Após arritmia e cirurgia, promessa do taekwondo de 19 anos sonha com Paris

Henrique Marques não disputou os Jogos Pan-Americanos de 2023 por uma arritmia cardíaca © Divulgação / COB

Henrique Marques sofreu arritmia cardíaca e ficou fora dos Jogos Pan-Americanos de 2023.

Por Rafael Bizarelo / ge
6 de fevereiro de 2024 / São Paulo (SP)

Aos 19 anos, você vai disputar os Jogos Pan-Americanos em Santiago e é esperança de medalha de ouro para o Brasil no taekwondo. Nos testes antes da viagem, o maior baque da sua vida até aqui: o diagnóstico de uma arritmia cardíaca que te tira da disputa e pode até causar a aposentadoria precoce. Assustador? Henrique Marques viveu o drama na pele, venceu o tratamento e agora quer a superação com uma vaga para as Olimpíadas de Paris, como conta ao Globo Esporte.

Natural de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Henrique Marques vive no bairro onde cresceu, Porto das Caixas. Foi lá que, aos oito anos, conheceu o projeto Energia pra Vencer, que possui parceria com o Craque do Amanhã. Os limites municipais e estaduais eram pequenos para Henrique, que conheceu o mundo graças ao taekwondo.

Com medalhas acumuladas e uma quinta colocação no Mundial de Taekwondo, Henrique tem o sonho de aposentar a mãe como guia. Para o jovem atleta, que já comprou uma casa para a família, proporcionar uma vida melhor aos seus é uma vitória do tamanho do que ganhou no tatame.

– Minha motivação, meu objetivo de vida era dar uma vida melhor para a minha coroa. Eu consegui mudar o plano da minha família, mas eu quero mudar mais ainda. Minha mãe ainda trabalha, e o objetivo da minha vida é aposentá-la. Trabalho dia após dia para conseguir isso. Sempre é bom ter vitórias no tatame, mas vitórias pessoais também.

No caminho rumo ao sucesso no esporte, Henrique viveu um dos maiores dramas que um atleta poderia passar. Classificado para os Jogos Pan-Americanos de 2023, ele fazia testes antes de embarcar para Santiago quando descobriu uma arritmia cardíaca. Segundo o preparador Ariel Longo, treinador do taekwondista, a aposentadoria chegou a ser considerada no caso.

– O Henrique foi considerado um caso raro. Foi estudado e vai se tornar um estudo de caso. O que aconteceu com ele não é normal, não é comum com um garoto da idade dele (19 anos). Foi tão complexo que chegaram a falar de aposentadoria do esporte. Ele não poderia continuar a carreira por conta do risco cardíaco que tinha.

Henrique Marques busca vaga em Paris 2024 © Arquivo Pessoal

De agosto até dezembro de 2023, Henrique Marques viveu na ponte aérea Rio-São Paulo para começar o tratamento, que teve resultado positivo. Em 6 de janeiro desse ano, ele voltou a treinar para participar do camping olímpico. O retorno foi com carga mais baixa até recuperar o ritmo dos treinamentos.

– Foi bem difícil. Eu fiquei muito tempo parado. Eu vinha fazendo um ano muito bom, me superando nas competições, ganhando dos adversários que eram difíceis para muita gente. Aí deu esse baque e parei de treinar. Eu tive que parar e não fazer nenhum esforço físico. Essa volta foi muito difícil para pegar o ritmo de treino, o ritmo de luta. Sem falar que eu estava fadigado. Agora estou bem. Estou pegando esse ritmo de novo e a fadiga tá melhor do que estava.

Em casos como o de Henrique em que aposentadoria chegou a ser cogitada, o medo e a coragem andam juntos no retorno ao tatame. Com semblante tranquilo e calmo, o jovem de 19 anos acredita em si e embarca em uma jornada corajosa de volta às disputas do taekwondo.

– Sou bem tranquilo em relação a tudo. Quando me deram essa notícia dos Jogos (Pan-Americanos), foi um baque muito grande, que era o sonho, era o objetivo do ano. Eu tinha grandes chances de ser medalha de ouro para o Brasil. Aceitei isso tranquilamente e aceitei que eu teria que fazer essa cirurgia. Fiquei muito nervoso no começo pensando como seria, mas a minha médica falou como era o processo, como seria, e isso foi me apaziguando, me dando tranquilidade, e eu fui sem medo para a cirurgia.

Após superar os obstáculos, Henrique caminha agora para garantir a classificação aos Jogos Olímpicos de Paris, que começam em julho. O primeiro passo será nesta terça-feira, no Canadá, e depois nos EUA no dia 12 de fevereiro. As competições servirão para a Confederação Brasileira de Taekwondo apontar os atletas que disputarão o classificatório para as Olimpíadas.

– É o sonho de qualquer atleta que começa no esporte. Isso já é um gás imenso. Essa experiência de superação me motiva. Passei por muita coisa no ano passado… a arritmia, operei o joelho, então todo esse processo das coisas que vêm acontecendo me motiva mais e mais. Estou seguindo, sei que tenho essa chance e vai dar certo.

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