Almoço com o presidente estimula o diálogo e revela novos caminhos para a gestão

Sílvio Acácio quer ouvir todos os segmentos da modalidade

Encontro inédito reuniu representantes das áreas técnica, arbitragem e administração, propondo maior diálogo e participação dos representantes de todos os setores no processo de inovação e evolução do judô nacional.

Gestão Esportiva
03/10/2017
Por PAULO PINTO | Fotos BUDOPRESS/CBJ
Curitiba – PR

A programação do campeonato brasileiro sub 15 apresentou uma ação inédita: o almoço com o presidente. O encontro inovador visou a estreitar a relação entre todos os segmentos que compõem o cenário esportivo do judô verde e amarelo.

Idealizado por Sílvio Acácio Borges, presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), o diálogo encurta as distâncias entre os diversos setores que permeiam a área competitiva, aproximando todos os profissionais que exercem protagonismo no âmbito da competição.

Realizado no dia 19 de agosto, no Centro Pan-Americano de Judô em Lauro de Freitas (BA), o encontro reuniu representantes das áreas técnica, arbitragem e gestão. Todos foram convidados diretamente pelo presidente da CBJ.

A troca de informações foi o ponto alto do encontro

Representando a classe dos técnicos sentaram-se à mesa os professores Tiago Valladão (SP), Expedito Falcão (PI), Emerson Soares (RN), Adriana Capela (SC) e Jorge Yamakawa (MS). O campeão mundial juvenil, Aldi Oliveira, representou os atletas, enquanto Marcelo Ornellas, presidente da Federação Baiana de Judô (Febaju), representou os dirigentes estaduais e a árbitra Lorena Nascimento Antonelli, do Mato Grosso, falou pelos árbitros. Matheus Theotônio, gestor nacional de eventos, e Sílvio Acácio fecharam o quadro representando os diversos departamentos que compõem a gestão da CBJ.

Matheus Theotônio explicou o porquê desta ação inédita nas categorias da base e qual é a importância dela.

“Atendendo à solicitação do presidente, convidamos os técnicos da base que atuaram no campeonato brasileiro sub 15 com maior retrospecto em competições internacionais juvenis e juniores. O principal objetivo deste almoço foi fazer com que passassem a conhecer e entender de forma mais ampla a gestão dos vários setores da CBJ, e para que nós também pudéssemos conhecer melhor a realidade do trabalho que eles desenvolvem em seus Estados”, explicou Theotônio.

Aldi Oliveira mostra o ouro conquistado no mundial realizado do Chile, ao técnico Jorge Yamakawa

Para o presidente da Confederação Brasileira de Judô, uma interação maior entre os vários segmentos da modalidade deverá projetar o Brasil no cenário internacional.

“Esta troca de informação e aproximação é superimportante. Acabamos de conquistar um campeonato mundial juvenil, que ainda é fruto do excelente trabalho da equipe capitaneada pelo professor Paulo Wanderley, mas se quisermos avançar ainda mais no cenário competitivo internacional teremos de desenvolver esforços cada vez maiores para nos mantermos no topo da modalidade em todas as classes, e esta ação atende a este objetivo”, disse Sílvio Acácio.

“Reunimos técnicos com histórico expressivo na base porque entendemos que são eles que em seus Estados desenham o presente e o futuro da modalidade, identificando, burilando e lapidando os talentos que surgem. Convidamos uma árbitra jovem e um dirigente estadual bastante jovem também porque, além de um futuro bastante promissor, ambos exibem enorme talento naquilo que fazem”, pontuou o presidente da CBJ.

Na avaliação dos técnicos que participaram do encontro, o almoço com o presidente foi um divisor de águas na relação entre gestores da CBJ e os técnicos de todo o país

Na avaliação de Matheus Theotônio, a participação de todos os segmentos certamente dará enorme contribuição ao processo evolutivo da modalidade.

“Este tipo de ação é importante porque durante o evento estamos sempre correndo e não temos tempo para dar mais atenção aos técnicos, árbitros e demais segmentos. Penso que um momento de conversa paralela fora da competição favorece essa relação. Um maior contato pode precipitar boas ideias – pois temos certeza de que todos possuem boas ideias – e a nossa intenção é estarmos abertos para que todos os segmentos envolvidos possam opinar. No que depender de nós, estaremos disponíveis para atender as boas sugestões”, concluiu o gestor de eventos da CBJ.

O dirigente nacional lembrou que uma das principais funções da gestão é fazer com que os melhores trabalhos sejam identificados e oportunizados.

“A gestão da base possui hoje uma estrutura independente, com receita e projetos próprios, o que nos permite avançar a passos largos rumo aos pódios das disputas internacionais. Estamos alcançando resultados cada vez mais expressivos e só no mundial sub 18 disputamos quatro finais e conquistamos um ouro, três pratas e dois bronzes. Contudo, o mais importante é a origem de cada medalha. O Aldi Oliveira conquistou a primeira medalha de ouro em mundial juvenil para Brasil e para o Rio Grande do Norte, e esta conquista tem um valor incomensurável. Temos de pensar o judô de forma plural e igualitária, pois os talentos estão em todo lugar e em todos os Estados. Nossa função como gestores é proporcionar a todos a possibilidade de expor o trabalho que é feito nos Estados”, enfatizou Sílvio Acácio.

Marcelo Ornellas e Matheus Theotônio

“Nossa proposta neste almoço foi promover uma convergência de ideias e propostas, reunindo representantes de todas as áreas para discutir o judô e a nossa realidade atual, para num segundo momento podermos projetar o judô de amanhã. Até há bem pouco tempo a prática do judô era restrita à elite. Mais do que nunca estamos mostrando que ele não é apenas mais um esporte. O judô possui enorme apelo social e foi criado essencialmente para atender as pessoas. Sua massificação em nosso País certamente permitirá que milhões de jovens nos ajudem a reconstruir um País melhor, por meio da prática esportiva”, concluiu Borges.

Técnicos elogiam ação inédita

Aos 34 anos, Thiago Valladão Fernandes é técnico da equipe São João Tênis Clube/Apaja/Prefeitura da Estância de Atibaia e coordena projetos socioeducativos que atendem 1.100 jovens aproximadamente. Ele é um dos que acreditam em que a maior união de todos os segmentos precipitará novo momento para o judô brasileiro no cenário internacional.

“Entendo que a aproximação de todos os envolvidos na modalidade é superimportante. Fiquei muito feliz com esse convite para almoçar com este grupo durante a realização do campeonato brasileiro sub 15. Acredito que cada setor possui sua importância dentro do judô, mas nenhum prevalece sobre o outro. Formamos uma corrente e devemos estar cada vez mais unidos no sentido de atingirmos os objetivos traçados”, disse Valladão.

Aldi Oliveira e Sílvio Acácio na sala da presidência do Centro Pan-Americano de Judô

Em seu currículo o técnico de Atibaia ostenta centenas de medalhas nacionais e continentais, além de dois vice-campeonatos mundiais juniores, com Águeda Silva (2010 e 2011) e um bronze com Nathalia Brígida (2010). Em mundiais juvenis o jovem técnico paulista ostenta um bronze com Jéssica Silva (2015) e dois sétimos lugares com Mike Pinheiro e Bruno Watanabe (2015).

Otimista, Valladão concluiu lembrando que uma evolução maior do judô no cenário olímpico passa necessariamente pela união de todos os segmentos.

“Este tipo de ação e atitude mostra cada vez mais porque o judô é o esporte de melhor retrospecto olímpico do Brasil. O judô do papel, hoje, é tão importante quanto o judô dos tatamis e, se não houver esta aproximação e este alinhamento contínuo, as coisas poderão perder-se. Cada um vai caminhar para um lado, todos se distanciarão, e a evolução da nossa modalidade acabará não acontecendo. Parabenizo esta atitude da nova gestão da CBJ. Estou certo de que, com ações como esta, o judô do Brasil estará colhendo resultados ainda maiores”, ensejou Thiago Valladão.

Nascido em 14 de fevereiro de 1970 em Teresina (PI), o técnico Expedito Falcão coleciona centenas de títulos nacionais, continentais e mundiais. Sua atleta Sarah Meneses foi o maior destaque esportivo de todos os tempos em seu Estado, o Piauí. Foi bicampeã mundial júnior na Tailândia em 2008 e em Paris, em 2009. Até hoje é a única judoca do Brasil bicampeã mundial júnior. Posteriormente Sarah foi campeã sênior no mundial de 2010, em Tóquio. Obteve o bronze nos mundiais de Paris em 2011 e no Rio de Janeiro, em 2013. Sarah foi a primeira judoca mulher a sagrar-se campeã olímpica em Londres 2012.

O encontro ratificou a importância de todos os setores que permeiam a modalidade

“Achei superimportante a ação desenvolvida pelo presidente Sílvio Acácio. Entendo que seu grande diferencial é colocar as pessoas certas para atuar no dia a dia da modalidade, pessoas que estão garimpando os talentos que surgem no judô brasileiro. A iniciativa de colocar representantes dos técnicos, árbitros e atletas nas mesas de honra na abertura das competições é extremamente emblemática. Vejo tudo isto de forma salutar e de muita competência”, disse Falcão.

“Encontros como este têm potencial gigantesco porque as pessoas que estão no topo e na base da pirâmide veem as coisas de forma diferente. Em nossos Estados sabemos quais são as dificuldades que um atleta encontra para treinar e locomover-se. Nesse sentido, falar com o Sílvio, o principal gestor da modalidade, é muito importante. Eu só tenho a agradecer a esta nova gestão da CBJ, que está dando continuidade ao que já foi feito para que o judô cresça e fique cada dia mais forte”, finalizou o técnico piauiense.

Representante dos atletas exalta novo momento da gestão

Medalhista olímpico em Londres 2012 e no Rio 2016, Rafael Silva, o Baby, representante dos atletas junto à Confederação Brasileira de Judô, avaliou positivamente o almoço com o presidente, bem como as demais inovações promovidas pela atual gestão.

“Minha opinião sobre a nova gestão da CBJ reflete a mesma visão que a grande maioria dos atletas do alto rendimento tem externado nestes seis primeiros meses de administração. Estamos sempre vivenciando a competição e viajando pelo planeta, nos atemos exclusivamente ao alto rendimento e ao desempenho competitivo. Mas, sabemos que o judô não é apenas isto. O judô começa na base, na academia, que muitas vezes é uma escola pequena e com pouca estrutura”, afirmou.

Sílvio Acácio Borges e Rafael Silva

Para Baby, é de extrema importância desbravar e direcionar o judô como um todo, e esse é o papel da CBJ. “Uma iniciativa como esta, que promove uma aproximação entre técnicos, clubes, atletas, árbitros e gestores, é de extrema importância e relevância, para que o presidente e todos que fazem a gestão possam perceber claramente do que essas pessoas precisam em seus respectivos Estados.”

Sabendo que o momento do País, principalmente no esporte, é bastante delicado depois de tanto investimento olímpico, Baby reconhece que a preparação para o mundial de Budapeste foi muito boa e não deixou nada a desejar. “As competições lá fora continuam e o Brasil está atuando dento daquilo que sempre fez. Os treinamentos também estão acontecendo, e o judô continua trilhando um ótimo caminho, focando os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020”, comentou o representante dos atletas junto à CBJ.

O medalhista de prata por equipe em Budapeste está bastante animado com tudo que foi feito nos primeiros 180 dias desta gestão. “O professor Sílvio Acácio está fazendo uma excelente administração, e tem tudo para continuar o legado deixado pelo professor Paulo Wanderley. Isso passa pelas melhorias e toda a revolução que o judô experimentou na última década. Estamos vivendo um bom momento e espero que isso continue não só no alto rendimento, mas no judô como um todo”.

Inovações simples como o almoço com o presidente e a formação das mesas de honra em eventos nacionais mostram, segundo o atleta, um pensamento mais plural e equitativo envolvendo todos os segmentos da modalidade. “Há também um trabalho fantástico sendo feito por meio dos projetos sociais”, concluiu. “Com certeza todo este diálogo com pessoas de várias posições trará ótimos resultados, colocará mais atletas no alto rendimento, e os judocas poderão sonhar com uma carreira muito mais promissora no esporte.”