Primeiro medalhista olímpico do judô brasileiro, Chiaki Ishii entra para o Hall da Fama do COB

Vânia Ishii, Chiaki Ishii e Keiko Ishii

Em São Paulo, o Comitê Olímpico do Brasil premiou o atleta pioneiro e uma das principais referências do judô para várias gerações

Hall da Fama COB
23 de julho de 2019
Fonte IMPRENSACOB I Por PAULO PINTO I Fotos ARQUIVO
São Paulo – SP

Em plena Galvão Bueno, tradicional rua do bairro da Liberdade, principal reduto dos imigrantes japoneses em São Paulo e no Brasil, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) promoveu neste sábado (20) uma cerimônia em comemoração ao marco de um ano para os Jogos Tóquio 2020.

Chiaki Ishii em combate quando defendia o Brasil na seleção brasileira

O ponto alto foi a homenagem a Chiaki Ishii, japonês naturalizado brasileiro, dono da primeira medalha olímpica do judô nacional, o bronze conquistado em Munique 1972 na categoria meio-pesado. Em seu pronunciamento, o imigrante nipônico que teve de cruzar o oceano para realizar o sonho olímpico demonstrou sua emoção.

“É uma honra receber esta homenagem. Agradeço ao Comitê Olímpico do Brasil por me proporcionar este momento emocionante. Hoje é um dos dias mais felizes e importantes da minha vida. Sempre tive o objetivo de disputar os Jogos Olímpicos. Perdi a seletiva em 1964 e decidi recomeçar do zero. Atravessei o oceano e vim para o Brasil. Precisei trabalhar na agricultura para sobreviver, mas sempre com a certeza de que não perderia para ninguém no judô. Com apenas um judogi nas costas, treinei e lutei muito até conquistar a medalha de bronze olímpica”, disse Chiaki Ishii, que também foi o primeiro brasileiro a ganhar medalhas em mundiais de judô, com o bronze conquistado em Ludwigschafen, em 1971. “Passados 47 anos da minha conquista, vejo que o judô brasileiro já ganhou 22 medalhas nos Jogos Olímpicos e fico muito feliz com o crescimento da modalidade”, completou. Ishii nasceu em 1º de outubro de 1941 em Ashikaga, na província de Tochigiken, no Japão.

Várias gerações de medalhistas olímpicos paulistas prestigiaram o judoca pioneiro no pódio olímpico

Oriundo de uma família formada eminentemente por judocas, o jovem Chiaki foi treinado pelo avô Seikichi Ishii, shichi-dan (7º dan), e pelo pai Yukichi Ishii, hachi-dan (8º dan). Os irmãos, todos judocas, são Haruo, san-dan (3º dan); Kiyoshi, shichi-dan (7º dan); Isamu, roku-dan (6º dan); e Kingo, ni-dan (2º dan). Promovido a kyuu-dan (9º dan) em 2010, durante a cerimônia de Abertura do Campeonato Paulista Sub 21 em Campinas (SP), Chiaki é o judoca com maior graduado da família Ishii.

Ao explicar a importância histórica do Hall da Fama do COB, Rogério Sampaio enfatizou a contribuição de Ishii no desenvolvimento do judô brasileiro enquanto modalidade olímpica.

“O projeto do Hall da Fama foi criado pelo COB para reconhecer e reverenciar grandes atletas brasileiros que construíram, com muito sacrifício, a tradição de medalhas olímpicas que possuímos hoje. A conquista de uma medalha era muito difícil. Hoje, o Brasil já vai para os jogos com uma expectativa maior. Isso só foi possível com a participação de atletas como o sensei Ishii. Essa homenagem é mais que um reconhecimento. É um agradecimento, não só pela conquista olímpica, mas pelo legado que deixa para o judô. Sem a história dele, certamente o Brasil não teria atingido as 22 medalhas que a modalidade conquistou até hoje em Jogos Olímpicos”, disse o diretor geral do COB.

As mãos de Ishii ficarão eternizadas no mural no Parque Aquático Maria Lenk

As mãos de Ishii ficarão eternizadas no mural que será inaugurado no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Além dele, o Hall da Fama do COB já abriga atletas como Torben Grael (vela), a dupla Sandra Pires e Jackie Silva (vôlei de praia), Vanderlei Cordeiro (atletismo) e Hortência Marcari (basquete). Ainda em 2019, o COB homenageará Paula (basquete), Joaquim Cruz (atletismo), Bernardinho e José Roberto Guimarães (vôlei) e os já falecidos Guilherme Paraense (tiro esportivo), João do Pulo (atletismo), Maria Lenk (natação) e Sylvio Magalhães Padilha (atletismo).

Keiko Ishii, esposa de Chiaki, e Vânia Ishii, sua filha campeã meio-médio dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg 1999 e vice-campeã em Santo Domingo 2003, participaram do evento, ao lado de grandes nomes do judô verde e amarelo, entre os quais os também medalhistas olímpicos Rogério Sampaio, ouro em Barcelona 1992; Aurélio Miguel, ouro em Seul 1988 e bronze em Atlanta 1996; Leandro Guilheiro, bronze em Atenas 2004 e bronze em Pequim 2008; Tiago Camilo, prata em Sidney 2000 e bronze em Pequim 2008; e Rafael Silva, bronze em Londres 2012 e bronze no Rio 2016; além da medalhista de bronze no mundial de Chiba em 1995 e campeã dos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007, Daniele Zangrando.

Francisco de Carvalho Filho e Chiaki Ishii

Entre os dirigentes esportivos estavam Rogério Sampaio, diretor geral do COB; Alessandro Panitiz Puglia, presidente da FPJudô; Takanori Sekine, presidente do Instituto Kodokan do Brasil (IKB); Sílvio Borges, presidente da Confederação Brasileira de Judô; e Francisco de Carvalho Filho, presidente de honra da FPJudô, que avaliou a importância da trajetória de sensei Ishii para a projeção internacional do judô brasileiro.

“Entendo que o fato marcante do legado deixado pelo professor Ishii é ter aberto o caminho do pódio olímpico para os judocas brasileiros de sua geração e, consequentemente, para as gerações seguintes. Com o bronze conquistado em Ludwigschafen em 1971 e com o bronze olímpico em Munique 1972, ele mostrou que era possível ser medalhista internacional e que no Brasil já existia judô de altíssima qualidade”, disse o dirigente. Ele lembrou também que no shiai-jô Ishii era uma máquina de fazer ippons.

Com grande presença da imprensa, sensei Ishii fala sobre a sua trajetória nos tatamis e n Brasil

“O Ishii sempre foi um judoca altamente competitivo. Aliás, ele só focava isso. Vivia, treinava e se preparava sempre para lutar e derrubar seus adversários. É uma pessoa que deixa um legado não só pelas medalhas em si, mas pela dedicação ao treinamento. Muitas vezes estive com ele em randoris, ao lado de sensei Onodera e outros técnicos da seleção brasileira, e quando ele treinava era muito admirado. Todos, sem exceção, o respeitavam muito – por bem, ou por mal, já que ele não perdia a viagem. Era diferenciado no treinamento, e nas competições era uma máquina de fazer ippons.” Chico do Judô concluiu avaliando a iniciativa do Comitê Olímpico do Brasil.

“Sabemos que o COB premia os melhores atletas de cada modalidade esportiva, e obviamente não poderia deixar de reverenciar o judoca que foi precursor das 22 medalhas que o judô obteve nas Olimpíadas. Trata-se de um atleta que tem uma história e um retrospecto de vitórias e conquistas que se evidenciam eminentemente pelo pioneirismo”, pontuou o dirigente paulista.

Takanori e Itsuko Sekine com Chiaki e Keiko Ishii

Os professores kodanshas Odair Borges, Chiaki Ishii e Francisco de Carvalho

Professor Chiaki Ishii com Arnaldo Queiroz Pereira, diretor de Esportes Olímpicos e Formação do Esporte Clube Pinheiros

Medalhistas olímpicos e dirigentes esportivos prestigiaram o primeiro medalhista olímpico do judô brasileiro