Brasil é vice-campeão mundial júnior e consolida-se como a principal potência do judô ocidental

Jesse Barbosa e João Segatelle comemoram a dobradinha inédita do Brasil © Kulumbegashvili Tamara / FIJ

Com dois ouros, uma prata e dois bronzes, seleção brasileira Sub 21 encerra o Mundial de Lima como segunda maior força do planeta, atrás apenas do Japão

Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 8 de outubro de 2025

O Campeonato Mundial Júnior de Judô 2025, realizado em Lima, no Peru, reuniu 463 atletas de 65 países e seis continentes, consolidando-se como o principal evento global da categoria Sub 21. E o Brasil brilhou intensamente. Ao término das disputas individuais, a equipe nacional conquistou cinco medalhas — duas de ouro, uma de prata e duas de bronze —, resultado que garantiu ao país o vice-campeonato mundial, atrás apenas do Japão.

Início arrasador e postura de protagonismo

No primeiro dia de competição, o judô brasileiro já mostrou a que veio. Nicole Marques (-52kg) inaugurou o quadro de medalhas com um ouro com técnica refinada e grande maturidade competitiva, enquanto Gyovanna Andrade (-57kg) assegurou o bronze. Com os quintos lugares de Bianca Reis e Bruno Nóbrega, o Brasil terminou a primeira jornada na vice-liderança geral, demonstrando força, consistência e um padrão técnico cada vez mais alinhado ao judô arte que molda a nossa escola.

Em sua estreia em Lima, Jesse Barbosa joga Daniiar Melisov do Quirguistão de ippon © Kulumbegashvili Tamara / FIJ

Segundo dia: aprendizado e experiência

O segundo dia de combates não trouxe medalhas, mas foi essencial no processo de formação da nova geração. Os jovens atletas brasileiros enfrentaram adversários de alto nível e, mesmo sem subir ao pódio, acumularam experiência e ampliaram sua bagagem técnica e tática, atributos indispensáveis para o ciclo de amadurecimento internacional.

Mais do que resultados, o que se viu foi resiliência, leitura de luta e ganho de expertise, elementos que traduzem o verdadeiro sentido de evolução esportiva.

Na semifinal, João Segatelle joga Luka Javakhishvili (GEO) de wazari e garante a vaga na final © Sabau Gabriela / IJF

Três medalhas e uma final histórica

Na terça-feira, 7 de outubro, o Brasil encerrou as disputas individuais com uma atuação memorável.

Jesse Barbosa (-90kg) conquistou o ouro, João Segatelle (-90kg) ficou com a prata, e Dandara Camillo (-78kg) trouxe o bronze. As três medalhas consagraram o país como a segunda maior força do judô mundial júnior e marcaram a primeira final 100% brasileira da história do Mundial Sub 21.

Jesse Barbosa, atleta da Sogipa (RS), protagonizou uma campanha impecável, com vitórias firmes por ippon e domínio tático nas fases decisivas.

No Coliseu Eduardo Dibós, Dandara Camillo comemora o bronze conquistado em Lima © Kulumbegashvili Tamara / FIJ

João Segatelle, representante do Esporte Clube Pinheiros (SP), confirmou seu talento ao eliminar o campeão mundial de 2024 antes de decidir o título com o compatriota.

Dandara Camillo, da Sociedade Esportiva Palmeiras (SP), conquistou seu segundo bronze consecutivo em Mundiais Júnior, reafirmando sua solidez e competitividade internacional.

Esses resultados refletem não apenas o talento individual dos atletas, mas a profundidade técnica e o alto padrão de preparação promovidos pela Confederação Brasileira de Judô.

Na disputa do bronze, Dandara Camillo venceu a francesa Lila Mazzarino de ippon com juji-gatame © Kulumbegashvili Tamara / FIJ

Força continental e supremacia no Ocidente

A leitura geopolítica do quadro final de medalhas deixa evidente: o Brasil sai de Lima como a principal potência do judô júnior do Ocidente.

Na América, o domínio foi absoluto. Além dos cinco pódios brasileiros, apenas a Venezuela (prata com Leomaris Ruiz, -52kg) e os Estados Unidos (bronze com Jonathan Yang, -60kg) subiram ao pódio. Países com tradição na modalidade — como Canadá, Cuba e Colômbia, bem como Equador, República Dominicana, Chile, Guatemala, México e até mesmo o Peru, anfitrião do torneio — não conquistaram medalhas.

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No panorama global, a França, potência histórica e segunda maior força do judô mundial, terminou apenas na quinta posição, com um ouro e quatro bronzes.

O Uzbequistão, que havia dominado o Mundial Cadete em Sofia, ficou em décimo lugar, e a Geórgia, gigante do Cáucaso, encerrou sua participação na sétima colocação.

Diante desse cenário, o Brasil reafirma sua liderança técnica, disciplinar e filosófica no hemisfério ocidental.

Paulo Wanderley ao lado dos medalhistas Dandara Camillo (bronze -78kg), João Segatelle (prata -90kg) e Jesse Barbosa (ouro -90kg) © Camila Dantas / CBJ

Potência global

As conquistas são frutos diretos do trabalho coletivo dos senseis formadores do nosso país que, em dojôs, clubes e projetos sociais espalhados pelo Brasil, lapidaram os talentos que hoje nos representam com brilho — e que seguem enriquecendo a nossa rica e eclética cultura esportiva — somados à excelência profissional da comissão técnica da Confederação Brasileira de Judô.

Dobradinha brasileira no pódio dos -90kg: Jesse Barbosa (ouro) e João Segatelle (prata), com Paul Friedrichs (ALE) e Alisher Samanov (UZB) nos bronzes © Kulumbegashvili Tamara / FIJ

Capitaneado por Marcelo Theotônio (diretor de Esporte) e chefe da delegação em Lima e com o trabalho dos treinadores Douglas Herculino Potrich, Erika de Sousa Miranda, Marcus Fábio Agostinho e Alexandre Katsuragi, além do suporte de Carolina Weigert (médica), Leonardo Silva (fisioterapeuta), Lincoln Neves (assistente técnico), Camila Dantas (gerente de Comunicação) e Beatriz Riscado (Comunicação), o Brasil voltou a se impor como uma das principais escolas do judô global e uma das maiores potências da modalidade.

Liderança discreta, impacto efetivo

Durante todo o evento, o presidente da CBJ, Paulo Wanderley Teixeira, esteve presente e vibrante no Coliseu Eduardo Dibós, celebrando cada ippon e cada vitória. Sua atuação foi discreta no gesto e firme no conteúdo: proximidade com a área técnica sem interferir no dia a dia dos tatamis, apoio institucional claro às decisões da comissão e visão de ciclo orientada a resultados sustentáveis.

Em Lima, o dirigente reforçou a mensagem de que o projeto do judô brasileiro combina gestão responsável, formação continuada e ambição competitiva, criando ambiente para que a nova geração execute com confiança — e vença.

Premiação do meio-pesado feminino (-78kg) conduzida pela colombiana Yuri Alvear, medalhista olímpica — prata no Rio 2016 e bronze em Londres 2012. No pódio: Maria Hanstede (HOL), Mathilda Sophie Niemeyer (ALE), Alexandra Riabchenko (IJF) e Dandara Camillo (BRA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ

O legado de uma geração que inspira

Mais do que resultados, o Mundial de Lima mostrou ao mundo uma geração de judocas brasileiros forte, determinada e consciente de seu papel histórico.

Esses jovens atletas abandonaram definitivamente a condição de coadjuvantes para assumir o protagonismo de uma escola que há décadas honra o legado dos mestres japoneses que trouxeram ao Brasil a prática do Caminho Suave.

Jesse Barbosa (ouro -90kg), João Segatelle (prata -90kg) e Dandara Camillo (bronze -78kg) — com a comissão técnica da CBJ em Lima © Camila Dantas / CBJ

Inspirados pelos princípios de Jigoro Kano, que fundou o judô em 1882 com o propósito de fortalecer o corpo, a mente e o espírito de forma integrada, esses judocas provam que o judô brasileiro é — e continuará sendo — a síntese viva de arte, disciplina, ciência e superação.

Um futuro que já começou

Com o desempenho em Lima, o Brasil reafirma sua condição de grande potência do judô mundial e líder absoluto nas Américas.

O país fecha o Mundial Júnior 2025 com um saldo que vai muito além das medalhas: uma base sólida, atletas promissores e uma gestão técnica coesa, capazes de sustentar o projeto olímpico até Los Angeles 2028.

O judô brasileiro volta para casa maior, mais confiante e consciente de que o futuro — já presente — pertence a essa geração que aprendeu a vencer com técnica, propósito e coração.

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