17 de novembro de 2024
Técnicos avaliam perfil da nova geração revelada no Paulista Sênior
Diante do elevado número de caras novas, treinadores discutem caminhos para impulsionar a base e o alto rendimento
Por Paulo Pinto / FPJudô
5 de maio de 2022 / São Paulo (SP)
Esta edição do Campeonato Paulista Sênior, competição individual mais glamorosa do calendário da FPJudô, teve características especiais por se realizar após dois anos de paralisação dos eventos da modalidade devido à pandemia da covid-19. Para avaliar as dificuldades constatadas, ouvimos vários técnicos que atuaram na competição e, apesar das diferenças decorrentes da experiência pessoal de cada um, as opiniões coincidem em vários pontos.
O Campeonato Paulista Sênior 2022 realizou-se sábado passado (30) no Ginásio Municipal de Esportes Ney Rodrigues, o Teatrão, com a apoio da Prefeitura e da Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida de São José dos Campos. Competiram 204 judocas de 66 agremiações.
Douglas Eduardo Brito Vieira, supervisor de judô do alto rendimento do Clube Athletico Paulistano, acredita que a pandemia acelerou o processo de saída de cena dos judocas mais velhos.
“Tenho certeza de que a pandemia afastou prematuramente alguns judocas mais antigos que ainda tinham futuro no judô. Para eles a retomada foi muito mais difícil, pois corria paralelamente o processo de renovação, uma premissa do esporte de alto rendimento. Entre os campeões desta edição, talvez o peso-pesado Gabriel Souza seja o mais velho. Ou seja, a pandemia foi um dos fatores que impulsionaram esta renovação.”
Jelton Monção Pantano, coordenador técnico do Projeto Social Judô Para Todos, de São José do Rio Preto, concorda que a covid-19 precipitou o surgimento de atletas em todas as modalidades, e não apenas no judô.
“Alguns dos atletas da categoria sênior que disputaram o campeonato mal passaram pelo sub 21, por isso vimos tantas caras novas. Ao meu ver, isso ocorreu por conta da pandemia. Já os que ainda são sub 21 e quiseram disputar a classe sênior fazem parte do processo natural de renovação.”
Alberto Bittencourt, coordenador da equipe de competição do Judô Praia Grande, reconhece que a pandemia interferiu, mas observou que todos os campeões eram judocas já conhecidos no sênior.
“Acredito que a pandemia imprimiu esta característica no paulista sênior de 2022”, disse. “Infelizmente notamos a ausência de alguns atletas, cujo lugar foi naturalmente ocupado pelos mais jovens. Mas entre os campeões de todas categorias de peso não encontramos caras novas.”
André Luiz Cipriani, supervisor de judô do São Paulo Futebol Clube, explicou o impacto da pandemia foi menor na equipe tricolor, pois o dojô não parou de funcionar. “Mantivemos a parte física fazendo elástico e tandoku renshu (treino individual) e a maioria dos nossos atletas não sentiu muito. Ao contrário, alguns até melhoraram a forma física e voltaram bem.”
Ainda sobre a pandemia, os técnicos Ana Parpinelli, da Associação Desportiva Embraer; Wagner Vettorazzi, da Sociedade Esportiva, Recreativa e Cultural Santa Maria; Jefferson dos Santos, responsável pelo Projeto Olhar Futuro, de São José dos Campos; Victor Soares Leopoldo, supervisor da equipe de rendimento de judô do Sesi-SP; Carlos Kira Yamazaki, coordenador técnico de judô do Clube Paineiras do Morumby; e Paulo Segatelli, técnico de alto rendimento do Esporte Clube Pinheiros, acreditam que as caras novas nos tatamis do Teatrão foram fruto do processo normal de renovação.
E a parte técnica?
Houve divergências também entre os técnicos na avaliação da qualidade dos judocas e do possível comprometimento devido à pandemia.
Victor Leopoldo aprovou a qualidade técnica do certame. “Gostei do desempenho dos judocas em São José dos Campos, mas ficou nítido que tiveram os melhores resultados aqueles que conseguiram manter sua rotina de treinamento mesmo com a pandemia.”
Ana Parpinelli, por exemplo, gostou do que viu. “E mais, acredito que o judô voltou com força total. Acho, porém, que os atletas precisam praticar mais o judô verdadeiro e lutar menos na regra.”
Alberto Bittencourt sentiu falta de mais atletas. “Quanto à qualidade, entendo que continua no mesmo patamar, porém vejo um número menor de participantes por categoria de peso.”
Já Jelton Pantano reiterou que a pandemia atrapalhou o desempenho de muitos atletas, que adaptaram o treinamento em casa fazendo uchi-komi na borracha para não perder o ritmo. “Eles tiveram pouco tempo para treinar após a liberação dos clubes e academias. Mas em minha análise o nível estava altíssimo, e quem errou caiu de ippon”, argumentou o sensei de Ribeirão Preto.
Wagner Vettorazzi entende que, no tocante à qualidade técnica, o diagnóstico é outro. “A pandemia atrapalhou em vários aspectos. Mas, tecnicamente falando, o problema continua sendo o mesmo de sempre: o trabalho muito mal feito na base”, cravou o técnico de São Bernardo.
Kira Yamazaki destacou a falta de renovação em algumas categorias. “Em linhas gerais, posso afirmar que algumas categorias apresentaram índice técnico abaixo do esperado, mas não por culpa dos atletas, e sim por não haver renovação.”
Paulo Segatelli seguiu mais ou menos na mesma linha, afirmando que é preciso evoluir tecnicamente. “A pandemia fez com que o judô de rendimento passasse por muitas dificuldades, mas ressalto algo evidente para a maioria dos professores: temos de evoluir tecnicamente.”
Douglas Eduardo Brito Vieira foi além e cobrou aperfeiçoamento das novas regras de arbitragem da FIJ. “Acho que houve uma confusão muito grande ainda; uma coisa que um árbitro assinalou o outro não viu. Temos de nos aprofundar mais, fazer treinos com os árbitros e técnicos para assimilarmos as novas posições e movimentos da arbitragem”, propôs o supervisor do Paulistano.
Jefferson Luiz dos Santos exaltou o alto nível técnico do peso leve masculino. “É a categoria do Juninho Bomba, meu filho, na qual tivemos quatro atletas fortíssimos na disputa por medalha e todos subiram ao pódio. Inclusive o campeão, Michael Marcelino, que foi atleta nosso e venceu o Juninho na semifinal. Foi até um pouco surpreendente, pelo que outros atletas demonstraram na competição.”
E daqui para frente?
Para o supervisor da equipe de rendimento de judô do Sesi-SP, Victor Soares, a resposta compreende uma soma de fatores, entre eles um trabalho consolidado na preparação dos atletas envolvendo a federação e os clubes. “É preciso dar maior capacitação a técnicos e professores e melhorar o desenvolvimento do judô nas delegacias regionais, já que com a pandemia muitas agremiações fecharam, reduzindo o número de praticantes e, consequentemente, enfraquecendo o nível técnico do judô. Falta um plano estratégico para resgatar a modalidade nessas regiões.”
Douglas Vieira recomenda inovação. “Alguns técnicos já se unem para melhorar a qualidade do judô paulista, apresentando novas ideias – e eu acho isso realmente importante. A retomada do treinamento conjunto certamente nos proporcionará enorme salto técnico. Fora isso, o resto é trabalho. Penso que, se massificarmos mais o judô paulista, daqui a um ano e meio voltaremos ao que tínhamos em qualidade e quantidade. ”
Para Wagner Vettorazzi, o primeiro a ser feito é pensar na técnica, e só depois nos resultados. Para o técnico da SERC Santa Maria, não é possível conseguir rendimento técnico utilizando apenas elementos físicos e estratégias de luta.
Jelton Pantano falou que a questão técnica é bem simples de resolver. “Basta realizar mais treinamentos de campo nas 16 delegacias regionais, levando até elas os bons treinadores, principalmente para as mais distantes da capital.”
“Muito se fala sobre a melhora da qualidade técnica, mas eu não vejo nenhum judoca destacando-se no cenário mundial somente com técnica”, argumentou Alberto Bittencourt, defensor do judô de resultados. “Penso que hoje o atleta deve estar preparado para cada momento da luta desde a primeira pegada no judogi até a capacidade de resistir a um longo golden score. Vejo o judô com muitas variáveis a serem desenvolvidas, e não somente a parte técnica. Precisamos preparar os atletas do nosso Estado para praticarem um judô positivo e eficiente diante de qualquer exigência. Sou adepto do resultado e não da plástica sem eficácia”, expôs o coordenador da equipe de Praia Grande.
Carlos Kira Yamazaki entende que o judô paulista já está fazendo as ações possíveis e necessárias: projetos-piloto como o treinamento pós-competição, treinamento em conjunto e treinos na sede da FPJ. “Isso nunca foi feito antes de forma coordenada e sistemática. Temos agora de perseverar nesse caminho, pois processos dessa envergadura levam certo tempo para apresentar resultados”, ponderou o coordenador técnico de judô do Clube Paineiras do Morumby.
Da mesma forma, o supervisor de judô do São Paulo Futebol Clube considera o judô paulista muito bom tecnicamente, e acredita que as inovações introduzidas o levarão ao caminho da liderança nacional. “Entendo que estamos indo muito bem e que as decisões certas já foram tomadas; agora, é só manter a pegada e o ritmo. Como exemplo cito o treinamento de campo anunciado em abril e os treinamentos conjuntos que a cada semana recebem mais equipes e atletas. Temos material humano de sobra e uma estrutura de Primeiro Mundo em São Bernardo. Agora é só prosseguir e fazer a lição de casa”, disse André Cipriani
Na avaliação de Paulo Segatelli, um crescimento maior depende da conjuntura geral, mas ressalta que vale a pena mencionar os projetos que vêm fazendo bom trabalho e mostrando resultados que se consolidam a cada ano, como o do Sesi-SP. “Mas ainda precisamos melhorar e ter mais polos como este que desenvolvam a mesma proposta”, observou o técnico do Esporte Clube Pinheiros
Ana Parpinelli entende que o caminho é investir em mais treinamentos de campo, realizar torneios amistosos por classes e distribuir premiações mais atraentes.
Jefferson Santos acredita que para impulsionar a área técnica é preciso apoiar os projetos sociais que cumpram papel socioesportivo. “Deveríamos promover mais treinamentos com troca de ideias, investir nos técnicos que realmente formam atletas para os grandes clubes, profissionais que geralmente estão nos projetos sociais para que eles possam se especializar cada dia mais”, expôs o professor responsável pelo Projeto Olhar Futuro, de São José dos Campos.
Douglas Vieira concorda que São Paulo está no caminho certo. “Acho que já iniciamos este processo. No ano passado, na pesquisa com os técnicos, identificamos as necessidades. Felizmente já estamos fazendo treinos no CAT direcionados a várias classes, e eles são muito importantes tanto para os atletas quanto para os técnicos, pois a troca é muito grande. A partir de agora teremos treinamentos de campo pós-competições, outra inovação no cenário paulista que certamente oferecerá enorme ganho técnico. Por último cito os treinamentos conjuntos que já são realizados no Centro de Excelência Esportiva. A partir do momento em que houver uma conscientização geral, surgirão várias gerações de judocas em todas as classes e pesos”, previu o supervisor de judô do alto rendimento do Clube Athletico Paulistano.
Campeões do futuro?
Alguns técnicos citaram as caras novas do Paulista Sênior, ou melhor, as revelações de suas equipes. O sensei Jefferson Santos destacou sua aluna Vitória Jordão Siqueira que, com apenas 15 anos, conquistou o bronze. “Nossa peso pesado fez lutas muito boas para chegar à terceira colocação.”
Victor Soares Leopoldo destacou atletas do sênior e da base da equipe de Botucatu. “Da equipe sênior destaco os atletas que conquistaram medalha, como os campeões Michael Marcelino e Renan Torres, e Wilgner Mendes, que conquistou a medalha de prata. Porém, o Sesi-SP também levou a São José do Campos vários judocas da base que lutaram muito bem e demonstraram bom desempenho, dos quais destaco o peso ligeiro Michel Natan Félix, que conquistou a medalha de prata.
Além de falar sobre Bárbara Ribeiro, Ana Parpinelli citou atletas de outros dojôs que chamaram sua atenção. “No masculino vejo dois destaques: Renan Torres e Gabriel Gouvêa. Os dois fizeram lutas duríssimas e o Gabriel definiu a maior parte das lutas por ippon. As irmãs Marcela e Giovana Shimada, de Mogi das Cruzes, estão sempre fazendo finais. A Bárbara já está no sênior, mas veio de uma mudança de categoria e está despontando no -78kg. No ano passado surpreendeu ao ser terceira colocada no brasileiro sênior e conquistar a vaga para a seletiva olímpica e neste ano fez finais em todas competições que participou.”
Kira Yamazaki ressaltou o novo grupo de judocas do Paineiras que estão subindo para o sênior. “Temos atletas ainda sub 21 que chegaram à disputa de medalhas e o Gabriel Anselmo de Arruda conquistou o bronze. E ainda houve o mundial escolar, que deixou vários atletas fora da disputa do paulista, como Guilherme Oliveira, Júlia Rodrigues e Francisco Gorgulho. Já Agatha Cassari e Marcus Ramos estão na Argentina disputando os Jogos Sul-Americanos. Outro nome destacado do sub 21 é o Chrystian Diógenes, líder do ranking nacional, que teve a performance prejudicando por uma entorse no tornozelo”, lamentou o técnico do Clube Paineiras.
Jelton Pantano, coordenador técnico do projeto social Judô Para Todos, falou sobre as revelações da sua equipe. “Fomos a São José dos Campos com sete atletas mesclada, mas que conseguiram se classificaram para o paulista sênior: Lucas Antônio Gomes Borges, Alexsander Pereira Dias, Gleiton Cano Guimarães, Gabriel Gouveia de Souza, Carlos Henrique Roque, Guilherme da Silva e Jonathan Renan Lemos.”
André Cipriani lembrou que o São Paulo FC é forte no sênior e no judô veterano, mas investe muito na base, formada eminentemente por sócios do clube. “Neste paulista sênior fizemos uma campeã no peso médio, com a Pamella Palma, uma judoca bastante experiente que aos 23 anos está em excelente fase e aplicando muitos ippons. Também foi campeã no sul-brasileiro”, disse o supervisor de judô são-paulino.