28 de julho de 2025

A história de vida do professor Irahy Tedesco, natural de Lençóis Paulista (SP) e radicado atualmente em Braga, Portugal, é marcada pela paixão incondicional pelo judô. Iniciada em 1965, durante o serviço militar na Força Aérea Brasileira, sua trajetória revela uma evolução constante — ora interrompida pelas exigências profissionais da vida civil, ora fortalecida pela busca incessante por conhecimento e excelência técnica.
Irahy Tedesco fazendo randori com o professor kodansha Odair Borges © Arquivo
Após anos atuando como funcionário da Robert Bosch, onde reencontrou o judô com o sensei Mário Takamori, Tedesco mergulhou definitivamente no universo da arte suave ao ingressar na tradicional Academia Borges de Judô e Jiu-Jitsu, em Campinas. Foi ali que consolidou sua formação sob os ensinamentos do mestre José Almeida Borges e, posteriormente, do filho e sucessor, sensei Odair Antônio Borges. Segundo o próprio Tedesco, este foi o período mais transformador de sua jornada como praticante e educador marcial.
O professor Irahy exibe o troféu e o certificado de campeão brasileiro ao lado do sensei Samir Guedes Salomé © Arquivo
“Com o sensei Odair tive acesso a materiais de estudo fundamentais, como o livro Judô em Ação, de Kazuo Kudo, e também aprendi sobre gigantes como Sumiyuki Kotani, Ichiro Abe, Toichiro Daigo e Kyuzo Mifune. A base filosófica e técnica que levo até hoje vem desse ciclo de aprendizado”, explica o professor, graduado faixa preta sho-dan pela Federação Paulista de Judô desde 1986.
Professor Irahy celebra a conquista de alunos recém-promovidos © Arquivo
Entre dezembro de 2013 e o final de 2019, sensei Irahy Tedesco integrou o grupo de treinamento do tradicional Clube Semanal de Cultura Artística, referência entre praticantes de judô, sob a liderança do professor kodansha . Ali, além de usufruir de uma estrutura exemplar, pôde aprimorar ainda mais seu judô e consolidar importantes vínculos de amizade e respeito mútuo.
Professor Irahy com uma de suas turmas de alunos © Arquivo
“Aprendi muito tecnicamente e encontrei enorme apoio do sensei Samir e dos amigos que comigo treinavam. Foram eles que me incentivaram e apoiaram, inclusive moral e financeiramente, nas viagens internacionais durante os seis anos em que estive no Clube. Quando parti para a França, fui homenageado pela diretoria com uma carta entregue pessoalmente pelo sensei Samir. Sempre digo que reconhecimento é algo que devemos ter, sem dúvida, para com aqueles que verdadeiramente nos apoiam e ajudam”, declarou.
Torneio de Judô Infantil Povo do Ronfe © Arquivo
Visivelmente emocionado, o professor destacou a importância dos vínculos formados naquele período. “Dentre todos os amigos que tenho no judô do Brasil — e por que não dizer no mundo — o pessoal do Clube Cultura são, sem dúvida, os que mais se destacam. Desde que estou em Portugal, já recebi a visita de vários deles: Fernando, Cristiano e até mesmo o sensei Samir, que, apesar de ser um proeminente professor kodansha, possui uma humildade digna daqueles que verdadeiramente absorveram o legado de Jigoro Kano. Noto em todos uma preocupação comigo e uma admiração pelo trabalho que realizo aqui. Agradeço a todos esses queridos amigos, aos quais confesso enorme gratidão. Sempre digo que no Clube Semanal de Cultura Artística não existe apenas um dojô, e sim uma grande família de praticantes e amantes do judô.”
Pavilhão Aurora Cunha lotado por familiares dos atletas © Arquivo
Diferentemente de muitos colegas de geração, nunca priorizou a ascensão nas graduações. Em vez disso, dedicou-se ao aprimoramento técnico, à pesquisa constante e à participação em competições regionais, nacionais e internacionais, com um currículo recheado de conquistas (ver lista ao final da reportagem). Mesmo sem se dedicar à política federativa ou às promoções formais, tornou-se uma referência entre os veteranos do judô brasileiro e internacional.
Alunas do sensei Irahy no torneio © Arquivo
Em 2019, após anos de dedicação ao judô brasileiro, Irahy Tedesco decidiu concretizar um antigo desejo: viver novas experiências fora do país. O impulso veio da vivência acumulada em competições internacionais — com passagens por Bruxelas, Sindelfigen, Budapeste, Miami, Fort Lauderdale, Málaga, Bordeaux, Montevidéu e Lisboa — que lhe despertaram o interesse por culturas, idiomas e novos métodos de ensino.
Alunas do sensei Irahy no torneio © Arquivo
A primeira parada foi Bordeaux, na França, onde lecionou judô em duas instituições por um breve período. Mas foi em 2020, já em Portugal, que encontrou solo fértil para fincar raízes e compartilhar sua experiência. Estabelecido na cidade de Braga, no Norte do país, aceitou o convite para assumir uma academia local de judô e iniciar uma nova jornada, agora também como cidadão português.
O faixa preta Leandro Alves da Silva do Judô Tedesco de Braga no pódio do Torneio de Viseu © Arquivo
Para atuar legalmente como treinador, foi necessário cumprir todas as exigências estabelecidas pela Federação Portuguesa de Judô. Inscreveu-se no curso de Treinador Grau I, de elevada carga horária, com avaliações ao final de cada módulo e um estágio prático de um ano. Com o apoio do mentor e amigo sensei Nuno Vieira, concluiu todas as etapas do processo e obteve a cédula oficial de treinador. Irahy destacou ainda que o professor Nuno é responsável pelo importante Project 4 Judô, sediado na cidade de Aveiro, iniciativa de grande relevância para o desenvolvimento da modalidade em todo o país.
“É fundamental seguir as normas do país onde se reside. Fiz questão de passar por todas as etapas de formação exigidas, tanto por respeito à legislação quanto pela responsabilidade que carrego como educador e cidadão português. É preciso dar o exemplo”, afirma o professor.
Irahy Tedesco e Leandro Alves da Silva © Arquivo
A Judô Tedesco, como foi batizada sua academia, começou com apenas dez alunos. Pouco a pouco, foi ganhando relevância na cidade — que abriga a maior comunidade brasileira entre os estrangeiros — e hoje mantém entre 35 e 40 alunos ativos. Além da academia própria, o professor também ministra aulas em um ginásio multiesportes que abriga modalidades como karatê, jiu-jitsu, boxe e capoeira.
Professor Irahy com uma de suas turmas de alunos © Arquivo
A multiculturalidade do projeto é um diferencial: além dos brasileiros, participam angolanos, moçambicanos, timorenses e alunos de São Tomé e Príncipe, compondo um ambiente plural e inclusivo. Segundo o professor, o trabalho é desafiador, pois o judô ainda não possui forte tradição entre os portugueses. No entanto, graças ao esforço pedagógico e aos valores transmitidos, o interesse tem crescido de forma consistente.
Professor Irahy com uma de suas turmas de alunos © Arquivo
Mais do que formar atletas, o objetivo de Irahy Tedesco é educar cidadãos por meio do judô. Em sua academia, o ensino está profundamente alinhado aos valores que fundamentam a arte criada por Jigoro Kano, inspirada no código dos samurais. A prática diária busca desenvolver não apenas habilidades técnicas, mas sobretudo virtudes humanas como respeito, coragem, sinceridade e lealdade.
“Transmito os Sete Princípios do Bushidô, que serviram de base para a criação do judô: Gi (Justiça), Yu (Coragem), Jin (Benevolência), Rei (Respeito), Makoto (Sinceridade), Meiyo (Honra) e Chugi (Lealdade). Também valorizo aspectos como disciplina, autocontrole, perseverança e amizade, elementos essenciais para a formação integral do ser humano”, ressalta o professor.
Professor Irahy com uma de suas turmas de alunos © Arquivo
Com duas turmas divididas por faixa etária — infantil (5 a 13 anos) e juvenil/adulto (a partir dos 14) —, o trabalho prioriza a progressividade dos conteúdos e o respeito ao desenvolvimento psicomotor de cada faixa etária. Nas aulas infantis, a abordagem lúdica é uma aliada importante para estimular habilidades motoras, cognitivas e emocionais. “Infelizmente, vivemos uma época que valoriza apenas o produto final. Aqui, damos ênfase ao processo, à construção do indivíduo.”
Irahy Tedesco com a medalha de ouro conquistada no Campeonato Mundial de 2012, em Miami, na classe M8 absoluto © Arquivo
Para o professor, a idade ideal para iniciar no judô situa-se entre 7 e 9 anos, quando o sistema nervoso da criança já passou por etapas importantes de maturação. É nessa fase que a prática do judô pode exercer seu maior impacto educativo, fortalecendo corpo, mente e espírito de forma harmoniosa.
Outro diferencial do trabalho está na organização e visualização do conteúdo técnico. A Judô Tedesco disponibiliza aos alunos quadros com as principais técnicas do judô, divididas em categorias como:
■ Nage-waza (técnicas de arremesso)
■ Ren-raku-henka-waza (técnicas combinadas)
■ Kaeshi-waza (técnicas de contra-ataque)
■ Ne-waza (técnicas de luta no chão)
■ Kansetsu-waza (torções e contusões articulares)
■ Shime-waza (estrangulamentos)
O ensino obedece rigorosamente à progressão pedagógica determinada pela Federação Portuguesa de Judô, respeitando limites etários e níveis de maturidade. Contragolpes e técnicas de finalização, por exemplo, só são ensinados aos mais experientes, dentro de critérios de segurança e compreensão técnica.
Sensei Nuno Vieira do 4 Judo Project, faixa preta san-dan, os sho-dans Alan de Satis e Leonardo Rodrigues, primeiros faixas-pretas formados no Judô Tedesco e o professor Irahy Tedesco © Arquivo
“Meu trabalho é constante, coeso e possui forte cunho pedagógico — do qual muito me orgulho. Alunos que nunca haviam praticado esportes mudam seu comportamento ao iniciar as aulas comigo. São mudanças reconhecidas e relatadas por seus pais, o que reforça meu compromisso com a formação humana através do judô.”
A trajetória de Irahy Tedesco é mais do que a de um judoca veterano multicampeão — é o exemplo vivo de um homem que, mesmo em idade avançada, atravessou o oceano Atlântico para continuar semeando os valores e a cultura do judô em solo estrangeiro.
Professor Irahy com uma de suas turmas de alunos © Arquivo
Seu trabalho em Braga não apenas transmite técnicas e fundamentos, mas promove uma verdadeira cultura de formação humana. Ao transformar sua experiência em legado e sua paixão em missão, sensei Irahy prova que nunca é tarde para recomeçar — sobretudo quando se leva consigo o espírito do judô em sua forma mais nobre: como ferramenta de educação, disciplina e construção de caráter, ou seja, como instrumento de formação integral do praticante.
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