11 de novembro de 2024
Presidente da Confederação Brasileira de Atletismo visita o CAT da FPJudô
No encontro, Wlamir Motta Campos reconheceu a importância do judô na carreira de Alison dos Santos, medalha de ouro nos 400m com barreiras do mundial de Oregon
Por Paulo Pinto / FPJCOM
28 de julho de 2022 / Curitiba (PR)
Eleito presidente da Confederação Brasileira de Atletismo em 30 de março de 2021, em pouco mais de um ano Wlamir Leandro Motta Campos revelou-se um dos dirigentes esportivos mais qualificados e competentes do Brasil na atualidade.
Graduado em direito e comércio exterior, Wlamir Motta é pós-graduado em orçamento público e direito legislativo e possui mestrado em gestão e políticas públicas nas áreas da segurança pública e defesa nacional pela University of Leicester, da Inglaterra.
Nesta terça-feira (26) o dirigente máximo do atletismo visitou o icônico Centro de Aperfeiçoamento Técnico da Federação Paulista de Judô (CAT) na Água Branca. “Vim conhecer a estrutura da qual saíram vários medalhistas olímpicos e mundiais e o trabalho de uma federação gigante, que tem uma capilaridade imensa em todo o Estado, além de dialogar, trocar experiências e aprender um pouco mais sobre gestão esportiva”, disse.
As federações paulistas de atletismo e de judô compartilham hoje uma grande área em São Bernardo do Campo, a Arena Olímpica, onde funcionam os Centros de Excelência Esportiva do Judô e do Atletismo, com pista oficial de atletismo e um dojô gigantesco, voltados ao treinamento e ao preparo das futuras gerações de atletas de ambas as modalidades. Mas para o gestor do atletismo o pequeno dojô do CAT, construído na década de 1960, guarda importância técnica e histórica incomensurável. E uma certa magia por ter abrigado muitos campeões e medalhistas mundiais e olímpicos.
“Em primeiro lugar acho este dojô muito legal. Passei pelo judô também, tenho um filho judoca que é faixa-preta e integrou a seleção brasileira sub 18. O tamanho é o que menos importa, e entendo que a imagem de Jigoro Kano, em todo lugar onde a vemos, nos remete a outro plano. Ele é a principal referência, e o espaço em si não interessa. Importantes são os valores do judô, que acabei conhecendo e aprendendo também. Posso até dizer que o judô é o meu segundo esporte, pois a primeira coisa que aprendemos no judô é a cair, e a vida é feita de quedas e de vontade de levantar. Da mesma forma, no atletismo há campeões fantásticos que foram forjados num campinho, numa praça pública. O que importa no dojô, portanto, é o espírito, o espírito da disciplina e os valores legados pelo professor Jigoro Kano.
Wlamir Motta contou que já conhecia o trabalho do presidente da FPJudô, Alessandro Puglia, mas tem uma vivência mais antiga com o secretário-geral da entidade, Arnaldo Queiroz, que considera uma referência como gestor esportivo. “Ele muito me ensinou quando estava à frente do alto rendimento do Esporte Clube Pinheiros. Quando fui eleito vice-presidente da CBAt, conversei bastante com o Arnaldo, que abriu totalmente as portas do clube, junto com o Cláudio Castilho, que levei para a Confederação Brasileira de Atletismo, da qual hoje é o CEO. Sei que, se o Arnaldo está aqui, nós temos na FPJudô uma gestão para nos espelharmos”.
Pedagogia do exemplo
No dia 19 de julho, o paulista Alison dos Santos, o Piu, conquistou a medalha de ouro na prova dos 400m com barreiras do Campeonato Mundial de Atletismo de Oregon, nos Estados Unidos. Na infância, Piu praticou judô em sua cidade natal, São Joaquim da Barra, e considera essa iniciação muito importante em seu desenvolvimento como atleta. Diante disso, Wlamir Motta não vê problema em dividir o título mundial entre o judô e o atletismo.
“O Arnaldo até brincou comigo, dizendo que o judô tem mais um campeão mundial, só que de atletismo. Pode até parecer absurdo, mas eu vejo muita relação porque os dois esportes dependem de muita disciplina e são individuais – o atleta não tem em quem botar a culpa de seus fracassos.” Para Wlamir, o judô, assim como o atletismo, depende exclusivamente do atleta, do seu dia a dia, do esforço de treinar e manter o foco.
“Este dojô, além de toda tradição, com essas figuras lendárias expostas nas paredes, inspira e motiva toda criança que chega aqui pela primeira vez. E remete a uma das expressões que mais uso na minha gestão: pedagogia do exemplo. Ao ver tantos medalhistas, tantos campeões, o pequeno faixinha-branca mentaliza que é isso que ele quer. No atletismo não é diferente.”
A Confederação Brasileira de Atletismo mantém um programa intitulado Ídolos do Atletismo, do qual participam 31 medalhistas em campeonatos mundiais e olímpicos, com o objetivo de difundir o esporte. “Mas, muito mais do que estimular as crianças a ganharem uma medalha, queremos estimulá-las a utilizar o esporte como uma ferramenta de inclusão e transformação social”, observou Wlamir.
O dirigente da CBAt disse ter plena convicção de que o judô é uma ferramenta fantástica de transformação social, de formação de cidadãos para a sociedade. “A partir do momento em que se passam valores – e o principal deles é o respeito – atletismo e judô se relacionam com a formação cidadã. E isso é muito legal de se levar para a vida.”
“O Piu sempre fala, e eu acho muito legal, que ele aprendeu a enfrentar grandes desafios com o judô.”
Wlamir ficou sabendo no início do Alison nos tatamis quando ele foi vice-campeão mundial sub 20 na Finlândia, em 2018. “Ele me disse que era do judô, que ele adorava a modalidade. E me disse que, se tivesse continuado no judô, seria tão bom quanto é no atletismo. E eu acredito plenamente nisso. Ele um jovem superfocado e comprometido. Tem 2m de altura e 1m de perna, uma capacidade aeróbica fantástica, velocidade e resistência incríveis. Então, o judô perdeu um atleta, o atletismo e o esporte brasileiro ganharam um campeão mundial, mas ele sempre diz que aprendeu a enfrentar os grandes desafios com o judô.”
Todos sabem que o Piu sofreu um acidente doméstico quando criança, e tinha muitos problemas com relação a autoestima, e foi essa a razão de entrar no judô. Quando iniciou no atletismo ainda só treinava de boné, tinha muito receio da reação que as cicatrizes que tinha na cabeça causariam. “Hoje isso não existe”, revela Wlamir. “Ele se sente muito confortável e isso é um grande exemplo. Uma das coisas que o Piu já faz, mesmo tendo apenas 22 anos, é mostrar que, independentemente de qualquer diferença, todo mundo é igual e cada um tem de ter muito orgulho do que é.”
Wlamir Motta destacou que a World Athetics coloca hoje o Piu como um dos atletas mais carismáticos do mundo e que isso certamente vai impactar na vida de milhões de crianças mundo afora, e não somente no Brasil.
“E mais uma vez o judô tem uma parcela muito grande de contribuição na formação desse jovem. E é muito bom quando a gente vê a federação engajada nisso. Uma das grandes propostas que eu já tinha na CBAt, e agora também no COB, como integrante da Assembleia Geral, é mudar a ideia de que as federações e confederações têm de tratar apenas do alto rendimento, que a iniciação é responsabilidade da escola e que a formação é papel do clube.”
Wlamir sempre argumentou que ninguém nasce no alto rendimento, e que poucas escolas no Brasil têm o judô na grade ou lugar para praticar o atletismo. “Então, a partir do momento em que a federação sente que pode ser uma ferramenta nesse sistema, pode desempenhar um papel primordial e fantástico na iniciação esportiva. Isso é muito visível no judô, que promove festivais muito cedo. Então temos de levar o exemplo da Federação Paulista de Judô para as outras modalidades.”
Espera-se que o fenômeno Piu projete o atletismo no Brasil e faça a modalidade ser muito mais praticada em todo o território nacional. O presidente da CBAt não tem dúvida disso, mas lembra de outros componentes.
“Na verdade, isso depende muito de um conjunto de fatores. No ano passado nós tivemos um destaque muito grande com o Darlan Romani do arremesso de peso, campeão mundial indoor em 2022. Ele passou de 4 mil seguidores nas redes sociais para 500 mil, da noite para o dia. Nós já tivemos o episódio do Paulo André, um campeão mundial de revezamento que participou do Big Brother e saltou para 10 milhões de seguidores. Mas eu acredito que o estímulo para a prática virá do Piu, exatamente por causa do seu carisma. Já tivemos oportunidades de comprovar esse grande diferencial. O campeonato mundial de Oregon foi transmitido ao vivo pelo SporTV durante todos os nove dias de competição foram transmissões ao vivo, na integra. Agora o SporTV transmitirá pela primeira vez o Campeonato Mundial Sub 20, de 1º a 7 de agosto, Eu tenho certeza que esta transmissão já é uma consequência do efeito Piu.”
Para o dirigente a transmissão ao vivo das disputas das categorias de base do mundial sub 20, vai motivar muitos jovens atletas a treinarem mais e a participarem de um evento que terá grande visibilidade entre o público esportivo.
Outro exemplo da força do fenômeno Piu é que o Canal Olímpico do Brasil acaba de comprar os direitos de transmissão da Diamond League, o maior evento do circuito de competições de atletismo do mundo, a partir do dia 6 de agosto. “Não só para mostrar os atletas brasileiros, mas principalmente o Piu, que ganhou todas as etapas da Diamond League deste ano”, enfatiza Wlamir. “Uma coisa puxa a outra, e com isso nós temos o atletismo sendo divulgado e jovens iniciando começando a praticá-lo. É o que a gente espera e deseja, que cada vez mais o atletismo seja praticado e disseminado por todo o País. Com seu carisma e talento, o Alison já projetou o atletismo no Brasil e em muitos outros países”, concluiu o dirigente.