22 de dezembro de 2024
A vitória da meritocracia
Com extrema competência, Paulo Wanderley e Marco La Porta neutralizaram o lobby exercido por tubarões da política esportiva nacional e internacional e agentes do Congresso
Gestão Esportiva
12 de outubro de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS
Curitiba – PR
O processo eletivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB) que resultou na vitória da chapa Força é União, formada por Paulo Wanderley Teixeira e Marco Antônio La Porta, foi marcado pelo amadurecimento do processo democrático de uma entidade centenária que, pela primeira vez em sua história, teve uma eleição disputada por três chapas. Vem Ser, formada por Helio Meirelles e Robson Caetano; e COB + Forte, constituída por Rafael Westrupp e Emanuel Rego, foram as outras duas.
A assembleia eletiva realizada nesta quarta-feira (7) no Hotel Grand Hyatt, na Barra da Tijuca, marcou também a participação efetiva dos atletas nas principais decisões do COB, já que após a queda de Carlos Arthur Nuzman, envolvido em casos de corrupção, durante este primeiro mandato, Paulo Wanderley promoveu a reforma estatutária que aumentou a presença dos atletas no colégio eleitoral (de um para 12).
O resultado oficial do pleito foi de 26 votos para a Paulo Wanderley Teixeira e Marco Antônio La Porta, 20 para Rafael Westrupp (presidente da Confederação Brasileira de Tênis) e Emanuel Rego, e dois para Helio Meirelles (presidente da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno) e Robson Caetano.
Fundado em 8 de junho de 1914, há 41 anos não havia uma disputa com mais de um candidato à presidência do Comitê Olímpico do Brasil, e ao longo dos seus 106 anos de existência, jamais houve uma disputa com três chapas.
Acirramento na reta final
Na sexta-feira (7 de outubro) houve a dissidência que culminou na saída de duas confederações (wrestling e golfe) que deixaram de apoiar a chapa Força é União. Durante o processo eletivo Andrew Parsons, membro do COI e presidente do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) apoiou ostensivamente Rafael Westrupp. Outro personagem de peso e bastante atuante no processo eletivo foi o ex-ministro do Esporte Leandro Cruz.
Engrossaram a lista de apoiadores da chapa formada por Westrupp e Emanuel, Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Anders Pettersson, presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), Guy Peixoto, presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK), Walter Pitombo Laranjeiras, presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e Matheus Figueiredo, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG). É importante lembrar que Emanuel Rego é marido da senadora Leila Barros e ex-secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério da Cidadania.
Em entrevista à Folha de São Paulo, o presidente eleito revelou seu desapontamento com Rogério Caboclo. Na sua visão e de seus aliados, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não só escolheu a chapa encabeçada por Rafael Westrupp, como abriu as portas da sua sede na Barra da Tijuca, próxima ao prédio do COB, para instalar um comitê de campanha para seus rivais.
“Houve uma tentativa de intromissão de ex-ministro e de pessoas ligadas ao futebol, da CBF, tentando cooptar confederações. Conseguiram o voto de algumas, que caíram no conto de fadas”, disse Paulo Wanderley à Folha.
O ex-ministro é Leandro Cruz, que comandou a pasta do Esporte e hoje é secretário de Educação do Distrito Federal. Ele articulou a candidatura de Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis, entidade patrocinada pelo Banco de Brasília, que tem como maior acionista o governo do DF.
“Pela primeira vez teve gente de fora do movimento olímpico. Quando é entre nós, parece mais a uma briga de família. A gente quebra o pau, mas na hora do interesse comum todos nos juntamos. O que houve de fato e de novo nesta eleição foi o movimento de fora para dentro que jamais existiu. Interferência de pessoas que não são do nosso ambiente, mas da política partidária. E o esporte não está habituado com a presença de agentes políticos em nossas assembleias, imiscuindo-se em nossas decisões. O debate não foi bom para nós e não nos agradou, pois ouvimos muitas inverdades, não tivemos oportunidade real de mostrar que estavam faltando com a verdade e, além de negativa, é uma situação que jamais aconteceu no movimento olímpico”, disse Paulo Wanderley, que completou:
“Fizeram mil promessas para diversos atores, mas felizmente o pessoal do esporte conhece e distingue o que é realmente factível das promessas de campanha amadoras e infundadas. Isso não é prática em nosso ambiente e espero que jamais volte a acontecer, para o bem do esporte brasileiro. O Comitê Olímpico do Brasil não é político. Precisamos do Congresso, dos nossos parlamentares, mas não para ditarem normas de como fazer a gestão do esporte brasileiro. Aliás, a Carta do movimento olímpico internacional coíbe este tipo de ingerência. Os governos não podem meter a mão dentro dos comitês olímpicos. Interagimos com o governo e estamos no mesmo ecossistema, mas cada um respeitando o espaço e autonomia do outro”, frisou o dirigente.
Vitória da meritocracia
Muita gente pode já nem lembrar, mas quando Paulo Wanderley e Marco La porta assumiram o COB, em 2017, a entidade estava mergulhada na maior crise de sua história. Carlos Artur Nuzman, que governou a entidade com mão de ferro durante 22 anos (1995 a 2017), estava preso e renunciou, mergulhando o movimento olímpico do Brasil num mar de incertezas e suspeição. Todos os patrocinadores e apoiadores rescindiram contratos, já que a nenhuma empresa interessava associar sua marca a uma entidade que maculou a reputação do movimento olímpico internacional.
Nestes três anos à frente da entidade, Paulo Wanderley, Marco La Porta e Rogério Sampaio, diretor geral do COB, desassociaram a marca COB dos problemas ocorridos no passado recente, e voltaram a projetar o esporte olímpico do Brasil no cenário midiático nacional.
No fim das contas, Rafael Westrupp não apresentou absolutamente nada de novo, a não ser uma agressividade jamais vista no cenário olímpico, além de acusações fundamentadas em clichês evasivos e inconsistentes. A retórica de chamar seu vice de herói nacional caiu por terra, após Emanuel tecer críticas sem provas contra Carol Solberge e prometer lutar para que atletas não pudessem dar opiniões políticas em competições. Ele também não saiu em defesa da Comissão de Atletas (CACOB) quando ela sofreu uma dura derrota e não pôde realizar eleições. Sua omissão e posicionamento certamente não agradaram os membros da Comissão de Atletas.
Na verdade, a vitória recaiu sobre os gestores mais bem preparados para alavancar definitivamente o movimento olímpico do Brasil. Hoje, a dupla formada por Paulo Wanderley Teixeira e Marco Antônio La Porta é imbatível pela experiência, expertise e a visão de futuro que ambos possuem para o olimpismo brasileiro.
Discurso da vitória
Após a vitória no pleito histórico, em seu discurso, Paulo Wanderley Teixeira agradeceu e homenageou toda a equipe que compõe a gestão do COB e destacou a reforma estatutária e o vice-campeonato geral nos Jogos de Lima 2019 como as suas duas principais conquistas.
“Se hoje vivemos a democracia plena no Comitê Olímpico do Brasil, se pela primeira vez em décadas tivemos três chapas concorrendo à presidência e contamos com candidatos valiosos a membros do nosso conselho, e se tivemos pela primeira vez a participação maciça e fundamental de atletas numa tomada importante de decisão do COB, isso foi fruto da reforma estatutária que conduzi com apenas 42 dias como presidente da entidade. Junto com o segundo lugar geral, conquistado nos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, a reforma estatutária de 2017 é o maior motivo de orgulho destes três anos de gestão”, disse.
O dirigente pontuou que fez um trabalho pautado no coletivo, nos atletas, confederações, funcionários do COB, nos parceiros da entidade e na sociedade. “Todos juntos pela nossa parcela de responsabilidade e participação na construção de um esporte forte, unido e vencedor. Afinal, é justamente o esporte que nos ensina que ninguém conquista nada sozinho. O esporte também ensina a termos valores éticos, respeito e fair play. Como treinador campeão olímpico, como professor de judô e desportista, digo que são estes valores que moldaram meu caráter, dos quais não abro mão.”
Antes de falar sobre o futuro, Wanderley lembrou que o COB é grande e jamais se furta ao seu papel de interagir com a sociedade, inspirando sempre as melhores práticas e o bem-estar social, levando os valores olímpicos a milhares de jovens em idade escolar em todo o Brasil.
“Quando o Marco La Porta e eu assumimos o compromisso, buscávamos a oportunidade de uma evolução ainda maior do COB e do esporte brasileiro. E é este o compromisso que assumimos hoje, perante todos vocês, após conhecermos os resultados das urnas. Estaremos falando sempre em transparência, austeridade e meritocracia, mas estaremos falando também em competência e excelência, valores olímpicos”, prosseguiu.
Segundo Wanderley, o objetivo é ampliar o mecanismo de governança, transparência e conformidade e ajustar o bem-sucedido programa de Gestão Ética e Transparência (GET) do COB, para que promover uma gestão genuinamente esportiva.
As confederações que já fazem parte do dia a dia do COB estarão cada vez mais envolvidas com processos que lhes dizem respeito, prometeu Wanderley. “Teremos uma central de serviços compartilhados com as confederações, nas qual discutiremos os critérios das políticas de descentralização da Lei das Loterias. Seguiremos firmes e juntos, seja visando à conquista de medalhas, seja em momentos de dificuldades como os que vimos durante a pandemia, em que o COB agiu com a força e a urgência necessárias para proteger a sustentabilidade de todo o sistema político, frente a uma crise sem precedentes.”
Wanderley disse que dará mais apoio à Comissão de Atletas do COB, que vem mostrando amadurecimento e comprometimento com questões fundamentais do esporte. A CACOB contará ainda com maior apoio jurídico, financeiro e de comunicação, bem como orçamento próprio.
“No âmbito esportivo”, prosseguiu, “que é a nossa razão de ser, aperfeiçoaremos as iniciativas ligadas a parcerias estratégicas ligadas às Forças Armadas e universidades. Investiremos ainda mais na área de desenvolvimento e criaremos o programa Mulher no Esporte Olímpico, para gerir políticas, programas e projetos.”
O uso racional e inteligente do legado Jogos 2016, como o Parque Olímpico e o Parque Deodoro, proporcionará condições de treinamento e performances para o Time Brasil para Tóquio, Paris, Los Angeles e muitos além, na avaliação de Paulo Wanderley.
“E tudo isso sem perder de vista a imagem da instituição”, assegurou. “Se neste primeiro ciclo o objetivo foi resgatar a reputação do COB e devolver valor a esta marca, agora estamos prontos para colher os frutos.”
“Estaremos mais próximos do público por meio de iniciativas inovadoras de streaming e comunicação. Daremos continuidade às parcerias estratégicas que tanto conferem valor, quanto monetizam o movimento olímpico do Brasil. Mesmo diante de tantas incertezas, fomos capazes de trazer 11 milhões de recursos novos e privados para o COB nos últimos três anos e temos convicção de que o melhor está por vir.”
Paulo Wanderley fechou seu discurso dizendo que é sempre preciso ir além. “O COB merece, as confederações merecem, os atletas merecem e todos que compõem o movimento olímpico do Brasil unido merecem. Vamos até o fim de 2024. Força é união, por um COB forte, unido e vencedor.”