14 de abril de 2025

A ministra dos Esportes da França, Marie Barsacq, foi convocada a prestar depoimento no Senado nesta quinta-feira (10) para responder a questionamentos feitos pelo senador Gilbert-Luc Devinaz sobre as graves irregularidades envolvendo a Federação Francesa de Karatê (FFKDA). As denúncias incluem suspeitas de corrupção, emissão irregular de graduações (dan), falta de transparência financeira e obstrução de processos eleitorais internos. Diante do cenário, o senador exigiu respostas diretas e esclarecedoras da representante do governo.
Nomeada ministra em 23 de dezembro de 2024, Barsacq — formada em Direito e Esporte — era esperada para uma fala protocolar e evasiva. No entanto, contrariando expectativas, ela reconheceu publicamente que há problemas sérios na federação. Entre os pontos mais sensíveis, admitiu que a eleição conduzida pela gestão de Francis Didier em dezembro de 2024 não ocorreu de forma justa ou imparcial. Revelou ainda que o Comitê Olímpico e Esportivo Nacional Francês (CNOSF) não reconheceu a legitimidade do pleito e exigiu a realização de uma nova votação.
Bruno Verfaillie, presidente da Federação Francesa de Karatê © FFKDA
Barsacq também afirmou que o atual presidente da FFKDA, Bruno Verfaillie, rejeitou a proposta de refazer a eleição. A ministra foi enfática ao declarar que, caso a federação não atenda às exigências do Ministério dos Esportes até o dia 30 de abril — cujos termos seguem sob sigilo —, poderá perder o reconhecimento oficial como federação nacional. Isso implicaria na suspensão de repasses públicos e no fim do apoio estatal à modalidade no país.
Durante o pronunciamento, a ministra detalhou ainda um caso de má conduta financeira envolvendo o Comitê de Karatê de Isère e seu presidente regional, Thierry Lombardi. Segundo Barsacq, em 2022, aproximadamente 100 mil euros foram desviados do karatê local. Apesar da gravidade do caso e da pressão da comunidade esportiva, Francis Didier, então presidente da FFKDA, não tomou as providências necessárias para apurar ou solucionar a situação.
Senador Gilbert-Luc Devinaz © X
A crise institucional também se aprofunda por conta de acusações de violência contra Francis Didier. O dirigente é alvo de uma investigação judicial por suposta agressão à diretora sênior da FFKDA, Sandrine Barbarin — e outras denúncias semelhantes já teriam sido feitas contra ele. A ministra informou que exigiu da federação a adoção de medidas para prevenir esse tipo de conduta.
Didier foi um dos nomes mais influentes do karatê mundial nas últimas décadas. Além de comandar a FFKDA por cinco mandatos, integrou o Conselho Executivo da Federação Mundial de Karatê (WKF) por quase 20 anos e, desde 2012, faz parte da Comissão de Esportes da entidade, por indicação do presidente Antonio Espinós. Atualmente, também ocupa cargo diretivo na Federação Europeia de Karatê, igualmente presidida por Espinós desde sua fundação, em 1997.
Apesar do apoio de Didier, o Ministério dos Esportes impediu sua permanência à frente da FFKDA após o término do último mandato. Ainda assim, ele apoiou Bruno Verfaillie na controversa eleição realizada entre os dias 5 e 12 de dezembro.
Como a FFKDA desconsiderou a recomendação do CNOSF para anular o pleito e estabelecer novas condições eleitorais, o ex-campeão francês Gilles Cherdieu — candidato derrotado na disputa — sinalizou que poderá recorrer à Justiça para impugnar o processo. Ídolo histórico do karatê francês, Cherdieu tornou-se símbolo da oposição à atual gestão.
Diante do impasse, cresce a expectativa de que o karatê na França passe, em breve, por uma reestruturação institucional e por importantes desdobramentos no campo jurídico e administrativo.