Cada vez mais isolado e marcado por uma gestão medíocre, Sílvio Acácio aposta todas as fichas nos Jogos de Tóquio

Parece que finalmente o presidente da CBJ descobriu que 2020 será um ano olímpico

Nepotismo, arbitrariedades e depreciação da marca judô marcaram mais um ano do mandato do presidente da Confederação Brasileira de Judô

Gestão Esportiva
27 de dezembro de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS, IJF MEDIA, CBJ e WILLIAM LUCAS/INOVAFOTO/COB
Curitiba – PR

Por meio de uma narrativa patética, em sua mensagem de fim de ano o presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) dissertou sobre o cartão natalino criado pelo departamento de comunicação da entidade. A imagem, muito bem elaborada, enfatiza o ano olímpico que começa em menos de uma semana e culminará na realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Cada vez mais isolado no poder, o dirigente nacional finaliza seu pronunciamento explicando o vínculo da logo da CBJ ao tsuru (pássaro japonês). “Sempre que você vir esta logo exposta, você vai estar recebendo uma comunicação a respeito das nossas seleções”, disse Sílvio Acácio, antes de cumprimentar e desejar boas festas a todos.

Com um discurso extemporâneo que destoa totalmente da data que comemora o nascimento daquele que esvaziou a si mesmo para encher nossas vidas com seu amor e misericórdia, Sílvio Acácio Borges busca agora passar a imagem de dirigente focado no alto rendimento e compromissado com a performance da seleção brasileira.

Nos porões do Grand Slam de Brasília foi muito comentado que Marius Vizer não veio ao Brasil em função dos problemas causados por Sílvio Acácio durante a organização e a execução do evento

Após dedicar três anos de sua gestão à arbitragem, aos estéreis encontros de kodanshas, à doação de ternos para árbitros e dirigentes, às infindáveis alterações no regulamento para outorga de graduação e a intrometer-se nas gestões estaduais, agora o presidente acordou e descobriu que 2020 será um ano olímpico.

Três anos perdidos, correndo em círculose atrás do próprio rabo

Após 31 de março de 2021, certamente Sílvio Acácio será lembrado como o primeiro dirigente do judô brasileiro a fundamentar a gestão na arbitragem e em encontros de kodanshas, em detrimento do desenvolvimento da base, do fomento do judô nos Estados, de competições com qualidade cada vez maior e das seleções brasileiras de todas as classes, inclusive a principal.

Mas por sua obra gigantesca e por tudo que produziu até aqui, lamentavelmente o presidente da CBJ será lembrado como o dirigente que perdeu o Centro Pan-Americano de Judô. Para maquiar a perda irreparável, um ano após a realização da assembleia que definiu a doação injustificável de um equipamento avaliado em mais de 50 milhões de reais para o governo da Bahia, Silvio Acácio ainda mantém em Lauro de Freitas (BA) uma equipe com salários altíssimos, para administrar uma salinha sob a arquibancada do ginásio que antes da chegada dele ao poder, sediou o preparo da seleção olímpica de 2016 e recebeu os principais certames do judô nacional. Até sua chegada na CBJ não tínhamos de nos desgastar atrás de arenas para realizar um simples campeonato brasileiro.

Dirigentes diante do ônibus da CBJ e do Centro Pan-Americano de Judô em 2017. Hoje nada disso existe: a confederação perdeu seu centro de treinamento, o ônibus e o patrocínio da Scania

Outro ponto que terá grande destaque na gestão atual é o trabalho incansável dos membros da Comissão Nacional de Graus, que passaram três anos promovendo infinitas alterações nas regras para graduação deixadas por seu antecessor, Paulo Wanderley Teixeira. Prova cabal do trabalho profícuo dos incansáveis gênios da CGN, é que, depois de terem lançado um novo regulamento em 12 de abril de 2019, em menos de seis meses, em 8 de outubro de 2019, já revisaram, atualizaram e aprovaram outro regulamento que passou a valer. Isso mesmo, no meio da temporada mudaram as regras e ponto final.

Não bastasse a CBJ não apresentar as mudanças em assembleia para depois colocá-las em votação, Sílvio Acácio e seus incansáveis membros do conselho nacional de graus alteram as regras duas vezes por ano e não dão a mínima para presidentes estaduais, ou a menor satisfação às comissões estaduais de graus que assumem compromissos e estipulam metas com base nas normas vigentes. No entendimento dos membros da CNG, as federações não possuem nenhuma autonomia. Simples assim!

No futuro, o atual presidente também será lembrado como o dirigente que, alegando não ter recursos, negou duas passagens do PAF cedidas pelo Comitê Olímpico Brasileiro a dois humildes atletas do Acre credenciados pelo Zempo a disputar a competição.

Paradoxalmente, este mesmo dirigente teve recursos para convidar familiares a amigos catarinenses para irem ao Distrito Federal assistir ao Grand Slam de Brasília, alimentá-los e hospedá-los por uma semana em hotéis com diárias superiores a 600 reais. Teve ainda, recursos para levar outro amigo, o catarinense Nélson Wolter, ao Rio de Janeiro com todas as despesas pagas pela CBJ, para assistir à cerimônia de entrega do Prêmio Brasil Olímpico, realizada pelo COB no dia 10 de dezembro. E, pasmem, conseguiu recursos para contratar um chef de cozinha, também catarinense, que foi especialmente ao Rio de Janeiro para fazer o almoço de confraternização dos colaboradores da CBJ. O mais interessante é lembrar que todo este desmando foi pago com recursos públicos ou oriundos do aporte que o Banco Bradesco e a Cielo fazem na entidade.

O ostracismo político de Sílvio Acácio é tão grande que durante o período em que esteve em Blumenau (SC), para a abertura dos Jogos Escolares da Juventude, o dirigente não conseguiu aproximar-se de Paulo Wanderley Teixeira, presidente do COB, que no evento posou para fotos com atletas, técnicos e autoridades como João Derly, secretário de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, e Jacó Felipe, secretário de Esportes da Prefeitura de Gramado

Mostrando igualmente toda bondade e altruísmo que lhe são peculiares, durante a realização do Grand Slam de Brasília o dirigente nacional presenteou os 27 presidentes estaduais com um kit composto por um terno, camisa e gravata.

Mais um evento vazio, fundamentado na vaidade e no ego

Não satisfeito e motivado pela genialidade ímpar que o caracteriza, no dia 29 de novembro Sílvio Acácio Borges realizou o primeiro Encontro Nacional de Arbitragem da CBJ, evento que arrastou para Balneário Camboriú, a praia mais sofisticada de Santa Catarina, os 170 principais árbitros brasileiros.

Segundo o que foi divulgado no site da confederação brasileira, o imprescindível e irrefutável encontro dos árbitros foi palco de homenagens e da importantíssima discussão sobre o calendário de 2020. Mas, além de registrar toda a festa e a pompa que culminou na apoteótica entrega do kit composto por um terno, gravata e camisa aos 170 árbitros intimados a comparecer na festa de gala da arbitragem tupiniquim, gostaríamos que fossem expostos os números e o custo da farra promovida com recursos públicos que deveriam ter sido investidos na base, nos Estados e no fomento da modalidade.

Nesta nova fase o presidente da CBJ partiu para o enfrentamento direto com os dirigentes que ousam criticar sua gestão

Por que houve dinheiro para todo este desperdício com vestuário, alimentação, hotéis e passagens para dirigentes, árbitros, parentes e amigos do presidente da CBJ, que foram aos dois eventos acima citados, mas não houve recursos para viabilizar a ida de dois jovens que se prepararam e treinaram o ano todo com afinco para disputar o campeonato brasileiro? Será que o presidente da CBJ não gosta do Acre ou crê que naquele Estado não existe judô?

O ano do cinquentenário da CBJ está acabando e quase nem foi lembrado pela diretoria da entidade. No shiai-jô nosso desempenho foi ainda mais baixo que o de 2018, e iniciaremos o ano olímpico com incertezas e dúvidas jamais vistas na seleção brasileira. Pela primeira vez nos últimos 20 anos paira o temor de voltarmos de Tóquio sem nenhuma medalha, tamanha é a falta de foco e de perspectivas da atual administração.

Não bastassem os problemas nas áreas da gestão, técnica e graduação, o presidente termina o ano metido num imbróglio gigantesco com a Federação Paulista de Judô (FPJudô) que, devido à potência e à grandeza de seu calendário, enfrenta problemas gravíssimos causados pelo imobilismo e pela falta de respostas de um dirigente ególatra, antiético e centralizador, que muda as regras do jogo inadvertidamente durante a partida e ignora conceitos básicos como cordialidade e reciprocidade.

De gravata vermelha, Icracir Rosa, presidente da Comissão Nacional de Graus e sócio de Sílvio Acácio em um de seus empreendimentos, no I Encontro Nacional de Arbitragem

Preocupado com sua reeleição, o presidente da CBJ busca dificultar as ações daqueles que o questionam, passando a tratá-los sumariamente como opositores ou inimigos políticos, repetindo a forma de gestão que praticou na Federação Catarinense de Judô.

No dia 27 de novembro Alessandro Puglia, presidente da FPJudô, enviou ofício à CBJ comunicando o interesse de receber a honrosa visita do professor kodansha hachi-dan (8º dan) Naoki Murata, curador e professor do Museu de Judô do Instituto Kodokan de Tóquio, que viria ao Brasil para atuar no Credenciamento Técnico da FPJudô em 29 de fevereiro.

O dirigente paulista iniciou a negociação da vinda do proeminente professor japonês quando viajou ao Japão em outubro, acompanhando a seleção paulista sub 18 que treinou na International Budo University, no Shutoku High School e no Instituto Kodokan.

Além de precisar dar andamento às formalidades necessárias junto ao Instituo Kodokan, à embaixada do Japão e ao consulado brasileiro em Tóquio, o dirigente paulista precisa resolver numerosos procedimentos para a vinda de uma autoridade tão importante. Isso incluiu definir temas de logística, como aquisição de passagens aéreas e hospedagem para o renomado sensei japonês, mas nada parece fazer com que o autoproclamado senhor absoluto do judô verde e amarelo atenda ao pedido de uma entidade filiada que nas últimas semanas tem questionado e posto em xeque sua autoridade.

Bilhete aéreo enviado pela CBJ para Nélson Wolter acompanhar o amigo e dirigente nacional no Prêmio Brasil Olímpico

Além de assustador, é lamentável ver a que ponto este pseudojudoca chegou e o nível a que este senhor está rebaixando o judô do Brasil. Além de segregar suas filiadas, o presidente da CBJ busca agora determinar o conteúdo programático que cada Estado poderá oferecer aos seus associados.

Mais lamentável ainda é ouvir o silêncio daqueles que, em troca de um terno novo, uma viagem ao exterior e outras benesses infames oferecidas com recursos públicos ou oriundos do Bradesco e da Cielo, compactuam com tamanha ingerência e abuso de poder.