talento e que um dia poderia medalhar nos jogos pan-americanos e até mesmo nas Olimpíadas, e eu acreditei”.

Outra demonstração da evolução do karatê no Brasil pode ser vista no ranking de atletas da World Karate Federation (WKF). Vinte atletas brasileiros aparecem entre os dez primeiros em suas categorias. Seis estão na primeira colocação e oito ocupam do segundo ao quinto lugar.

Prata especial

As adversárias de alto nível que Valéria encarou no mundial já eram conhecidas, o que confirma a importância de brasileiros competirem na Premier League. “Nessas etapas ao redor do mundo temos a oportunidade de lutar com as melhores atletas. ” Uma final de mundial era tudo que a brasileira sempre esperou, embora o resultado não tenha sido o desejado. “Fiquei feliz pela prata.” Na final Valéria enfrentou a francesa Emily Thouy, vice-campeã no mundial anterior, em 2014.

Segundo relatos da imprensa esportiva, a brasileira chegou a dominar a luta nos primeiros instantes, mas ambas foram punidas por falta de combatividade. Enquanto Valéria procurava o melhor momento para atacar, a francesa recebeu outra punição. Mas Emily conseguiu aplicar um golpe e ficou na frente com um yukô. Nos segundos finais os árbitros pediram desafio e confirmaram mais um ponto para a francesa.

Na categoria de Valéria, suas principais oponentes nos Jogos Olímpicos devem ser as atletas da Itália, França, Ucrânia e Japão.

Enquanto 2020 não chega, a brasileira espera se preparar bem fisicamente, ter apoio nas viagens para competir mais e se manter no topo no ranking da WKF. “Ser a número 1 do mundo significa muito trabalho, é fruto de muita dedicação e investimento ao longo dos meus 17 anos de karatê”, define Valéria, que tem como exemplo no karatê a carioca Maria Cecília de Almeida Maia, três vezes campeã mundial.

Mas seu estímulo à perseverança vem de outro esporte, do piloto Ayrton Senna. Quando criança, ela se emocionava ao ver a bandeira do Brasil nas mãos do campeão nas manhãs de domingo, e guardou para sempre uma frase dele: “Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá”.

 

Nome completo: Valéria Kumizaki

Treinador: Diego Spigolon

Karategi preferido: Daedo Hasha

Comida preferida: Arroz e feijão

Música preferida: Sertanejo

Técnica preferida: Ura-mawashi

Patrocínio: Daedo até janeiro de 2018

Religião: Católica praticante, e devota de Nossa Senhora Aparecida.

Apelido: Vavá e Valerinha

Principais títulos nacionais e internacionais:

Vice-campeã mundial – Linz, Áustria – 2016

Campeã dos Jogos Pan-Americanos – Toronto, Canadá – 2015

Campeã do Circuito Mundial de Karatê (Premier League) – 2013

Campeã do Circuito Mundial de Karatê (Premier League) – 2015

Campeã mundial júnior – Chipre – 2005

Vice-campeã mundial universitária – Montenegro – 2010

11 vezes campeã brasileira (2003-2004-2006-2007-2008-2009-2010-2012-2013-2014-2015)

Vice-campeã dos Jogos Pan-Americanos – Rio de Janeiro – 2007

Terceiro lugar nos Jogos Pan-Americanos – Guadalajara, México – 2011

Bicampeã pan-americana – 2010-2011

Bronze pan-americano – 2005-2012-2015

Campeã pan-americana por equipe – 2005-2006-2013-2014-2015

Tetracampeã sul-americana – 2009-2010-2011-2013

Bronze nos Jogos Sul-Americanos – Chile – 2014

Campeã sul-americana categoria open – Santiago, Chile – 2015