Sensei relembra início de Willian Lima no judô: “O aluno que deu mais trabalho, hoje é o que dá mais alegria”

Willian Lima com sensei Paulino Namie em competição infantil © Arquivo

Paulino Teruo Namie foi o primeiro professor do judoca da seleção brasileira da categoria até 66kg, que vai estrear nos Jogos Olímpicos em Paris.

Por Guilherme Borges e João Belarmino / ge
20 de julho de 2024 / Curitiba (PR)

Quais os primeiros passos para se tornar um grande atleta? Em cada degrau da caminhada até o sucesso, ensinamentos vão além das técnicas de desempenho. Mas é preciso alguém para ensinar tudo isso.

Sensei Paulino Namie é um dos nomes mais tradicionais do judô em Mogi das Cruzes, cidade na Grande São Paulo. São quase 40 anos dedicados a passar todo o conhecimento a quem está tendo o primeiro contato com o esporte.

“A gente começa a dar aula para crianças acima de sete anos, né? Aí a criança vai começando a desenvolver e vê que tem talento para ser um competidor, então convidamos para se federar e participar de competições. E assim começa a carreira de um atleta”, explicou Namie.

Diariamente, Paulino, de 64 anos, comanda aulas no projeto da Associação Namie, mantido em parceria com a prefeitura de Mogi das Cruzes, que atende cerca de 200 crianças e jovens a partir dos 6 anos de idade.

Willian Lima na disputa do bronze dos 66kg contra Najafov Yashar do Azerbaijão, no Grand Slam de Baku de 2024 © Kulumbegashvili Tamara / IJF

Rotina que foi seguida à risca por um judoca que hoje mudou de patamar e vive a expectativa de estrear nos Jogos Olímpicos: Willian Lima. Atleta nascido em Mogi das Cruzes faz parte da seleção brasileira e, em Paris, vai estrear em disputas olímpicas e tentar uma medalha na categoria até 66kg.

“É um sentimento de realização, né? Porque já formamos vários campeões paulistas, vários campeões brasileiros, o Willian mesmo já foi campeão paulista, brasileiro, pan-americano. Agora chegar a um nível de atleta olímpico é a primeira vez, não tem, acho que a alegria maior para uma pessoa que está formando um atleta. Mas é motivo só de alegria”, destacou o sensei.

Hoje, aos 24 anos, o Willian, que já conquistou medalhas em Grand Slams e no Pan-Americano, defende o Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo. Foi na capital que ele fez toda a preparação pensando no desafio em solo francês. Isso, porém, não apagou toda a história construída pelo judoca na terra natal.

“Eu não esqueci minhas origens e minhas origens não esqueceram de mim de certa forma. Meu sensei sempre me manda mensagem, os atletas de lá sempre me mandam mensagem. E eu nunca vou deixar de lado, porque se não fosse graças a esse projeto que teve em Mogi, se não fosse graças ao sensei Namie, acho que não estaria onde estou hoje, sabe? Tinha uma frase que o Namie sempre falou para mim, que antes de formar atletas campeões, ele sempre quis formar pessoas de bem. Eu acho que isso também foi muito importante para minha trajetória no judô. Não esquecer esses valores tanto de atleta como pessoa. Saber que você pode ser um campeão, mas não ser uma pessoa ruim. Tem muitos atletas que chegam ao topo e esquecem suas origens”, reforçou Willian.

Por falar nas origens, é num álbum de fotos guardado com carinho pelo primeiro sensei onde estão registros de um Willian pequeno, que talvez nem imaginava onde poderia chegar. As imagens também não contam que o judoca dava trabalho para o sensei.

“O aluno que deu mais trabalho, hoje é o que dá mais alegria”, disse Namie com orgulho.

Willian Lima no dojô do Esporte Clube Pinheiros © João Belarmino

“Eu tenho ele como um filho. Ele dava trabalho para mim, eu dava bronca nele, xingava ele, mas eu mandava ir embora e ele voltava. Era uma briga constante, mas uma briga para eles se desenvolver mais como pessoa, como ser humano, e também como atleta, né? A gente sempre cobra, minha função era cobrar dele. E como cobro de todos aqui, cobro a disciplina, o respeito, né? Acho que é o mais importante.”

O Willian Lima cresceu. Quem antes tinha inspirações, agora segue sendo o exemplo para quem ainda está dando os primeiros golpes e sonha trilhar o mesmo caminho.

“Quando eu era mais novo, lá quando comecei com cinco, seis anos, tinha minhas referências, tinha referências de atletas da seleção de base e tudo mais, e eu os achava incríveis. Eu penso na mesma imagem que eu tinha deles, outras pessoas me vendo como referência, para mim acho que é a realização de um sonho, sabe? Chegar lá, quando eu vou lá, todo mundo me abraça, todo mundo quer saber um pouco da minha história. “Me dá uma dica, o que eu posso fazer para melhorar isso, aquilo e tudo mais. E eu acho sensacional isso”, falou o judoca.

Sensei Namie comanda projetos de judô em Mogi das Cruzes há cerca de 40 anos © Moisés Papa

As disputas do judô na Arena Champ de Mars, em Paris, começam no próximo sábado (27). Contagem regressiva e hora de segurar a ansiedade da dupla. Afinal de contas, na imaginação de atleta e mentor, o desejo é único: Willian retornando para os tatamis onde tudo começou com um brilho dourado no peito.

“Toda vez que ele conquista uma medalha, ele traz para a gente ver, para tirarmos uma foto. Aqui é motivo de alegria para todo mundo de Mogi”, comentou Paulino.

“Acho que é uma forma de gratidão ir lá, arrumar tempo para fazer isso, sabe? E compartilhar minhas experiências da mesma forma que outras pessoas compartilharam comigo. Acho que se não fossem os atletas que eu via como referência compartilhando tudo que eles passaram, toda a trajetória deles, aquilo fazia meus olhos brilhar. Nossa, um dia eu quero chegar lá. Eu acho que poder inspirar novas gerações vai ser sensacional também”, destacou Lima.

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