15 de novembro de 2024
As incertezas econômicas das federações mundiais após o adiamento de Tóquio 2020
Certas federações esportivas internacionais, amplamente subsidiadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), enfrentam dificuldades financeiras devido ao adiamento dos Jogos de Tóquio
Gestão Esportiva
5 de abril de 2020
Por AFP I Fotos AFP/Arquivos / Behrouz MEHRI e iStock
Curitiba – PR
Das 33 federações internacionais presentes nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, 28 devem receber apoio substancial do Comitê Olímpico Internacional (COI), mas o adiamento dos Jogos pode levar ao atraso desses pagamentos. Os cinco novos esportes (karatê, surf, skate, escalada e beisebol/softbol) do programa olímpico ficaram fora.
O dinheiro olímpico, que alcançou um total de US$ 520 milhões nos Jogos do Rio-2016, “pode atingir o mesmo nível nos de Tóquio ou diminuir”, diz Andrew Ryan, diretor geral da Associação das Federações Olímpicas Internacionais de Verão (Asoif), encarregado de distribuir esse dinheiro.
Subvenções
Classificadas em cinco grupos de acordo com o público e a importância, as federações recebem subsídios regressivos: cerca de US$ 40 milhões para as maiores (atletismo, natação e ginástica); 25 para o grupo 2 (ciclismo, basquete, vôlei, futebol e tênis); 17 milhões para o grupo 3 (boxe, remo, judô, tênis de mesa), 12 para o 4 (vela, canoagem, esgrima…) e 7 para 5 (rugby, golfe, pentatlo moderno).
Para as maiores, como a Fifa (futebol), que tem US$ 1,5 bilhão ou a FIBA (basquete), que possui US$ 46 milhões em reserva, a ajuda do COI representa uma pequena proporção de sua renda, ínfima para a primeira. Para outras, é vital.
Para as federações como um todo, o adiamento dos Jogos tem um efeito dominó, que implica o reagendamento de suas próprias competições, das quais derivam a parte essencial de sua renda. É o caso do Mundial de Atletismo, que já anunciou o adiamento para 2022 da Copa do Mundo de Eugene (nos Estados Unidos).
A Federação Internacional de Natação (Fina) deve fazer o mesmo com sua Copa do Mundo programada para 2021 em Fukuoka (Japão).
“Uma edição da Copa do Mundo significa dez milhões de dólares para nós. Se essa receita for adiada total ou parcialmente por um ano, teremos grandes problemas, principalmente se o dinheiro do COI, programado para setembro próximo, não chegar”, diz um líder da federação, que pediu para se manter no anonimato.
A Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), com sede em Cingapura, “decidiu reduzir suas despesas e seus altos dirigentes propuseram baixar seus salários”, disse Matt Pound, diretor de marketing da entidade.
A ITTF, que observa que “a maior parte de sua receita vem de suas atividades comerciais e não da ajuda do COI”, suspendeu suas competições até junho. “Isso se traduz em uma perda de lucro que nos coloca na incerteza financeira”, acrescenta.
“O COI vai acabar ajudando, mas o que pesa mais é a incerteza sobre a realização de nossas competições e a manutenção ou não de nossos patrocinadores”, acrescenta Kim Andersen, presidente dinamarquês da World Sailing (de vela).
Adiantar os pagamentos
Primeira solução para as federações: “faça o COI antecipar seus pagamentos”, sugere Andrew Ryan, diretor geral da Associação da Asoif.
Questionado pela AFP, o COI afirma que “não é possível avaliar agora o impacto global” do adiamento dos Jogos de Tóquio. “Isso depende de uma série de variáveis que estão atualmente em estudo”. Segundo um dirigente de federação, “o COI vai tratar caso por caso”.
Outra opção é que as federações solicitem ajuda pública, colocadas em prática para lidar com a crise do coronavírus, na Suíça, sede de muitas delas, mas também na Grã-Bretanha, onde a World Sailing está sediada.
“As federações esportivas podem obter ajuda da Suíça? A resposta é sim, em princípio”, confirmou à AFP Philippe Leuba, conselheiro estadual do cantão de Vaud, encarregado da economia e do esporte.
As federações com sede na Suíça podem deste modo, teoricamente, solicitar ao seu banco uma linha de crédito de até 20 milhões de francos suíços (US$ 20,7 milhões), a uma taxa de juros que varia entre 0 e 1%, e garantida pelo estado suíço.