A gestão administrativa em consonância com a gestão esportiva

Paulo Duarte destacou que sempre existiu uma grande lacuna entre a gestão administrativa e a gestão desportiva © Isabela Lemos / fpjcom

O judô japonês continua sendo o primeiro do mundo. O judô brasileiro, pela descendência direta, deveria ser o segundo desde sempre. Alguma coisa está errada!

Por Paulo Roberto Duarte
24 de novembro de 2023 / São Paulo (SP)

No fim de semana passado a Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou o Encontro Estadual de Kodanshas, evento que reuniu cerca de 100 professores e judocas renomados que atuam na gestão esportiva nacional.

Após a realização do encontro o professor kodansha Paulo Roberto Duarte, um dos maiores formadores de atletas para o alto rendimento do Brasil, fez uma avaliação bastante positiva da atual gestão, transcrita a seguir.

Lacunas

Sempre existiu uma grande lacuna entre a gestão administrativa e a gestão desportiva. Embora o judô em si – aquele de dentro dos tatamis – seja o alicerce, o produtor de todos os recursos financeiros que alimentam a gestão administrativa, não recebe o respeito e a atenção que merece.

O judô brasileiro, especificamente o Estado de São Paulo, recebeu o maior número de imigrantes japoneses. Entre eles vieram os mestres Sobei Tani, Yoshio Kihara e Michiio Ninomya, que deram início a uma descendência de grandes judocas. Nenhum outro país recebeu tanta dádiva como o nosso.

O judô floresceu a passos largos dentro dos tatamis, mas não tínhamos administração. Hoje, temos administração, mas o judô dentro dos tatamis, por falta de cuidados, encontra-se muito longe da essência recebida.

Professores Joji Kimura, Alessandro Puglia, Ivo Vieira Nascimento, Rogério Sampaio e Leandro Guilhiero, ouvem a exposição de Paulo Duarte © Isabela Lemos / fpjcom

O judô paulista conseguiu um bicampeonato olímpico (1988/92) com Aurélio Miguel e Rogério Sampaio, quando a prática seguia, fielmente, os princípios metodológicos da modalidade. Mas já se passaram 31 anos da última conquista. Temos o maior contingente de judocas do mundo e não conseguimos apurar a qualidade.

Luz no fundo do túnel

O judô japonês continua sendo o primeiro do mundo. O judô brasileiro, pela descendência direta, deveria ser o segundo desde sempre. Alguma coisa está errada! Mas não devemos nos desesperar. Vi uma luz no fundo do túnel.

No último fim de semana, participei do Encontro de Kodanshas do Estado de São Paulo. Acompanhei, com muita atenção, os dados apresentados pela atual equipe da Federação Paulista de Judô referentes às ações realizadas neste ano e aos novos projetos para o próximo ano que compõem a gestão esportiva.

Chamou-me muito a atenção o escalonamento, feito de forma muito criteriosa, permitindo às crianças uma prática inicial segura e correta – está proibida a execução de golpes aplicados de joelhos – para que a integridade física da criança não corra riscos e nem que seu aprendizado seja distorcido. As projeções no judô devem ser feitas de cima para baixo e nunca de baixo para cima.

Após essa etapa inicial, as crianças são direcionadas para a classe aspirante, na qual aprendem as técnicas correspondentes à sua faixa etária. E, finalmente, ingressam na classe especial e podem começar a competir, se assim desejarem.

Ippon shobu

A operacionalização responsável e competente desse cronograma, a médio e longo prazo, formará uma geração capaz de aplicar o ippon shobu – aquele em que as costas do adversário tocam violentamente o solo com total controle do movimento.

A descentralização do poder promovida pelo presidente Alessandro Panitz Puglia, criando a comissão de mulheres para cuidar dos assuntos do judô feminino e nomeando assessores para cada área específica de sua administração, com total autonomia, agiliza a manutenção dos serviços existentes e a execução dos novos projetos.

Após ser homenageado pela diretoria da FPJudô, Paulo Duarte é cumprimentado por seus alunos Ivo Vieira Nascimento, Rogério Sampaio e Leandro Guilhiero © Isabela Lemos / fpjcom

Os novos projetos frutificarão desde que a capacitação dos instrutores que terão a incumbência da iniciação seja feita com muita qualidade e muito rigor.

Gestão desportiva

O pioneirismo da FPJudô em colocar a gestão desportiva no mesmo patamar da administrativa é primordial para que o judô brasileiro alcance o lugar que há muito já devia ser seu.

A luz não está mais no fundo do túnel; está iluminando o túnel todo agora. Meus cumprimentos, portanto, a toda a equipe da Federação Paulista de Judô.

O professor kodansha shichi-dan (7º dan) Paulo Duarte é graduado em teologia, física quântica, filosofia e psicossomática. Iniciou sua trajetória ainda criança, na cidade de Brasília com o professor kodansha Júlio Adnet e completou seu estudo do judô com nomes como Michiio Ninomya, Georges Mehdi e Takeshi Miura. Foi responsável pela  formação de vários atletas renomados, como Ricardo Sampaio, Rogério Sampaio (medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 e bronze no Campeonato Mundial de Hamilton em 1993), Leandro Guilheiro, (medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atenas em 2004 e de Pequim em 2008) e Danielle Zangrando (primeira judoca brasileira a conquistar uma medalha no campeonato mundial sênior, com apenas 15 anos, o bronze no Campeonato Mundial de Chiba em 1995).

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