20 de novembro de 2024
Boxeadora vítima de polêmica de gênero nas Olimpíadas, Imane Khelif é capa em editorial de moda
Medalhista de ouro em Paris 2024 sofreu com notícias falsas de que seria trans, e foi homenageada em um editorial da Vogue.
Por Redação do ge
1º de novembro de 2024 / São Paulo, SP
Vítima de uma polêmica de gênero nas Olimpíadas, Imane Khelif é a estrela do editorial de novembro em uma das revistas de moda mais famosas do mundo. Medalhista de ouro na categoria até 66 kg, a boxeadora argelina sofreu com notícias falsas de que seria trans nos Jogos de Paris, e foi homenageada pela Vogue Arábia. Confira as fotos abaixo.
Imane foi atacada com discursos de ódio nas Olimpíadas de Paris após informações falsas de que ela não seria mulher. A boxeadora se tornou o centro de uma briga da Associação Internacional de Boxe (IBA) com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Mesmo apoiada pelo COI, que confirmou o gênero da boxeadora respaldado por critérios médicos, Imane seguiu sofrendo ataques nas redes sociais e tendo a sua identidade questionada.
Depois de sofrer com tudo isso nas Olimpíadas, Imane Khelif se manteve firme e conquistou o ouro ao vencer a chinesa Liu Yang na final do boxe na categoria até 66kg.
Uma das revistas de moda mais reconhecidas mundialmente, a Vogue homenageou a boxeadora na edição deste mês. Imane foi a capa do editorial de novembro na Vogue Arábia e teve a edição dedicada à ela. Em entrevista à revista, a campeã olímpica contou sua história de vida e relembrou a polêmica e a conquista do ouro nas Olimpíadas de Paris.
— Apesar de ganhar a medalha de ouro, aquele acontecimento pareceu uma vida inteira. As experiências foram múltiplas e variadas num incidente isolado. Consegui superar tudo graças à minha fé em Deus, em mim e no meu sonho. Sem esses desafios, eu nunca teria me tornado uma campeã — disse Imane à revista.
Após conquistar o ouro nas Olimpíadas de Paris, Imane anunciou no último mês que vai migrar para o boxe profissional, na categoria meio médio (até 66 kg). A atleta não falou quando deve estrear na nova competição, mas disse que dará esse passo “em breve”.
Relembre a polêmica
A participação da Imane Khelif nos Jogos de Paris foi envolvida em polêmica desde o início, devido à decisão da Associação Internacional de Boxe (IBA) de bani-la do Mundial amador de 2023. A entidade justificou a exclusão com o argumento de que a atleta não cumpre requisitos de elegibilidade para competir entre mulheres. Imane foi submetida a um teste de gênero pela IBA e o presidente da associação, o russo Umar Kremlev, afirmou que a argelina teria cromossomos XY, masculinos. No entanto, não divulgou o resultado oficial.
Kremlev disse ainda que o nível de testosterona das duas pugilistas, referindo-se a Imane e à chinesa Lin Yu-ting, é “muito alto” e que os resultados dos testes realizados pela entidade “mostram que elas são homens”.
Vale ressaltar que testosterona alta em mulheres pode surgir com problemas de saúde, como a síndrome dos ovários policísticos, por exemplo. E no caso dos cromossomos, há também mulheres XY e homens XX, quando diagnosticados com a síndrome Swyear.
O torneio olímpico de boxe foi realizado sem influência da IBA, que perdeu sua certificação junto ao COI no ano passado devido a pendências de governança, finanças e ética. E o COI deu à argelina e à chinesa autorização para voltar aos ringues, reforçando que Imane e Lin Yu-ting foram aprovadas nos critérios médicos da competição, que são mulheres e que não se tratam de casos de atletas transgênero. O pai de Imane Khelif, inclusive, chegou a mostrar a certidão de nascimento da filha à imprensa francesa.
A autorização do COI, entretanto, não encerrou a escalada dos ataques à Khelif. Em sua estreia, a italiana Angela Carini abandonou a luta em 46 segundos alegando dor intensa no nariz após sofrer dois golpes no rosto. A desistência da italiana motivou uma onda de discurso de ódio e circulação de boatos e notícias falsas alegando que Khelif seria uma atleta transgênero.
O COI lamentou a propagação de desinformação e reafirmou que a atleta cumpria seus requisitos para competir nas Olimpíadas. Em guerra política com o COI, a IBA anunciou que concederia a Angela Carini premiação equivalente à de uma medalha de ouro.
Khelif nasceu menina e cresceu mulher cis – identificada com o gênero que foi atribuído a ela quando nasceu. Na infância, inclusive, criada em uma vila rural, não pôde participar de esportes porque o pai “não aprovava boxe para meninas”. Não se trata, portanto, de uma questão de atleta transgênero. Algo que o próprio COI faz questão de ressaltar em relação a ela e à chinesa
– Elas perderam e venceram contra outras mulheres através do tempo e precisamos deixar muito claro, isto não é uma questão transgênero. Sei que sabem disso, mas houve alguns erros de reportagem, é muito importante dizer que não é uma questão de transgêneros – disse o porta-voz do COI, Mark Adams.
Autoridades e o povo argelino saíram em defesa da lutadora e demonstraram apoio nas esferas políticas, nas arquibancadas e na rua de Paris.
No início deste mês, a Organização Mundial de Boxe (WBO) foi forçada a negar relatos falsos de que teria banido Khelif e retirado a sua medalha de Paris por ter falhado nos testes de elegibilidade de gênero. Com Khelif ainda é amadora, a WBO não tem jurisdição ou poder para retirar sua medalha, e sequer a testou.