Sílvio Acácio proíbe entrada de membro do Instituto Kodokan do Brasil na sede da CBJ

Depois de criar um imbróglio internacional, Sílvio Acácio foi desmentido por um membro do Instituto Kodokan do Brasil

O coordenador de comunicação do IKB foi avisado da proibição e do impedimento na porta da CBJ, e teve de ficar na calçada à espera do grupo que entrou na sede da entidade

Shido
22 de fevereiro de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos BUDÔPRESS e ARQUIVO
Curitiba – PR

Em mais um rompante de arrogância e prepotência, Sílvio Acácio Borges, o autoproclamado imperador do Judô Guarani, finalmente revelou quem realmente é, extrapolando todos os limites da cortesia, educação e do respeito ao próximo.

No domingo (17 de fevereiro) uma comitiva capitaneada por membros do Instituto Kodokan do Brasil foi ao Rio de Janeiro, para a realização do workshop de capacitação para o ensino do judô em âmbito escolar. A iniciativa do governo do Japão por meio do consórcio Sport For Tomorrow, Instituto Kodokan do Brasil e Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro é chancelada pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ).

Na segunda-feira os membros da comitiva solicitaram uma visita à sede da CBJ diretamente ao presidente Sílvio Acácio Borges que, segundo fomos informados, concordou em receber o grupo, mas advertiu seu interlocutor de que não admitiria a entrada do professor Rafael Borges na sede da confederação, e assim ocorreu.

Rafael Borges auxilia participantes do workshop realizado em Curitiba

Quando o grupo chegou à porta da CBJ, Rafael Borges foi alertado da proibição, resignou-se e ficou na calçada da Rua Capitão Salomão, em Humaitá, enquanto a comitiva vinda do Japão e os demais membros do Instituto Kodokan entraram no prédio.

É importante lembrar que, além de ser filho de Odair Borges, professor kodansha 8º dan, ex-membro da comissão de graduação da CBJ e um dos professores mais capacitados e respeitados do Brasil, Rafael Borges desempenha uma função preponderante no intercâmbio promovido pelos governos do Japão e do Brasil. Além disso, Rafael estava ali a serviço do consórcio Sport For Tomorrow, que é um braço do governo japonês.

Seja qual for o problema pessoal que o presidente da CBJ alimenta em suas entranhas doentias, ele não tinha o direito de tratar o professor desta forma. A CBJ é uma entidade pública e seu presidente não possui o direito de impedir que um judoca devidamente federado entre na entidade.

Onde estão a educação, o respeito e o protocolo? É este tipo de exemplo que este dirigente vai deixar como legado de uma gestão fundamentada em questões pessoais e no ódio?

Onde foram parar os princípios judoístas insistentemente propalados por um dirigente que fracassou integralmente na gestão à frente da Federação Catarinense de Judô e agora joga a CBJ na mesma vala comum, perseguindo, eliminando e subjugando as pessoas que não o bajulam ou não se curvam diante de sua grandeza.

Comitiva capitaneada pelo consórcio Sport For Tomorrow e dirigentes esportivos na sala da presidência da CBJ

Com mais este gesto revelador, Sílvio Acácio desrespeitou o governo do Japão e o consórcio Sport For Tomorrow, o Instituto Kodokan do Brasil e a Federação Paulista de Judô, à qual Rafael Borges é filiado. Isto sem falar dos dois professores que contribuíram substancialmente na edificação do judô do interior paulista: o professor kodansha 7º dan José de Almeida Borges e Odair Antônio Borges, 8º dan, avô e pai do judoca impedido de entrar na CBJ.

Um dos mais eruditos e proeminentes judocas do Brasil, Odair Borges revelou-se estupefato diante de tamanha afronta e falta de educação. Respondendo a quatro perguntas feitas pela Budô, Borges revelou a profunda decepção ao deparar-se com tamanha falta de decoro e preparo para ocupar o mais alto posto do judô nacional.

Gostaríamos de compreender por que Sílvio Acácio Borges barrou a entrada de uma pessoa que estava a serviço do governo japonês. Qual foi o crime cometido por ele?

Tive conhecimento da ocorrência e me causou perplexidade; ainda estou à procura de explicações – por sinal, explicações de presidentes e dirigentes nunca as tenho. Causou-me descontentamento e achei grosseiro o modo como o professor Rafael Borges foi tratado pela direção da CBJ. Aliás, já não é a primeira vez. Em outras oportunidades foi observado o mesmo tratamento com arrogância e sem o mínimo trato social. Um comportamento deselegante, descabido e ofensivo, não adequado a um presidente de entidade como a CBJ. Na eficiente gestão do então presidente Paulo Wanderley, sempre fui muito bem recebido, fiz parte da comissão nacional de graduação, proferi palestras e ministrei cursos. Portanto, tenho um nome a zelar; são três gerações de faixas pretas na mesma família no judô brasileiro e não posso admitir não defendê-lo.

O professor kodansha Odair Borges cobrou postura compatível ao cargo que o gestor nacional do judô ocupa

Gostaríamos também de saber se você acha que o dirigente tem ciência de que a CBJ é uma entidade pública e, portanto, deveria manter suas portas abertas a todos, inclusive para um judoca faixa preta que assessorava uma missão oficial vinda do Japão.

Minha avaliação infelizmente não é tão favorável para um presidente de entidade como a CBJ que não reconhece o valor do mais jovem, que em vida monástica se dedicou e se dedica aos estudos e segue os ensinamentos do shihan Jigoro Kano, dentre eles, o kogi (palestra) e o mondo (debates). O professor Rafael, sempre elogiado, vem compartilhando informações e esclarecimentos no meio do nosso judô, nos grupos da internet e outros. Por sinal, uma contribuição, do professor Rafael no verdadeiro espírito do “jita-yuwa-kyoei”, no sentido de informar, esclarecer e sanar dúvidas sobre judô, que a meu ver é uma orientação que deveria ser feita pela confederação e federações para capacitação de seus filiados.

Você acredita que o presidente da CBJ compreende a importância social da missão que visitou a CBJ?

Há pouco tempo escrevi um artigo Valores educativos do judô não sei se o senhor presidente leu, no qual descrevo que em nossa condição de kodanshas somos guardiões dos valores morais e educacionais a serem preservados e transmitidos por intermédio do judô. Respeito é um dos preceitos do judô que deve ser observado atentamente pelo presidente kodansha, que por sinal deve ser o primeiro a dar exemplo e ser modelo de caráter e honradez. O judô não pode servir de trampolim para acrobacias políticas. Não agrega nada ao seu desenvolvimento.

Será que o presidente da CBJ consegue compreender o importante papel que o professor Rafael Borges desempenha no IKB, fazendo a interlocução entre Brasil e Japão?

Tenho minhas dúvidas, mas além de ser judoca e ter participado de três mundiais de jiu-jitsu (IJJF) e do mundial de wrestling, o professor Rafael Borges é possuidor de um vasto currículo acadêmico, além de ser um gestor na iniciativa privada. Por isso tem demonstrado alta capacidade de gerenciar ações estratégicas para o desenvolvimento do projeto Judô na Escola. Um projeto totalmente suportado pelo governo japonês e intermediado pelo Instituto Kodokan do Brasil, que atualmente é presidido pelo professor Takanori Sekine. Portanto, o professor Rafael é um membro deste instituto e colaborador voluntário, que se dedica intensamente aos propósitos do judô. Não posso deixar de citar aqui a importância de todos os membros deste renomado instituto, pois é fato que sozinho ninguém promove o jita-kyoei.

Promotores do workshop em um jantar com dirigentes cariocas

Após ouvirmos as colocações do professor Odair, solicitamos mais informações do personagem central do mais novo imbróglio causado pelo dirigente máximo da entidade, mas nenhuma de nossas perguntas foi respondida.

Por meio de sua assessoria, o professor Sílvio Acácio limitou-se a contar a sua versão do fato, que nada tem a ver com as versões narradas pelos demais envolvidos. Veja a resposta do dirigente:

“A Confederação Brasileira de Judô recebeu na última segunda-feira, 18, em sua sede no Rio de Janeiro, o medalhista olímpico e bicampeão mundial japonês Hirotaka Okada; Ryosuke Kimura, gerente de projeto do Japan Sport Council; Takanori  Sekine, presidente do Instituto Kodokan do Brasil (IKB) e seu vice-presidente, Roberto Mitio Harada; Jucinei Costa e Leonardo Lara, presidente e vice-presidente, respectivamente, da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro (FJERJ).

“Todos os integrantes da comitiva que vieram à CBJ foram recebidos pelo presidente Silvio Acácio Borges, pelo gestor técnico de eventos nacionais, Matheus Theotônio, pelo gestor de alto rendimento, Ney Wilson Pereira, e pela técnica da seleção masculina de judô do Brasil, Yuko Fujii.

“A CBJ e o Instituto Kodokan do Brasil trabalham em cooperação com a Embaixada do Japão no Brasil e com a Secretaria Especial do Esporte do Brasil por meio do programa Sport For Tomorrow, pauta principal desta agenda.

“Ressaltamos que a Confederação Brasileira de Judô está sempre aberta aos seus filiados e a toda a comunidade do judô.”

Tecnicamente falando, a resposta de Sílvio Acácio foi perfeita, mas o que o ardiloso dirigente desconhece é que, além das pessoas que nos relataram os fatos, em Curitiba colhemos e gravamos o depoimento do professor Roberto Mitio Harada, coordenador de projetos do IKB. Preferindo não opinar para não gerar um incidente diplomático, Harada acabou por confirmar que Rafael Borges foi realmente proibido de entrar na CBJ pelo presidente Sívio Acácio Borges.

“Foi uma situação desagradável, mas desconheço os motivos que levaram o presidente Sílvio Acácio a tomar esta decisão. Por não saber o que está atrás disso, prefiro não opinar nem avaliar nada”, respondeu Harada, que no passado foi vice-presidente da Confederação Brasileira de Judô.

Hirotaka Okada e Sílvio Acácio

A CBJ não é a FCJ, assim como o Brasil não é o Japão

Repetindo o mesmo modus operandi com o qual edificou sua vida pessoal, Sílvio Acácio mentiu acintosamente, empurrando todos à sua volta, mais uma vez, para beira do penhasco. Na CBJ todos vivem apreensivos com os rompantes e chiliques do imponderável dirigente. Matheus Theotônio, gestor Técnico de Eventos Nacionais, é uma de suas principais vítimas, vivendo incessantemente metido nas saias justas criadas por sua alteza, o rei dos guaranis.

Comportando-se como se ainda estivesse no comando da FCJ, o dirigente nacional desrespeitou a história de um dos introdutores do judô em Campinas, que já era professor kodansha quando ele ainda nem era faixa branca no dojô do professor Cocada, no bairro Boa Vista, em Joinville (SC).

Como bem pontuou o professor Odair, o judô não pode servir de trampolim para acrobacias políticas. Os japoneses – que não falavam português e foram prontamente atendidos por Rafael Borges no período em que a turnê passou por Bauru, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba – certamente vivenciaram o clima, a desfaçatez e grosseria cometidas pelo líder máximo do judô verde e amarelo. O fato certamente será reportado nas altas esferas do judô do Japão, local frequentado por judocas na acepção da palavra, e não por pseudojudocas inescrupulosos.

Esperamos apenas que a repercussão e os desdobramentos da grosseria cometida contra um membro do IKB que estava a serviço do consórcio Sport For Tomorrow não comprometam um programa que foca o desenvolvimento social e cultural das crianças do nosso País.