Após oito dias treinando em Katsuura técnicos e atletas avaliam a experiência inédita

Matheus Pereira fazendo randori com judoca japonês

Antes mesmo de partirem para Tóquio, onde treinam no icônico Instituto Kodokan e na tradicional Shutoku High School, membros da equipe paulista elogiaram a estrutura e o conteúdo programático oferecido pela renomada instituição de ensino

Intercâmbio técnico no Japão
18 de outubro de 2019
Por ISABELA LEMOS I Fotos BUDOPRESS
Katsuura – Japão

Após oito dias de treinos na International Budo University, na manhã desta quarta-feira (16) a equipe sub 18 e a comissão técnica paulista viajaram para Tóquio para iniciar os treinos no renomado Instituto Kodokan. O treinamento intenso em Katsuura, na Província de Chiba, contemplou principalmente randoris, de forma que os brasileiros pudessem aprofundar-se na forma como os japoneses se preparam e lutam.

Professor Yoshiyuki Shimotsu

Diariamente, eram realizados exercícios físicos pela manhã (de corrida ou musculação) e, no fim da tarde, treinos de judô, totalizando quase três horas, nos quais havia aquecimento, uchi-komi e diversos randoris. Os meninos precisavam percorrer um percurso de 15 minutos até chegar ao Centro de Pesquisa Nippon Budokan Training Center e as meninas treinavam na própria universidade. Para o feminino, eram aproximadamente 20 randoris por treino. Na segunda-feira (14), a equipe masculina contou com um shiai por equipe, que finalizou com o placar de cinco a quatro para as japonesas.

O professor Paulo Pi explicou que, apesar de a equipe japonesa ter vencido, o resultado mostrou um alto desempenho da seleção paulista, que teve lutas equilibradas com os japoneses. “Nossos atletas ainda são jovens e lutaram com atletas sub 21 e sênior. Se houvesse igualdade, o resultado poderia ter sido diferente. Três lutas do Brasil acabaram por ippon e uma por wazari, contra cinco ippons da equipe do Japão. Estamos lidando com jovens talentos, uma equipe que não é a nacional, mas sim a principal de São Paulo e, mesmo assim, apresentou ótimo resultado.”

Beatriz Furtado fazendo randori com judoca japonesa

Em relação aos treinamentos, o professor tem certeza de que a produtividade dos atletas foi imensa, pois trabalharam intensamente todos os dias, sempre com muitos randoris e atletas faixas pretas. Para ele, é muito difícil encontrar um treino com mais de 60 faixas-pretas de alto nível no Brasil.

“Eles tiveram um treino intensivo através da luta e, para essa molecada que está almejando a seleção brasileira principal, isso foi de extrema importância. No início a adaptação foi muito difícil, mas saíram fortalecidos, lutando de igual para igual. A gente sai daqui muito fortalecido e feliz”, comentou o professor Pi.

Professora Solange Pessoa

O chefe de delegação Yoshiyuki Shimotsu elogiou o acolhimento e a estrutura da universidade, porém, sentiu falta de um trabalho mais didático nos treinos. “Fomos muito bem recebidos e a universidade conta com uma estrutura maravilhosa. Os treinamentos foram ótimos, a experiência valeu para ambas as partes. Eu apenas senti falta de um trabalho didático mais profundo por parte dos professores do Japão. Apenas no treinamento feminino consegui solicitar ao sensei Kensuke Ishii que mostrasse seu tokui-waza (técnica predileta). No masculino, não tivemos essa chance. Eu gostaria que eles mostrassem o que realmente é o judô japonês. Na parte social, os atletas já puderam ver que o Japão é diferente, todos respeitam as normas e horários, por exemplo. Para entender a cultura japonesa, é preciso aprender essas coisas”, afirmou o chefe de delegação.

A professora Solange Pessoa explicou que as garotas enfrentaram um período de adaptação nos primeiros dias, já que os treinos eram de longa duração e contavam com, no mínimo, 20 randoris. Entretanto, elas rapidamente se adaptaram à rotina japonesa. “Foi uma experiência muito rica para elas, principalmente para reverem os treinos que fazem no Brasil. Esta é uma oportunidade única, porque, além de fazerem muitos uchi-comis, randoris de tachi-waza e ne-waza, elas lutavam com pessoas muito diferentes. Além das japonesas, havia meninas da Polônia, Malásia e México. Foi muito proveitoso para elas, mesmo tecnicamente, deu para elas aprenderem algo com as japonesas.”

Sarah Souza fazendo randori com judoca japonesa

Atletas contam suas impressões

Os atletas ressaltaram a educação e atenção dadas pelos japoneses durante os treinos. Para Carlos Macedo, o mais impressionante é a preocupação com o próximo que pode ser percebida no Japão. “O respeito que eles têm é enorme, protegem uns aos outros quando alguém cai nos tatamis e há possibilidade de outra pessoa tropeçar em cima. O nível técnico daqui é muito alto, eles fazem menos força e usam mais a técnica para aplicar o golpe. Eles soltam o corpo quando o outro faz a técnica para auxiliar na hora de realizar o golpe também. Eu pude aplicar golpes que são difíceis para mim no Brasil, como yoko-tomoe e o-soto-gari. Eu nunca esperei vir ao Japão. É minha primeira viagem fora da América do Sul e visitar o país que criou o judô é algo inacreditável. Estou gostando muito, a educação deles é exemplar e algo que eu nunca havia visto”, disse Macedo.

Professores Yoshiyuki Shimotsu e Paulo Pi

Para Sarah Souza, as japonesas sempre recebiam as garotas muito bem e auxiliavam sempre que necessário. “No Brasil, eu treino mais de perto, quase grudada ao adversário. Aqui, consegui lutar mais à distância e aplicar golpes que não eram fáceis para mim e coisas que eu não conhecia. Elas treinam bastante no kumi-kata tradicional, manga e gola”, explicou a atleta, que destacou o comportamento das japonesas. “Elas nos receberam muito bem, são muito educadas, atenciosas e auxiliaram bastante a gente no que precisávamos.”

A atleta Beatriz Furtado acha que os treinos foram muito fortes e renderam. “O que achei mais difícil foi a intensidade dos treinos e as corridas, que não estamos acostumados a fazer no Brasil. As japonesas são muito técnicas, não aplicam muita força, então, pudemos aprender bastante por esse lado. Desenvolvi alguns golpes que eu não conseguia projetar no Brasil, como o sumi-gaeshi, além de jogar para trás, algo que eu não fazia.

Carlos Macedo

Além de avaliar o treinamento positivamente, Matheus Roberto Pereira espera voltar ao Japão em mais oportunidades. “Estamos aprendendo muita coisa nova e levando muitos ensinamentos para o Brasil. O Japão está muito à frente no quesito treinamento. Algumas coisas são bem diferentes, tais como proteger um ao outro. Aqui treinei mais solto e não havia por que treinar forte. A viagem em si está sendo uma oportunidade única para mim, e espero estar aqui mais vezes”, concluiu Pereira.

Professores Paulo Pi, Yoshiyuki Shimotsu e Solange Pessoa