15 de novembro de 2024
Presidente da CBJ nega recursos do PAF a atletas do Acre credenciados pelo Zempo
Ao discriminar atletas acreanos, Sílvio Acácio Borges impôs um retrocesso enorme à modalidade e um prejuízo sem precedente aos judocas que viram seus sonhos serem aniquilados
Gestão Esportiva
29 de novembro de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos DIVULGAÇÃO
Curitiba – PR
Em reportagem publicada nesta quinta-feira (28) no site da Confederação Brasileira de Judô, a assessoria de imprensa da CBJ afirmou que atletas de 26 Estados e do Distrito Federal estavam desembarcando em Balneário de Camboriú (SC) para disputar a fase final do Campeonato Brasileiro Sênior.
Além de errar publicando uma informação improcedente, nossos colegas da imprensa mostraram que desconhecem totalmente o fato gravíssimo que agitou os bastidores da gestão do judô nacional nas últimas semanas, desde que Sílvio Acácio Borges, presidente da confederação brasileira, achou por bem negar o benefício do Programa de Apoio às Federações (PAF) aos atletas do Acre, devidamente credenciados pelo Zempo, que conquistaram o direito de competir e ter acesso aos recursos.
Exibindo mais uma vez o total despreparo emocional que lhe é peculiar e a ausência absoluta de capacidade administrativa, o gênio do judô joinvilense desta vez extrapolou tudo que havia feito até aqui, usurpando desumanamente o direito adquirido por dois judocas humildes do Acre que, lutando bravamente e gastando muito dinheiro, conquistaram o direito de representar seu Estado na principal competição dessa classe no País no Campeonato Brasileiro Regional realizado no início do ano em Ji-Paraná (RO).
Fatos e declarações estarrecedores
Conforme se aproximava a data da principal competição da classe sênior, mais se intensificavam os treinos daqueles que neste fim de semana buscarão fazer história inscrevendo seus nomes entre os maiores judocas do Brasil, assim como a preocupação daqueles que zelam pelos interesses dos atletas inscritos na competição: os dirigentes estaduais.
Com o objetivo de entender por que os demais Estados já haviam recebido as passagens do PAF e o Acre ainda não, no início de outubro Delfino Batista da Cunha Filho, presidente da Federação de Judô do Estado do Acre (FJEAC), enviou ofício ao presidente da CBJ indagando quando seu Estado receberia as passagens a que tinha direito.
“Inicialmente escrevi para o presidente Sílvio Acácio, no privado, mas não obtive resposta alguma. Com a certeza de que no grupo dos presidentes eu seria prontamente atendido por ele, reiterei minha cobrança, e mesmo assim fui ignorado. Quando se sentiu incomodado com a minha insistência, por fim se manifestou diante dos demais presidentes, por meio de um áudio transcrito abaixo, que não justifica absolutamente nada. Atendendo às exigências da CBJ para termos acesso ao PAF, este ano fomos ao brasileiro regional com vários atletas e dois deles se classificaram para a fase final da classe sênior, conforme está publicado no próprio Zempo da CBJ”, detalhou o dirigente acreano.
Delfino destacou que por diversas vezes pediu que Sílvio Acácio respondesse ao ofício 16/2019 da FEJEAC, pois a cobrança interna estava muito grande e ele precisava provar aos judocas e seus familiares que a origem do problema era um ato eminentemente discriminativo que partiu da presidência da Confederação Brasileira de Judô, mas até hoje não foi atendido pelo presidente da CBJ.
No áudio citado pelo dirigente acreano, o presidente da CBJ exibe o tamanho exato de sua inteligência, capacidade de raciocínio e visão. Veja abaixo as alegações feitas por ele para justificar a não concessão do PAF aos judocas que por direito e de fato deveriam ter sido contemplados.
“Vimos este ano o senhor se movimentar nesta direção participando do Brasileiro Regional, mas o senhor possui nossos regulamentos e já lhe expliquei várias vezes que eu não tenho como fazer ações extraordinárias. Tenho dito a todos que o momento que passamos é extremamente complicado e o Acre realmente não tem direito ao PAF. Ao longo do tempo vocês perderam o direito ao programa que dá direito às passagens. Expliquei duas ou três vezes e não fica bem suas postagens repetidas no grupo dos presidentes, pois dá a impressão de que não estamos lhe dando atenção e o devido respeito. Gostaria de lembrar todos os colegas, que na ação de integração CBJ que fizemos durante o Grand Slam de Brasília, o presidente Delfino estava incluso e participou de todas as ações. Estamos apostando na reintegração do Estado do Acre. Se o trabalho está sendo feito, ele tem que ser mostrado nos eventos nacionais, esse é o critério que dá direito ao PAF aéreo. Espero que todos entendam e em especial o presidente Delfino”, justificou o presidente da CBJ.
Mas Sílvio Acácio está errado. O Acre fez a lição de casa. Lemos e relemos as normas que regem o PAF, e para evitar cometer uma injustiça ou publicar alguma inverdade, consultamos dois grandes advogados que atuam no direito esportivo e ambos foram taxativos ao reafirmar a nossa leitura das normas do Programa de Apoio às Federações.
Sílvio Acácio errou feio. Os judocas acreanos cumpriram todas as etapas e atenderam plenamente às normas que regem o PAF. Ambos os juristas afirmaram que inicialmente cabe uma representação ética junto ao Comitê Olímpico Brasileiro e à Secretaria Especial do Esporte pedindo providências e manifestação das duas autarquias. No segundo momento cabe uma ação indenizatória contra a CBJ e, principalmente, contra o presidente da CBJ.
Cada vez mais fora do eixo e desconectado da realidade política que o cerca, Sílvio Acácio mente acintosamente ao afirmar que a situação atual da CBJ é muito difícil. Vejamos:
Durante a realização do Grand Slam de Brasília, Sílvio Acácio levou ao Distrito Federal uma comitiva composta por quase 70 pessoas, com diárias de hotel girando em torno de 600 reais. Sem contar as passagens aéreas, almoços e jantares numa festa que manteve até familiares e amigos do presidente da CBJ em Brasília durante dez dias.
De olho no pleito eleitoral marcado para março de 2021, neste mesmo evento de Brasília o presidente da CBJ fez uma ação inédita e jamais realizada no judô brasileiro, presenteando os 27 presidentes estaduais e seus três vice-presidentes com ternos sofisticadíssimos e caríssimos, comprados com recursos públicos.
Repetindo uma prática política comum desde a era Mamede, em todos os eventos internacionais de que a seleção brasileira participa mensalmente, o presidente da CBJ envia um ou dois dirigentes estaduais para passear no exterior. Em novembro o presidente Jucinei Costa foi flagrado em uma festa com membros da comissão técnica em Osaka, no Japão. Achamos que os presidentes estaduais merecem viajar, em vez da farra promovida com recursos públicos deveria primeiro atender às necessidades dos que participam da competição. São eles a razão principal de a Secretaria Especial de Esportes e o Comitê Olímpico do Brasil despejarem anualmente dezenas de milhões de reais nos cofres da Confederação Brasileira de Judô. Se a situação está caótica como afirma Sílvio Acácio no áudio dirigido ao dirigente acreano, ele deveria dar prioridade a atletas às pessoas que são a principal razão de as federações estaduais e a confederação brasileira existirem.
Outra aventura inédita, mirabolante e descabida do presidente da CBJ, que nos bastidores foi amplamente comentada pelos presidentes estaduais, é o Primeiro Encontro Nacional de Arbitragem. O evento inédito reunirá neste fim de semana mais de 160 árbitros no luxuoso Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina.
Criticado pelos dirigentes estaduais pela total ausência de conteúdo que justificasse o investimento, e odiado pelos árbitros que terão de arcar com as despesas, o encontro da arbitragem é mais uma das invenções “grandiosas” do dirigente nacional, que busca apenas inflamar o ego de seus participantes e que nada tem a ver com o judô real, desenvolvido e praticado com muito esforço por professores e técnicos abnegados, atletas dedicados e milhares de famílias que se sacrificam pelo ideal de seus filhos.
Neste mesmo encontro o presidente Sílvio Acácio Borges doará um paletó de altíssimo padrão para cada árbitro inscrito no evento. Muitos deles já estão dizendo que este será o paletó mais caro de suas vidas, diante do gasto excessivo que terão de fazer para passar um fim de semana numa das praias mais sofisticadas e caras do Brasil na atualidade. Pobres árbitros, e ai daqueles que não forem, já que todos conhecem a perseguição implacável que o dirigente nacional faz aos que ousam contrariá-lo.
Relatamos apenas a gastança desnecessária e absurda de recursos públicos e privados promovida por Sílvio Acácio Borges nos últimos 60 dias, e o presidente da CBJ ainda tem coragem de alegar que não possui recursos para cumprir aquilo que rezam as normas do PAF e nega a dois jovens judocas um benefício conquistado e adquirido honestamente.
Nos meses de maio e junho publicamos respectivamente as matérias intituladas: Sem plano B e sem recursos do PAF, CBJ fará primeira final de campeonato brasileiro da temporada somente em agosto e Trem da Alegria da CBJ vai ao DF e descobre que Brasília não é para amadores. Em ambas relatamos a absoluta falta de jogo de cintura e o imobilismo dos gestores da CBJ que, sem os recursos do PAF, não conseguiram realizar nenhum campeonato brasileiro antes de agosto. Além de causarem enormes prejuízos aos atletas e seus familiares o quarteto trapalhão da CBJ omitiu o verdadeiro problema da comunidade e enrolou os dirigentes estaduais à espera de um milagre.
Todos sabem que não houve milagre, porque, assim como pregamos desde o início desta temporada, a recém-criada Secretaria Especial do Esporte não liberou os recursos do PAF. Não houve milagre, mas apareceu um santo, uma alma boa, que salvou os eventos do calendário nacional da CBJ. A alma bondosa que acudiu a CBJ chama-se Paulo Wanderley Teixeira, o ex-presidente da CBJ que hoje preside o COB e abriu os cofres do Comitê Olímpico do Brasil para liberar os recursos necessários para assegurar as passagens que deveriam ter sido pagas com recursos do PAF.
Sendo assim, o COB também está envolvido no mais novo escândalo criado por uma das mentes mais geniais e brilhantes do judô nacional. Pena que, segundo dizem com grande frequência nos corredores da CBJ em Humaitá, Sílvio Acácio é de fato muito criativo e vive criando problemas que engessaram e já imobilizaram uma entidade que até o fim do último ciclo olímpico era tida como o maior case de sucesso da gestão esportiva do Brasil.
O que dizem os judocas que foram vítimas desta discriminação brutal?
Além do presidente da FJEAC, a Budô ouviu os atletas que inexplicavelmente tiveram seus sonhos atropelados de forma arbitrária e brutal.
Devidamente ranqueados e classificados na plataforma Zempo, o peso meio-pesado Adriano Araújo Pereira e o peso leve Paulo Júnior de Morais Figarella conquistaram em Ji-Paraná (RO) o direito de competir na fase final do Campeonato Brasileiro Sênior e receber passagens pelo PAF.
Frustrados com a decisão absurda imposta pela entidade, ambos expuseram a decepção sofrida com a atitude covarde que está causando enorme comoção na comunidade judoísta.
Nascido em 14 de novembro de 1991 em Rio Branco, no Acre, Adriano Pereira começou no judô aos 12 anos e já defendeu seu Estado em outras competições nacionais. Atleta do Dojô Central Kodokan, Adriano falou da surpresa e da frustração ao saber que todo o esforço e o investimento haviam sido em vão.
“Além da surpresa, recebi a negativa com profunda tristeza. Estávamos treinando há muito tempo. Além do dinheiro investido na viagem a Rondônia e no treinamento do dia a dia, dedicamos muito tempo ao preparo da equipe que iria a Camboriú. Trabalho diariamente das 7 da manhã até às 22hs, e o Paulo também tem uma rotina de trabalho muito extensa. Mesmo assim, durante toda a temporada mantivemos um programa de treino muito forte e estávamos prontos para representar muito bem o Acre”, disse.
Formado em gestão pública e licenciado em letras, Adriano é responsável pelo almoxarifado de medicamentos do Governo do Estado do Acre e à noite dá aula de português, mas mesmo assim arruma tempo para treinar.
“Fiquei totalmente desapontado com a negativa porque esta troca de experiência com atletas de outros Estados é superimportante para o judô acreano. A CBJ está nos impondo um prejuízo técnico gigantesco. Fora isso, nos impôs grande prejuízo financeiro, porque o judô é um esporte muito caro. Investimos uma soma significativa para chegar até o fim de dezembro treinando exaustivamente”, disse Adriano.
“Lembro também que a mesma discriminação imposta ao Acre hoje poderá ser dirigida a outros Estados, afetando assim muito mais atletas com uma simples canetada. A meu ver a CBJ e seu presidente atentaram contra a soberania do judô do Acre e subtraíram os direitos a nós legados pela própria entidade, quando disputamos o Brasileiro Regional em Ji-Paraná. Gostaria muito que o presidente da confederação explicasse por que está negando um direito que conquistamos lutando e cumprindo as normas estabelecidas pelo PAF. Gostaria de saber como o presidente reagiria se o mesmo acontecesse com um filho dele”, concluiu o judoca acreano.
Natural de Rio Branco e nascido em 30 de novembro de 1996, pela terceira vez Paulo Figarella iria representar o Acre numa competição nacional.
“Fiquei muito triste a até mesmo abatido com a atitude do presidente da CBJ, mas nem por um minuto jogamos a toalha ou deixamos de treinar objetivando uma boa campanha na competição nacional. Não podemos perder a esperança”, disse o judoca, que é formado em pedagogia.
“Além de minha atividade, trabalho pesado na área da construção civil, o que demanda enorme desgaste físico, mas mesmo assim não costumo negligenciar o treinamento do judô. Queríamos muito representar o Acre nesta competição e lutar com judocas de Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão, que possuem grandes atletas. Penso que o PAF é um programa criado para fomentar o judô, e não entendo por que o presidente da CBJ tomou uma atitude tão radical contra o Acre”, disse o judoca. E finalizou afirmando que, independentemente da atitude radical do dirigente brasileiro, não vai desistir e seguirá lutando para representar seu Estado da melhor forma possível.
Desapontado com a atitude intempestiva e discriminatória do presidente Sílvio Acácio Borges, Delfino Batista detalhou o esforço despendido no sentido de incluir o Acre no programa do PAF.
“Desenvolvemos todos os esforços possíveis, físicos e financeiros, para atender as normas que regem o Programa de Auxílio às Federações e levar uma equipe do Acre para o Campeonato Brasileiro Regional de Ji-Paraná, em Rondônia. Tudo que estava ao nosso alcance foi feito para que tivéssemos uma boa representatividade no certame. No entanto, esperávamos a contrapartida no sentido de recolocar o Acre no programa do PAF, e lamentavelmente o presidente da CBJ resolveu discriminar nosso Estado”, disse.
O dirigente lembrou que devido a localização do Acre, o ex-presidente Paulo Wanderley Teixeira até isentava o Estado de participar no Campeonato Brasileiro Regional.
“A situação socioeconômica do nosso Estado é tão delicada que, mesmo eu sendo adversário político do Paulo Wanderley, o ex-presidente da CBJ relevava a nossa ausência nas fases regionais. O Paulo pensava como um estadista, enquanto lamentavelmente o professor Sílvio pensa como técnico de judô e me vê como um adversário. O que, além de triste, é deplorável, pois sua atitude expõe o tamanho diminuto de sua visão política”, lamentou o dirigente acreano.
“Nossa localização geográfica é cruel, mas mesmo assim cumprimos aquilo que rezam as normas do PAF. A postura do presidente da CBJ é execrável, infundada e descabida. Para participar de uma competição regional nossos atletas ariscaram a vida em estradas ruins e fizeram um investimento financeiro gigantesco para as nossas possibilidades, e no fim das contas o presidente da CBJ alegou primeiro que não tínhamos direito ao PAF, o que não é real, e por último alegou que a CBJ não possuía recursos para nos enviar as passagens, o que também não procede, tamanha é a imponência dos eventos e festas promovidos pela alta corte do judô em todo o País com dinheiro público”, detalhou Delfino.
“Nossos atletas treinaram muito e investiram grandes somas em todo este processo e a repercussão interna desse ato bárbaro foi bombástica. Além de decepcionados, os judocas acreanos estão desanimados e temerosos quanto ao futuro incerto e duvidoso a que todos nós do Acre fomos lançados pelo presidente da Confederação Brasileira de Judô”, enfatizou o presidente da FEJEAC, que avaliou o estilo personalista de Sílvio Acácio Borges.
“Tínhamos divergências políticas com o ex-presidente da CBJ, e mesmo assim ele sempre separou a política dos direitos que todos os atletas do Brasil têm de competir em condição de igualdade com os demais judocas do Brasil. Eu jamais me posicionei contra o presidente atual, mas parece que ele tem o péssimo hábito de levar tudo para o campo pessoal. Ele acaba misturando tudo e promovendo toda esta situação absurda e surreal em que se encontra o judô brasileiro”, lamentou Delfino Batista.
Disposto a lutar pelos direitos do seu Estado, o dirigente promete recorrer à Justiça comum para reivindicar os direitos dos judocas acreanos, assim como ser indenizado por toda a discriminação, perseguição, humilhação e violência de que os atletas e o Estado do Acre foram vítimas neste episódio lamentável do judô brasileiro.