15 de novembro de 2024
Atual campeã da PFL, Kayla Harrison culpa Dana White por não estar lutando no UFC
A bicampeã olímpica de judô diz já estar preparada e pronta para provar ao mundo seu valor como lutadora
Por Adriano Albuquerque e Zeca Azevedo / Globo Esporte
26 de junho de 2021 / Rio de Janeiro (RJ)
O currículo de Kayla Harrison é melhor que o de muita gente que está no UFC. Para começar, ela é bicampeã olímpica do peso meio-pesado de judô. No MMA, a norte-americana está invicta em nove lutas profissionais, é a atual campeã da PFL e conta duas vitórias sobre Larissa Pacheco, ex-Ultimate.
Apesar disso tudo, o chefão do UFC, Dana White, declarou recentemente que acha que a lutadora não está pronta ainda para lutar em seu evento. “É muito mais difícil aqui”, comentou. Ele afirmou que já fez ofertas, mas que a equipe de Harrison as rejeitou. A bicampeã olímpica deu uma pista do porquê esta negociação não tenha se concretizado ainda.
“Quando Dana estiver pronto para me pagar muito dinheiro, vou fazer muito dinheiro para ele. Sei que estou pronta e preparada. Não me preocupo com isso, não penso muito nisso. Sei que o tempo vai provar a todo mundo que estou certa” disparou a lutadora americana em entrevista ao Combate.
Existe outro obstáculo para a ida de Kayla para o UFC: o peso. Na PFL, a americana luta no peso-leve (até 70,3kg), já bem mais leve que o peso com que competia no judô (78kg). Mas a categoria feminina mais pesada que o Ultimate promove é o peso-pena (até 65,8kg). Harrison já competiu nessa divisão uma vez no final de 2020, quando foi emprestada pela PFL para lutar no Invicta FC.
“Acho que é provável que eu vá lutar no peso-pena no futuro. O tempo vai dizer. Ando com cerca de 75kg, então não vai ser divertido, não vou curtir, mas sou profissional e sei que posso cortar o peso se precisar. Só não acho que é algo bom para fazer por muito tempo durante sua carreira. Acho que não manda a mensagem correta para as crianças, não é algo que eu queira fazer. Mas para conquistar meus objetivos, é algo que terei de fazer.”
No peso-pena, a rainha é Amanda Nunes, sua companheira de equipe na American Top Team. As duas chegaram a fazer treinos de sparring juntas quando Kayla chegou na academia, mas não o fazem mais – tanto por diferenças de agendas, como pelo potencial de uma luta entre elas no futuro. Amanda já disse ter interesse no desafio, mas Harrison agora prefere não botar lenha na fogueira.
“Obviamente ela é a melhor (de todos os tempos), acho que não há dúvidas disso, e é algo que me perguntam muito. Acho que a melhor resposta é que isso são negócios e o que acontecer, aconteceu, mas por ora ela está no UFC, é a campeã dupla do UFC, eu estou na PFL e sou campeã, tenho uma temporada difícil pela frente, ela tem uma luta dura por vir, então vamos levar uma luta de cada vez”.
Confira mais temas comentados por Kayla Harrison na entrevista ao Combate:
Fim das comparações com Ronda Rousey
– As pessoas seguiram adiante. Ronda seguiu com sua vida, não está mais envolvida com MMA. Ela sempre será parte da história do MMA, especialmente no feminino, mas além de sermos duas judocas louras, somos muito, muito diferentes. As pessoas finalmente estão reparando nisso.
Diferenças de estilo entre ela e Ronda
– Francamente, não sou tão espetacular. Sou uma lutadora inteligente, devagar, metódica, vou te cansar e te quebrar e fazer ground and pound até eu ver uma finalização ou vou continuar te batendo. Para muita gente, provavelmente não sou tão empolgante, porque não faço chaves de braço voadoras loucas ou algo assim! Mas meu objetivo é vencer e ser a melhor, não é ser famosa, receber atenção ou levar o esporte (para cima). Ela já fez esse trabalho duro, agora meu trabalho é só vencer e continuar subindo.
Arte marcial favorita depois do judô
– Eu amo todas! É tudo empolgante. Naturalmente, sou melhor no wrestling e jiu-jítsu, o lado de grappling, mas adoro o muay thay, kickboxing, boxe. Adoro todas! Vou trabalhar empolgada todos os dias, não tem nada que eu não goste de fazer. Amo todos os meus treinos, todos os meus treinadores, meus colegas. Todo dia é Natal para mim.
– Mais do que tudo, é o “problema do MMA” que eu gosto. É quando você junta tudo e tem que sempre estar alerta, sempre tem que estar com as mãos erguidas, sempre tem que estar pronta. É isso que realmente gosto. É descobrir como impor minha vontade sobre minha adversária sem ser nocauteada, sem ser derrubada ou finalizada. É o maior desafio e é por isso que é tão empolgante.
A chegada à American Top Team
– Fui a várias academias quando comecei. Eu treinava em Boston na época, mas logo entendi que não chegaria onde queria treinando lá. Então fui à academia do Frankie Edgar, fui a Vegas e vim pra cá. Quando vim para a American Top Team, logo percebi que era o encaixe perfeito para mim. É a melhor academia no mundo, as melhores lutadoras do mundo treinam aqui, alguns dos melhores treinadores do mundo estão aqui, e amei. Mais importante, eles têm um sistema. Eles têm um mapa para ser bem sucedido e vencer.
Segredo da rápida adaptação ao MMA
– Sou obcecada em ser a melhor. Eu estou na academia treinando pelo menos duas vezes por dia, às vezes mais. Comecei a treinar em 2017 e em 2018 já tinha me mudado pra cá e estava fazendo sparring com Amanda, treinando com os melhores treinadores do mundo, e estava na academia todos os dias. Parece fácil, mas é muito trabalho duro e muitas mentes inteligentes. O que é muito bom dos meus treinadores é que eles não tentam me mudar. Eles não tentam me tornar uma striker ou uma kickboxer, não tentam me fazer dar chutes rodados. Eles continuam desenvolvendo meu jogo para que fique cada vez melhor a cada luta. E eventualmente, espero chegar ao ponto que eu seja uma grande trocadora e possa dar chutes rodados. Mas por ora o objetivo é ser a melhor. Você tem que pegar o seu ponto forte, sua fundação, e construir em cima disso. E acho que também é minha mentalidade, trago a mentalidade de uma campeã olímpica. Nada é bom o bastante, nunca estou feliz com o OK, quero ser perfeita todas as vezes. Treino perfeito leva à perfeição.
Luta contra Cindy Dandois
– Cindy é uma judoca, ela tem muita experiência, é uma veterana do esporte. Para ser sincera, estou um pouco chateada, ela era a única que eu não queria enfrentar, porque acho que ela teve uma estrada muito difícil. Ouvi uma entrevista dela que disse que ela tem seis filhos, ela está nos EUA treinando sem eles, e sua mãe acabou de morrer de câncer… pensei, “Cara, não quero enfrentá-la!” Porque sei também que é a última corrida dela, ouvi que vai se aposentar quando terminar a temporada. Não quero ser quem vai fechar o caixão. Mas negócios são negócios, é o meu trabalho e estou pronta.
Possível trilogia com Larissa Pacheco na final da PFL
– Tenho muito respeito pela Larissa, acho que ela é uma lutadora incrível. Mas de forma egoísta, eu gostaria de enfrentar outra pessoa diferente, só para continuar a ganhar experiência e enfrentar adversárias diferentes. Já venci duas lutas contra ela e acho que não perdi nenhum round. Só para mudar um pouco com uma adversária diferente. Mas tenho quase certeza que ela vai à final, não vou receber meu desejo (risos).