26 de agosto de 2025

A Seleção Brasileira de Judô abriu sua participação no Campeonato Mundial Cadete 2025 com surpresa e brilho. Nesta quarta-feira (27), na Asics Arena, em Sofia, na Bulgária, o peso superligeiro (-50kg) Arthur Bonato Melo, de apenas 14 anos, surpreendeu adversários mais experientes, chegou à final e conquistou a medalha de prata em sua estreia internacional de maior envergadura.
Arthur Bonato foi o primeiro brasileiro a pisar nos tatamis da Asics Arena. Estreou diante do georgiano Saba Bolkvadze e não se intimidou: venceu com autoridade, somando um wazari e dois yukos.
Logo nas oitavas de final veio o teste mais duro — e também o mais marcante de sua campanha. A Argélia, e em geral toda a África, depositava enormes expectativas em Ala Eddine Sahraoui, número 1 do ranking mundial e cabeça de chave dos superligeiros. Após passar de bye na primeira rodada, o argelino fez sua estreia justamente contra o jovem brasileiro. Em menos de três minutos, Arthur surpreendeu o favorito com uma transição precisa para o solo e encaixou um juji-gatame irresistível, decretando o ippon. A eliminação precoce do líder do ranking não apenas abriu caminho para o gaúcho rumo ao pódio, como também arrancou aplausos e olhares de surpresa de todos em Sofia.
Arthur Bonato tenta a transição para o solo na final contra Khushnud Sultanov, do Uzbequistão, no Mundial Cadete de Sófia © Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
Nas quartas de final, diante de Abdulwahab Alshammari (KUW), Bonato manteve o mesmo ímpeto. Aplicou um clássico sode-tsuri-komi-goshi e, na sequência, finalizou novamente com um juji-gatame limpo, garantindo mais um ippon e a vaga na semifinal.
O adversário da vez era o búlgaro Tsvetelin Martinov, que contava com o apoio massivo da torcida local. Mas nem isso foi suficiente: o brasileiro demonstrou frieza, encaixou um wazari e, na sequência, um osae-komi, calando a arena e confirmando sua presença na decisão. “Imparável hoje em Sófia”, como destacou a própria Federação Internacional de Judô, Arthur mostrava ser o nome a ser batido no dia.
Respeito no tatami: o campeão Khushnud Sultanov reconhece a grande campanha de Arthur Bonato ao erguer seu braço após a final do Mundial Cadete © Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
Enquanto isso, na outra chave, os favoritos Axel Cuq (FRA) e Anar Guliyev (AZE) ficaram pelo caminho. O azarão Khushnud Sultanov (UZB) aproveitou a oportunidade, passou pelo francês sem dificuldades, superou o israelense Omer Mar Barak e, na semifinal, eliminou o cazaque Arman Myssa, garantindo a vaga na final contra o brasileiro.
Na decisão, Arthur começou bem contra Sultanov, anotando um yuko e imprimindo ritmo ofensivo. Porém, o uzbeque reagiu, conseguiu um wazari e dois yukos, e virou a luta, deixando o gaúcho com a prata.
Mesmo sem o ouro, o feito do brasileiro de apenas 14 anos foi de enorme relevância, revelando um talento precoce que já inspira o futuro do judô nacional.
Natural de Porto Alegre, Arthur defende o Grêmio Náutico União, sob a orientação de Rafael Garcia, Alex Pombo, Leandro Freire e Carla Oliveira. Sua trajetória no judô começou aos três anos, ainda na escola. Mais tarde, passou a treinar na Kiai – Associação Canoense de Judô, com o sensei Guilherme Hecke de Góes, onde consolidou sua formação técnica.
“Estou muito feliz, porque vinha treinando muito. Foram muitos treinos técnicos, físicos e de ne-waza. Conseguir essa medalha logo no primeiro Mundial é muito importante para mim”, celebrou o jovem vice-campeão.
A medalha ganha contornos ainda mais simbólicos quando se resgata a história recente do atleta. Em maio de 2024, Arthur e sua família perderam praticamente tudo durante as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. Ao abandonar o apartamento inundado, salvou apenas o essencial da sua trajetória: judogis e medalhas.
“Eu morava em um apartamento no térreo e fui atingido completamente. A água chegou no teto, quase no segundo andar. Perdi tudo, menos o kimono e as medalhas. Assim que o prefeito falou que teríamos de evacuar, a primeira coisa que peguei foi a caixinha com as medalhas e o judogi que estava no roupeiro”, recordou.
Pódio da categoria -50kg no Mundial Cadete: Khushnud Sultanov (UZB) campeão, Arthur Bonato (BRA) vice-campeão, e Arman Myssa (KAZ) e Anar Guliyev (AZE) medalhistas de bronze © Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
Mais de um ano após a tragédia, a família se reestruturou e Arthur voltou a treinar com intensidade. O judô, segundo ele, foi fundamental para manter a serenidade em meio às adversidades.“O judô me ensinou a ter disciplina, a lidar com certas situações e não ficar desesperado. Isso me ajudou muito e também me deu força para ajudar minha mãe. Hoje o judô é minha vida, não consigo mais viver sem ele.”
O primeiro bronze da categoria ficou com o cazaque Arman Myssa, que superou o húngaro Milan Szabo em uma luta equilibrada. Com um sutemi-waza cronometrado para ippon, Myssa garantiu lugar no pódio após uma trajetória marcada pela regularidade.
Com apenas 14 anos, Arthur Bonato mostra a medalha de prata conquistada no Mundial Cadete em Sófia, símbolo de sua campanha histórica © Beatriz Riscado/CBJ
A segunda medalha de bronze foi conquistada pelo azeri Anar Guliyev, que não se deixou abalar pelo forte apoio da torcida local a Tsvetelin Martinov. O búlgaro acabou penalizado duas vezes e sofreu duas quedas, primeiro por yuko, depois por wazari, que asseguraram a vitória e o bronze para Guliyev.
Com o pódio definido — ouro para Khushnud Sultanov (UZB), prata para Arthur Bonato (BRA) e bronzes para Arman Myssa (KAZ) e Anar Guliyev (AZE) — a categoria superligeiro masculina fechou sua participação como uma das mais emocionantes da abertura do Mundial. Para o Brasil, o resultado ganha ainda mais destaque diante da juventude e da resiliência do seu representante.
A categoria superligeiro masculina (-50kg) no Campeonato Mundial Cadete 2025 terminou com o seguinte quadro oficial de classificação:
1º lugar: Khushnud Sultanov (UZB) – Campeão mundial
2º lugar: Arthur Bonato Melo (BRA) – Vice-campeão mundial
3º lugar: Arman Myssa (KAZ) – Medalha de bronze
3º lugar: Anar Guliyev (AZE) – Medalha de bronze
5º lugar: Milan Szabo (HUN)
5º lugar: Tsvetelin Martinov (BUL)
7º lugar: Abdulwahab Alshammari (KUW)
7º lugar: Omer Mor Barak (ISR)
A prata conquistada por Arthur representa o 36º pódio brasileiro em Mundiais Cadete, sendo a 15ª medalha de prata. Chegou a Sofia como 247º colocado no ranking mundial da FIJ e, ainda assim, superou quatro adversários do top 30.
“Foi muito emocionante ganhar uma medalha no Mundial Cadete com apenas 14 anos, sendo meu primeiro ano na classe. Agora é voltar para o clube, comemorar com todos e treinar ainda mais, porque daqui a um mês tem Jogos da Juventude e quero muito conquistar esse título”, projetou.
Além de Bonato, outros cinco judocas representaram o Brasil neste início de competição. Giovanna Imhof (-44kg) e Ana Sena (-40kg) caíram na estreia, assim como André Dodero (-55kg) e Victor Hugo Silva (-55kg). Já Gabriel Cruz (-50kg) venceu a primeira luta, mas parou na rodada seguinte.
O Mundial Cadete prossegue nesta quinta-feira (28), quando mais cinco brasileiros entram em ação: Clarice Ribeiro (-48kg), Sarah Mendes (-48kg), Nicole Marques (-52kg), Lucas Yamamoto (-60kg) e Fernando Mitsuda (-66kg).
As eliminatórias começam às 2h30 e o bloco final a partir de 10h30 (horário de Brasília). As lutas podem ser acompanhadas ao vivo pela JudoTV e também no site oficial da Federação Internacional de Judô.
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