12 de novembro de 2025
Com apenas 14 anos, Arthur Melo mostra a medalha de prata conquistada no Mundial Cadete em Sófia, símbolo de sua campanha histórica © Beatriz Riscado / CBJ
Com informações originalmente publicadas pela International Judo Federation, em texto de Jo Crowley, o judoca Arthur Bonato Melo, filiado à Federação Gaúcha de Judô (FGJ) e representante do Grêmio Náutico União, tem apenas 14 anos, mas já carrega uma história que traduz com perfeição o espírito do judô: perseverança diante da adversidade, coragem para recomeçar e disciplina para seguir acreditando.
Orientado pelos professores Rafael Garcia, Alex Pombo, Leandro Freire e Carla Oliveira, Arthur iniciou sua trajetória no judô aos três anos, ainda no judô escolar. Mais tarde, passou a treinar na Kiai – Associação Canoense de Judô, sob a orientação do sensei Guilherme Hecke de Góes, onde consolidou sua formação técnica e seu amor pela modalidade.

Inundação no Rio Grande do Sul © Divulgação
Em maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul foi duramente atingido por enchentes históricas. Milhares de famílias perderam suas casas, e entre elas estava a de Arthur. O apartamento onde vivia com a mãe foi completamente tomado pela água. “Minha família e eu tivemos que evacuar. O prefeito emitiu um alerta no dia anterior, dizendo que tínhamos que deixar a área. Eu já tinha começado a arrumar minhas coisas. Meu judogi e minhas medalhas foram os primeiros itens que peguei, porque eram as coisas mais importantes para mim”, contou o jovem atleta.

Arthur Melo tenta a transição para o solo na final contra Khushnud Sultanov, do Uzbequistão, no Mundial Cadete de Sófia © Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
Ele morava em um apartamento térreo, e o cenário após o desastre era de completa destruição. “A água chegou ao teto e quase inundou o segundo andar do apartamento acima do nosso. Perdemos tudo o que não conseguimos carregar.”
Pouco depois, amigos da mãe ofereceram abrigo temporário. “Enquanto isso, minha mãe e uma equipe limparam a bagunça, a lama, o lodo, tudo. Levou quase um mês para as coisas voltarem ao normal, mas nos mudamos para um apartamento novo e agora moramos no oitavo andar.”
Mesmo em meio ao caos, Arthur manteve a serenidade. “As lições que aprendi com o judô me ajudaram muito. O judô me ensinou disciplina, como lidar com certas situações e a não entrar em pânico. Isso definitivamente me ajudou a manter a calma durante um período tão difícil. O judô passou a significar tudo para mim. Não consigo mais me imaginar sem ele. Escolhi levar minhas medalhas e meu judogi porque eles representam minhas conquistas, minha trajetória e história. Eu poderia trocar de roupa, mas não as medalhas; elas são meus bens mais preciosos.”

Pódio da categoria -50kg no Mundial Cadete: Khushnud Sultanov (UZB) campeão, Arthur Bonato (BRA) vice-campeão, e Arman Myssa (KAZ) e Anar Guliyev (AZE) medalhistas de bronze © Gabriela Sabau e Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
Um ano depois de perder tudo, Arthur viajou para Sófia, na Bulgária, onde disputou o Campeonato Mundial Cadete de Judô 2025. Lá, conquistou sua primeira medalha internacional: o vice-campeonato mundial na categoria até 50kg, consolidando-se como uma das maiores promessas do judô brasileiro.
“Ganhar uma medalha no Campeonato Mundial Cadete com apenas 14 anos, no meu primeiro ano nessa categoria, foi muito emocionante. Voltei ao meu clube para comemorar com todos, minha equipe, minha família”, disse o judoca gaúcho.

O jovem Arthur Melo exibe uma das medalhas conquistadas no início de sua trajetória, quando ainda representava a Academia Kiai – Associação Canoense de Judô © Divulgação
A medalha ganhou um significado ainda mais profundo. Era símbolo não apenas de talento, mas de resiliência e caráter. De alguém que perdeu tudo, mas preservou o essencial: o espírito do judô.
Hoje, Arthur segue treinando intensamente, determinado a transformar sua história em inspiração. “Vou manter o foco e espero um dia chegar aos Jogos Olímpicos”, afirmou.

O apartamento de Arthur Melo após a inundação © Divulgação
Arthur Bonato Melo é fruto de sua família, de seu país e, acima de tudo, do judô — um judoca com espírito indomável, cuja força interior o conduz sempre adiante.
Para conhecer o desempenho que marcou sua carreira internacional, leia também: Brasil inicia Mundial Cadete disputando uma final e conquistando a medalha de prata.
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