15 de novembro de 2024
Sílvio Acácio Borges proíbe a vinda do professor Naoki Murata ao Brasil
Fundamentado em interesses meramente políticos, o presidente da CBJ proibiu a vinda a São Paulo do curador e professor do Museu de Judô do Instituto Kodokan
Hansoku-make
20 de março de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS
São Paulo– SP
Em 9 de novembro, dia em que o mundo todo recorda a queda do Muro de Berlim, ocorrida há 25 anos, o papa Francisco lançou um apelo no Angelus na Praça São Pedro no Vaticano:
“Precisamos de pontes, não de muros. Que caiam todos os muros que ainda dividem o mundo”. Poucos dias após o apelo lançado pelo santo padre, Sílvio Acácio Borges mostrou que sua gestão é fundamentada em muros e na perseguição sistemática àqueles que criticam sua gestão.
Durante a semana que antecedeu o Credenciamento Técnico, comentou-se amplamente nos bastidores mais um arroubo absolutista do presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que no intuito de retaliar dirigentes que ousam contestar desmandos cometidos por ele, praticou o ato mais descortês e deselegante da história do judô mundial.
A proibição da participação da autoridade japonesa no Credenciamento Técnico 2020 da FPJudô – fato inédito e gravíssimo – revela o tamanho exato da gestão atual da CBJ, uma entidade que até há poucos anos era tida como uma das mais profissionais e progressistas do judô mundial.
Cronologia dos fatos
No dia 4 de outubro, uma delegação com pouco mais de 20 judocas da seleção paulista sub 18 chegou ao Japão para realizar um intercâmbio técnico. Capitaneada por Alessandro Panitz Puglia e Takanori Sekine, os atletas treinaram por três semanas na Budo University, no Instituto Kodokan e na Shutoku High School.
Após 12 dias de treinos intensos na International Budo University, em Katsuura, na província de Chiba, no dia 16 de outubro a seleção paulista juvenil e a comissão técnica da FPJudô iniciaram os treinos no icônico Instituto Kodokan.
Durante o período em que esteve em Tóquio, Alessandro Puglia visitou executivos da iniciativa privada e representantes do Ministério do Esporte do Japão e reuniu-se com a cúpula do Instituto Kodokan. Naquela ocasião, o dirigente formalizou a vinda a São Paulo do renomado professor kodansha hachi-dan (8º dan) Naoki Murata, curador e professor do Museu de Judô do Instituto Kodokan, para fazer palestras nas duas etapas do Credenciamento Técnico de 2020. Chegando ao Brasil, Alessandro Puglia tratou de formalizar a vinda de professor japonês junto à confederação brasileira.
“No dia 28 de novembro de 2019 enviamos à Confederação Brasileira de Judô (CBJ) pedido de autorização para receber o professor Naoki Murata. Naquele momento, já havíamos feito a programação oficial e até mesmo o roteiro do professor Murata, que atuaria nos credenciamentos técnicos da capital e do interior, mas estranhamente não obtivemos resposta”, detalhou o dirigente.
Buscando adquirir passagens aéreas com maior antecedência e organizar a agenda do professor do Murata, no dia 19 de dezembro de 2019 a diretoria da FPJudô reiterou o pedido feito à CBJ, mas inexplicavelmente os dirigentes paulistas ficaram sem resposta.
“Em função da necessidade de o professor Murata adequar sua agenda e definirmos o cronograma das palestras que seriam realizadas no Credenciamento Técnico deste ano, refizemos nossa solicitação de autorização em caráter de urgência, mas também foi em vão”, lamentou Puglia.
Segundo ouvimos dos dirigentes da FPJudô, posteriormente Sílvio Acácio Borges proibiu definitivamente a vinda do sensei Murata, e sua justificativa para uma decisão grotesca, deselegante e autoritária revelou o tamanho exato da visão administrativa e do comprometimento que o dirigente possui com os princípios éticos e filosóficos deixados pelo shihan Jigoro Kano.
“Não vou autorizar a vinda do professor Murata ao Brasil porque a federação paulista deveria ter pedido autorização para tanto antes de convidá-lo a vir para o Brasil”, decretou o todo poderoso presidente da Confederação Brasileira de Judô.
Além de desconsiderar o fato de que o convite surgiu numa conversa informal entre Alessandro Puglia, Takanori Sekine e Naoki Murata, quando os paulistas foram ao Instituto Kodokan em outubro, o dirigente nacional protagonizou uma agressão e um desrespeito gravíssimos contra um representante direto da escola fundada por Jigoro Kano em 1882.
Certamente esta foi a primeira vez na história do judô mundial que um membro efetivo do corpo docente do Instituto Kodokan tenha sido impedido de ministrar cursos por um país membro da Federação Internacional de Judô e que mantém laço estreito com o judô japonês e com o governo do Japão.
Como discípulo da escola de Jigoro Kano, o renomado professor Naoki Murata viria ao Brasil apenas para transmitir o conhecimento que adquiriu com alunos diretos do criador do judô. Quando esteve em São Paulo (SP), em maio de 2015, como parte de uma comitiva japonesa que incluía Haruki Uemura, presidente do Instituto Kodokan, Murata mostrou o que sabia para exatos 374 professores de todo o País que foram ao Centro de Excelência Esportiva no Ibirapuera em busca de maior conhecimento. Se tivesse vindo ao Brasil em fevereiro, ele teria apresentado parte do conhecimento que possui aos 1.486 professores e técnicos que compareceram ao Credenciamento Técnico da FPJudô 2020.
Depois de ter engessado o judô catarinense e implantado o imobilismo gigantesco que travou a gestão da Confederação Brasileira de Judô, parece que agora Silvio Acácio Borges está determinado a parar o judô paulista – e muito provavelmente este deverá ser o seu último grande erro à frente da CBJ.
Definitivamente, o presidente da confederação brasileira está no judô, mas o judô criado por Jigoro Kano jamais entrou nele.
Pior ainda, o dirigente nacional mostra claramente que ignora ou menospreza os aspectos simbólicos, ritualísticos e filosóficos mais primários do Judô Kodokan, atropelando grosseiramente a tradição, a amizade e a cortesia que unem o judô brasileiro ao japonês. Além de vergonhoso e mesquinho, seu gesto foi um ato deplorável.
Buscamos ouvir o dirigente nacional por meio da assessoria de imprensa da CBJ, mas até o fechamento desta reportagem não obtivemos retorno.