18 de novembro de 2024
Aikidô dá adeus ao sensei Teruo Nakatani, pioneiro da modalidade no Brasil
Precursor do aikidô no Brasil, antes de deixar o Japão treinou com o o-sensei Morihei Ueshiba, criador da modalidade, e nos anos 1960 fundou o primeiro dojô do País, no Rio de Janeiro
Por Paulo Pinto / Global Sports
5 de dezembro de 2022 / Curitiba (PR)
Nascido na província de Uryū, Norte do Japão, em 29 de julho de 1932, sensei Teruo Nakatani iniciou a prática das artes marciais no judô quando cursava o ensino médio, em Asahikawa, base militar do 7º Batalhão do Exército Imperial. Naquele tempo, a modalidade criada por Jigoro Kano era a arte mais popular no Japão, pois a prática do kendo (espada) estava proibida pelas forças de ocupação dos Estados Unidos, que haviam vencido a guerra.
Posteriormente Nakatani passou a teinar karatê e somente teve contato com a nova modalidade quando entrou na faculdade, onde conheceu o sensei Tada, roku-dan 6º dan de aikidô, e nunca mais parou. Posteriormente treinou com alguns dos renomados nomes do Aikikai Hombu Dojo, entre os quais estavam os professores Tohei, Tamura, Kobayashi, Sugano, Chiba, Saotome e Yamada. Após alguns anos, quando já era ni-dan (2º dan), passou a assistir às aulas do o-sensei Morihei Ueshiba, fundador do aikidô.
Segundo Nakatani, o velho edifício do Hombu Dojo era uma casa de madeira e no fim do ano fazia muito frio, mas o o-sensei comparecia sempre de manhã para dar a primeira aula. Em uma hora de treino ele chegava a falar 30 minutos sobre filosofia e espiritualidade. Os 30 minutos finais eram dedicados aos treinos que, invariavelmente, eram comandados por sensei Tamura, seu assistente.
A saga de Teruo Nakatani sensei no Brasil começou em 1960, e já em 1961 dava aulas de aikidô no dojô de judô de Ogino sensei tendo sido o primeiro japones a ensinar aikidô no Brasil. Após três anos foi convidado pela lenda do judô carioca, o francês Geroge Mehdi (1934/2018), para dar aula em seu dojô e a partir daí o crescimento do aikidô no Brasil foi vertiginoso.
Em entrevista concedida ao Jornal do Brasil em 1º de dezembro de 1970, ou seja, há meio século, sensei Teruo Nakatani fez a seguinte afirmação: “A concorrência no Ocidente causou tanto dano que não existem psiquiatras suficientes para tratar de todas as pessoas cujas mentes não aguentam as ansiedades do dia a dia. Estudantes competem, funcionários competem em seus empregos, irmãos competem para ganhar maior atenção dos pais. É uma luta eterna contra o semelhante. No aikidô isso não ocorre: cada um é amigo e ajudante.”
Posteriormente sensei Nakatami fundou seu dojô e, segundo o shihan nanai-dan (7º dan) Wagner Bull, foi a partir daí que ele pavimentou o caminho para as gerações seguintes de aikidocas do Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, tendo sido o orientor de grandes mestres como Martins, Pedro Paulo e José Santos, que foram os pioneiros na introdução do aikidô no Distrito Federal.
“Devido a um problema no joêlho entre outras circustâncias, o professor Nakatani deixou de ensinar no fim da decada de 70, mas trouxe para o Rio de Janeiro o mestre Ichitami Sakanashi para sucedê-lo, este que formou muitos faixas pretas atualizou tecnicamente a prática segundo o que era praticado no Japão e e atualmente está radicado em Minas Gerais”, detalhou Bull que lamentou o passamento do professor Teruo.
“Na manhã da última quarta-feira (30) recebemos a triste informação do falecimento de sensei Teruo Nakatani. Nossas condolências à família e amigos. Uma grande perda para o aikidô do Brasil. Nakatani foi o verdadeiro introdutor da modalidade em nosso País e primeiro a abrir um dojô no Rio de Janeiro. A saudade eterniza a presença de quem se foi e o professor Teruo sempre será lembrado pelo pioneirismo e por ter sido o primeiro aikidoka genuinamente formado no Aikikai de Tóquio a transmitir conhecimento sobre o Aikido no Brasil.”
Cabe resaltar que, oficialmente, o professor Reichin Kawai foi o primeiro a ser reconchecido como o representante oficial do Aikikai no País, conforme informou o praticante mais antigo na ativa do Brasil, o shihan Bull acima citado que, com 54 anos de prática foi testemunha viva desta historia. Bull concluiu destacando o grande apoio que o sensei José Santos, diretor do Instituto Nakatani sempre consignou ao seu mestre nos ultimos anos.