18 de novembro de 2024
Árbitro, o terceiro judoca nos tatamis
A Federação Internacional de Judô (FIJ) publicou entrevista que mostra a trajetória e as impressões sobre a arte de arbitrar do húngaro Balazs Gosztonyi, um dos melhores árbitros da atualidade
Arbitragem
19 de maio de 2019
Por CHRISTIAN PIERRE I Fotos EMANUELE DI FELICIANTONIO
Curitiba – PR
Árbitros são elementos que alguém dificilmente nota durante uma luta, mas são eles que devem conduzi-la da melhor maneira possível. Às vezes, têm de tomar decisões difíceis, racionais ou até com ajuda do vídeo replay. E nem sempre são claras ou fáceis de entender, seja em belos ippons seja em ocasiões raras – quando um celular cai do judogi do atleta em pleno combate, por exemplo.
O árbitro está sempre no comando, mas em segundo plano. Para saber como ele se sente, a assessoria de comunicação da FIJ conversou com o húngaro Balazs Gosztonyi, um dos árbitros mais conceituados da atualidade e mais atuante nos eventos Federação Internacional de Judô.
“Comecei a arbitrar quando tinha 18 anos”, lembrou Balazs. “Sempre tivemos ótimos exemplos de arbitragem em casa, e certa vez nosso técnico pediu aos atletas que fizessem o curso de arbitragem, pois isto ajudaria muito o clube. Nós fizemos, e foi uma excelente decisão. Lembro que na ocasião fomos muito bem recebidos pela geração mais velha de árbitros e nos tornamos um grande grupo de amigos quando começamos a atuar. Íamos a todos os torneios”, acrescentou Gosztonyi.
Ser um árbitro de clube e se transformar em árbitro do topo entre os FIJ A é um processo que demanda percorrer um longo e árduo caminho, e Balazs revelou que, primeiramente, deve-se gostar muito do que faz.
“Ser árbitro de judô não é uma atividade muito popular. Eu sempre mencionei que somos a força das trevas nos tatamis, por vestirmos roupas pretas”, brincou. “Leva tempo para se tornar um bom árbitro. É uma longa curva de aprendizado desde a arbitragem nos torneios do seu clube, e depois estudar e atuar muito para progredir gradualmente para os níveis regional, nacional e, finalmente, internacional. Isso leva muito tempo, mas tenho sorte, porque as pessoas mais próximas a mim estão todas no mesmo barco. Minha cunhada e seu marido são árbitros internacionais e, mais importante, minha esposa também. Na verdade, nos conhecemos em torneios de judô, ou seja, há uma história de amor entrelaçada”, disse aos risos o árbitro húngaro.
Imagine arbitrar uma final de mundial da Federação Internacional de Judô. Os dois judocas prontos para entrar em combate, uma multidão turbulenta aplaudindo loucamente e, então, o árbitro se encontra bem no meio disso. Balazs admite que a pressão realmente existe, porém, não é nela que o árbitro deve focar-se.
“Quando se trata de fazer seu trabalho, isso realmente não importa”, explicou Balazs. “Seja num torneio pequeno ou diante de uma torcida gigantesca. O árbitro tem dois judocas na sua frente, e precisa ignorar o ambiente para concentrar-se exclusivamente nos dois atletas. O nível de estresse pode estar altíssimo, mas judô é judô. Os finalistas estão determinados na vitória e lutarão para vencer. Claro, existe uma tensão enorme, mas isso também nos ajuda a desligar imediatamente de tudo que não interessa naquele momento e focar exclusivamente na luta que estamos prestes a conduzir”, detalhou o árbitro FIJ A.
Recentemente, a tecnologia deu um passo à frente e sua implementação dentro do judô ajudou os árbitros. A chegada da tecnologia nos tatamis melhorou substancialmente a arbitragem, na opinião de Balazs. “Eu poderia fazer a comparação com a arbitragem de vídeo implementada no futebol. Nos anos 1950, por exemplo, o jogo era bastante diferente do que existe hoje. As ações em campo se tornaram muito mais rápidas, e o mesmo vale para o judô. Quando a modalidade foi introduzida nas Olimpíadas, em 1964, era um esporte diferente. Os atletas se tornaram muito rápidos em suas técnicas. Às vezes é difícil acompanhar a velocidade do judô moderno, e a ajuda externa é muito bem-vinda. É por isso que o vídeo replay é uma ótima ferramenta hoje.”
Chegar ao posto de árbitro da FIJ para Balazs Gosztonyi é mais do que um motivo para se orgulhar. Segundo ele, é igualmente importante ser um exemplo para os árbitros mais jovens de seu país, pois podem aprender muito com os mais velhos quando estão iniciando. “Acho que esta transmissão de conhecimento é muito importante para o desenvolvimento das futuras gerações de árbitros. Não só para estar presente nos eventos da FIJ, mas para atuar bem também nos torneios nacionais, regionais ou estaduais”, avaliou o árbitro húngaro.
Da mesma forma que os judocas buscam classificar-se para os Jogos Olímpicos e os campeonatos mundiais, Gosztonyi lembrou que há um processo de qualificação para os árbitros.
“Atuar nos grandes eventos para nós, árbitros, também é muito importante. Penso que cada árbitro tem dois objetivos: garantir que todas as lutas sejam disputadas de acordo com as regras do judô, mas ter a ambição de arbitrar no mais alto nível, seja num campeonato mundial da FIJ ou nos Jogos Olímpicos”, finalizou Balazs.