As medalhas do Pan-Americano Cadete e Júnior 2025 e o futuro dos 36 talentos que brilharam em Lima

O judô brasileiro impôs seu nível técnico nos tatamis de Lima © Judô Peru

Com padrão técnico elevado, a missão brasileira contou com 36 atletas de 21 clubes e 9 estados, encerrando a campanha com 34 medalhas — 22 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze.

Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 21 de abril de 2025

A seleção brasileira de judô fechou o Campeonato Pan-Americano e Oceania Cadete e Júnior 2025 com chave de ouro. Neste domingo (20), após excelente campanha nos dois dias de disputas individuais, os atletas de ambas as classes foram campeões da competição por equipes mistas, adicionando mais dois ouros à bagagem. Enquanto o Cadete superou a Austrália por 4×0 na final, o Júnior protagonizou um clássico emocionante vencendo Cuba de virada por 4×2.

Vencer competições continentais de judô já se tornou uma constante para o Brasil. Isso se deve tanto à qualidade técnica do judô praticado no país quanto à sólida base cultural construída ao longo de décadas. Dois pilares sustentam essa tradição: a expressiva migração japonesa para o Sudeste brasileiro no início do século XX e o fato de o judô ser, historicamente, a modalidade olímpica mais vitoriosa do Brasil. Desde 1972, quando Chiaki Ishii conquistou o primeiro bronze em Munique, o desempenho consistente de nossos atletas tem atraído investimentos proporcionais aos resultados obtidos.

Mas mais importante do que as 34 medalhas conquistadas pelos nossos jovens dedicados e obstinados no Campeonato Pan-Americano e de Oceania Lima 2025 — sendo 22 ouros, seis pratas e seis bronzes — será o cuidado e o investimento feito nesses 36 atletas, que já vêm sendo muito bem atendidos por um plano técnico cuidadosamente desenvolvido pela atual gestão da Equipe de Transição da Confederação Brasileira de Judô.

Nicole Marques comemora a conquista da sua terceira medalha de ouro Lima © Judô Peru

Será, portanto, a amplitude do cuidado, do fomento e do investimento feito nesses jovens que determinará seu futuro no circuito internacional — e, principalmente, sua permanência no shiai-jô.

Potencial técnico

Lamentavelmente, a assessoria de comunicação da CBJ não divulgou os nomes dos atletas que compuseram as equipes mistas e, com isso, não foi possível levantar com exatidão o número e as cores das medalhas individuais e coletivas obtidas por cada judoca. Mesmo assim, sabemos que o grupo foi composto por judocas focados, conscientes de seus objetivos e preparados brilhar no circuito internacional.

Um bom exemplo é a brasiliense Nicole Marques, atleta do Espaço Marques e faixa-preta sho-dan. Filha e aluna do professor kodansha roku-dan (6º dan) Robert Luiz Marques Rodrigues — referência técnica nacional, formado em Ciências e Educação Física, mestre em Ciências da Educação e pós-graduado em atividade física, esporte e lazer —, Nicole voltou de Lima com três medalhas de ouro: foi campeã dos 52kg nas classes Cadete e Júnior, além de integrar a equipe mista Júnior que subiu ao topo do pódio.

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Com um judô técnico e maduro, Nicole se destacou por seu repertório afiado em o-uchi-gari, seoi-nage, tomoe-nage, uchi-mata e por um ne-waza extremamente eficiente. Venceu lutas decisivas no chão, impondo imobilizações e finalizações. Protagonizou, inclusive, um golden score de 11 minutos contra uma peruana nas quartas de final do Júnior — um feito que resume sua resistência física e mental.

Em 2023, Nicole conquistou o bronze no Campeonato Mundial de Cadetes também em Lima e, neste ano, lidera os rankings nacionais Cadete e Júnior da CBJ. Assim como ela, é certo que entre os 36 atletas que integraram a missão ao Peru, outros tantos possuem trajetórias igualmente consistentes e com potencial real de ascensão rumo ao alto rendimento.

Comissão técnica e uniformidade na excelência

A comissão técnica da base foi recentemente reformulada, e é justo reconhecer o esforço de seus membros, que conseguiram imprimir um padrão de excelência nos atletas — oriundos de 21 clubes e 9 estados brasileiros. A uniformidade na atuação das equipes mostra que há método, critério e diretriz clara sendo aplicada.

Equipe brasileira cadete © Judô Peru

A campanha em Lima foi expressiva e reflete não apenas o talento dos atletas, mas a qualidade do planejamento técnico desenvolvido pela atual gestão da CBJ — seja na construção de um ranking nacional justo e estruturado, seja no fortalecimento dos processos de transição da base ao alto rendimento.

As medalhas conquistadas em Lima refletem o trabalho coletivo de base realizado por clubes e instituições espalhados por todas as regiões do Brasil. Estiveram representadas na campanha vitoriosa as equipes Kaizen (AM), Gota de Leite (SP), Grêmio Náutico União (RS), Espaço Marques (DF), Clube de Regatas do Flamengo (RJ), Fusegi Canoas (RS), Clube Sakurá (MS), Minas Tênis Clube (MG), Assamaca (BA), Umbra Vasco da Gama (RJ), Esporte Clube Pinheiros (SP), SESI (SP), São João Tênis Clube (SP), Paineiras do Morumby (SP), Sogipa (RS), Dojokan (PB), Sociedade Esportiva Palmeiras (SP), Instituto Reação (RJ) e AABB Curitiba (PR). São essas instituições, junto aos seus professores, que dão sustentação à excelência técnica e aos valores do judô nacional.

Talento com direção

Esse resultado reforça algo que vai além das medalhas: evidencia o renascimento de uma política esportiva séria, planejada e orientada por resultados concretos. Sob a supervisão experiente de Paulo Wanderley, o judô brasileiro volta a se alinhar com os princípios de mérito, continuidade e renovação. A reaproximação com os valores fundamentais da modalidade — técnica, disciplina, eficiência e visão de longo prazo — projeta o Brasil como uma potência consolidada nas Américas e em ascensão no cenário global.

Nicole Marques exibe as três medalhas de ouro conquistadas no Pan © Judô Peru

O Pan de Lima nos entregou medalhas, sim — mas mais do que isso, entregou uma demonstração clara de que, quando há direção, o talento encontra caminho, e o futuro se constrói no presente.

Brasileiros convocados para o Pan-Americano 2025

SELEÇÃO BRASILEIRA CADETE — EQUIPE FEMININA
40kg — Ana Sena (Kaizen-AM/FEJAMA)
44kg — Giovanna Imhof (Santos Gota de Leite – SP/FPJ)
48kg — Sarah Mendes (Grêmio Náutico União – RS/FGJ)
52kg — Nicole Marques (Espaço Marques – DF/FEMEJU)
57kg — Manuela Maia (C.R. Flamengo – RJ/FJERJ)
63kg — Anna Sperling (Fusegi Canoas – RS/FGJ)
70kg — Mariana Giachini (Clube Sakurá – MS/FJMS)
+70kg — Olivia Oliveira (Minas Tênis Clube – MG/FMJ)

SELEÇÃO BRASILEIRA CADETE — EQUIPE MASCULINA
50kg — Gabriel Cruz (Assamaca – BA/FEBAJU)
55kg — Victor Hugo Silva (Umbra Vasco da Gama – RJ/FJERJ)
60kg — Lucas Yamamoto (E.C. Pinheiros – SP/FPJ)
66kg — Fernando Mitsuda (E.C. Pinheiros – SP/FPJ)
73kg — João Gabriel Moura (SESI – SP/FPJ)
81kg — Ruan Vasconcelos (C.R. Flamengo – RJ/FJERJ)
90kg — César Tristante (São João Tênis Clube – SP/FPJ)
+90kg — Thiago Santos (Umbra Vasco da Gama – RJ/FJERJ)

SELEÇÃO BRASILEIRA JÚNIOR — EQUIPE FEMININA
48kg — Mariana Nunes (Instituto Reação – RJ/FJERJ)
52kg — Nicole Marques (Espaço Marques – DF/FEMEJU)
57kg — Bianca Reis (E.C. Pinheiros – SP/FPJ)
57kg — Gyovanna Andrade (SESI – SP/FPJ)
63kg — Eduarda Bastos (Paineiras do Morumby – SP/FPJ)
70kg — Carolina Marcon (Sogipa – RS/FGJ)
70kg — Maria Oliveira (Dojokan – PB/FEPAJU)
78kg — Dandara Camilo (S.E. Palmeiras – SP/FPJ)
+78kg — Ana Gabrielle Soares (Instituto Reação – RJ/FJERJ)

SELEÇÃO BRASILEIRA JÚNIOR — EQUIPE MASCULINA
60kg — João Delena (SESI – SP/FPJ)
66kg — Bruno Nóbrega (E.C. Pinheiros – SP/FPJ)
73kg — Matheus Nolasco (Sogipa – RS/FGJ)
81kg — Enzo Trombini (E.C. Pinheiros – SP/FPJ)
90kg — Jesse Barbosa (Sogipa – RS/FGJ)
90kg — João Segatelle (E.C. Pinheiros – SP/FPJ)
100kg — Gustavo Milano (AABB Curitiba – PR/F.PR.JUDÔ)
+100kg — Andrey Coelho (Grêmio Náutico União – RS/FGJ)
+100kg — Gabriel dos Santos (Instituto Reação – RJ/FJERJ)

COMISSÃO TÉCNICA
Maria Portela — Treinadora
Erika Miranda — Treinadora
Thiago Valladão — Treinador
Douglas Potrich — Treinador
Thiago Ferreira — Fisioterapeuta
Marcelo Theotonio — Chefe de Delegação
Bruna Muassab — Chefe de Delegação

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