Amadorismo faz CBJ perder a arena G3 e realizar o Brasileiro Sênior em ginásio inadequado

A belíssima baia de Balneário Camboriú

Sem um termo de cessão que oferecesse garantia à CBJ, a Arena Barra Multieventos, uma das mais modernas do País, receberá a Taça Libertadores da América de Futsal

Gestão Esportiva
1º de novembro de 2019
Por PAULO PINTO
Fotos BUDÔPRESSLINDA GOMES/FEBAJU – DIVULGAÇÃO
Curitiba – PR

Em 10 de outubro a Budô publicou matéria lembrando que faltavam 50 dias para o Campeonato Brasileiro Sênior, principal competição desta classe no Brasil, e que a gestão de eventos da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) ainda não havia definido uma sede. Com isso, centenas de atletas e equipes inscritos na disputa deixaram de adquirir passagens aéreas e até mesmo reservas em hotéis com preços mais acessíveis.

A arena Barra Multieventos Hamilton Linhares Cruz possui excelente estrutura

Depois de termos sido achincalhados pela cúpula da CBJ, e sermos acusados de faltar com a verdade e produzir fake news, os dirigentes falaciosos publicaram outline confirmando a competição na data prevista, na Arena Barra Multieventos Hamilton Linhares Cruz (G3), em Balneário Camboriú (SC), uma das mais modernas e confortáveis da Região Sul. Além das excelentes instalações internas, a arena possui amplo estacionamento e excelente infraestrutura em seu entorno.

Para nossa surpresa, nesta terça-feira (29) a gestão de eventos da CBJ publicou novo outline e vimos que o local havia sido alterado. Fizemos contato com Fundação Municipal de Esportes de Balneário Camboriú (FME), e fomos atendidos pela responsável pelo agendamento dos eventos nas arenas do município.

Inicialmente a atendente informou que a principal arena da cidade sediará um evento da Federação Catarinense de Futsal, e explicou que o Campeonato Brasileiro de Judô seria realizado no Ginásio Multieventos Sérgio Lorenzato (G2), uma arena antiga, pequena e muito acanhada para receber um evento de magnitude nacional, que terá cobertura de TV. Midiaticamente falando, a perda da arena principal representa um grande retrocesso devido às limitações físicas e estruturais do espaço.

Além de não possuir estacionamento e local para receber as equipes, que em sua maioria chegam em ônibus, o ginásio Sérgio Lorenzato não dispõe de infraestrutura em seu entorno, o que dificultará ainda mais o acesso e a vida dos chefes das equipes que irão a Santa Catarina.

Sílvio Acácio Borges, o catarinense presidente da CBJ

Federação Catarinense de Futsal chegou muito na frente

A Budô fez contato com a diretoria da Federação Catarinense de Futsal (FCF) e foi atendida por João Carlos de Souza, presidente da entidade, que detalhou a negociação feita com a Fundação Municipal de Esportes de Balneário Camboriú.

“Não estou entendendo. Como a CBJ pôde ter reservado uma data em outubro, se a nossa reserva foi efetuada no primeiro semestre? Nós não vamos realizar um evento local. Estamos falando de um evento com as chancelas da Federação Internacional de Futebol (FIFA) e da Conmebol. Vamos realizar a Taça Libertadores da América de Futsal”, explicou o dirigente catarinense, que ainda falou sobre a abrangência do certame.

“Representantes de ambas as entidades internacionais já estiveram em Balneário Camboriú e realizaram a vistoria na arena e nos hotéis que receberão as equipes e o staff da organização. Até onde eu sei, os contratos firmados pela federação internacional possuem multas milionárias. Sinceramente não consigo compreender de onde os dirigentes judocas tiraram isso de realizar o evento na mesma data na Arena Barra Multieventos”, explicou o dirigente da FCF.

Uma arena de primeiro mundo

Moisés Penso se exime de qualquer responsabilidade sobre o evento

Falamos com o professor Moisés Gonzaga Penso, presidente da Federação Catarinense de Judô (FCJ), que, por não ter participado da negociação com a autarquia municipal, se eximiu de qualquer responsabilidade sobre o ginásio que receberá a competição.

“A Federação Catarinense de Judô responde pelos certames que promove e realiza. O Campeonato Brasileiro de Judô é um evento do calendário esportivo da CBJ e de inteira responsabilidade da entidade. Ademais, a negociação com Balneário Camboriú não passou por nós. Foi feita diretamente com a confederação brasileira. Estamos apenas acompanhando e colaborando naquilo que nos cabe como federação anfitriã. Sobre o local em si, nós apenas fomos notificados que o evento acontecerá no balneário, e mais nada”, detalhou o dirigente.

Arena que sediará o Brasileiro Sênior de 2019

CBJ não havia assinado nenhum termo de compromisso ou cessão

Falamos com José Berlim, o Juca, representante da CBJ junto à Fundação Municipal de Esportes de Balneário Camboriú, e para nossa surpresa ele confirmou com todas as letras que a Confederação Brasileira de Judô não firmou nenhum documento ou papel que garantisse a realização do campeonato, que terá cobertura da TV.

“Lamentavelmente perdemos a data na arena principal em função de outro evento, e nós não tínhamos assinado nenhum termo de cessão que nos oferecesse maiores garantias”, disse laconicamente o representante da CBJ.

Tentamos obter mais informações sobre o ocorrido com Mariana Dalvesco, superintendente da Fundação Municipal de Esportes de Balneário Camboriú, e com Matheus Teotônio, gestor nacional de eventos da CBJ, mas até o fechamento da reportagem não obtivemos respostas.

Chamado de elefante branco pelo presidente da CPJ, o Centro Pan-Americano deixou de ser a casa do judô para sediar eventos de outras modalidades

Perda de qualidade e credibilidade

Há quase três anos estamos mostrando os graves problemas causados por uma gestão despreparada e fundamentada na vaidade e no ego dos dirigentes que estão à sua frente.

Há um ano a CBJ perdeu o Centro Pan-Americano de Judô e os milhões de reais investidos na construção do equipamento. De quebra, a modalidade ficou totalmente exposta, já que nem mesmo em Santa Catarina, o Estado do presidente da CBJ, a confederação brasileira consegue realizar um evento à altura do padrão que os certames sempre apresentaram.

Levaram mais de dez meses para encontrar uma arena adequada para sediar o Campeonato Brasileiro Sênior, e a poucas semanas do certame os gênios da gestão nacional descobriram que a arena seria utilizada num evento internacional da Conmebol. É muito amadorismo.

A ex-casa do judô brasileiro sediou a Copa Bahia 2017

Não bastasse terem jogado as equipes que compõem a elite do judô nacional no Ginásio do Cruzeiro, na Região Oeste de Brasília, onde foram disputados o Troféu Brasil e o Grand Prix Nacional de Judô, agora os gestores da CBJ lançam a classe sênior em mais uma aventura sem precedentes.

É aquela velha história: os professores Matheus Teotônio e Sílvio Acácio Borges fizeram tudo certinho, mas esqueceram apenas de combinar tudo com a superintendência de Esportes da FME e com os dirigentes da FIFA que a competição aconteceria em Balneário de Camboriú.

O aspecto positivo em mais este imbróglio da CBJ é que tanto o Ginásio do Cruzeiro de Brasília quanto o Ginásio Multieventos Sérgio Lorenzato de Balneário Camboriú revelam a amplitude da visão e o tamanho exato da atual gestão da Confederação Brasileira de Judô.

É estarrecedor perceber a que nível o judô nacional foi lançado. Tudo isso é muito triste e custoso, pois a cada semana a gestão atual consegue apequenar uma entidade que no passado recente era a mais bem-sucedida e estruturada do Brasil.

Até dezembro de 2018 o Centro Pan-Americano de Judô era o maior local de treinamento do judô das Américas e um dos maiores do mundo, um ano depois o Brasil encontra enormes dificuldades para conseguir arenas esportivas com qualidade