Talento importado do Japão, Stefannie Koyama é aposta do judô brasileiro

Nova integrante da seleção brasileira já conquistou duas medalhas de ouro nesta temporada.

“Não falo muito bem português”, adianta Stefannie Arissa Koyama, antes do início da entrevista ao Estado. A dificuldade da língua vem acompanhada de timidez na fala mansa da judoca, nascida no Japão. Mas no tatame a atleta do peso ligeiro (até 48 kg) já mostra atitude: duas medalhas de ouro – Grand Slam de Baku e Grand Prix de Tbilisi – em três competições internacionais desde que passou a representar o judô brasileiro em 2017. “Estou representando o Brasil, é uma responsabilidade, tenho de ganhar. Quero lutar a Olimpíada de 2020 e tenho de mostrar (resultados). Todas as competições são importantes para mim”, afirma.

O próximo compromisso será no dia 28 de abril, quando disputará o Campeonato Pan-Americano de Judô, na Cidade do Panamá. E ela não esconde a ansiedade diante da chance de enfrentar a campeã olímpica Paula Pareto. Será a última competição antes de ir para casa, do outro lado do mundo. Em 2 de maio, Stefannie volta para Tóquio para cursar o último ano letivo da faculdade de Letras – habilitação japonês/inglês – na Universidade Teikyo.

Na capital japonesa, mora em um alojamento com mais 30 judocas e divide o quarto com uma colega. A rotina é intensa: acorda cedo, corre pela manhã, tem aula das 9h às 16h15 e não para de treinar até o relógio marcar 19h. Isso se repete diariamente. Conta com a ajuda de alguns professores para encarar a jornada dupla. Mas o dia a dia da atleta de 21 anos já foi mais calmo, Stefannie cresceu em Gunma, a cerca de 120 quilômetros de Tóquio, onde a família se instalou depois que decidiu mudar de vida.

Ricardo deixou São Paulo para estudar no Japão durante um ano, retornou ao País e se casou com Sanlay (nascida em Santos); juntos imigraram para a terra do sol nascente. Atualmente, o pai trabalha em uma construtora e a mãe dá aulas de inglês. O irmão mais velho – inspiração de Stefannie no início da carreira no judô – e a caçula da família seguiram a paixão pela arquitetura. Só ela continuou no esporte.

“De vez em quando eu ia no trabalho do meu pai, falava um pouco com alguns brasileiros”, relembra a atleta. Em casa, ela tenta se comunicar em português para não esquecer as origens, apesar de constantemente misturar as duas línguas.

O coração batia mais forte ao pensar no Brasil. Assim, procurou a comissão técnica da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) durante o Grand Slam de Tóquio e foi aconselhada a disputar a seletiva nacional, em janeiro deste ano. A vitória na categoria até 48 kg lhe deu uma vaga na equipe, e vínculo com o judô nacional ficou maior após o acerto com o Esporte Clube Pinheiros.

De férias da faculdade, Stefannie veio para São Paulo em fevereiro, instalou-se na casa do tio, na região do Paraíso, e tem vivenciado uma nova experiência. Tinha visitado o País quando era criança, mas tem poucas memórias das passagens anteriores. É apaixonada pela praia e pelo mar. Ainda que a capital paulista seja conhecida pelo ritmo frenético de seus moradores, a judoca tem uma visão diferente sobre a metrópole. “Sinto (um clima) mais tranquilo aqui, todo mundo é muito calmo. No Japão, todo mundo está correndo para o trabalho, é muito corrido”, compara. Além disso, não vê semelhanças entre o bairro Liberdade – reduto de japoneses na cidade – e o Japão.

As diferenças também são notadas por ela quando o assunto é o judô. “As pessoas daqui têm mais força. Não estava acostumada a fazer força assim, agora estou aprendendo”, diz. Destaca ainda que os orientais fazem quase o dobro de randori (luta de treinamento) que os brasileiros. Já a alimentação foi uma das tentações encontradas por Stefannie nas primeiras semanas no Brasil. Feijão e bolo de chocolate estão entre os seus favoritos. “A comida daqui é muito boa, eu comia bastante, mas agora estou conseguindo manter o peso”, admite a atleta, que possui 50 kg fora de competição.

O plano de Stefannie é mudar-se de vez para São Paulo quando terminar a faculdade. Enquanto isso, conta com a ajuda dos companheiros de clube, especialmente de Eduardo Yudi, também nascido no Japão, quando não entende alguma instrução durante os treinamentos. Nas competições, o auxílio tem partido de Sarah Menezes, que foi campeã olímpica em 2012 e subiu de categoria para o próximo ciclo olímpico pela dificuldade de se manter no peso. Em Baku, a piauiense foi sua companheira de quarto e deu dicas sobre as adversárias; a pupila parece ter assimilado bem os conselhos.

O principal objetivo de Stefannie Koyama na temporada é estar entre os convocados para o Campeonato Mundial de Budapeste, em agosto. Esse é um dos degraus necessários para a realização do sonho de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, onde reconhece que se sentirá em casa.