15 de janeiro de 2025
Academia Bodhidharma: 50 anos de uma história de sucesso
Meio século dedicado ao ensino do karatê-dô que culminou na formação de inumeráveis campeões mundiais e líderes nacionais e globais.
Por Paulo Pinto / Global Sports
16 de janeiro de 2025 / Curitiba, PR
No mês de novembro comemorou-se o jubilei de ouro da Academia Bodhidharma, data marcada por um jantar festivo, um gashuku e o lançamento do livro contando a história da longeva escola de karatê-dô, artes marciais e yoga.
Sensei Gilberto Gaertner, fundador do Dojô Bodhidharma, iniciou seu treinamento de karatê aos 13 anos na Academia Shotokan, sob a orientação do sensei Takuo Arai. Ao longo de sua trajetória, treinou com os senseis Taketo Okuda, Yasutaka Tanaka, Hiroyasu Inoke e Tasuke Watanabe. Em nível internacional, foi discípulo dos senseis Hidetaka Nishiyama e Hiroshi Shirai. Além disso, participou de cursos e seminários internacionais ministrados por grandes mestres como Tetsuhiko Asai, Masahiko Tanaka, Masao Kawasoe, Takeshi Oishi, Iken Tokashiki e Tomoharu Kisaki.
“O karatê entrou bem cedo na minha vida e se tornou um dos pilares da minha existência. Tive o distinto privilégio de ter o mesmo sensei por quase 53 anos, sensei Takuo Arai, que se tornou meu mentor e um grande amigo.”
A escola iniciou sua trajetória em 1974 em Curitiba (PR), como relata o sensei Gilberto. “Depois de dar aulas no quintal da minha casa, na academia do sensei Arai aos sábados à tarde, na Sociedade Universal, no 5º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsada (5º GACAP) e no Centro Politécnico da UFPR, finalmente fincamos a bandeira da escola num espaço formal, na avenida das Torres, 2.741. Alguns anos depois, em 1983, surgiu a oportunidade de comprar uma sala do outro lado da avenida (no 2.856), e veio a primeira sede própria.”
Com a academia funcionando e sem espaço suficiente para o grande número de alunos, um terreno quase em frente despertou o interesse de sensei Gilberto e tornou-se objeto de sonho por um bom tempo. Quando conseguiu comprar o terreno, num treino especial o grupo derrubou os muros com chutes e socos. Um dos alunos da época, o arquiteto Mauro César Pereira, projetou o prédio da nova academia, inaugurada em 1986, na avenida das Torres, 2.885.
Ao longo dos seus 50 anos a escola formou centenas de faixas pretas e numerosos campeões nacionais e internacionais. Dentre encontram-se os campeões mundiais Giordana de Souza, Ricardo Buzzi e Vinícius Santana Pinto, os vice-campeões mundiais Ramoci Leuchtenberguer, Nelson Santi e Jean Edoardo, os campeões pan-americanos Celso Ogasawara e Nelson Santi.
Trajetória impecável
Para saber mais a respeito da trajetória de uma academia tão longeva, procuramos o professor Benedito Gomes Barboza, yon-dan (4º dan) no karatê Shotokan, procurador federal e autor do livro Bodhidharma 50 Anos, editado em comemoração ao cinquentenário do Instituto Cultural Bodhidharma. Veja a seguir os principais momentos da entrevista.
Como surgiu a ideia de fundar a Academia Bodhidharma e quais foram os principais desafios nos primeiros anos?
Gilberto Gaertner já havia alcançado a graduação como faixa marrom na Academia Shotokan, com seu mestre e mentor sensei Júlio Takuo Arai. Estudioso dos aspectos que envolvem o karatê-dô, pediu permissão ao seu sensei para ensinar a arte no bairro onde morava (Guabirotuba, em Curitiba). No começo, os seus poucos alunos eram amigos próximos que moravam no mesmo bairro e as aulas eram dadas a céu aberto, no quintal de sua casa, e nos campos do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, no bairro Jardim das Américas, contíguo ao Guabirotuba. Os desafios enfrentados foram, na verdade, os grandes incentivadores para a continuidade do seu projeto. Com o crescimento, surgiu o Instituto Cultural Bodhidharma que, depois de ocupar dois endereços, estabeleceu-se na sede própria. Anos depois, Gaertner convidou sensei Júlio Takuo Arai para juntar-se a ele, ensinando as técnicas e princípios do karatê-dô tradicional, atividade que manteve até o seu falecimento, em 2021.
Quais foram os valores aplicados pelo sensei Gilberto Gaertner para moldar a identidade da escola?
O karatê-dô tradicional, a princípio, é uma arte marcial voltada para o desenvolvimento de técnicas de combate. Seu ensino, no entanto, não se limita a isso, porque o seu conteúdo programático fundamenta-se em princípios filosóficos, enraizados no seu país de origem, o Japão. Respeito mútuo, esforço para alcançar os objetivos e contenção da agressividade são exemplos de alguns dos elementos que norteiam o dojô e a prática do karatê-dô tradicional. Sensei Gilberto Gaertner sempre deu ênfase a esses valores e, ao mesmo tempo, trabalhou o equilíbrio entre corpo e mente, entre a criatividade e o desenvolvimento da leitura corporal. Foi assim que o Instituto Bodhidharma abriu espaço também para outras artes, como aikidô, judô, yoga e cursos de danças clássicas.
Como a Academia Bodhidharma contribuiu para o desenvolvimento do karatê-dô no Paraná e no Brasil?
No Livro Bodhidharma 50 anos nós buscamos dar destaque a essa imensa contribuição. Num primeiro momento ela é destacada pelo liame entre Gilberto Gaertner e seu mestre, o sensei Takuo Arai, que foi o grande responsável pelo desenvolvimento do karatê-dô tradicional no Estado. Juntos formaram grandes atletas e novos professores. O Dojô Bodhidharma ajudou o Paraná a ganhar destaque no cenário nacional e internacional, com seus atletas conquistando títulos brasileiros e mundiais e fazendo a transmissão de conhecimento por meio de cursos específicos.
Quais momentos históricos da escola foram documentados no livro comemorativo?
Nós buscamos salientar as grandes conquistas nacionais e internacionais dos atletas. A linha do tempo, muito bem traçada pelo Marcelo Gonçalves Azevedo, o ilustrador da obra, destaca não só esses feitos, mas também outros momentos históricos, dentre eles a participação política e técnica do Dojô Bodhidharma, por intermédio do sensei Gilberto Gaertner. Primeiro, como diretor técnico e depois como presidente da FKTPR por duas gestões, além de ter sido diretor técnico por 14 anos e presidente da CBKT por duas gestões. Sem falar que atualmente é chairman e membro do comitê técnico da ITKF Global.
Quais foram as pessoas-chave envolvidas na organização das comemorações?
Os festejos dos 50 anos do Instituto Cultural Bodhidharma resultaram de um trabalho complexo, realizado em curto espaço de tempo. Foram cerca de três meses até se chegar ao dia 8 de novembro de 2024, quando toda a família Bodhidharma reuniu-se no restaurante Galeteria Caixas para celebrar este meio século de atividade. A coordenação dos trabalhos ficou a cargo de Antônio Sérgio Palú Filho, Gilberto Gaertner e sua esposa Muriel Gaertner. Muriel é formada em administração com especialização em gestão de riscos. Palú é advogado, com atuação em direito empresarial, e 3º dan no karatê tradicional. Foi a peça central dos trabalhos. O grupo teve ainda a participação de Giordana de Souza, Adeir Gomes, Hilário Wobeto, Carlos Augusto Negrão Huy, Lucas Tattara Huy, Marcelo Gonçalves Azevedo, Cristiane Vítola de Souza, José da Silva Nunes, Luiz Fernando Cardoso e Alceu Toninello.
E na elaboração do livro?
Na edição do Bodhidharma 50 Anos trabalharam este autor, na redação, e Marcelo Gonçalves Azevedo (designer de produtos, karateca 1º dan) na diagramação. A coordenação geral ficou a cargo de Antônio Sérgio Palú Filho.
Como foi elaborada a lista de convidados da comemoração?
Os convites foram feitos com a divulgação de posts pelo Instagram e num grupo no WhatsApp. Ressalte-se aqui, o trabalho de Cristiane Vítola de Souza na produção gráfica das postagens e na divulgação. Não se estabeleceu um critério para inclusão ou seleção de pessoas; fixou-se uma data limite e pedimos confirmação de presença; a participação no jantar ocorreu por adesão.
Quais foram os apoiadores do evento (empresas, organizações ou indivíduos)?
O jantar comemorativo reuniu cerca de 200 pessoas e teve a graciosa colaboração da Casa da França, renomada loja de vinhos e espumantes, de propriedade de Eduardo Sokoloski Júnior, grande amigo do sensei Gilberto. Para a edição de mil exemplares do livro comemorativo e sua distribuição gratuita foi formado um grupo de apoio cultural composto de 25 pessoas físicas e dez pessoas jurídicas.
O que motivou o evento e a publicação do livro?
O conceito norteador foi a reunião e confraternização da Família Bodhidharma, composta por professores, alunos e ex-alunos das diversas atividades oferecidas ao longo dos 50 anos de existência do instituto. O lançamento do livro foi uma ideia para registrar fatos e fotografias que marcaram momentos importantes desse período. Nem tudo pôde ser efetivamente registrado, em razão do curto espaço de tempo para coletar informações e transpô-las para o livro. Algumas pessoas até sugerem uma segunda edição.
Quais campeões mundiais e atletas de destaque foram formados na Academia Bodhidharma?
Além de certames paranaenses e brasileiros, são efetivos destaques pelas conquistas internacionais a sensei Giordana de Souza (primeira mulher do Brasil a ganhar uma modalidade individual em campeonato mundial da ITKF, em 1994), sensei Ricardo Luís Buzzi (o primeiro brasileiro a ganhar na categoria masculina um título mundial individual organizado pela ITKF, em 2002, e posteriormente mais três títulos mundiais por equipe), sensei Vinícius Sant’Ana Pinto (tricampeão mundial por equipes), Ramoci Leuchtenberguer (vice-campeã mundial individual) e sensei Celso Ogasawara (campeão pan-americano). Outros atletas de destaque que não começaram no Dojô Bodhidharma, mas lá treinaram e passaram a fazer parte da família foram Nelson Santi e Jean Edoardo (vice-campeões mundiais e campeões pan-americanos). Além dos campeões, o Dojô Bodhidharma também formou atletas de destaque internacional, como Antônio Sérgio Palú Filho, primeiro paranaense a participar de um campeonato mundial da ITKF (Canadá, 1992), elogiado pelo sensei Nishiyama.
Como a escola consegue integrar antigos alunos e campeões que hoje são professores no dojô?
Este é o resultado do desprendimento do sensei Gilberto Gaertner, que sempre buscou formar líderes e um quadro de professores capazes de ensinar os princípios norteadores do karatê-dô tradicional, aliando suas experiências como karatecas e atletas. O Dojô Bodhidharma conta, atualmente, com nove professores, alcançando desde os alunos iniciantes até os graduados e praticantes experientes. As aulas são focadas no ensino e prática de kihon, buscando o aperfeiçoamento em kata e kumitê.
De que maneira o ambiente da Bodhidharma incentiva tanto a excelência competitiva quanto a formação de valores humanos?
Notadamente, o Dojô Bodhidharma sempre priorizou um clima organizacional cooperativo e familiar. Ensina karatê-dô tradicional dando ênfase aos conceitos e princípios técnicos, éticos e filosóficos. Complementar a formação das pessoas, a partir do desenvolvimento de valores humanos e da educação convencional, é o mister de cada um dos professores. A excelência competitiva acaba sendo um resultado natural do desenvolvimento deste processo, que também depende da vocação competitiva de cada aluno. Além dos campeões nas competições de karatê, o Dojô Bodhidharma busca formar campeões para a vida, pessoas que possam fazer a diferença num mundo tão turbulento e tão desigual.
Qual é a importância da Academia Bodhidharma no cenário das artes marciais no Brasil e no mundo?
O Instituto Cultural Bodhidharma está perfeitamente imbricado nos sistemas estadual e nacional do karatê-dô tradicional. O sensei Jean Edoardo preside a federação paranaense e o sensei Ricardo Buzzi é o técnico da seleção brasileira. Em nível internacional, além da brilhante atuação do sensei Gilberto Gaertner como chairman da ITKF e membro do comitê técnico, temos outros integrantes da família Bodhidharma que compõem a atuante e capacitada equipe de gestão da ITKF, como Luiz Alberto Kuster, Rui Marçal, Sadiomar Santos, Antonio Sérgio Palú Filho, Leonardo Neves e Carlos Huy.
Quais foram os momentos mais emocionantes do jubileu de ouro?
Sem dúvida alguma foi a alegria e a emoção do reencontro de velhos amigos, alguns que não se viam há mais de 30 anos e outros que residem fora do Estado. Gilberto e Muriel Gaertner não construíram apenas uma pessoa jurídica ou um local onde se praticam artes marciais. Formaram um conjunto de pessoas que sob o signo da fraternidade e os verdadeiros princípios do karatê reúnem-se como uma verdadeira família.
Citações do livro comemorativo
Veja a seguir trechos do livro Bodhidharma 50 Anos que demonstram o impacto histórico da academia e depoimentos de ex-alunos e campeões formados na escola.
As primeiras aulas de Gilberto Gaertner
“Ensinar era sua missão e, por isso, também deu aulas de karatê (defesa pessoal) para as freiras no Colégio Assunção, no bairro Guabirotuba. As freiras não usavam o karatê-gi. Durante os treinos, vestiam-se normalmente com seus hábitos (túnicas largas, que não são moldadas ao corpo, com mangas largas e compridas até os pés ou tornozelos, presas na cintura por um cordão).” – pág. 33
“Com alvará de funcionamento expedido, o Instituto Cultural Bodhidharma tinha sua vida materializada e reconhecida como pessoa jurídica. Sua estrutura organizacional trazia um organograma dividido em três departamentos: 1) Karatê, Yoga, Zen e Tai-chi; 2) Ginástica Aeróbica, Localizada e Alongamento; 3) Jazz, Balé Clássico, Contemporâneo e Sapateado.” – pág. 35
“Seu estilo de vida e costumes eram muito semelhantes aos dos orientais (japoneses). Ele era mais nipônico do que eu, e olha que sou descendente ‘nissei’ (segunda geração). Em sua residência, sentava-se no chão e se alimentava com ‘hashi’ e ‘chawan’ – os famosos pauzinhos e cumbuca. É mole?” – pág. 32
“Hilário alcançou o quinto dan, aprendendo com os ensinamentos de Gilberto Gaertner. Os treinos seguiam a rigidez oriental, aprendida por ele com sensei Júlio Arai. Mas, Gilberto tinha uma visão aprimorada sobre a necessidade de inserção de novos métodos de treinamento, uma decorrência dos incontáveis cursos que fez com os maiores mestres do Karate Tradicional. Isso o levou a promover treinos em locais especiais e diferentes, tais como a escadaria da Praça do Guabirotuba, os gramados e bosques, locais com mata fechada e estreitas trilhas, inclusive sobre enormes manilhas onde praticavam o Kata Tekki Shodan.” – pág. 60
“Durante os exercícios de manobra do exército e nos acampamentos no meio da mata, mesmo em dias de chuva ou com muito barro, ele fazia questão de encontrar a barraca onde eu dormia e me acordava de madrugada. Para quê? Para correr no meio das matas e estradas. Éramos obcecados por exercícios físicos e por aproveitar tudo o que a natureza nos oferecia. Já naquela época, ele me confessava que um dos seus sonhos era frequentar um mosteiro no Japão.” – pág. 32
“Quando Palú saía das aulas no Colégio Paulina Pacífico Borsari, ele caminhava direto para o Dojô Bodhidharma. Na sua mala também levava algumas coxinhas para o seu lanche, feitas por sua mãe, Dona Cleide. Embora fosse um dedicado glutão (fama que em breve perderia para Vinícius Sant’Ana Pinto), Palú observou que seus colegas de treino eram atraídos pelo saboroso aroma das coxinhas. Não tardou e Palú substituiu o glutão pelo empreendedor, e começou a vender as coxinhas para os amigos do Instituto. Não tivesse escolhido a advocacia como profissão, hoje Palú seria um próspero dono de restaurantes.” – pág. 62
“Marcelo Azevedo destaca que o sentimento de autoconfiança, a evolução nas técnicas, o aprendizado de princípios éticos, a educação pela força de espírito, equilíbrio e superação até hoje são seus condutores. E tudo isso ele aprendeu junto à família do karate e com as lições de seu Mestre Gilberto Gaertner, que sempre transcenderam a técnica, ajudando a aprimorar o espírito.” – pág. 63
“Luiz Pavão destaca que as aulas das segundas-feiras eram dadas, no início, pelo sensei Gilberto Gaertner. Não obstante alguns aspectos tradicionais, ele sempre buscava uma dinâmica diferente, o que exigia um pouco mais de raciocínio nos exercícios, incitando os alunos a pensar. Nas palavras de Pavão, era “uma espécie de reprogramação das redes neurais e uma percepção corporal mais sofisticada”. – pág. 65
“Marçal afirma com alegria que o Instituto Bodhidharma é muito mais que um dojô. “Ele é uma Casa”, diz Marçal, “que bem acolhe seus alunos como filhos, e Gilberto Gaertner não é um simples Professor. É um grande amigo com quem se tem o prazer de compartilhar o conhecimento do Karate Tradicional”. – pág. 69
“As viagens para os alunos Bodhidharma participarem de competições de karate também renderam muitas histórias. Em 1992, aconteceu o III Campeonato Paranaense de Karate Tradicional, na cidade de Maringá. Um ônibus foi fretado para levar os atletas até Maringá. Próximo do destino o ônibus sofreu uma tentativa de assalto, felizmente sem vítimas. Antonio Palú e Marcelo Azevedo estavam nesse ônibus e foram testemunhas oculares dos fatos. A história se tornou crônica do jornalista Norberto Silva, publicada na edição 1.725, de 02 a 04/05/1992 do Jornal Tribuna de São José dos Pinhais, e vale ser relembrada” – pág. 74
“Em uma das viagens de ônibus, a turminha de sapecas aprontou para o sensei Gilberto. Enquanto ele dormia um dos moleques pintou sua careca com batom. sensei Gil foi perceber a arte da molecada apenas numa das paradas do ônibus, quando foi ao banheiro lavar o rosto. Até hoje o autor da proeza não foi revelado.” – pág. 75
“Os treinos ao ar livre eram a predileção de sensei Gilberto Gaertner. Bosques, áreas de mata com terrenos em aclive/declive, córregos e trilhas eram os escolhidos para sessões especiais de treinamentos. Gilberto reunia uma grande turma de alunos, vestidos com karate-gi e calçando tênis, e saíam correndo da sede do Bodhidharma até o local por ele escolhido. Alunos mais antigos do Bodhidharma lembram, com dores na panturrilha, todos os bons treinos de kihon, subindo e descendo o número imenso de degraus das escadarias da Praça do Guabirotuba, e os kata nos gramados e na pista de rolimã que ficava ao lado.” – pág. 75
“Alberto Alves de Oliveira, o Beto, contou sobre determinada competição em que participou, juntamente com outros alunos Bodhidharma na cidade de Maringá/PR. A viagem foi de ônibus fretado e, dentre outros, estavam Gica, Plínio, Michelin… Chegaram à cidade ainda de madrugada e o ônibus estacionou numa pracinha que ficava bem próxima ao ginásio onde seriam as competições. Em razão do calor insuportável dentro do ônibus, todos desceram e acomodaram-se ali mesmo, deitando-se nos gramados e entre bancos.
Perto da praça funcionava uma feira, quase em frente ao Estádio Willie Davids. Com o dia começando, o movimento da feira foi aumentando e as pessoas passavam quase no meio daquele grupo deitado no chão. Em razão do burburinho eles foram acordando, enrolados em cobertores. As pessoas olhavam um tanto assustadas, porque aquela turma mais parecia um grupo de pessoas em situação de rua do que atletas de karate. Aos risos, Beto diz que por pouco o serviço social da cidade não foi acionado para retirar aquela turma da praça.” – pág. 79
“Mas, foi em Okinawa que Gilberto e Hiro vivenciaram uma das partes mais significativas de sua jornada. Gilberto sempre teve o desejo de encontrar as raízes do karate moderno, fundado pelo Mestre Gichin Funakoshi. A viagem de trem-bala até o extremo sul do Japão, passando por Sakurajima, um vulcão em atividade em frente ao porto de Kagoshima, e o posterior trajeto de navio até a Ilha de Okinawa marcaram o ponto alto de sua busca. Em Okinawa, Gilberto e Hiro localizaram descendentes da família Funakoshi por meio de uma lista telefônica de papel. O encontro foi emocionante e proporcionou momentos de conexão, mesmo com a barreira linguística, quando tomaram chá e apreciaram fotografias antigas, conhecendo de perto a linhagem que preservava a história do karate.” – pág. 81
Reflexão
A celebração dos 50 anos da Academia Bodhidharma não foi apenas um marco temporal, mas também uma oportunidade para revisitar a trajetória, os valores e os ensinamentos que moldaram essa escola de excelência no karatê-dô tradicional. Sensei Gilberto Gaertner, em suas palavras, nos convida a refletir sobre os princípios que guiaram esse meio século de conquistas e o verdadeiro propósito do caminho percorrido.
“Olhando para a história dos meus 55 anos de karatê, percebo tudo que aprendi com meus professores, colegas e alunos, além das valiosas amizades construídas ao longo dessa jornada,” destacou o shihan Gaertner, que concluiu com a certeza de que a tradição permanece viva.
“Hoje, no cargo de Chairman da ITKF e membro do conselho técnico, carrego a grande responsabilidade de manter vivo e expandir o legado deixado pelo mestre Nishiyama para as próximas gerações. É uma missão que sigo graças à parceria com uma equipe de trabalho dedicada e comprometida.
Agradeço a todos que ajudaram a construir essa história de longevidade e excelência. Sou profundamente grato a cada um que fez e faz parte da grande família Bodhidharma ao longo desses 50 anos.”
Apoio cultural
A celebração do Jubileu de Prata do Dojô Bodhidharma só foi possível graças ao apoio inestimável de parceiros culturais que acreditam na relevância do karatê e no poder transformador de sua história. Esses apoiadores contribuíram não apenas para a realização da festa comemorativa, mas também para a produção editorial e gráfica do livro que narra as conquistas, os desafios e os valores que moldaram os 50 anos de existência do dojô. Essa união de esforços reflete o espírito de colaboração e solidariedade que o karatê ensina, garantindo que esse marco histórico fosse celebrado à altura de sua importância.
Pessoas físicas e jurídicas como Benedito Gomes Barboza & Fábio Leandro dos Santos, Carlos Huy, Casa da França, Confederação Brasileira de Karatê Tradicional, Celso Ogasawara, Edmundo Hasselmann Neto, Eros Aldo Villela Lepca, Escrisul Contabilidade, Galeteria Caxias, Giordana de Souza Dal Negro, Hilário Wobeto, Marcos Hiroshi Iwamoto Machuca, Incorp, International Traditional Karate Federation, Leandro Neves / Autentico Pilates, Leonardo Neves Berg do Prado / Allef Santos da Silva / Adeir Gomes, Lorivaldo Nurmberg Batista, Luiz Alberto Küster, Marino Di Giuseppe, Maurício Kopp Arantes Agria, Murilo Conehero Ghizzi e Família, Murilo Martin e Valentina Martin, Palú Advocacia, Sadiomar Santos, Sylvano Rocha Loures Neto, TNK Investimentos e Negócios Imobiliários, Wotroba Estratégia Patrimoniais, Vinicius Sant Ana Pinto, o Vina, e Cláudio de Macedo Portugal Kotaka uniram esforços para tornar essa celebração possível. Eles representam mais do que simples apoiadores; são verdadeiros protagonistas na valorização e perpetuação dos princípios e da filosofia do karatê.
Cada contribuição, seja individual ou coletiva, reafirma o compromisso com a preservação de uma história construída com dedicação, disciplina e amor ao caminho das mãos vazias. Graças a essa rede de colaboração, o Dojô Bodhidharma segue fortalecendo sua missão de formar cidadãos e transmitir o legado do karatê tradicional para as futuras gerações.
Clique AQUI e acesse a pasta de fotos do jantar comemorativo do jubileu de ouro da Academia Bodhidharma.