11 de novembro de 2024
Campeã olímpica do Kosovo treina com judocas brasileiras e testa português que aprendeu vendo novelas
Majlinda Kelmendi seguiu treinando durante a pandemia e se recuperou de lesões com o adiamento das Olimpíadas de Tóquio. Camping na Albânia reúne cerca de 100 atletas de nove países
Judô
23 de março de 2021
Por Helena Rebello / GE
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro foi palco das maiores conquistas de Majlinda Kelmendi. Em 2013 ela foi campeã mundial de judô. Três anos depois tornou-se a primeira campeã olímpica da história do Kosovo. E, nas duas ocasiões, surpreendia ao entender muito do português falado no entorno, graças ao que aprendeu vendo novelas. Conhecimento que ainda hoje se faz útil e é posto à prova esta semana, no camping de treinamento do qual participa a seleção brasileira feminina.
O Kosovo convidou cerca de 100 judocas de Brasil, Israel, Itália, Eslovênia, Azerbaijão, Polônia, República Tcheca e Turquia para 12 dias de treinamentos em um CT em Tirana, capital da vizinha Albânia. Fora a Missão Europa, em que treinaram exclusivamente com atletas portuguesas no segundo semestre, a última ocasião em que as brasileiras tiveram uma experiência semelhante foi em fevereiro de 2020, antes do Grand Slam de Paris. Dos sete campings previstos para o ano passado só dois foram realizados.
A oportunidade é gigantesca pois algumas das estrangeiras sofreram muito menos restrições e puderam manter uma rotina de preparação mais próxima do que seria o normal. No Kosovo, Majlinda conta que não deixou de treinar um dia sequer, mesmo quando o país enfrentou uma fase mais restrita.
“Não precisei parar de treinar porque eu e meus colegas estávamos morando em quartos muito próximos do dojô. Tudo ficou fechado por quase três meses, mas nós estávamos no centro de treinamento nacional. Nosso técnico é muito rígido e não quer ouvir desculpas. Ficamos juntos, sem sair para nada e por isso tivemos autorização. Foi ótimo. Acho que ninguém estava treinando, exceto nós.
Majlinda hoje é a número 5 do ranking mundial na categoria até 52kg e está virtualmente classificada para a terceira edição das Olimpíadas da carreira. Em Londres 2012 ela representou a Albânia, uma vez que o Comitê Olímpico Internacional não reconhecia o Kosovo. Na Rio 2016, com o status de bicampeã mundial, ela foi porta-bandeira de seu país natal e conquistou a primeira medalha da história do Kosovo nos Jogos, logo um ouro.
Para os Jogos de Tóquio, o adiamento veio a calhar para Majlinda, que enfrentou uma série de problemas físicos na reta final do ciclo e viu as principais adversárias ultrapassarem-na no ranking – uma delas é a italiana Odette Giuffrida, prata no Rio e hoje número 4 do mundo, e que também está no camping desta semana.
“Para mim foi melhor porque ano passado eu tive algumas lesões, e para ser honesta não pude treinar tão bem como eu poderia e deveria treinar para as Olimpíadas. Agora tive tempo para refletir e treinar como deveria.”
Majlinda aprendeu português assistindo a novelas brasileiras que passavam legendadas na televisão do Kosovo. A favorita era Avenida Brasil. Mesmo sem conseguir falar com fluência, a judoca compreende bastante do que é dito ao seu redor. No camping na Albânia tem a chance escutar bastante o idioma, uma vez que são 10 atletas brasileiras na bolha, fora os profissionais da comissão técnica. Mas ela afirma que é mais fácil evoluir nas técnicas do judô do que na língua.
“Para o meu português, não sei. Se você ouve mais naturalmente aprende mais. Pelo treinamento é bom ter chance de treinar com as brasileiras. O judô delas é incrível, tem um estilo próprio que as torna diferentes, especiais. É muito bom para europeus que não têm tantas oportunidades para treinar com atletas de fora.
Para a brasileira Larissa Pimenta, que também compete no peso leve, treinar com Majlinda e com Giuffrida tem sido importante. Hoje número 10 do mundo, a brasileira também está com a vaga para Tóquio encaminhada.
“Estou muito feliz de estar aqui aprendendo todos os dias, perto de pessoas que me motivam a crescer e melhorar a cada dia. Uma experiência única, e talvez seja a última vez que posso pegar no kimono de Kelmendi e Giuffrida em treinamento de campo antes do Jogos Olímpicos. É gratificante sentir o privilégio dessa troca de experiência com duas finalistas olímpicas”, disse a judoca do Esporte Clube Pinheiros.