WKF e milhões de praticantes lutarão pela manutenção do karatê no programa olímpico de 2024

Douglas Brose disputa a final do Campeonato Brasileiro

O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Paris não incluiu o  karatê, beisebol e softbol do programa dos jogos de 2024

Jogos Olímpicos
24 de fevereiro de 2019
Por ISABELA LEMOS I Fotos BUDÔPRESS e ARQUIVO
Curitiba – PR

Nesta quinta-feira (21), o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2024 anunciou a lista de modalidades adicionais ao programa olímpico. Três esportes recentemente incluídos em Tóquio 2020 –  skate, escalada e surfe – foram recomendados ao Comitê Olímpico Internacional (COI), além de breakdance, que fez sua estreia nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018 em Buenos Aires.

Essa declaração significa que karatê, beisebol e softbol não estarão nos Jogos Olímpicos de 2024, embora tenham sido incluídos nos de Tóquio 2020. De acordo com jornais japoneses, isso representa um golpe no Japão, já que o país é favorito para medalhar em todas as três modalidades. O COI já havia anunciado que o número de atletas em 2024 seria restringido a 10.500, o que limita as opções de esportes adicionais.

Gilberto de Paula, head coach da seleção paulista de karatê

A entrada dos quatro esportes em 2024 ainda requer aprovação do Comitê Olímpico Internacional. No fim de março, o Comitê Executivo do COI irá analisar a proposta. Em junho, pode dar uma aprovação provisória, porém, apenas em dezembro de 2020 a entidade divulgará a decisão definitiva.

Reação negativa à escolha do comitê organizador

A Federação Mundial de Karatê (WKF) expressou em comunicado na sexta-feira que ficou “profundamente entristecida” com a omissão.

“Nos últimos meses, trabalhamos implacavelmente, juntamente à Federação Francesa, para alcançar nosso objetivo de sermos incluídos em Paris 2024. Acreditávamos que tínhamos cumprido todos os requisitos e que apresentado as condições perfeitas para o karatê ser adicionado ao programa esportivo. No entanto, descobrimos hoje que nosso sonho não irá tornar-se realidade”, disse o presidente da WKF, Antonio Espinós.

Nesta declaração, o presidente da Federação Mundial de Karatê revelou a incongruência da decisão, visto que a França é um dos países mais fortes do mundo na arte das mãos vazias.

“Nós tínhamos certeza de que faríamos parte do programa olímpico de Paris 2024 devido à força e à popularidade do nosso esporte na França. Infelizmente, recebemos a péssima notícia de que o karatê será excluído da disputa”, declarou Espinós.

Ricardo Aguiar entre membros da equipe do SporTV

A um ano das Olimpíadas de Tóquio 2020, o secretário-geral da Federação de Karatê do Japão (JKF), Shuji Kusaka, explica que a decisão do comitê organizador pode refletir-se no ânimo dos atletas, dirigentes e demais membros das equipes olímpicas no próximo ano.

“Este anúncio veio antes mesmo de as pessoas poderem ver o karatê nas Olimpíadas de Tóquio. Isso certamente baixará os ânimos antes da competição”, disse o secretário-geral da JKF.

A Federação Espanhola de Karatê (RFEK), a quarta nação de melhor desempenho de todos os tempos nos campeonatos mundiais, ficando atrás apenas do Japão, França e Grã-Bretanha, também criticou a exclusão.

“Ontem (quinta-feira), o karatê sofreu um grande revés. A comunidade do karatê sente tristeza, frustração e, acima de tudo, impotência agora”, expressou Antonio Moreno Marqueño, presidente da Federação Espanhola de Karatê.

Atletas e dirigentes querem virar o jogo

Ex-atleta da seleção brasileira de karatê e atual head coach da seleção paulista, Gilberto de Paula recomenda aos karatecas que não percam as esperanças, pois esta não é uma decisão definitiva.

“Isso não deve ser motivo de desânimo para todos aqueles que buscam ver o karatê reconhecido em nível olímpico. Caso tenhamos uma performance acima da média em Tóquio, dificilmente não atingiremos nosso objetivo final, que é o reconhecimento definitivo. Podemos perder uma luta, mas jamais desistir da batalha; o karatê-dô nos ensinou isso. Isso serve para que a própria WKF repense e faça com que cada vez mais karatecas sejam contemplados e tenham acesso irrestrito e chances mais igualitárias em todos os continentes para fazer parte deste tão sonhado e maravilhoso evento que é a Olimpíada”, declara o head coach da seleção paulista de karatê.

O espanto relacionado ao fato de a comissão organizadora ser francesa e ter excluído o karatê não é apenas do presidente da federação internacional. Ricardo Aguiar, técnico da seleção brasileira de karatê, também ressalta como a decisão é incongruente e que os karatecas devem trabalhar em conjunto para reverter a situação.

“Lutamos muito para conquistar um espaço no programa dos Jogos Olímpicos. Caso o evento fosse num país que não tivesse tradição nenhuma do esporte, além de estrutura e conjunto de resultados, talvez a escolha do comitê organizador fosse menos agressiva para nós, técnicos, karatecas e dirigentes de federações e demais entidades. Foi surpreendente a decisão, e queremos saber quais foram os critérios para não inserir a modalidade no programa, pois os pré-requisitos foram atendidos; por exemplo, a quantidade de países participantes nos campeonatos mundiais e de atletas, federações e confederações vinculados à federação internacional. Agora, trabalharemos para mudar o cenário e reverter essa decisão”, diz Aguiar.

Bicampeão mundial de karatê, Douglas Brose diz que a sugestão do comitê organizador pode afetar o sonho de muitos karatecas.

“Foi uma notícia inesperada, porque a relação do presidente da Federação Francesa de Karatê (FFK), Francis Didier, com o diretor da organização dos jogos de Paris 2024 é muito boa e eles já haviam acenado positivamente algumas vezes. Segundo Didier, em janeiro foi feita a apresentação para eles, a qual correu muito bem, e então aconteceu essa reviravolta, cujo motivo ninguém sabe. Uma notícia muito ruim para o karatê, porque estamos vivendo hoje, depois de todo o apoio que conseguimos, um sonho que começou a tornar-se real por conta dos Jogos Olímpicos. Infelizmente, sabemos que pode acabar”, explica o bicampeão mundial de karatê.

Thiago Dimas faz entrega da medalha ao bicampeão mundial Douglas Brose

Emblemática e inspiradora, Maria Angélica Coronil Flores, presidente da Federación Deportiva Nacional de Karate de Chile, publicou carta aberta detalhando os fatos ocorridos e afirma que o presidente da WKF assumiu o compromisso de esgotar todos os recursos existentes para reverter o quadro.

Maria Angélica, a única dirigente sul-americana com assento no comitê executivo da WKF, detalha em seu comunicado que o karatê mundial conta hoje com mais de 100 milhões de praticantes e conclama a todos para reunirem forças para viabilizar a permanência da modalidade no programa olímpico.

“Na verdade, somos um grande movimento social, e as ações visando a reverter o quadro trágico imposto pelo comitê organizador francês têm de começar agora. Não podemos perder um dia sequer, e peço que assumam compromisso e lutem para que o sonho olímpico que juntos semeamos, e germinou em muitas crianças e jovens, não seja ceifado antes mesmo que o mundo possa conhecer e admirar seus frutos”, disse a dirigente chilena.

Em ato de protesto contra a escolha do comitê organizador, foi criada uma petição no site change.org para que o karatê seja incluído nos jogos de 2024.

Acesse aqui o link  da petição.

María Angélica Coronil Flores e Antonio Espinós, presidente da WKF em Santiago durante o Campeonato Pan-Americano Sênior 2018