19 de dezembro de 2024
Carismático, shihan Hiroshi Ikeda ministra seminário para 120 aikidocas no Instituto Takemussu
Aluno do lendário Mitsugi Saotome, sensei Ikeda é reconhecido mundialmente pela qualidade pedagógica que demonstra na transmissão de conhecimento.
Por Paulo Pinto / Global Sports
11 de dezembro de 2023 / Curitiba (SP)
Hiroshi Ikeda, shichi-dan (7º dan) pelo Aikikai Hombu Dojo de Tóquio, fundador e instrutor-chefe da escola Boulder Aikikai, na cidade de Boulder, no Colorado, esteve pela segunda vez no Brasil a convite do shihan Wagner Bull e ministrou seminário de 17 a 20 de novembro para cerca de 120 aikidocas de várias origens no dojô central do Instituto Takemussu, em São Paulo (SP).
Nascido em 8 de janeiro de 1950 em Hachijojima, sensei Ikeda começou a estudar aikidô quando estudava na Universidade Kokugakuin. Em 1969 ingressou no Reimeijuku Dojo de Saotome shihan e em 1976 mudou-se para os Estados Unidos, acompanhando seu mestre Saotome, convidado para lecionar aikidô na Flórida. Ikeda mudou-se para Boulder, Colorado, onde criou sua escola em 1980. Mais recentemente ingressou no Aikido Shimbokukai.
Há 40 anos Ikeda sensei viaja pelo mundo promovendo a filosofia do aikidô de não violência, paz e autodesenvolvimento por meio do treinamento constante. “Meu ensino enfatiza o aprendizado e a compreensão do aikidô com o corpo, especificamente o conceito de chushin(centro) ou como manter o próprio centro enquanto quebra o equilíbrio do outro”, define shihan Hiroshi Ikeda.
Além de suas atividades como instrutor e embaixador do aikidô, ele fundou diversas empresas no setor de design de roupas e equipamentos para artes marciais e a Aikido Bridge, organização que reúne professores e alunos de diferentes escolas e origens para compartilhar habilidades, construir amizades e apoiar o crescimento futuro do aikidô.
Um mestre como poucos
O shihan Wagner Bull, shichi-dan (7º dan), diretor técnico do Instituto Takemussu, destacou a importância de Ikeda sensei, um dos aikidoístas que mais ministra seminários ao redor do mundo. Ainda no Japão, foi aluno direto de Mitsugi Saotome, uma das poucas pessoas que treinaram com o O-sensei Morihei Ueshiba e autor de u shihan Hiroshi Ikeda é um exímio aikidoca m livro de sucesso mundial.
Segundo o anfitrião do evento, é muito difícil conseguir espaço na agenda de Ikeda sensei. Muito requisitado, está sempre viajando. Além de excelente professor, é um verdadeiro show man. Quem assiste a seus seminários aprende de forma lúdica, diverte-se e interage com o grupo. Carismático, ele realmente catalisa a atenção de todos, que saem encantados de seus eventos.
“Para mim, particularmente, este seminário foi muito importante porque ele me viu fazendo as técnicas de no touch, que muita gente crítica e chama de fantasia. Mas ele disse que realmente eu estava fazendo um aikidô parecido com o do O-sensei. Mas observou que é arriscado demonstrá-la publicamente porque muitas pessoas não vão entender e minha reputação pode ser prejudicada.”
Shihan Bull, porém, não se considera um profissional de aikidô, mas alguém que busca a essência de aikidô, o Ki. “Foi importante o endosso de um mestre com a qualidade dele, que reconheceu que eu estou no caminho certo e me fez essa recomendação. Mas eu não vou parar não, porque eu sei que isso está certo; quem não entender e quiser criticar que critique, eu lastimo porque estará jogando fora a essência da arte.”
O foco central dos seminários de Ikeda sensei é a conexão. Na descrição de shihan Bull, quem encosta nele já perde o equilíbrio. “Ele faz um mussubi de maneira incrível”, disse. Mas o clímax do evento foi a alegria dos participantes. “É difícil num seminário de aikidô ver o grupo trabalhar com tanta satisfação. Todo mundo se divertiu, como se tivessem ido ao cinema ou assistido a uma peça de teatro – tudo provocado pelo carisma desse professor. No ano que vem ele volta, e quem não pôde vê-lo agora perdeu um grande evento de aikidô no Brasil.”
Trazer professores renomados ao Brasil, para shihan Bull, é fundamental, porque há poucas pessoas que realmente conhecem o aikidô. “A maior parte está num nível um pouco acima de principiante. É necessário ver pessoas de fora, de grande reputação, e compará-las com seus professores. Só assim os brasileiros tomam consciência de que precisam estudar, assim como seus instrutores. Existem dois aikidôs: o coreográfico, que alguns chamam de moderno, e o aikidô do O-sensei, que é Budô, o caminho marcial. O moderno é bom para a saúde, para harmonia, mas não é mais Budô.”
Alunos tornam-se admiradores
O advogado Mauro Salgueiro, yon-dan (4° dan), do Yamato Dojô do Rio de Janeiro, fez uma avaliação bem sucinta do seminário, destacando o excelente nível técnico, podendo ser aproveitado mesmo pelos praticantes mais graduados. “O foco na não resistência, o uso de todo o corpo unido com a energia vital Ki, a prática harmônica entre os participantes, a simpatia e o bom humor de Ikeda sensei foram os aspectos mais relevantes.”
Mauro lembrou do tempo em que era preciso comprar nos Estados Unidos fitas de vídeo VHS para estudar o aikidô de qualidade e o trabalho que isso dava. “Graça ao shihan Wagner Bull, porém, hoje temos a oportunidade de desfrutar a maravilhosa experiência de treinar e aprender diretamente com os mais altos mestres do mundo”, afirmou. “Não há como demonstrar a gratidão que tenho por isso. O aikidô brasileiro realmente deu um salto gigantesco após Bull shihan usar todo o esforço, paixão e dedicação nessa busca.”
Ney Tamotsu Kubo, go-dan (5º dan), do Shugyo Dojô – Brazil Aikikai de Santos (SP), destacou, entre os vários pontos relevantes do seminário, a disposição de Ikeda sensei de orientar todos os presentes da melhor forma possível, independentemente da graduação de cada um, para que pudessem absorver o máximo de conhecimento num curto espaço de tempo. E tudo de forma leve, agradável e bem-humorada.
“Foi uma excelente oportunidade para os praticantes de aikidô do Brasil receberem os ensinamentos de um dos mais conhecidos e experientes mestres de aikidô da atualidade”, afirmou. “Além de uma didática polida ao longo de várias décadas, ensinando por vários países com diferentes culturas, Ikeda sensei não descuidou da importância de treinar da forma correta para obter eficiência técnica, dentro dos princípios do aikidô.”
O professor Ney observou que ninguém deve achar que pode evoluir de forma isolada, especialmente numa arte que tem como fundamento a melhoria da sensibilidade e da percepção do praticamente.
“Portanto, esta iniciativa do shihan Wagner Bull de buscar constantemente fontes de conhecimento é fundamental para que possamos compreender melhor e evoluir na direção correta nesta arte marcial tão rica e profunda. E não somente para ele e seus alunos, mas para todos os praticantes de aikidô do Brasil, inclusive os mais experientes e que estejam conduzindo dojôs.”
Um aikidô firme, forte e eficiente
Shidoin Alexandre Sallun Bull, roku-dan (6º dan), professor do Instituto Takemussu de São Paulo, avalia que Ikeda sensei ratificou exatamente o que o shihan Wagner Bull defende: o aikidô tem de ser firme, forte, eficiente, mas pautado em algo maior, da arte marcial, ser um meio de melhorar a capacidade não só física, mas também mental e psicológica.
Os principais pontos apresentados, na avaliação de shidoin Alexandre, foram a busca pelo relaxamento e a busca pela conexão. “Aikidô é a arte de harmonizar o conflito, por isso o sensei Ikeda trouxe a essência do que realmente vem sendo praticando ao longo dos anos no Instituto Takemussu. Daí a importância da ratificação por um expoente mundial, por alguém que realmente teve referências de aikidô do O-sensei.”
“Quanto mais pessoas observamos – e com elas treinamos – maior a chance de concatenar todo esse conhecimento e desenvolver o aikidô do O-sensei, que no fundo é a grande missão do Instituto Takemussu: um aikidô forte do ponto de vista de defesa pessoal, mas que seja no fundo um caminho de iluminação espiritual em busca de melhor qualidade de vida.”
Sobre o conteúdo propriamente dito, shidoin Alexandre explicou: “Quando o praticante aprende a se conectar com o parceiro, fazendo as técnicas em conjunto, não há mais a ideia de forçar uma pessoa a fazer alguma coisa. Quando isso se torna físico, o praticante começa a extrapolar o seu dia a dia e o incorpora ao cotidiano, seja nas relações profissionais, familiares ou interpessoais, de forma sempre harmônica, sempre conectado”.
Em outras palavras, essa diversificação permite análises de diferentes ângulos. “Quanto mais pessoas observamos – e com elas treinamos – maior a chance de concatenar todo esse conhecimento e desenvolver esse aikidô do O-sensei, que no fundo é a grande missão do Instituto Takemussu: um aikidô forte do ponto de vista de defesa pessoal, mas que seja no fundo um caminho de iluminação espiritual em busca de melhor qualidade de vida.”
Para a professora Lila Serzedello, shichi-dan (7º dan), os principais pontos no trabalho de Ikeda sensei são a conexão com o parceiro e o domínio do corpo usando o movimento interno do próprio corpo. Lila teve como mestre o renomado shihan Keizen Ono, uma das principais referências técnicas do aikidô do Brasil, e já conhecia Ikeda sensei de outro seminário do Instituto Takemussu, há alguns anos. Depois do primeiro encontra ela participou em Washington de um ASU Sumer Camp ministrado por ele e Mitsugi Saotome.
“Shihan Wagner Bull têm sido muito perspicaz e sábio ao escolher a dedo os mestres que convida para vir ao Brasil.”
“Venho da escola do Ono Shihan, que teve sempre a pesquisa do Ki como aspecto principal na prática do aikidô, e Ikeda sensei me ensinou a ver o fluxo da energia de um modo mais, vamos dizer, racional e menos misterioso”, relatou a professora.
Ela entende que a iniciativa do shihan Wagner Bull de trazer periodicamente ao Brasil renomados mestres do aikidô mundial, com diferentes experiências, tem importância fundamental no desenvolvimento dos praticantes.
“É treinando, sentindo, experimentando e conhecendo as ideias expostas nos seminários que adquirimos mais uma ferramenta para, quem sabe, um dia conseguir alcançar a maestria na arte e, talvez, fazer o aikidô próximo ao que o fundador da arte fazia. Shihan Wagner Bull têm sido muito perspicaz e sábio ao escolher a dedo os mestres que convida para vir ao Brasil.”
Lila Serzedello reconhece que em eventos como os promovidos pelo Instituto Takemussu é que se consegue perceber determinada nuance, uma informação que vai ajudar no desenvolvimento técnico e teórico de cada professor. “Um gesto, um pequeno movimento, uma ideia, uma postura, às vezes é o suficiente para gerar uma mudança de paradigmas, para despertar nos praticantes a visão de algo maior do que se pode imaginar e instigá-los a se aprofundarem cada vez mais neste caminho.”
Aprofundamento técnico é indispensável
“Inesquecível e necessário.” Assim Edgar Sallun Bull, go-dan (5º dan), professor do Instituto Takemussu de São Paulo, definiu o seminário do sensei Hiroshi Ikeda. “As pessoas que querem realmente aprender aikidô de ponta e de alto nível, de qualidade, aikidô do O-sensei, precisam dessa orientação. Quem pretende tornar-se um aikidoísta de excelência não pode mais simplesmente pensar somente na movimentação básica, há que se aprofundar no estudo técnico, e Ikeda sensei demonstrou mais uma vez que a técnica vai muito além do que a maioria dos praticantes imagina”, assegurou.
Para o professor Edgar, os principais aspectos trabalhados no evento foram a importância do relaxamento do corpo, o desenvolvimento da conexão com o parceiro e como fazê-la, especialmente de forma mecânica.
“Ele passou ensinamentos básicos para que o praticante realmente adquira uma técnica que funcione.” Para ele o ponto alto do encontro ocorreu quando algumas pessoas começaram a perceber a profundidade de Ikeda sensei já nos primeiros exercícios e entender a profundidade da técnica que ele trouxe.
O professor Edgar não tem dúvida de que shihan Wagner Bull é um dos maiores pesquisadores de aikidô do mundo, não só técnico, mas também filosófico e teórico, e que sempre busca trazer o melhor para os alunos dele. “As conexões internacionais do shihan Wagner são fundamentais para o aikidô brasileiro, não somente para o Instituto Takemussu.”
O professor Edgar calcula que mais de 100 seminários já foram realizados por convidados do shihan Wagner Bull. A única forma de os praticantes terem contato com tantos expoentes seria viajando para outros países, o que é praticamente impossível para a maioria das pessoas. A oportunidade de conhecê-los sem sair do Brasil, portanto, é muito significativa.
“Acho fundamental o que o sensei Wagner faz para o desenvolvimento do aikidô da América do Sul e dos seus alunos”, prosseguiu Edgar Bull, “e acho que cabe a eles valorizarem cada vez mais esse esforço, participando dos eventos, treinando e buscando cultivar esses ensinamentos.”
Figura singular, de personalidade cativante
“O sensei Ikeda é uma figura singular, de personalidade muito afetuosa e cativante”, descreveu o shihan Marcelo Tadeu Fernandes Silva, shichi-dan (7º dan). Para ele, essas qualidades permitem perceber a diferença entre os mestres de uma geração anterior que atuam no Brasil e os professores mais novos.
A presença de Ikeda sensei, na avaliação do shihan Marcelo, pode contribuir para melhorar inclusive a própria compreensão do aikidô em outros aspectos, “como o do Ki, que ele delega tão bem, que consegue transmitir com tanta eficiência”.
Dois pontos chamaram mais a atenção: a conexão com o centro do uke (adversário), uma característica marcante do aikidô do sensei Ikeda, e a personalidade dele, que acaba gerando de fato um ambiente de harmonização, uma sensação e um sentimento de integração enormes.
“O shihan Wagner Bull é o grande responsável por podermos vivenciar, participar e aprender com grandes mestres de outros países que vêm ao Brasil”, enfatizou shihan Marcelo. “É uma pessoa que já escreveu o nome no aikidô brasileiro na história, principalmente por permitir de forma tão aberta e sem nenhuma restrição a participação de escolas diferentes, de outros mestres, de outras agremiações. Isso é muito importante para nós, professores, principalmente para aqueles que entendem que o aikidô necessita de uma repaginação, de um aprimoramento, de um estudo permanente. E o shihan Wagner Bull nos abre essas possibilidades dentro de uma dimensão mais ampla e profunda.”
Hiroshi Ikeda é um exímio aikidoca
Diego André Faulhaber, yon-dan (4°dan), professor do Dojô-Cho do Daishizen Dojô – Escola de Brasília (DF), destacou que shihan Hiroshi Ikeda é um exímio aikidoca, dono de uma didática ímpar e muito carismático. “A estrutura oferecida pelo Instituto Takemussu e o nível do convidado só poderiam resultar num evento primoroso”, afirmou.
E acrescentou que shihan Ikeda transmite os ensinamentos de forma muito simples, com exemplos práticos que auxiliam muito na compreensão dos princípios da arte. “Em todo momento ele se mostrou acessível e disposto a sanar dúvidas dos participantes. A conexão com o grupo, o relaxamento de seu corpo e a extensão com que realizava de seu Ki faziam-no interagir com quem o segurava. O imenso trabalho interno que consegue realizar deveria ser o verdadeiro foco do treino e do desenvolvimento de todo aikidoca, e adotado por todas as artes marciais.”
Quem teve a oportunidade de perceber e sentir isso, segundo o professor Diego, percebeu a enorme diferença entre realizar os katas com força isolada e utilizar o corpo como uma unidade, buscando gerar uma mudança de atitude em quem está fazendo a técnica. “Esta seria a forma ideal de obter o máximo de eficiência com o mínimo de esforço.”
Ter aulas com o shihan Hiroshi Ikeda, com o shihan Wagner Bull e com o shidoin Alexandre Bull num único evento é um privilégio e uma oportunidade que não aparece todo dia, na avaliação do professor Diego. “A experiência, a visão, a vivência, o estudo e o aprofundamento que cada um deles desenvolveu na arte ao longo dos anos significa muito.”
A bagagem que os mestres internacionais trazem para os seminários do shihan Wagner Bull e a troca de experiências que proporcionam contribuem para que cada vez mais os professores brasileiros possam aprofundar-se nos princípios e na essência da arte. “É em eventos desta natureza que temos a oportunidade de tentar compreender, sentir, experimentar e treinar de um modo mais aprofundado, de compartilhar a visão do mestre convidado”, concluiu.
Clique AQUI e veja a pasta com 1.710 fotos do Seminário Internacional de Aikidô ministrado pelo shihan Hiroshi Ikeda no dojô central do Instituto Takemussu.