20 de fevereiro de 2025

Parece um tanto óbvio falar isso, mas se o trabalho de base não focar o ensino dos fundamentos e se houver pressa em levar o aluno à condição de atleta, ele até pode chegar ao alto rendimento, mas com várias deficiências técnicas.
Alguns exemplos comuns: atletas com o shintai errado (juntando ou cruzando os pés em vários momentos do shiai), atletas com variações técnicas limitadas (sabem apenas uma ou duas técnicas fortes), deficiência no kumi-kata com relação à sua postura corporal (em desacordo com a maneira correta e adequada de lutar), entre outros.
No trabalho de base, devemos mostrar todos os fundamentos, não apenas pensando em formar grandes campeões, mas com o principal objetivo de ensinar o judô na sua essência.
E quando for ensinada uma técnica, deve ser o kihon, a forma básica. Só depois, quando o aluno virar atleta e já tiver o domínio de muitas técnicas e começar a mostrar mais facilidade em algumas delas, é que se devem ensinar as variações.
Na base não podemos ensinar técnicas que não sejam feitas pelo lado da manga, não devemos ensinar kaeshi-waza, nem “brigas” de kumi-kata. Não devemos deixar fazer randori pegando nas duas golas, ou com a pegada da gola fora da altura do ombro.
Na infância a competição deve ser encarada como uma brincadeira © Global Sports
Na base, os mais graduados devem treinar com os mais novos e ensinar como fazer para não se machucarem.
É preciso que os alunos em aula, nos dojôs, façam randori e não shiai. Temos, portanto, a obrigação de ensinar na base como fazer randori de forma adequada.
Na base, não deve ser ensinado nenhum tipo de seoi-otoshi, makikomi ou sutemi-waza.
O trabalho de base precisa ser iniciado por volta de 6 ou 7 anos de idade, com predominância do ensino do shintai, ukemi e kumi-kata.
A preocupação com o ensino de técnicas só deve existir quando a criança já souber cair, batendo os braços esticados, e tiver domínio do peso de sua cabeça, para não deixar que ela bata no tatami. E isso deve ser feito com muita alegria, por meio do lúdico, sempre respeitando a idade da criança.
A atenção e o cuidado com os pequenos judocas são de fundamental importância © Global Sports
No trabalho de base feito para crianças não se deve falar de regras de competição. A participação em festivais é positiva, desde que a proposta seja brincar, mostrar técnicas, sem o objetivo de ganhar e ser campeãs, até porque, se isso acontecer, deixa de ser festival.
Além de ser o alicerce para o bom desenvolvimento das técnicas, o trabalho de base tem de servir de alicerce para o ensino de toda a parte filosófica do judô, através dos seus princípios.
Mas aí, cabe a pergunta: E as crianças com menos de 6 anos? Não devem treinar judô?
É aqui que se evidencia o trabalho de base com o objetivo de ensinar o judô na sua essência, priorizando fundamentos e toda a parte filosófica, formando cidadãos e que pode resultar em futuros grandes atletas. É diferente do trabalho de base não edificado nos fundamentos do judô, cuja consequência é a formação de atletas fortes nas categorias menores, mas que raramente chegam a ser campeões na fase adulta.
A criança com menos de 6 anos deve brincar nos tatamis, por intermédio do judô, sem a preocupação de fazer golpes e muito menos competir, principalmente porque está num estágio de maturidade em que isso é prejudicial.
O principal objetivo para essa faixa etária deve ser o aumento e a qualidade do acervo motor, para que quando a criança chegue perto dos 6 ou 7 anos de idade possa começar a praticar os componentes técnicos fundamentais do judô.
O trabalho mais específico na base deve ser iniciado por volta dos 6 ou 7 anos © Global Sports
Até que chegue perto dessa faixa etária, deve-se deixar que a criança vá aprendendo com naturalidade os conceitos de uma aula, como os cumprimentos e saudações, o uso do judogi e dos chinelos e viver situações repletas de muita brincadeira, com uso de materiais que alegrem o ambiente. O professor deve ser o grande exemplo, por isso deve dar aula sempre de judogi branco com sua faixa arrumada corretamente, chinelos nos pés quando estiver fora dos tatamis, e não ostentar nada quando estiver de judogi, como joias ou celulares.
Mas o grande ponto em questão é que a sociedade, por intermédio dos pais e outras pessoas, quer ver crianças com 3, 4 e 5 anos lutando, derrubando seus amiguinhos e, pior, que sejam promovidas, que troquem suas faixas. Na realidade, nessa idade elas ainda nem sabem qual é o verdadeiro significado da faixa e muito menos como amarrá-la corretamente, daí a necessidade, hoje em dia, de inventar novas faixas.
O trabalho de base é o alicerce de todo o desenvolvimento esportivo. Façamos nossa tarefa, portanto, com consciência, com alegria e principalmente por meio dos fundamentos, sem pressa de colocar o aluno para competir.
20 de fevereiro de 2025
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