Dirigentes estaduais discordam da intervenção no judô paulista e externam apoio a Alessandro Puglia

Moisés Gonzaga Penso, dirigente de Santa Catarina © Budopress

Dirigentes de 14 estados apoiam dirigente paulista e condenam as arbitrariedades cometidas pelo presidente da CBJ neste episódio lamentável

Gestão Esportiva
21 de abril de 2021
Por PAULO PINTO
Curitiba (PR)

Em mais um ato abominável e persecutório protagonizado pelo presidente da CBJ, recentemente o STJD da Confederação Brasileira de Judô deflagrou um processo de intervenção repleto de vícios e erros jurídicos, retrato de uma gestão estribada na insanidade de um dirigente ególatra que empurra a modalidade para a beira de um penhasco.

Com o velho hábito de judicializar sua relação com entidades e clubes com os quais se envolve, Sílvio Acácio vislumbrou na improcedente figura da intervenção a possiblidade de punir Alessandro Panitiz Puglia, ex-vice-presidente da Federação Paulista de Judô, um dirigente que até há pouco tempo o seguia e apoiava fervorosamente.

Do alto de sua já conhecida sandice, no dia 9 de abril o dirigente nacional publicou um áudio no grupo de WhatsApp dos presidentes justificando que não era a CBJ que estava intervindo na FPJudô, e sim um dos poderes da confederação brasileira, ou seja, o STJD da CBJ.

Ton Pacheco, dirigente do Tocantins © Budopress

Atropelando o ordenamento jurídico-esportivo em vigor no Brasil

Falastrão, nesse áudio Sílvio Acácio deixou escapar que a decisão de promover a intervenção no judô paulista ocorreu devido a um movimento da oposição de São Paulo, ou seja, as denúncias feitas pela Associação Projeto Budô de Artes Marciais, de Vinícius Jerschow, e pelo Instituto Camaradas Incansáveis, de Rodrigo Motta.

Com mais este ato falho, o presidente da CBJ confessou mais um crime cometido por ele e seu STJD, em sua saga voraz de perseguir e castigar seus opositores. Sendo uma entidade de gestão nacional, a CBJ jamais poderia ter atendido a uma demanda solicitada por filiados de sua filiada, ou seja, da FPJudô.

Mais uma vez Sílvio Acácio errou de forma grotesca e escancarada ferindo de morte o ordenamento jurídico-esportivo que regulamenta o desporto no Brasil.

1 – O artigo 217, I. da Constituição Federal de 1988 cria o dever (obrigação) de o governo federal criar políticas públicas de fomento ao esporte. Daí ter sido criado o Ministério do Esporte e as Secretarias de Esporte nos âmbitos estadual e municipal. Com a reforma ministerial eliminou-se o status de ministério e hoje o esporte é uma secretaria.

2 – A lei federal 9.615/98 (Lei Pelé) dispõe sobre normas gerais para o esporte.

3 – As federações esportivas, quanto ao seu funcionamento e organização, são regulamentadas por seus estatutos. As confederações nacionais de esportes são filiadas a suas respectivas entidades internacionais e ao Comitê Olímpico do Brasil (COB).

4 – Federações com jurisdição no âmbito do seu Estado são filiadas à confederação brasileira da sua modalidade. O COB, por sua vez, reconhece apenas uma representação (federação) por Estado. Entidades de prática esportiva (associações, clubes etc.) são filiadas à federação estadual da modalidade.

5 – O atleta é inscrito pelo clube na federação e confederação da modalidade. Ele não é filiado à federação ou na confederação, ele é simplesmente inscrito pela entidade. Associações e clubes têm suas regras de normatização em seus estatutos.

Fernando Moimaz, dirigente de Mato Grosso © Budopress

Acima da lei

Contudo, falar em justiça e direito esportivo com o presidente da CBJ e meia-dúzia de dirigentes estaduais que o seguem cegamente é o mesmo que falar com uma parede. Mesmo porque, desde os tempos em que dirigia a Federação Catarinense de Judô, o presidente da CBJ se acha inimputável e muito acima da lei. Ele se esquece, apenas, de que não está mais em seu dojô de Joinville, arrumando encrenca com gente despreparada.

Dirigentes apoiam Alessandro Puglia

Ao todo, 14 presidentes estaduais manifestaram apoio e solidariedade a Alessandro Puglia, dirigente que encabeça a chapa Avança Judô Paulista no pleito da Federação Paulista de Judô (FPJudô) desta sexta-feira (23). Por questões éticas publicaremos apenas os nomes dos dirigentes que manifestaram apoio ao judô paulista, além da opinião de seis deles que pediram expressamente para a revista Budô divulgar como eles veem mais este trágico episódio promovido por um dirigente que, com o aval trevoso de meia-dúzia de dirigentes procrastinados, diminui a cada dia o tamanho da Confederação Brasileira de Judô.

Enviaram mensagens de solidariedade e apoio: Moisés Gonzaga Penso (SC), Luiz Hisashi Iwashita (PR), Antônio Luiz Milhazes Filho (AL), Georgton Thome Burjar Moura Pacheco (TO), Delfino Batista da Cunha Filho (AC), José Ovídio Duarte da Silva (MS), Josmar Amaral Gonçalves (GO), Jucinei Gonçalves da Costa (RJ), Fernando Moimaz (MT), Luiz Gonzaga Filho (DF), Luiz Augusto Martins Teixeira (MG), Adailson Fernandes Coutinho (PB) e os ex-presidentes Antônio Jovenildo Viana (AP) e Valter Amaral (PA).

Moisés Penso avalia que a intervenção realizada em São Paulo é arbitrária, sem o menor embasamento jurídico. “Este episódio envolvendo a FPJudô e o suposto TJD da CBJ é lamentável e totalmente fora do tom, dentro do meu conhecimento. Foi desproporcional, totalmente ilegal e sem o menor amparo jurídico, mas acho que a Justiça vai manifestar-se. É muito importante que fiquemos alertas, para que ações como esta e as que aconteceram no Paraná, com a interferência da CBJ na eleição, não ocorram novamente. A isenção e a autonomia das federações é de fundamental importância no processo democrático do esporte e da nossa modalidade.”

Luiz Hisashi Iwashita, dirigente do Paraná © Budopress

Sobre o dirigente paulista especificamente, Gonzaga Penso argumentou que se trata de um dirigente que, além do grande comprometimento com a modalidade, sempre pautou suas ações na lisura e naquilo que é correto.

“Quem conhece a história do judô paulista e do professor Alessandro sabe quem é ele e que ele sempre foi altamente comprometido com a entidade, fazendo a gestão com lisura e total idoneidade, pautando suas ações com base naquilo que é melhor para a modalidade. Lamentavelmente a oposição que vemos em São Paulo é visivelmente orquestrada fora do Estado e está sendo feita por pessoas totalmente despreparadas para assumir um desafio administrativo tão grande”, opinou o dirigente catarinense.

Incrédulo com o baixo nível ao qual o judô brasileiro foi lançado pelo presidente da CBJ e sem medir palavras, o dirigente tocantinense, Georgton Pacheco literalmente rasgou o verbo e expôs toda a verdade.

“A federação paulista sempre ajudou e segue fomentando o desenvolvimento do judô brasileiro, emprestando seu quadro de professores para o resto do Brasil – técnicos, árbitros, professores de kata, atletas e administradores de toda espécie para impulsionar a nossa modalidade. Aliás, os postos estratégicos da CBJ sempre são ocupados por professores paulistas. São Paulo promove a maior copa de judô das Américas e por todos estes predicados sua federação é tida como o berço e a mãe do judô brasileiro. Mas do nada, três paulistas tecnicamente inexpressivos, que jamais tiveram protagonismo algum dentro ou fora dos tatamis e somente depois de velhos conquistaram algumas medalhinhas, traem acintosamente seus pares e acionam a CBJ, como se tivessem este poder e como se isso fosse possível. Na verdade, tudo isso é apenas um pretexto que Sílvio Acácio encontrou para punir Alessandro Puglia, que não apoia seus atos ilícitos. A maldade desse dirigente é tão grande que, além de tentar intervir na FPJudô, ainda manda a entidade remunerar o interventor indicado por ele, com um salário simbólico de R$ 20 mil mensais, sendo que nós, os verdadeiros presidentes das federações, não somos remunerados e não recebemos nenhum apoio oficial. Quem merece e sofrerá, sim, intervenção será este dirigente que mergulhou o judô do Brasil na maior crise institucional da história da CBJ. É só uma questão de tempo”, expôs Ton Pacheco.

Adailson Fernandes Coutinho, dirigente da Paraíba © Budopress

Fernando Moimaz, presidente da Federação Mato-grossense de Judô, entende que o dirigente da CBJ está extrapolando instâncias e prestando um enorme desserviço ao judô brasileiro.

“Referente à intervenção na Federação Paulista de Judô, acho que foi uma atitude totalmente desnecessária, que expõe nitidamente a falta de habilidade política do presidente da Confederação Brasileira de Judô – e o pior, transgredindo trâmites legais. Ficou claro que depois do pleito eleitoral da CBJ começaram as perseguições. A CBJ está usando dois pesos e duas medidas, esquecendo-se de que pau que bate Chico também bate em Francisco. Com essas interferências, lamentavelmente o dirigente nacional está prestando um desserviço sem precedentes e extrapolando instâncias. Ele interferiu no Paraná, forja uma intervenção em São Paulo e quem será o próximo a ser perseguido?”, questionou Moimaz.

Delfino Batista, presidente da Federação de Judô do Estado do Acre, desaprova a iniciativa da CBJ e entende que neste momento de crise sanitária mundial a entidade maior deveria ser o espelho da boa relação entre todos e não fomentar rupturas e isolamentos.

“É importante compreender o pleito da FPJudô de forma ampla. Não faz sentido algum a CBJ entrar neste processo de interferência. Por outro lado, o saudoso Francisco de Carvalho era conhecido por todos como exemplo de homem e de conduta. Dirigente de trabalho, respeito, companheirismo, administração, igualdade, perseverança e humildade. Um homem integro e de princípios inquestionáveis, que enfrentou as adversidades da vida e jamais deixou de lutar em prol do judô brasileiro. Seu legado irá prevalecer e continuará a inspirar as pessoas que o conheceram e com ele conviveram. No entanto, vejo um tratamento diferenciado entre nós, presidentes estaduais, e avalio que o desfecho do caso da federação paulista não foi uma boa iniciativa da CBJ; afinal todas as federações têm seus próprios estatutos e independência. Muitos dirigentes trabalham com dificuldades, mas sempre em defesa do judô. Não concordo com esse tipo de atitude da CBJ e de igual forma eu sairia em defesa de qualquer outra entidade. Não gostei da represália contra o nosso companheiro e amigo Puglia. Lembro que vivemos tempos difíceis e neste momento nossa entidade maior deveria ser o espelho da boa relação entre todos e não fomentar rupturas e o isolamento”, expôs o dirigente acreano.

Delfino Batista da Cunha Filho, dirigente do Acre © Budopress

Diante das arbitrariedades praticadas por Sílvio Acácio Borges e seu Tribunal de Justiça Desportiva (TJD da CBJ), o jurista e presidente da Federação Paraibana de Judô (Fepaju) Adjaílson Fernandes Coutinho avalia que a modalidade atravessa um dos períodos mais ditatoriais, ilegais e nefastos da história do judô brasileiro.

“Entendo que o presidente da CBJ deveria focar sua gestão no acolhimento das entidades estaduais, que desde março de 2020 estão à deriva e abandonadas pela entidade que possui um orçamento milionário e nada fez de concreto pela subsistência da modalidade durante a pandemia. São as federações que dão suporte jurídico, técnico e legal para a Confederação Brasileira de Judô, e não o contrário.”

“Nunca antes a CBJ havia experimentado comportamento jurídico tão negativo, que, além de ameaçar a subsistência das federações, atenta até contra a coexistência jurídica e legal da própria entidade. Até quando entidades e empresas como o Bradesco, Cielo, Mizuno, COB e a Secretaria Especial do Esporte associarão suas marcas a um parceiro mergulhando num projeto abjeto e ditatorial?”, arguiu o dirigente paraibano.

Questionando a legalidade das ações deflagradas pelo alto comando da CBJ, Luiz Iwashita, presidente da Federação Paranaense de Judô, sugere que o presidente da confederação brasileira repense seus atos e conclama os dirigentes estaduais a realizarem uma avaliação isenta do que está acontecendo.

“Há anos atuo na gestão esportiva da modalidade, mas jamais havia presenciado tamanha insegurança jurídica. A eleição da CBJ está sub judice e entendo que o presidente da entidade busca terceirizar os erros cometidos. Antes de nos tornarmos presidentes de federações, dirigentes como Alessandro Puglia, Ton Pacheco e eu passamos por diversos estágios da administração esportiva, além de termos sido campeões brasileiros seniores, numa época em que este era o maior título para um faixa-preta. Acumulamos larga experiência na gestão e estamos acostumados a agir e atuar em grupo e em consonância com os nossos princípios, mas lamentavelmente não e isso que pauta a conduta do dirigente nacional. De qualquer modo, sugiro que o professor Sílvio repense seus atos administrativos e conclamo meus colegas dirigentes estaduais a realizarem uma reflexão isenta do que está acontecendo na gestão da modalidade. Vivemos um momento gravíssimo e temos de fundamentar nossas atitudes nos princípios judoísticos”, declarou Iwashita.