O Ministério da Saúde ou o presidente?

Congresso Nacional

Se a unilateralidade é uma exigência normal no âmbito da política, não precisa ser assim em outros setores da vida. O momento não é de cisão, é de mediação

Cotidiano
16 de março de 2020
Por Prof. PAULO DUARTE I Foto PEDRO FRANÇA/Agência Senado
Curitiba – PR

Os dias difíceis que estamos vivendo terão impactos nefastos tanto na área da saúde, porque necessita de equipamentos, mão de obra especializada e fármacos, como na área econômica, porque precisa adequar seus gastos – cifras altíssimas são exigidas para fazer frente à situação perigosíssima que o País atravessa. Não temos como escapar desses impactos.

O que todos estamos vendo, no entanto, é um embate ideológico, em que parte da sociedade se identifica com a proposta do Ministério da Saúde, que recomenda o isolamento social, e outra com grande parte da equipe governamental, que recomenda a volta ao trabalho para equilibrar a economia.

A sociedade costuma pender para um lado ou para o outro porque foi politicamente educada desta forma, chegando a rotular, pejorativamente, como “em cima do muro” aquele que não se define por um ou por outro lado. A unilateralidade não tem nada de construtivo!

Os especialistas de cada área estão fazendo seus prognósticos baseados em suas respectivas ciências e, por isso, devem ser respeitados e compreendidos. Não estão medindo esforços para amenizar o sofrimento de todos.

Na área econômica, a derrocada do nosso PIB já é esperada em razão do pequeno crescimento que teremos. Todavia, devemos ter consciência de que somos um país em desenvolvimento, com uma população de maioria jovem, que não deve ser comparada a países ricos, que têm uma população produtiva maior do que a nossa e, em geral, bem menor do que a nossa também. Porém, se resolvermos fazer alguma compensação no sentido de minimizar o desequilíbrio econômico “colocando todo o nosso bloco na rua”, corremos o risco de ver a população dizimada porque o crescimento da epidemia é exponencial.

Na área da saúde, estamos enfrentando problemas seríssimos, desde a falta de equipamentos de proteção individual, falta de testes para a detecção de infecção, contaminação dos agentes de saúde, falta de leitos, fármacos etc. Contudo, se mantivermos o isolamento social, corremos o risco de vermos surgir doenças psicossomáticas de consequências imprevisíveis.

Se a unilateralidade é uma exigência normal no âmbito da política, não precisa ser assim em outros setores da vida. O momento não é de cisão, é de mediação. A expressão, “em cima do muro” também pode significar bom senso, equilíbrio, apartidarismo. Tudo pelo bem do todo.

O professor Paulo Duarte é psicossomaticista